sábado, 29 de dezembro de 2007

Calor Lazarento

Fim de Ano! Aew! O Inominativo chega para o fim do feliz ano de 2007, com um balanço positivo! Ié ié! O blog é repleto de pessoas ilustres visitando (vocês, naturalmente) e boas impressões dos visitantes. Já que é assim, eu me esforço e posto de novo, certo?
Certo!

Eu tinha algumas idéias boas. Só que duas delas já venceram, porque eram sobre o Natal e o Natal já se foi faz 4 dias - isso é muito tempo. E as outras eram ótimas candidatas para a postagem de hoje, mas eu acordei com outro problema na cabeça. Um problema grandão. É o problema que dá título ao post de hoje, o último do ano.

CALOR LAZARENTO
Quando o Tempo É Bom Demais

Viver em São Paulo é o máximo, claro que é. Vocês sabem que eu adoro essa cidade (e se você não sabe, deveria ler este post), que acho ela fantástica, maravilhosa, sensacional, um luxo.
O caso da cidade paulistana, entretanto, é que o "máximo" da primeira frase é levado a sério, e em diversas situações diferentes. O máximo de grandeza, de gente, de bagunça, de sujeira... Tudo aqui é no superlativo.

E esse "máximo" não falha quando falamos do clima. Vejam vocês, por exemplo, o Verão. Uma estação agradável, com muito sol, sorvete e roupas de banho. Mas a agradável Paulicéia surpreende sempre os moradores, e liga o termostato ao máximo, cabra! Quando você menos percebe, está um calor de 33º nas ruas, pessoas morrendo carbonificadas nas ruas, gente em pânico.
E quando chega o Infer... perdão, o Inverno, aqui também é o máximo da friaca. Tudo fica ainda ainda mais cinzento e mórbido na cidade que já é bastante conhecida por ser cinzenta e mórbida. O vento vem terrivelmente gelado e cortante, e nenhum lugar parece ser quente o suficiente pra compensar. Nem ônibus lotado de sexta-feira às 18h00 dá cabo do frio.
Isso pra não falar de quando chove. Esse nem precisa de explicação direito, precisa? Dois minutos de chuva são suficientes pra acabar com o trânsito tão pacífico, mas quem disse que só chovem 2 minutos em São Paulo? Ficamos três semanas sem nem olhar uma nuvem de chuva, e quando a chuva vem, mata quem estiver na rua afogado. As favelas vêm abaixo (de novo), todo mundo redescobre os guarda-chuvas a cinco reais. :P

O negócio da cidade é que a metrópole está em cima da famigerada Linha de Capricórnio. Manja, aquela linha que separa o que é Zona Tropical de Zona Temperada? Onde o sol bate em cima quando é verão, e onde ele passa looonge quando é inverno? Essa mesma. Então, a cidade paulistana está em cima dela (teoricamente falando, a linha passa acima da mancha urbana por alguns quilômetros, mas isso não faz a menor diferença em termos de clima, faz?), e a gente nunca sabe se a cidade está em Zona Tropical ou Zona Temperada. E a gente fica com o pior dos dois casos! Quando faz frio aqui, esfria tanto quando as nobres cidades do Sul brasileiro, e quando esquenta, é um calor lazarento dos infernos, porque a poluição ajuda a aumentar a temperatura no verão.

Haverá os que dirão para mim (porque sempre há) que aqui nem é tão quente assim, que no Nordeste ou no Centro-Oeste as temperaturas são ainda mais desagradáveis e destruidoras - o Norte não vale, a Amazônia alivia pro lado deles - do que as daqui. Ao que lhes respondo: acabamos de sair de um frio miserável no Inverno! Houve, em Julho, um dia em que chovia e ventava terrivelmente. Eu estava tentando instalar uma placa nova no computador que ora uso para atualizar meu blog, quando a temperatura baixou tão miseravelmente que eu sentei no sofá, agarrei os três edredons mais próximos e me fechei dentro deles, tremendo de frio. Quando eu dei por mim, todo mundo em casa também tinha se enfiado em algum lugar pra tentar vencer o frio, e ninguém conseguia fazer nada de útil. Um sábado gostoso de férias, e ninguém podia fazer nada, por causa do frio!
É nesta mesma sala, 6 meses depois, que entro depois de sair do meu quarto, e me deparo com todo mundo jogado em um colchão improvisado nada sala, porque ninguém aguentava ficar sentado no sofá. Eu, com a camiseta grudada de suor, minha mãe com a testa oleosa, meu irmão semi-dormindo, e todo mundo com o cérebro babaca. Eu acho que não saberia fazer uma conta de soma se me perguntassem.
Interessante, porque o calor meio que te impede de fazer as coisas. Você não consegue pensar em um calor infernal. Você olha para as coisas e tudo adquire um blur, um fosco. Você fica com preguiça de fazer qualquer coisa que envolva movimentar músculos, e isso incluir falar com clareza. Então você também tem dificuldades de ouvir o que os outros falam. E o raciocínio fica lesado, a preguiça aumenta, você fica devagar... Mais um típico dia de verão.

E aí, que muitos comemoram, e muitos reclamam. Há os que acham que é odioso viver nesse calor, derretendo, morrendo, sofrendo. Toda roupa que eles usam gruda neles, eles têm que usar litros de desodorante pra dar conta do cecê lascado, ficam com mau-humor e irritados... E há os que adoram o verão, querem usar menos roupas, pular em piscinas e praias, beber cerveja até cair, tomar sorvete...
É o melhor a se fazer, mesmo. Acordar mais cedo, partir para algum lugar legal com amigos e invadir uma sorveteria, aproveitar a praia, exibir para o mundo a sua felicidade brasileira :D
Agora, se você for um pobre lascado que nem eu, o melhor mesmo mesmo a se fazer é passar calor em casa, ligar um ventilador ao máximo e pedir piedade aos céus. Tente não desanimar e acabar com a sua vida, entrementes porque, como eu canso de falar, isso é coisa de emo. Aliás, até me pergunto como andam os emos, vestidos todos de preto nesse calorzão bão de Deus. Bah, isso é problema deles, não meu. O meu problema é raciocinar nesse mormaço infeliz.

Inda bem que já já chove. Se tem uma coisa que eu tenho certeza sobre o tempo paulistano é: quando o céu está bonito, logo logo vai chover.
Eu sei, nada aqui faz sentido. Nem a cidade, nem os moradores. :D

Aproveitem a festa do Ano Novo, macacada. A gente se vê só no ano que vem, agora. :D
Adeus, Ano Velho! o/

Ouvindo:
Under Pressure
Queen & David Bowie
Hot Space (1982)

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Deus

Noite, cambada! Como vai a bagunça nossa de cada dia? :B

Estava a minha pessoa a jogar conversa fora, como há muito tempo não fazia, nA PIOR COMUNIDADE DO MUNDO (sim, em letras capitais). Uma comunidade do orkut, assim, como todas as outras. Típica, pacífica, amiga de todos e de tudo. Seria mais uma comunidade qualquer, não fosse o fato de eu ter conhecido lá uma pá de gente boa! E eu passo algumas horas lá jogando conversa fora, sempre que posso.
Seja como for, estava na PCDM (que é como chamamos a comunidade), a conversar com os seres humanos que por lá vagavam. Quando surgiu um assunto em que eu usei de minha criatividade - que, vocês sabem, é fraquíssima - e acabei falando do Mano que Manda, sabe? É, o TP, o Todo Poderoso. Então, embalado, decidi que ficaria um post legal. Ou, pelo menos, uma tentativa legal de post.

Mas, depois, pensei: não acharão pedante demais? Não acharão impáfia minha? Blasfêmia, talvez? Então receei. Mas pensei "Bah, que bagulhos, este é um país livre. Posso falar da divindade que bem entender e nada de ruim vai me acontecer". E é isso aí.
Bom, enquanto eu estiver vivo, acho que nada me acontece. Quando eu morrer as contas serão acertadas (hohoho), mas enquanto eu devo, não nego e pago quando puder...

