Hey, pessoal! Maravilha?
Dia de atualizar hoje! Atualizando rápido pra compensar o tempo tão demorado das últimas postagens. Siiim, pasmem, eu tenho um pouco de humanidade.
Sem muito o que falar, vamos ao que interessa: dinheiro! Só que dinheiro eu não tenho, então vamos a outra coisa que interessa, e que eu possa ajudar. Bah, deixa de besteira, Rafael. Let's get it on!
Discutindo com Estilo - Ou Não
Havia uma época, no passado, em que discutir era uma arte nobre e requintada. A discussão, qualquer que fosse o assunto, era digna de nota, com ponderações inteligentes, defesas austeras e pontos de vista bastante claros e, naturalmente, diferenciados. Discutir era como uma luta de esgrima.
O século XX, entretanto, nasceu. Com ele, toda aquela felicidade reinventora da humanidade. Guerras Mundiais, coisas eletrônicas, exploração do espaço, o São Paulo FC e eu, claro. Nossas décadas mais recentes foram dedicadas minuciosamente a acabar com toda a firula clássica da belle époque de outrora, para o bem ou para o mal (caramba, apesar do parágrafo vazio, eu falei bonito).
Junto do século XX e dessa destruição sistemática dos paradigmas anteriores, veio a tentativa de pôr a arte da discussão no lixo. A banalização da discussão foi sentida nas mais diversas camadas sociais, na mídia... O que antes era a defesa da honra, a defesa da família e dos bons costumes e a defesa da religião e da pátria, agora era motivo para pancadaria do mais baixo nível no churrasco de domingo com os amigos. Caramba, que bagunça.
O que estou tentando dizer, guris, é que hoje discutir não é mais como há uns cem anos atrás, quando os lordes se reuniam e falavam sobre como fazia frio em Londres, ou como poderia fazer mais frio em Londres. Naquela época, o Lord Churchill diria que a precipitação pluviométrica (isto é, as chuvas) eram deveras intensas na capital inglesa. Lord Kellenger diria, entretanto, que as chuvas não eram tão intensas quanto antes, e que isso causaria ar mais seco, o que ajudaria a poluir o céu londrino. Eles falavam de dados, estatísticas, um atacava a teoria do outro, o outro contra-batia. Até que, depois de quase duas horas de cerveja e discussão, um deles faria um derradeiro comentário. O segundo balbuciaria. Não diria nada. Bebericaria a cerveja e diria, despretensiosamente: "Talvez...". E teríamos um vencedor. Justo e simples.
O que aconteceu entre a grande era vitoriana e o mundo moderno contemporâneo atual de hoje foi o aparecimento de engraçadinhos, que acham que todos merecem ser iguais e aqueles papos comunistas infelizes, e despeitaram os anos de conhecimento adquiridos pelos eméritos srs. Churchill e Kellenger. Primeiro, houve aquele sem-graça que não suportou ser vencido em uma discussão, e por andar armado, acabou por atirar no vencedor, coitado. O cara da arma foi punido no Inferno, para que conste, e o vencedor justo vive até hoje no Paraíso com 70 mulheres lindas e um conjunto para jogos de poker. Há Justiça no além-vida, e ela funciona!
Mas não estamos falando da violência metropolitana. Existem diversos tipos de atentados contra a ordem natural da humilhação humana. O mais conhecido deles (depois, naturalmente, do revólver), é uma revolucionária idéia, de criador desconhecido, de idade desconhecida e de, enfim, natureza desconhecida. Mas você não o desconhece, caro leitor. Quer ver?
Suponhamos que esteja você e um amigo seu, de longa data ou de convivência recente, os detalhes são irrelevantes. Conversa vai, conversa vem, vocês finalmente encontram algum motivo para discordar, e aí começam a medir forças. Dados estatísticos experientemente colocados entre entonações e gestos, de uma maneira beirando a profissional. Praticamente um duelo de mestres. Nos finalmente, seu oponente começa a balbuciar. Você pressiona, inventa alguns dados, e faz o comentário final: "Ah, isso quer dizer que, de uma maneira ou de outra, ir pra praia pela Anchieta é bem melhor do que pela Imigrantes". Parabéns, você venceu. Seu oponente pausa, pondera, olha pra você e, em vez de dizer "você tem razão", diz, desafiadoramente, "Ou não". E pronto, discussão avacalhada.