DEUS
A visão de um leigo


Costumam falar que Deus é um velho chato. Um cara ranzinza e ranhento, que obriga a todos e a tudo a adorá-lo incondicionalmente, como se ele fosse Hugo Chávez e nós fôssemos os revolucionários otár... eeeerm, simpatizantes. Só porque ele criou o Universo sem o nosso consentimento, a gente é obrigado a viver em dívida com o vovô chatão, que ainda tem a pachorra de não nos dar a menor prova da existência dele, só porque, um dia, uma tal de Eva lá viu uma maçã vermelhinha, vermelhinha, e deu uma dentada. Daí baixou o espírito de Chávez de novo no velho chato, ele expulsou pra sempre os humanos do Paraíso (também conhecido como Principado de Mônaco). Só pra ele ficar sozinho comendo as maçãs dele.
Conclusão: Deus é um velho caquético e gagá, que criou o mundo e acha que tem que ser eternamente agradecido por isso, mesmo que a gente ache que tenha sido uma péssima idéia, a dele. E ele não gosta de ser contrariado, quer ditar nossa moda, nos dizer o que fazer e quando. Realmente, ele parece um ditador latino-americano, hein?

Mas, meu, pensar assim do Deus Todo-Poderoso, pra mim, é muito broxante. Qual é a graça em viver feliz se temos um cara gagá com poderes ilimitados em cima de nossas cabeças, e que pode decidir a qualquer instante em que buraco vai nos mandar? Se fizermos algo de errado, ele vai nos fazer queimar eternamente no Inferno!, ouvindo Fresno e NX Zero, e essas coisas que qualquer ser humano decente tende a odiar. Viveremos sempre chateados e receosos, esperando pelo pior, a qualquer momento. Credo, não foi à toa que todo mundo se lembra com pesar da Idade Média quando, em geral, era assim mesmo que as pessoas viviam.
Eu, entretanto, sou decididamente otimista, vocês devem ter notado. Eu sempre preferi achar que tudo tem jeito, que a vida é feliz e legal e essas coisas. E, digamos, esse tipo de visão não é compatível com um mundo em que temos um ditador abusivo no poder, certo? O bom do Século XXI é que consolidaram a democracia, e isso significa que a gente pode pensar o que bem entender das coisas sem ser preso por isso! É daí que veio a minha inspiração: se Deus realmente existe, quem é esse cara? O ilustre desconhecido, que todo mundo conhece, mas ninguém sabe quem é. Quem? Que mistério...

Na minha leiga opinião (digo leigo porque não sou religioso; eu não sei exatamente o que sou, mas católico praticante eu definitivamente não sou), Deus é um cara legal. Mas, sei lá, não é um cara legal, como qualquer um que você encontra na rua e ele te dá passagem ou te pede desculpa se ele pisa no seu pé. Ele é um vovô muuuuito legal. Um cara velhinho, assim, com jeitão de sábio que conhece de tudo (porque ele, de fato, conhece de tudo), que entende de tudo, que tem todas as respostas.
Ele deve ser um cara bastante hiperativo, e volta e meia deve ficar entediado. Ele ficou entediado antes de criar o tempo-espaço em C# (uma linguagem de programação, pra quem não é nerd), e criou o Universo e o tempo-espaço. Ele gostava de ver coisas explodindo, porque ele gosta de luzes e sons (embora o som não se propague no espaço). Quando se entediou de novo, programou o Universo para que o Sol e a Terra nascesse (calculo que a Lua tenha sido um erro de fórmula) e depois, fez a sopa de bichinhos lá que originou as amebas e a vida em geral. Ê, prêmio de Biologia para o nosso vovô gente fina.
Calculo também que ele ficou radiante quando chegou nos dinossauros. Sabe aquelas crianças que assistem Jurassic Park (que hoje é um filme igualmente jurássico) e ficam tarados por dinossauros? Então, ele deve ter ficado tarado, fazendo lutinhas de dinossauros no nosso planeta, e vendo os dinossauros passearem livres no pedregulho azul. Até que ele achou que não gostava daquilo - os dinossauros não podiam jogar futebol! - e ele arranjou uma pedrinha, jogou no planeta e assassinou os dinos. E inventou a raça humana. Agora, sim, uma raça divertida. Deus ajudou os humanos a serem mais legais inventando o bêbado (lembram-se?), porque ele também queria se divertir com o bêbado.
E depois de ele ter visto que as coisas iam razoavelmente bem na Terra, ele decidiu recostar-se em sua poltrona de couro sintético (Deus não mata animais para esse tipo de coisa) e assistir a vida na Terra. Sim, porque Deus, no fundo, é um noveleiro. Ele criou a gente porque queria assistir uma novela de qualidade (ou um reality show, o que preferirem), e então fez um decente, com bilhões de participantes. E, melhor ainda, é um reality show em que as pessoas não são eliminadas semana a semana - ao contrário, eles se multiplicam! Somos 6 bilhões e meio, e subindo! E agora ele pode assistir ao seu programa em sua poltrona, com seus amigos anjos, seu filhão Jesus "Jeez" Cristo e outros notáveis caras daqui que vivem por lá, com o nosso vovô gente boa.

Ele é um cara tranquilão. Ele prefere não se intrometer na nossa vida, porque isso dá trabalho, e bagunça tudo. Imagina que você comanda, sozinho, um orfanato com quinhentas crianças, e elas começam a brigar entre si. O melhor a fazer é assistir pra ver no que vai dar. É isso que Deus faz. Mas ele tinha isso em mente desde o início! E ele fica realmente feliz em ver que a gente está se divertindo aqui embaixo.
Que mais? Ele gosta de futebol - claro, senão não teria deixado o futebol ser o esporte mais famoso do mundo - e assiste sempre que pode. E ele fica realmente feliz em ver a Copa do Mundo dando certo. Aliás, acredito que ele esteja feliz em ver que a Copa de 2014 seja no Brasil. Ele gosta do Brasil, claro. O Brasil, pra ele, é como um aluno preguiçoso que não tem jeito, não tem futuro, sabe? Todo mundo ri na aula dele, ele faz boas piadas, ele tem potencial, os professores gostam dele. Um cara legal. Mas é um preguiçoso fanfarrão :B
Ele também gosta de golfe, porque é esporte de velho rico (e, cá entre nós, teoricamente falando ele pode ser tão rico quanto quiser ser), e assiste filmes clássicos e filmes hollywoodianos toscos em que todo mundo morre nas mãos do Rambo. Ele se diverte com Lego, que, segundo ele mesmo disse, foi a melhor idéia da humanidade desde a eletricidade, e foi por isso que ele fez da Escandinávia um lugar rico e próspero (se você não sabe, o Lego foi inventado na Dinamarca em 1934, e a Dinamarca faz parte da Escandinávia).

No geral, Deus é um vovô gente boa. Animado, que gosta da maior invenção dele, a simpática raça humana. Ele manja tudo de Matemática, Astronomia, Física, Química, Biologia, Programação, História Geral Mundial, Geologia, Geografia e Geopolítica, e fala aproximadamente todos os idiomas do mundo (ele não entende o Português Carioca; ele não gosta do som chiado). Ele é piadista, gosta de se divertir, tira férias freqüentemente para conhecer o seu planeta, tem uma cidade de Lego em miniatura que ele mesmo fez, gosta de cozinhar e é o único ser inteligente fora dos Estados Unidos que entende o beisebol.
Ele também é muito simpático, gosta de ouvir os filhos dele (nós! \o/) e é bastante tolerante e ponderado. Ele é mais um vovô do que um pai, sabe? E eu não acho que ele tenha feito um Inferno com labaredas e torturas e zás. Ele, no máximo, inventou um lugar que não tem chocolate e vídeo-game, o que é uma tortura muito ruim, a meu ver.

Acho que isso é mais ou menos o que eu acho que Deus, o Todo-Poderoso, é. O cara mais boa-pinta do Universo decidiu sentar-se e criar a novela mais incrementada da História. Fez uma sopa de bichinhos e inventou a vida. E se diverte toda noite assistindo a saga dos macaquinhos pelados, levando a vida deles numa boa. Ele ri do tosco, ainda gosta de explosões e fica orgulhoso sempre que vê um bêbado dando show em algum canto do mundo. Ah, vai, bem mais legal viver em um mundo feito por um cara legal e animado do que por um ditadorzinho latino-americano que acha que aqui é o país dele porque Deus quis - mesmo porque ele é Deus, mesmo.
Não é à toa que as Igrejas vivem perdendo fiéis. Ficam aterrorizando os caras, ensinando eles que Deus é implacável como Chuck Norris.

Agora, se é verdade, e Chuck Norris for mesmo Deus, então ferrou. Desconsiderem essa postagem. :D

Ouvindo:
Everybody Knows You Cried Last Night
The Fratellis
Costello Music (2006)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Minhas Memórias dos Meus Blogs

Festa! Festa! Ritmo de Festa! Aê!!