O "Ou Não" é uma maneira desesperada de não perder uma discussão. É como ofender a mãe. Como derrubar o tabuleiro de xadrez no chão. Mas o treco é que ele acaba sendo muito providencial, porque não importa quão contundente seja sua opinião, você sempre pode estar redondamente enganado. E o cara diz "Ou não", que pode não ser nada de mais. Mas é uma maneira meio torta de lembrar que ele está errado. Mas você, talvez, também esteja.
Não sei se estou sendo claro, talvez seja o calor. Mas o caso é que desde que "Ou não" foi pronunciado pela primeira vez, nenhuma discussão tem vencedor. Os assuntos se desenrolam e, perto de um final, um dos dois dizem algo como: "Por isso que eu falo - essa crise no mercado chinês pode ser catastrófrico pra saúde do Euro em 2009!". O segundo, surpreendido com essa conclusão, contra-ataca com "É. Ou não". E a discussão foi avacalhada. Deu velha.
Veja você que não adiantou de nada seu conhecimento profundo sobre o cenário econômico mundial contemporâneo e as relações comerciais China-União Européia. Seu amigo lembrou apenas que você pode estar redondamente enganado porque, oras, às vezes algo não tenha nada a ver com nada!
Você pode tentar continuar a discutir, pode dizer que você está certo, que isso é claro como a água, não há como contestar. Mas você corre o risco de ser infantil e petulante e, se estiver errado, ficar em pior situação ainda - porque as coisas sempre podem dar errado (certo, Murphy?). Você está em um dilema, não?
Nessas horas, o melhor a fazer é ser esportivo, e aceitar que seu oponente jogou sujo, mas ele pode ter tanta razão quanto você. Afinal, o mundo não costuma fazer sentido nenhum, mesmo, e é pretensão da humanidade achar que existe. Ou não, vai ver pra você o melhor seja partir pra ignorância, ofender a mãe, derrubar o tabuleiro de xadrez no chão e perder toda sua compostura britânica. O importante, pelo visto, é sair vitorioso de uma discussão.
Eu prefiro me certificar de que não vou dar a melhor cartada. Prefiro forçar uma derrota para o meu lado. E quando eu estiver às vésperas de uma derrota verbal, sou eu quem falarei "Ou não". E eu ganho de novo.
Ou não. Nunca se sabe o que podem inventar pra apimentar a vida. =D
Ouvindo:
El Matador
Los Fabulosos Cadillacs
Vasos Vacíos (1993)
Dia de atualizar hoje! Atualizando rápido pra compensar o tempo tão demorado das últimas postagens. Siiim, pasmem, eu tenho um pouco de humanidade.
Sem muito o que falar, vamos ao que interessa: dinheiro! Só que dinheiro eu não tenho, então vamos a outra coisa que interessa, e que eu possa ajudar. Bah, deixa de besteira, Rafael. Let's get it on!
Discutindo com Estilo - Ou Não
Havia uma época, no passado, em que discutir era uma arte nobre e requintada. A discussão, qualquer que fosse o assunto, era digna de nota, com ponderações inteligentes, defesas austeras e pontos de vista bastante claros e, naturalmente, diferenciados. Discutir era como uma luta de esgrima.
O século XX, entretanto, nasceu. Com ele, toda aquela felicidade reinventora da humanidade. Guerras Mundiais, coisas eletrônicas, exploração do espaço, o São Paulo FC e eu, claro. Nossas décadas mais recentes foram dedicadas minuciosamente a acabar com toda a firula clássica da belle époque de outrora, para o bem ou para o mal (caramba, apesar do parágrafo vazio, eu falei bonito).
Junto do século XX e dessa destruição sistemática dos paradigmas anteriores, veio a tentativa de pôr a arte da discussão no lixo. A banalização da discussão foi sentida nas mais diversas camadas sociais, na mídia... O que antes era a defesa da honra, a defesa da família e dos bons costumes e a defesa da religião e da pátria, agora era motivo para pancadaria do mais baixo nível no churrasco de domingo com os amigos. Caramba, que bagunça.
O que estou tentando dizer, guris, é que hoje discutir não é mais como há uns cem anos atrás, quando os lordes se reuniam e falavam sobre como fazia frio em Londres, ou como poderia fazer mais frio em Londres. Naquela época, o Lord Churchill diria que a precipitação pluviométrica (isto é, as chuvas) eram deveras intensas na capital inglesa. Lord Kellenger diria, entretanto, que as chuvas não eram tão intensas quanto antes, e que isso causaria ar mais seco, o que ajudaria a poluir o céu londrino. Eles falavam de dados, estatísticas, um atacava a teoria do outro, o outro contra-batia. Até que, depois de quase duas horas de cerveja e discussão, um deles faria um derradeiro comentário. O segundo balbuciaria. Não diria nada. Bebericaria a cerveja e diria, despretensiosamente: "Talvez...". E teríamos um vencedor. Justo e simples.