Olá, gente animada! Hoje é dia 13 de Dezembro! E sabem o que significa? Meu blog acaba de completar um ano de vida! Alegria, alegria! Aêê!
Já que é dia especial, acho justo escrever um post neste dia, pra comemorar (arriba!) e pra atualizar, também. Afinal, hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa! Que cafona :P

Ano II, Postagem #60
Minhas Memórias dos Meus Blogs

Não me lembro direito a primeira vez em que eu pensei "vou criar um blog". Não me lembro, tampouco, do ano, do mês ou do dia. Eu era uma espivetada criança (eu nunca fui espivetado, entretanto, mas eu gosto dessa palavra, de modo que ela fica aí) entre os 14 e os 15 anos. E, na época, era comum as pessoas terem blogs. Ou, melhor dizendo, bligs (blogs do iG). Aliás, me recordo que haviam aqueles que chamavam qualquer blog de blig, inclusive aqueles que não estavam hospedados no iG. É como chamar qualquer refrigerante de Coca-Cola. Mas eu achava revoltante e injusto com os outros serviços de hospedagem de weblogs, tadinhos.
Seja como for, eu estava com alguma macaca azul muito fedida naquele dia, e achei por bem fazer um blog no blig. Há duas coisas a respeito deste blog do blig que me recordo: o nome cafoníssimo de "Ó nóis aki traveiz", ou algo parecido (sim, espantem-se, eu já tive meus momentos de pré-miguxismo); e o conteúdo, que era nada de aproveitável. Eu escrevia bobagens aleatórias. Ah, também lembro do lay-out dele: era do São Paulo FC, com o escudo do Tricolor Mais Querido ao lado. Sempre tive bom-gosto pra esse tipo de coisa. =D
Tão bom era o blog do Blig que eu tinha que eu não me lembro de nada mais detalhado, como o endereço, data da criação, circunstâncias da criação, dia em que eu o abandonei, o que eu escrevia... Nada de nada. Lamentável, não? Bom, talvez não. Talvez seja tão ruim que é melhor ficar no limbo da internet do passado. Eu devia ser um blogueiro bastante ruim, comparado a hoje (como se hoje eu fosse Fernando Pessoa). :P

O que eu me lembro de legal dos blogs daquela época era que era uma novidade e tanto na terra brasilis. E quem acessava este tipo de novidades eram os adolescentes (ou, melhor dizendo, os pré-adolescentes). E foi por causa disso que nasceram os blogs genéricos femininos, que eram abismalmente iguais uns aos outros - perdoe-me se o leitor for uma das autoras da época, mas hoje que você é esclarecida, haverá de concordar comigo. Todos eram rosas, todos eram brilhantes, todos eram fofos e ridículos. Ainda mais para um garoto, como eu. ^^
Lembro que as garotas, invariavelmente, escreviam detalhes suuuuper-emocionantes (woop-dee-doo) dos cotidianos delas. De como elas tinham feito coisas e não tinham feito, e essas coisas. Como naquela época era novidade, não havia a frescura que se vê nos fotologs de hoje de "estou com preguiça de postar, então só posto a foto". Mesmo porque postar uma foto em um blog era coisa para fazer um doutorado. Então os blogs eram razoavelmente iguais entre si, e as postagens de um dia pra outro também eram. Havia também alguns garotos que faziam a mesma coisa. Os assuntos eram diferentes dos femininos, eles escolhiam mais cores, além do rosa e do azul-bebê, mas era sempre tudo a mesma coisa. Parecia suruba de japonês. Hohohoho...
Acho que este sempre foi o motivo de querer fazer um blog diferente. Eu gostava de ser o piadista, e nunca gostei de falar sério. Ainda mais sobre a minha própria vida. Então eu fazia posts sobre nada em especial. Claro, depois de alguns anos viriam blogs profissionais, como os Kibeloco e os Chongas da vida. Mas eu era um pioneiro :P

Seja como for, depois que eu abandonei o blog do Blig (que tem um nome tão cafona que nem gosto de escrevê-lo), fiquei alguns meses fora do mundo dos blogs. Nestes meses ausente eu via pessoas comentando em revistas e jornais e em páginas da internet sobre a revolução dos blogs. E eu visitava blogs e achava legal. Em um belo dia de domingo (eu adoro domingos - talvez por eu ter nascido em um ^^) eu decidi conhecer o Blogger.com.br., e fundei O Mal do Século.
Conforme eu expliquei dezenas de vezes, eu não sei porque eu escolhi este nome, e só me lembrei bem mais tarde que Mal do Século era a tal da geração do Romantismo brasileiro, que tinha um monte de emos querendo espalhar a angústia deles pelo mundo e se matar. O porquê de eu ter pego um nome com este estigma permanece um mistério, mas foi o que fiz. Lembro somente que criei O Mal do Século. Ele era bem melhor que o antecessor do Blig. O blog era mais editável, as opções eram mais amplas, e o autor estava mais maduro - bom, nem tanto. Mas eu me recordo de ter arrancado alguns elogios e risadas, conforme eu mostrava pros meus amigos. Como um ser humano qualquer, eu me irradiava de orgulho ao saber que meu blog era simpático, e eu tratei de postar nele mais vezes.

A história dO Mal do Século foi bem mais diferente, conforme vocês podem notar. Primeiro que, mesmo sendo um nome cafona, eu não tenho vergonha de dizê-lo (ao contrário, é divertido!), e ele ficou mais famoso, mais garboso, mais elegante. Não, não tão elegante, mas estava mais apresentável. Por um breve momento, fiz alguns contatos por causa dele, tornei ele semi-famoso no meu círculo social... Não é a mesma coisa que você faz quando compra um carro novo, é como se você comprasse a coleção inteira de bonecos do Star Wars. Você não sai contando pra todo mundo, com medo de te chamarem de nerd sem vida. Você só conta pros esquisitos como você. E era mais ou menos o que eu fazia. Se saísse dizendo "Oi, eu tenho um blog chamado 'O Mal do Século', quer visitar?", eu muito provavelmente teria uma vida social bastante prejudicada. Parece uma cantada de perdedor :P
Mesmo assim, ele era famoso. Eu, invariavelmente, entrava no meu blog para ver se havia algum comentário novo (naquela época era moda comentar nos blogs que você visitava, também), e naquela época eu até respondia os comentários! Com um outro comentário, logo acima do original! É, era bastante esquisito. Ou, como dizem hoje em dia, era "alternativo". Eu também empurrava amigos para visitar meu blog para lerem e comentarem e me dizerem o que achavam. Eu acho que eu era chato.
Seja como for, cuidei dO Mal do Século por 3 longos anos. Postei textos enormes, imagens divertidas, piadas sem-graça, tive alegrias e frustrações (sniff). Lembro que depois do segundo ano do blog eu fechei ele por algum tempo. Que burrice a minha...

Na época dO Mal do Século (isto é, entre 2003 e 2006), muita coisa aconteceu de diferente na internet. De início, me recordo que o modelo do blog estava em decadência na época, e antes do primeiro ano de vida do meu segundo blog, quase nenhum dos meus amigos tinham blogs. Haviam migrado para os fotologs, ou flogs, que eram substancialmente mais fáceis de se gerir, e ainda tinham fotos! Na minha opinião preconceituosa, entretanto, eu achava os flogs chatos e sem graça, porque as pessoas só iam pra ver as fotos. E eu gostava de ler as coisas. Mas todo mundo tinha preguiça de ler coisas (ainda mais quando eram posts do tipo "Ah, hoje não fiz nada de especial. Fui pra escola, cochilei e fiz minha lição de casa. Amanhã vou no cinema e na sorveteria. Será que o filme que quero ver é bom? Beijos"), e então as pessoas achavam flogs fáceis - só precisa ver a foto e comentar coisas genéricas, como "nossa, como você está bonita!". Fácil pra todo mundo! Mas eu era contra a maré, e mantive meu blog. Lembro que eu dizia aos outros que tinha um blog, e diziam que não gostavam de blogs, porque tinham preguiça de ler textos. Esse é o Brasil do futuro! ==b
Depois da fúria por fotologs, outra mania desembarcou forte no país de chuteiras: o tal do turco louco e seu orkut. O site era uma cruza louca de fóruns com páginas pessoas e álbum de fotografias e etcétera. As pessoas, agora, mantinham sua vida social eletrônica (e ainda mantém, por enquanto) nas comunidades do orkut. Antigamente, eram comunidades comportadas. Hoje em dia, comunidades completamente estapafúrdias e divertidas. O mundo dos blogs foi varrido para a obscuridão, e os flogs eram artigos de luxo - quem tinha flog era porque tinha tanta foto linda que não cabia nas 12 fotos que o turco louco liberava. Foi então que abandonei, por breves instantes, o meu segundo blog.
Após 2005 que os blogs que todos conhecem ficaram famosos, como os que já mencionei. A medida que voltei com o meu, vi que alguns amigos também mantinham os seus, e que blogs famosos ficavam cada vez mais famosos. O mundo dos blogs voltava! E eu voltei com o meu blog. Por mais um ano, aproximadamente.