O que aconteceu entre a grande era vitoriana e o mundo moderno contemporâneo atual de hoje foi o aparecimento de engraçadinhos, que acham que todos merecem ser iguais e aqueles papos comunistas infelizes, e despeitaram os anos de conhecimento adquiridos pelos eméritos srs. Churchill e Kellenger. Primeiro, houve aquele sem-graça que não suportou ser vencido em uma discussão, e por andar armado, acabou por atirar no vencedor, coitado. O cara da arma foi punido no Inferno, para que conste, e o vencedor justo vive até hoje no Paraíso com 70 mulheres lindas e um conjunto para jogos de poker. Há Justiça no além-vida, e ela funciona!
Mas não estamos falando da violência metropolitana. Existem diversos tipos de atentados contra a ordem natural da humilhação humana. O mais conhecido deles (depois, naturalmente, do revólver), é uma revolucionária idéia, de criador desconhecido, de idade desconhecida e de, enfim, natureza desconhecida. Mas você não o desconhece, caro leitor. Quer ver?
Suponhamos que esteja você e um amigo seu, de longa data ou de convivência recente, os detalhes são irrelevantes. Conversa vai, conversa vem, vocês finalmente encontram algum motivo para discordar, e aí começam a medir forças. Dados estatísticos experientemente colocados entre entonações e gestos, de uma maneira beirando a profissional. Praticamente um duelo de mestres. Nos finalmente, seu oponente começa a balbuciar. Você pressiona, inventa alguns dados, e faz o comentário final: "Ah, isso quer dizer que, de uma maneira ou de outra, ir pra praia pela Anchieta é bem melhor do que pela Imigrantes". Parabéns, você venceu. Seu oponente pausa, pondera, olha pra você e, em vez de dizer "você tem razão", diz, desafiadoramente, "Ou não". E pronto, discussão avacalhada.
O "Ou Não" é uma maneira desesperada de não perder uma discussão. É como ofender a mãe. Como derrubar o tabuleiro de xadrez no chão. Mas o treco é que ele acaba sendo muito providencial, porque não importa quão contundente seja sua opinião, você sempre pode estar redondamente enganado. E o cara diz "Ou não", que pode não ser nada de mais. Mas é uma maneira meio torta de lembrar que ele está errado. Mas você, talvez, também esteja.
Não sei se estou sendo claro, talvez seja o calor. Mas o caso é que desde que "Ou não" foi pronunciado pela primeira vez, nenhuma discussão tem vencedor. Os assuntos se desenrolam e, perto de um final, um dos dois dizem algo como: "Por isso que eu falo - essa crise no mercado chinês pode ser catastrófrico pra saúde do Euro em 2009!". O segundo, surpreendido com essa conclusão, contra-ataca com "É. Ou não". E a discussão foi avacalhada. Deu velha.
Veja você que não adiantou de nada seu conhecimento profundo sobre o cenário econômico mundial contemporâneo e as relações comerciais China-União Européia. Seu amigo lembrou apenas que você pode estar redondamente enganado porque, oras, às vezes algo não tenha nada a ver com nada!
Você pode tentar continuar a discutir, pode dizer que você está certo, que isso é claro como a água, não há como contestar. Mas você corre o risco de ser infantil e petulante e, se estiver errado, ficar em pior situação ainda - porque as coisas sempre podem dar errado (certo, Murphy?). Você está em um dilema, não?
Nessas horas, o melhor a fazer é ser esportivo, e aceitar que seu oponente jogou sujo, mas ele pode ter tanta razão quanto você. Afinal, o mundo não costuma fazer sentido nenhum, mesmo, e é pretensão da humanidade achar que existe. Ou não, vai ver pra você o melhor seja partir pra ignorância, ofender a mãe, derrubar o tabuleiro de xadrez no chão e perder toda sua compostura britânica. O importante, pelo visto, é sair vitorioso de uma discussão.
Eu prefiro me certificar de que não vou dar a melhor cartada. Prefiro forçar uma derrota para o meu lado. E quando eu estiver às vésperas de uma derrota verbal, sou eu quem falarei "Ou não". E eu ganho de novo.
Ou não. Nunca se sabe o que podem inventar pra apimentar a vida. =D
Ouvindo:
El Matador
Los Fabulosos Cadillacs
Vasos Vacíos (1993)