E aí veio o Blogger.com, do Google. Depois de eu sentir uma pontinha de inveja a respeito dos blogs do Google, frente aos do Globo.com, fechei O Mal do Século, e fundei este, o Inominativo. Há um ano atrás, exatamente. Não sei se vocês sabem - está escrito lá no alto, embaixo do nome do blog - que "Inominativo" veio da minha falta de criatividade. Vejam vocês, eu estava pensando como batizar este blog. O Mal do Século já existia nos blogs do Google. Era um blog inativo, mas já existia, não poderia pegá-lo. Então, olhando para a caixinha do nome do blog vazia, pensei que o blog ficaria inominável. Eu devia estar bêbado de guaraná, porque pensei em Inominativo, gostei do nome e o mantive.
Aliás, explico-lhes, também, o motivo do título do meu primeiro post aqui ser "Três Ponto Zero" (podem ir conferir, pra quem não se lembra). Porque naquele momento eu fundava meu terceiro blog. Começava do zero, novinho, belo, agradável. Assim como na transição do primeiro pro segundo, notei que eu havia amadurecido, que os posts eram melhores escritos, os comentários eram mais pertinentes. Enfim, o blog era, em um certo ponto de vista, melhor.

E hoje o Inominativo completa seu primeiro ano, seu sexagésimo post. Notei que tenho muitas visitas, principalmente de pessoas que fazem buscas no Google e abrem meu blog achando que eu tenha alguma resposta pertinente, e por isso coloquei uma caixa de texto explicando que o Inominativo tem a mesma seriedade de um programa do Casseta e Planeta, com a diferença que eu não tenho uma apresentadora peituda!
Notei, também, que muitos gostam do meu blog. E se não gostam, são ótimos mentirosos, e deveriam considerar a política ou a diplomacia. Seja como for, agradeço pelas respostas positivas. Agradeço inclusive a você, que não leu nenhuma palavra deste blog. Nah, pensando bem, não agradeço não, vá se danar. Mas pra você que está lendo, fique a par - este blog é dedicado a você =)
Por fim, notei que gosto muito de blogar. Me falta tempo, me falta assunto, me falta vontade. Mas quando eu crio um texto e posto ele e anuncio ao mundo que tenho um texto novo, eu fico orgulhoso pra caramba. É uma sensação maravilhosa. Então, no que depender de mim, terei um blog por muitos e muitos anos. Até que eu encha o saco e funde o quarto, talvez. Até lá, finjamos que o Inominativo é eterno. E que esse é o primeiro ano de muitos! Aê!

Feliz Aniversário, Inominativo!

Ouvindo:
For the Girl
the Fratellis
Costello Music (2006)

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Os Últimos Chocolates da Caixa

Opa! Daê, galera? Tudo supimpão? :D

Chegamos ao último suspiro do ano de 2007 da Era Comum. Em breve, estaremos comendo doces gostosos junto de pessoas agradáveis, comemorando o Natal e o Ano Novo. Celebrando o ano que chega, torcendo para que ano que vem tudo seja diferente, assim como a gente torceu ano passado. E a gente sabe que nada vai mudar, mas sabe como é, né? Como a Raça Humana é boba... A gente é facilmente enganado. Inclusive por nós mesmos. Nunca vi. :P

Vamos ao trabalho. Por favor, desliguem o celular, o filme está começando.

Contos do Cotidiano
X - Os Últimos Chocolates da Caixa

Sábado. Depois de três dias de nuvens pesadas, o sol saiu no horizonte, tímido. Um cenário comum no fim do inverno. Também era comum nessa época a mãe comprar uma daquelas caixas de chocolates sortidos, que vendem no supermercado, pra família ter alguma glicose para ingerir no fim de semana. Uma caixa de uma marca famosa, com bombons famosos e gostosos e que todos amavam. As crianças estavam felicíssimas, vendo a caixona vermelha em cima da geladeira, sendo armazenada para depois da janta.
A janta veio e a janta foi. Assim que terminaram a janta, o mais velho fez menção de se levantar, rápido como um tiro. O pai o segurou. "Calma, garoto. A caixa não vai fugir. Vá, fique sentado que eu vou pegar a caixa". Educado o pai, não? É nada, ele queria abrir a caixa no meio do caminho e pegar pra ele o bombom recheado que ele mais gostava. Os outros se degladiariam pelos bombons comuns, mas o dele era dele e ninguém tascava.

Meia hora depois, metade da caixa tinha sido esvaziada. Foi-se o bombom recheado com nozes e o com avelã. O de chocolate branco foi pro menorzinho, que adorava. A mãe pegou um com recheio de morango, lá, que todo mundo abominava, menos ela. Os dois irmãos maiores se revezavam pegando bombons aleatórios: um de coco, um com biscoito wafer, um amargo e um doce. Até o de café pegaram, porque era um bombom com embalagem nova, queriam testar pra ver se era bom. Não, não era. O cachorro adorou, entretanto. Tanto que se atreveu a esperar por mais um, que alguém abrisse e não gostasse. Mas isso não voltou a acontecer. Shoot.

Depois de meia hora de festa, a caixa, pela metade, foi recolhida pela mãe, e todos saíram para assistir a um filme na TV. O sábado acabou, o domingo veio. No café da manhã, os filhos assaltaram a caixa de novo. Acharam um pequenininho que era crocante e um duro pra caramba, mas também era ótimo. Quando chegou na hora do almoço que o bicho pegou. Sobraram na caixa 6 chocolates. Que são os chocolates lá do título. "Os últimos chocolates da caixa". *vento tenebroso*
Manja aquele chocolate que tem uma embalagem muito sem-graça? Tão sem-graça que você, sem querer, faz associação preconceituosa? Você não pensa verbalmente - isto é, você não chega a mentalizar as palavras, mas pensa - que se um chocolate tem uma embalagem tão mequetrefe como aquela, ele TEM que ser ruim. Ele deve ter gosto de chocolate de terceira amolecido no bolso daquele seu vizinho gordo nojento. Ele deve ter sido feito com a maior má-vontade do mundo pelos cozinheiros que tomam conta das fornadas de chocolate. O marqueteiro que criou aquela embalagem devia estar sendo chifrado pelo macho dele. O cara que idealizou aquele chocolate devia ter pensado nisso enquanto teve um surto de diarréia. Enfim, um chocolate cheio de histórias desgraçadas e infelizes. Um chocolate que mais parece um boneco de vodu maligno. E você pensou em tudo isso olhando pra uma embalagem. Credo, como você é preconceituoso.

Foi essa associação preconceituosa que todo mundo fez quando olhou para o que sobrou na caixa. Todo mundo fingiu que não queria chocolate depois do almoço, e cada um foi fazer uma coisa - afinal, era domingo. Lá pelas tantas, no meio do jogão de futebol na TV, o paizão se lembra da caixa. Sorrateiro, pula até a cozinha, abre a caixa e se depara com os últimos chocolates da caixa. Credo, que depressão. Tão deprimido ficou que, por um momento, se esqueceu que seu time estava ganhando. Guardou a caixa, e foi curar sua vontade de mastigar um doce ao atacar as bananas. "Trocar um chocolate por bananas... Que azar...", pensou ele, comendo a banana como se fosse um fardo.
O filho do meio acorda da soneca da tarde, a fim de comer chocolate. Também se frustra quando abre a embalagem. E ainda pensa, nervoso: "Mas que diabos, por que ninguém come isso logo? Fica me fazendo passar vontade...". A mãe também acha que alguém deveria comer logo aqueles chocolates, assim ela pode se desfazer da caixa. Mas ninguém comeu.
À noite, o filho mais velho volta do futebol. Vai para a cozinha, toma um copo d'água e se vira maquinalmente para a caixa de chocolates. Chateia-se. Esconde a caixa. Pega, também, uma banana, e vai pro chuveiro tomar banho.

E veio a segunda e veio a terça. O pai levou alguns em sua mala para a empresa, ver se ninguém queria. Ninguém quis. A mãe pensou em dar pro cachorro, mas ele passou mal da última vez que comeu chocolate, melhor não. Aquilo estava se tornando uma crise familiar. Logo logo, uma reunião seria convocada, e eles teriam que tomar uma séria providência. Eles não admitiriam ser desrespeitados em sua própria casa por alguns chocolates sem-graça!
Foi só na sexta-feira que o filho do meio, chegando mais tarde da escola graças a um trabalho, descobre que não sobrou almoço pra ele. Ele disse que esperaria a mãe dele chegar, faltava pouco. Mas ele estava verde de fome. A barriga reclamava como um estudante de esquerda. Ele precisava tapear o estômago. Como?
Olhou para a cozinha, desanimado. E viu a caixa vermelha. Decidiu: levantou-se, pegou a caixa, voltou à sala, ligou a televisão, sentou-se com a caixa no colo e abriu o primeiro. Ele mordeu o chocolate receoso, como se estivesse com medo que o chocolate explodisse. E mastigou... E gostou! "É crocante!". E pegou outro. E pegou um de marca diferente, mas que também tinha embalagem abominável. E também gostou. E treminou os seis chocolates antes dos comerciais terminarem. Estupefato por ter gostado do gosto, e aliviado por ter, enfim, dado cabo da caixa, ele voltou à cozinha e colocou a caixa, amassada, no lixo. Lembrou-se de que deveria contar pra todo mundo que os chocolates não eram ruins! Mas, quando a noite chegou, ele havia esquecido. E todo mundo se esqueceu da caixa. E ele se esqueceu dos bombons.

Tanto que na quinzena seguinte, quando a mãe comprou outra caixa, todo mundo comeu os bombons de sempre. Mas aqueles seis ficaram lá, por uma semana, quase. Êta, coitados. Quem mandou serem feios?

Ouvindo:
Big Day
Tahiti 80
Fosbury (2005)

domingo, 25 de novembro de 2007

Circuito de Tortura Juvenil

Buenas, galera! Fim do ano em rumo! Logo chegamos ao tão desejado mês de Dezembro! Claro, naturalmente, o mês mais importante é o de Novembro, quando eu comemoro anos. Mas isso você já sabia =)

Muito bem, galera! Esse blog precisa de uma postagem de continuação. Afinal de contas, nos aproximamos da comemoração do primeiro ano de Inominativo. Pretendo mantê-lo vivo, pelo menos, até lá. O ideal é mantê-lo eternamente, naturalmente. Mas, bah, vocês me entenderam.
Como eu tenho que upar um texto, though, falemos sobre algo importante e atual. A preservação das tartarugas molinares do Paraguai!! \o\
Tá bom, sem bobagens. Vamos ao prato principal de hoje.

Circuito de Tortura Juvenil
O Caminho das Pedras, Versão Hardcore

Todo mundo tem, no fundo, no fundo, vontade de ser um ônus para a sociedade. Sabe, ficar o resto da vida ganhando dinheiro sem trabalhar, de pernas pro ar, comendo e dormindo. A boa vida de Deus. ^^
Acontece que, infelizmente, não é bem assim que a música toca. As pessoas nos lembram constantemente que não podemos viver às custas deles, e temos que tomar jeito, e esse lero-lero todo. Usualmente, essa é a função de nossos pais, que dizem que não irão pagar suas contas eternamente, e que você tem a obrigação de estudar e ser alguém na vida.
Sim, ser alguém na vida. Acordar cedo, trabalhar como um camelo, dormir tarde e fazer disso uma rotina infinita, até que você tenha seus filhos e os ensine a fazer isso por você. Quão maravilhosa é a vida, hein?
Para que sejamos alguém na vida, aqui na maravilhosa terra brasileira, passamos por diversos rituais, desde que nascemos. E um deles, em especial, é bastante importante. Terrivelmente importante, eu diria. Ah, é claro que vocês sabem do que falo - a época dos vestibulares.

Vestibular, tecnicamente falando, é uma prova como todas as outras. Em toda a nossa vida letiva (e além dela, acreditem em mim), recebemos instruções sobre a vida, o universo e essas coisas. Aprendemos informações realmente desimportantes, como a fórmula de energia cinética de um corpo, a equação de Báskhara, o trovadorismo e outros desses atrasos sociais. Depois de um bimestre, um semestre, o que for, recebemos uma simpática folhinha sulfite, cheia de perguntas, e a gente tem que responder essas perguntas.
Primeiro que isso é um tremendo absurdo de tempo livre, na minha opinião. Em vez de todo mundo ser usado em coisas realmente úteis para o progresso da sociedade, ficamos dentro de uma sala respondendo pro professor perguntas as quais ele já sabe a resposta. Se ele já sabe responder, por que pergunta? Por que adular o aluno, humilhá-lo? Que prazer mais sádico. Credo. O professor e os alunos estão na sala somente jogando seus tempos fora, e deveriam fazer coisas mais proveitosas para a Economia do meu Brasil Varonil.
Segundo, depois que o cara ficou dois meses inteiros ouvindo o professor falar lá na frente sobre o que quer que seja, ele tem que dizer pro professor o que ele afixou. Mas que está o pulo do gato. Acompanhe comigo: o aluno estuda uma matéria aleatória. Ele entendeu conceitos fundamentais, e entendeu bem algumas partes mais isoladas. Digamos que ele tem conhecimento suficiente para acompanhar um programa de televisão que fale sobre aquilo. Acontece que, na prova, o professor - um cara amargurado pela vida que teve, por ter apanhado dos pais e por ter batido o sorvete de flocos dele na testa - faz perguntas das partes da matéria que ele não sabia (conhecem a Lei de Murphy?). Resultado: ainda que ele saiba a matéria, ele não foi bem. Ele não conseguiu provar pro professor que ele manjava a matéria. Terrible, n'est pas?

É, provas são justas assim. Não importa o seu credo, sua classe social, sua formação ética, sua saúde física, uma prova é sempre uma prova, para um e para todos. E a era dos vestibulares é só mais uma prova. O pulo do gato a respeito delas é que essas provas dão mais do que notas: te dão convites para ser alguém na vida. Lembram-se do início do post?
Vestibulares tentam consertar boa parte dos erros, though. Elaboradas por dezenas de professores competentes, com um embasamento estatístico, blah blah blah, os vestibulares tentam acertar onde as provas convencionais falham, e tentam ser a prova que meça, de fato, tudo o que você sabe. Tentam perguntar sobre o máximo possível de coisas, da melhor maneira possível. Acontece que se, por um lado, o vestibular é melhorzinho, mais justo, mais balanceado, chances iguais e tal, por outro lado ele piora a situação tão terrivelmente que chega a compensar de longe a justiça que haviam feito. Quer dizer, o vestibular seria só mais uma prova, não fosse por um pequeno detalhe: você tem que ir bem nele para estudar em uma faculdade decente.
Até o Ensino Médio, você pode conseguir uma boa escola, somente se comprometendo a pagar a mensalidade em dia. Com as faculdades, cara, não tem choro: existem as que cobram (e bem) e as que não cobram nada, só impostos. Mas você só arranja uma boa faculdade se for bem na merda do vestibular! Tem que fazer aquela prova lá como se fosse a última prova da sua vida!, e se você falhar nela, você acaba de jogar sua vida fora, para todo o sempre. Viverá eternamente trabalhando em uma empresa de atendimento ao consumidor, e vai estar falando gerundismo até seu cérebro se suicidar. Tudo porque você não sabia o que diabos é uma mitocôndria.
Então o vestibular se torna a pior prova que você fez na sua via até agora. É a sua única chance para progredir. Sua última tentativa de embarcar para o próximo vôo. Se você perder esse vôo, só pega o próximo no ano que vem, entende? Que outra prova estudantil que você fez que era tão maldosa assim? É por isso que tem esse medão todo em relação ao vestibular, toda essa atmosfera negativa, todo esse terrorismo. A prova em si, de fato, não é tão medonha, não é tão difícil (e se você discorda comigo e acha a FUVEST dificílima, espere só até você fazer uma prova de faculdade). O negócio é que a prova mobiliza milhares de caras sedentos por uma oportunidade de provar pros pais que eles não são tão imprestáveis! Ou, pelo menos, estão se esforçando para não ser, eh?

Chegamos em uma importante pergunta para a nossa vida: vale mesmo a pena fazer vestibular? Jogar fora nossa vida de vagabundo sugador de dinheiro, passar noites inteiras em claro, devorando livros, esquecer a sociedade e a diversão, e se estourar em uma prova de ambiente tão pesado que parece que tem elefantes sentando em suas costas vale a pena? Compensa passar um domingo inteeeeiro (e para a maior parte de nós, vários domingos inteiros) fechados em uma sala com um fiscal chato, um ventilador barulhento e um sol filhadaputamente belo lá fora? Queremos essa tortura para provar para os outros que somos fodas?
Bom, é óbvio que não vale a pena. Eu preferiria muito mais ter tomado o caminho da preguiça (he), mas me obrigaram a ser alguém na vida. Disseram que eu devo arranjar um bom emprego, receber um bom salário, ser importante para a sociedade, honrar o nome da família, receber condecorações e, no futuro, obrigar meus filhos ao mesmo tipo de pressão. A gente vai atrás, então, né? Alguns de nós até aprendem a gostar da vida sofrida, já que os pais fizeram uma excelente lavagem cerebral. E nos esfolamos, e nos desesperamos. E ficamos sem-graça quando a mãe conta pra um vizinho que você está prestando vestibular, e você responde, sem-graça: "É... vou prestar esse fim de ano...".
E aí? daqui a vinte e cinco anos, rapaz, quando você tiver seu diploma na parede e seu filho terminando o Ensino Médio, você terá entendido, finalmente, porque seus pais te pressionaram tanto, porque eles queriam acabar com sua vida alegre, porque eles queriam te empurrar logo para a universidade, te fazer um cara responsável. Seus pais só queriam que você saísse de casa o quanto antes. E que, claro, daqui a alguns anos você pague a conta deles. Assim como você espera que seu filho fará.
Então é bom fazer bem a sua parte, vestibulando. E fique relaxado. O vestibular é a última prova fácil que vocês farão, afinal de contas. ^^

E aos que fizeram provas esse ano: desejo que tenham ido bem. E espero que tenham tirado muitas fotos da época antes da faculdade - vocês sentirão muita falta dessa época.

Ouvindo:
Extreme Ways
Moby
18 (2002)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Hoje É o Seu Dia! Que Dia Mais Feliz!

Oba, pessoal! Tempão, né? Eu tenho me apertado um pouco, mesmo. Iminência de fim de semestre, sabe como funciona.

Eu me lembrei, entretanto, que eu preciso postar nesse blog. Estou muito chateado, porque recentemente caí de produção. E não quero, queria postar uma vez a cada quatro dias, mais ou menos. Mas falhei. E vou falhar de novo, porque não vou conseguir escrever nada de emocionante aqui, agora. Não agora. Vou encher lingüiça trazendo um post dO Mal do Século, para repetir a seção Repeteco, lembram dela? É, eu achei que não a usaria mais. Mas você descobre que na hora do aperto, se não tem papel higiênico vai até folha de urtiga, rapaz. Que dureza. :P

REPETECO
10.08.05
Neste sábado de Agosto, tive uma epifania, e escrevi uma simpática história. Um papai, pobre dele, armando as maiores confusões com uma galerinha do barulho (alguém aí se lembrou do narrador da Sessão da Tarde?) pra poder fazer a festa do filhinho dele, o Juninho. Mais um dos meus textos que eu achei ótimo - sim, eu sou presunçoso - e acho que merece uma nova chance. Mesmo que seja novamente em um blog fracassado. Mas, eh, o blog é fracassado por culpa minha, que não atualizo. =D
Este post veio, no original, em duas seções. Eu juntarei elas e farei um post só. Uma história só.

***

Hoje É o Seu Dia, Que Dia Mais Feliz!
Primeira Parte

Pois então. Todos nós, em parte qualquer de nossa efêmera vida, já foi o perfeito exemplar do que é conhecido como "baixinho" (copyright XUXA® 2005). É, já babamos na blusa de nossas mamães, deixávamos as fraldas pesadas, jogávamos papinha na babá, aprendíamos bons palavrões... Oh, era boa essa, e não sabíamos...
Agora, uma das cenas que mais gosto de ver no crescimento de um futuro homem é quando ele completa anos de vida. Anos de vida = aniversário. Aniversário = festa. Festa = bagunça! Oh, nada mais legal do que seu filho fazer 4 anos, e você chamar aquela pivetada toda para comemorar a sorte do seu pirralhinho de ter sobrevivido às intempéries por tanto tempo!! Quatro anos inteiros! Mas isso dá um trabalho que não está escrito. Ou melhor, não estava escrito, porque agora, hehe, está. Portanto, se você nunca acreditou na máxima "ser mãe é padecer no paraíso", aí está uma boa hora para reflexão. Luzes! Câmera! O Mal do Século!

Preparando o grande evento
Faltam 2 meses
Nível de desespero: Baixo
Faltam dois meses. Seu filho tem 3 anos e você quer remarcar o fato histórico, os 4 aninhos do Junior! (Adoto Junior como nome do nosso monstrinho) A idéia é fazer uma festa bem melhor do que a do ano anterior, fato que, aliás, não será difícil, pois ano passado foi a misericórdia, lembra? O Juninho caiu no bolo, a Emilinha ficou chorando a festa inteira, caiu guaraná no cachorro, foi um fiasco... Agora, você e sua esposa - ou seu marido - estão unidos, convictos de que, assim como diria Lula "esse é o ano da virada"!
Ok, chamaram buffet, contrataram palhaço, compraram 1000 convites, escolheram decoração do Bob Esponja (coisa mais idiota, só criancinhas para achar uma esponja de banho divertida...), enfim, deixaram planejado uma festa que tem tudo para ser exemplar até o ano que vem. Verificar o local antes, beeem antes, também é muito lógico, para não se decepcionar. Acabou? Não. Pelos próximos dois meses você vai ter que ignorar os berros suicidas e psicóticos do Juninho, implorando para que "por favor, me digam se vai ter festa!!". Boa sorte, paizão e mãezona.

Pré-festa: doces, salgados e aspirinas
Faltam 15 dias
Nível de desespero: Médio
Você checou sua conta bancária mês passado? Não, né? Eu sabia. Agora, a idéia da festa na casa da vó não parece tão ruim, né? Mas não desista, soldado! Há seres malditos à sua frente! Faltam comprar os mantimentos que, é claro, não estava no pacote do buffet. "Ah! Por isso o preço tão barato?" Hum, mais ou menos. Falta planejar a compra de refrigerantes, de sanduichinhos, de salgadinhos, de docinhos - especialmente brigadeiros, o Juninho não come beijinho. Ha, ha, garotão, está caro, né? Vai doer mais, fica tranquilo. O seu dentista e aquela broca vão ser uma música agora.

A Véspera - devo torcer para que esse dia passe logo ou nunca termine?
Falta 1 dia
Nível de desespero: Alto
Juninho está morrendo, e isso não é um exagero. Ele não para de gritar e saber porque ele é o único garoto da escola que não vai ter uma festa, e porque ele não pôde chamar os amiguinhos dele para comemorar em casa. Hein?? Hein?? Mal sabe ele que todos os amiguinhos estão avisados para a festinha surpresa, mas foi ruim esconder. Principalmente depois de descobrir ontem que o bolo também não estava incluso na conta do buffet! Weee! Daí você encomendou um bolo, e qual não foi sua surpresa? O confeiteiro montou um bolo de coco! O Juninho não gosta de coco! Grrr... Tudo bem, paciência, a gente faz uma festa com dois bolos... Chocolate, seu confeiteiro, ouviu?
Bolo encomendado, e com a garantia de que chega na hora, o dia anterior piora a medida que está próximo do fim. Juninho não quer dormir. E não quer deixar ninguém dormir: "faltam 3 horas e 35 minutos!", anuncia ele, olhando o relógio que ganhou de natal. "3 horas e 15 minutos!" "Já chega, mocinho, vai para cama, amanhã você vai acordar cedo".
"2 horas e 40 minutos..."

***

Hoje É o Seu Dia, Que Dia Mais Feliz!
Segunda Parte

É a luz no fim do túnel? Ou é o trem?
Faltam 7 horas
Nível de desespero: "Eu quero minha mãe"
E você achando que ia se safar de acordar cedo porque hoje é sabado, né? Pobre homem. Acorda, faz o que tem que fazer e te prepara, porque uma mensagem cósmica te disse 5 segundos antes de você levantar da cama: "não levante". Mal sabia você que aquilo era a Razão.
O dia começa com ótimas notícias, do tipo: atraso do bolo, trânsito básico, o motor que não quer esquentar... Mas coragem! Coragem! Juninho está acordado, emburrado com a vida e com todos. Coitado. Você terá que arranjar uma maneira de colocar Juninho arrumado e perfumado dentro do carro às 16h00 do dia do aniversário dele. Como? "Junior, a gente vai visitar vovó hoje!" É, ele não está muito feliz agora... Mas o que importa é que ele vai tomar banho e pôr uma roupa. Quer dizer, espero que ele não faça que nem ano passado, quando ele fez xixi na roupa no meio da viagem, lembra? Ou será que foi ano retrasado... O que importa é que foi original. Mas ele se enganou!!

A Festa de Quatro Anos do Juninho ou Guia Prático de Como Acabar com a Civilização Ocidental
Infelizmente, não faltam mais dias
Nível de desespero: "Como será a morte?"
O buffet está muito legal! Veja só, um coitado com metade de uma fantasia de Bob Esponja, fumando o último cigarro, umas monitoras com seus 18 anos, de shortinhos, hum... generosos (o preço não estava tão baixo assim, pensa você, ou seu marido, sei lá), umas espumas coladas na parede, um "PARABÉNS JUNIOR" também colado na parede, e a mesa, magnífica, maaas, sem o bolo, que vai atrasar... grunf...
Invasão!! Levantar a ponte levadiça! Preparar arqueiros! Armar catapultas! As crianças chegaram!!! Centenas, milhares, milhões de mini-hooligans invadindo e dominando, fazendo barulho, cantando músicas, dançando as cadeiras, chorando (Mas já? O bolo nem chegou!)
Hum... Está faltando algo, não? São 19h00, e o astro principal não chegou! Não, o Junior está lá no pula-pula, mané, o bolo é que não deu notícias! "Oh, senhor, houve um pequeno atraso, estamos enviando!" Em 15 minutos, chegam dois bolos de morango! Desculpa, amigão, não pedi estes bolos. Não? "Oh, senhor, chegarão em uma hora!" Faz você pensar que o Trabalho de Conclusão de Curso na Faculdade seria a coisa mais difícil com o que você lidaria, né? Tsc, tsc, tsc...
Ok, o bolo chegou! Pelamordedeus, até que enfim, as crianças já estavam quase dormindo no pula-pula, e algumas mesas já têm crianças passando mal de tanta coxinha. "Melhor, sobra mais bolo", pensa você. Mas quem vai comer o resto?

Depois do Funeral
12 horas depois
Nível de desespero: você alcançou o Nirvana
A festa acabou. Sua vida é mesmo a pior possível. O pula-pula furou no meio da pulação, alguém derrubou o sorvete no bolo de coco, o refrigerante acabou, vomitaram num canto e colocaram um auto-falante em cima. OMG. Ainda bem que você não vai limpar isso... Seus joelhos ainda lembram a festa do ano passado, quando acharam um cantinho embaixo da pia para sujar! E já amanheceu e você não dormiu. Ficou conversando com os pais dos outros demoniozinhos. Sem cerveja, que merda de mundo é esse? Mas pelo menos você já tem dicas para o ano que vem... Mas tudo bem, o que você queria é morrer até amanhã...
Agora convenha que não tem nada mais gratificante do que um "Poxa, pai, mal posso esperar até ano que vem!"... É... Ninguém mandou ter filhinhos...

***

Será que este post tem alguma relação com meus recentes cumpleaños? :P

Considerações finais:
Achei um blog super-legal que disponibiliza download de jogos para celular! O Gamer de Celular tem diveeersos jogos, e eles postam pelo menos uma vez ao dia. Recomendo pra quem tem um celular com jogos chatões, como o meu. Isso é, até eu visitar lá. Five stars =D

Obrigado pela atenção, gente! Stay tuned!

Ouvindo:
Mr. Fate
Benjamin Diamond
Out of Myself (2005)

sábado, 3 de novembro de 2007

Teleatendimento

Buenas, galera! O mês de Novembro vem aí! Isquindô, isquindô! Ziriguidum!

Deixa de bobagem, Rafael. Antes de continuar, devo explicações aos senhores, presumo. Eu simplesmente sumi nas últimas semanas do findo mês de Outubro, deixando este pobre blog às moscas. Mais tempo do que gostaria, aliás. Mas dessa vez, a culpa não foi (somente) minha. Eu fui, senhores, vitimado por um complô. Os eventos foram cuidadosamente manipulados por uma grande companhia multinacional, cuja única intenção era de humilhar e destruir a minha feliz vida de cidadão terceiro-mundista. Depois de nove dias sem internet (Ouviram bem? Nove dias!) o técnico veio até o meu condomínio, abriu o modem do condomínio e descobriu que era mau-contato do cabo com o modem. Caralho, nove dias por uma bobagem dessa. A Telefônica me enoja. Fizeram o maior rebu, disseram que não tinham gente pra mandar pra cá, diziam que os técnicos vinham e não achavam ninguém... Enfim, riram muito da nossa cara.
Graças à Telefônica, fiquei sem internet durante o fim de Outubro. E daí a falta de postagens. Mas tudo bem, tudo muito bem. Continuo mandando tiros pra cima e pra baixo, gentem. Alguém me segure! Inspirado pelo acontecimento, reacendo a chama. Go, Inominativo! o/

Contos do Cotidiano
IX - Teleatendimento

Quando nosso herói chegou em casa aquele dia, fez o de costume. Trocou-se para uma roupa mais caseira, foi ao banheiro, e sentou-se, placidamente, em seu sofá de costume, para acompanhar o noticiário noturno, que em breve começaria. Assim que ele senta, entretanto, seus filhos - dois anjinhos terrivelmente energéticos - o interrompem. "Paiêêêê", diz o mais velho, portando a voz da dupla. "A internet, paiê! Não tá funcionando!". Assombrado, o pai se vira ao rebento mais velho. "Como não? O técnico não veio hoje?". "Não, pai. Não veio ninguém", responde o mais novo. Ele se virou para sua esposa, que estava de férias da empresa, e ela fez uma negativa com a cabeça, confirmando a versão dos guris. Sem visitas.
Com todas as cabeças viradas pra ele, o herói se sentiu impelido a tomar uma decisão. Levantou-se, e pegou o telefone, odiando a vida. Discou para o telefone da empresa.

Como de costume, uma odiosa voz monótona saiu do telefone, pedindo para ele discar o código de área da cidade dele, seguido do número do telefone. Ele obedeceu, nervoso. Concluiu a digitação, e a voz automática diz: "Este número não está cadastrado. Por favor, tecle o código de área, e o telefone". Se o papai não fosse um ser civilizado, teria esmagado o telefone com suas mãos, e cometeria tantos homicídios quanto conseguisse, até chegar na sede da empresa e cometer um ato terrorista realmente chocante. Mas ele se segurou. Digitou os vários números pausadamente. A voz disse "Boa noite". Ele respondeu, mentalmente, um "queime no Inferno, vagabunda", enquanto a voz repetia, idiotamente, as opções. "Para promoções e plano especial, digite 2. Para contratações de novos pacotes, digite 3". Ele se vira à sua esposa, buscando apoio, mas ela parece feliz picando um maço de cebolinhas. Talvez, se ele estivesse com aquela faca, ele já teria sido preso por homicídio em massa. Finalmente, a moça falou algo sobre suporte técnico. Ele discou o número correspondente. Veio outro menu de opções. Ele aguardou, digitou novamente o valor, e aguardou o atendimento. Pelo visto, finalmente um ser humano o atenderia.

"Maristela falando, boa noite", uma voz odiosa o atendeu. Engraçado como tudo parece odioso quando estamos com ódio, ele pensou.
"Olá, Maristela. Eu sou um otário que contrata o serviço da sua empresa, e gostaria de reportar que a sua empresa não está fazendo o serviço que eu contratei. Devo implorar por perdão, chamar meu advogado ou cometer um ato terrorista?". Sua esposa o olhou feio, mas deu risada. Os filhos acharam engraçado. Mas a atendente notou que ele não estava brincando. Como a profissão reza, entretanto, ela deve tentar manter o consumidor racional. E manteve a calma.
"Que problema que o senhor está tendo, senhor?".
"Minha internet, minha querida. Estou sem internet. Já chamei suporte, inclusive, e não fui atendido. A senhorita poderia me explicar o porquê?". Ele ouve barulho de teclas sendo golpeadas. E a moça diz que às vezes os técnicos perdem o prazo, mas quando é o caso eles ligam informando. "Então, veja só, eles se esqueceram de me avisar que não passaram em casa. Será que eles acharam que eu ia notar sozinho?".
A moça tentou manter o nível paciente. "Pode ser, senhor, que eles foram, resolveram o problema e deram baixa no seu pedido sem lhe informar. Isso é comum quando ninguém é encontrado em casa".
"Bom, querida, temos um problema. Se foi isso o que aconteceu, o cara se esqueceu de bater na porta, porque sempre tem alguém em casa. E se esqueceu de consertar o problema! Vai ver, consertou o da vizinha, que tem 78 anos e não sabe nem o que é internet". Por dentro, ele ria de suas piadinhas. E ria do fato de ela não estar achando a menor graça.
"Olha, Maristela. É Maristela seu nome, né? Já é a terceira vez que faço esse teste de retardados, digitando números atrás de números, e eu acho que acertei todos eles. Por que ninguém vem aqui em casa arrumar a minha conexão?".
A moça pergunta: "Que erro que o senhor está tendo, senhor?".
"Maristela", responde o rapaz. "Vamos supor que eu já tenha passado por isso, oka? Vamos supor que você já saiba que o problema não é o fato de eu ser burro, e que o problema é o fato de ter algum erro em qualquer um dos seus aparelhos. Vamos supor que você não possa fazer nada pra me ajudar, a não ser chamar alguém que tenha esse poder. Que tal? Você pode ou não pode?".
A moça insiste em segurá-lo na linha, entretanto. "Senhor, você poderia estar me confirmando o número do telefone?".
Ele perde a paciência, mas sem perder a calma, sabe? "Não, minha filha. Não vou poder estar confirmando o número do telefone, porque eu digitei ele quinhentas vezes, e eu tenho certeza e você tem certeza do número que estou usando". Suas mãos tremiam, seu rosto estava quente.
"Então o senhor poderia estar, pelo menos, me confirmando o nome do titular da linha?".
"O nome do titular é o meu nome, mocinha. E, por favor, você poderia estar me transferindo ou vai estar sendo difícil?". A moça ficou ofendida pelo deboche do cara com o gerundismo dela.
"Senhor, antes de concluir, gostaria de informar que nossa empresa está realizando um concurso cultural durante todo o mês, e estamos convidando nossos usuários a participar".
"É mesmo? Que interessante", respondeu o rapaz.
"Sim, senhor. É só o senhor acessar o site da empresa, e clicar em 'Promoção'". Foi a deixa do rapaz.
"Minha querida, como eu vou participar da promoção online se vocês não consertam minha internet?!". A atendente se deu por vencida, e digitou o ramal do suporte avançado.

"Boa noite, senhor. Meu nome é Evandro, estarei dando continuidade ao seu atendimento". O pobre cliente notou que o Evandro parecia mais inteligente. Sabia usar gerundismo com verbos no futuro!
"Boa noite, Evandro. Vou ser direto com você. Estou sem paciência. Esta é a terceira vez que estou batendo papo com atendentes da companhia que lhe emprega, e não porque eu sou um velho desocupado que não tem nada para fazer da vida. Ao contrário, tenho muitas contas pra pagar, inclusive a sua, e preciso acordar cedo pra pagá-las. O caso, meu colega Evandro, é que estou sem conexão com a internet. Já fiz todos os diagnósticos e, se bobear, já fiz até exame de fezes. Os técnicos anteriores não encontraram problemas, e ficaram de enviar técnicos pra minha casa. Ninguém veio. E pelo visto, ninguém virá. Então, posso partir pro vandalismo e usar o meu martelo nos seus produtos? Ou você, finalmente, será a alma eleita a me ajudar?". O atendente deve ter dado risada, porque a voz dele parecia mais animada.
"Vou fazer o máximo, senhor. Vejamos. Você pode me confirmar qual é seu sistema operacional e o modelo do seu modem?". O homem se irritou.
"Evandro, por favor. Não teste minha paciência. Por favor. Eu não quero mostrar pra você o meu repertório de ofensas. Ele é muito extenso e ofensivo, então preserve-se. Apenas faça o seu serviço, sim?". Evandro concordou, pediu um momento e foi fazer uns diagnósticos. A voz dele sumiu.

Alguns pares de minutos depois, ele retorna. "Olá, senhor. Perdoe a demora. Aqui no registro diz que o senhor tem duas chamadas recentes, exato?". Nossa! Então a empresa armazenou as chamadas anteriores! Não foi uma ilusão dele, afinal! Ele diz que sim, é verdade. "E em nenhuma das vezes seu problema foi consertado".
"Aparentemente não, Evandro. Senão não estaríamos tendo esta aprazível conversa".
Mais barulho de teclas sendo dedilhadas. "Senhor", diz o atendente. "Vou estar realizando um diagnóstico padrão. Vou pedir para o senhor estar aguardando alguns minutos". O paizão alivia um pouco sua tensão.
"Okay, Evandro. Não vou estar indo a lugar nenhum, se é o que lhe aflige".

Mais alguns minutos.
"Senhor?".
"Sim, Evandro, eu não fui a lugar algum". Evandro continua.
"Então, senhor. O problema era uma falha no protocolo de registro do seu terminal local ao nosso roteador interno. Houve uma compilação feita há pouco, e alguns protocolos venceram, mas não foram substituídos".
Ele para, repete a mensagem no cérebro, e ao não entender de novo, diz: "Ah, sim... E em Português? O que aconteceu?".
"Ah, senhor, é que atualizamos nosso sistema, mas não atualizamos sua conexão". Olha só, que sortudo, hein?
"Bom, e aí? Vão atualizar meu sistema? Ou vou subornar algum deputado pra isso?".
"Ah, não, senhor. Já estou realizando a compilação. Em momentos, sua conexão estará renovada. Mais alguma coisa, senhor?". Ele ponderou.
"Na verdade, tem sim, Evandro. Diga ao seu chefe que a empresa que ele dirige é uma grande merda? E certifique-se de arranjar emprego em uma empresa decente na próxima vez?".
O técnico riu do outro lado da linha. "Agradecemos a ligação, senhor. Boa noite".

Pronto. Agora, era só aguardar a compilação das quantas lá terminar, e eles teriam a internet. Viu que fácil?
Na verdade, a internet não voltou naquela noite. O paizão ligou de novo na noite seguinte. E ligou no fim de semana de novo, porque outra vez não funcionou. E o problema?Era um buraco que foi mal plugado por um outro técnico, em uma visita rotineira. Mas a empresa não deduziu um centavo da conta. Ah, mas se o consumidor atrasar o pagamento por dois dias, pobre dele...

Ouvindo:
Sly
The Cat Empire
Two Shoes (2005)

domingo, 21 de outubro de 2007

Discutindo com Estilo - Ou Não

Hey, pessoal! Maravilha?
Dia de atualizar hoje! Atualizando rápido pra compensar o tempo tão demorado das últimas postagens. Siiim, pasmem, eu tenho um pouco de humanidade.

Sem muito o que falar, vamos ao que interessa: dinheiro! Só que dinheiro eu não tenho, então vamos a outra coisa que interessa, e que eu possa ajudar. Bah, deixa de besteira, Rafael. Let's get it on!

Discutindo com Estilo - Ou Não

Havia uma época, no passado, em que discutir era uma arte nobre e requintada. A discussão, qualquer que fosse o assunto, era digna de nota, com ponderações inteligentes, defesas austeras e pontos de vista bastante claros e, naturalmente, diferenciados. Discutir era como uma luta de esgrima.
O século XX, entretanto, nasceu. Com ele, toda aquela felicidade reinventora da humanidade. Guerras Mundiais, coisas eletrônicas, exploração do espaço, o São Paulo FC e eu, claro. Nossas décadas mais recentes foram dedicadas minuciosamente a acabar com toda a firula clássica da belle époque de outrora, para o bem ou para o mal (caramba, apesar do parágrafo vazio, eu falei bonito).
Junto do século XX e dessa destruição sistemática dos paradigmas anteriores, veio a tentativa de pôr a arte da discussão no lixo. A banalização da discussão foi sentida nas mais diversas camadas sociais, na mídia... O que antes era a defesa da honra, a defesa da família e dos bons costumes e a defesa da religião e da pátria, agora era motivo para pancadaria do mais baixo nível no churrasco de domingo com os amigos. Caramba, que bagunça.

O que estou tentando dizer, guris, é que hoje discutir não é mais como há uns cem anos atrás, quando os lordes se reuniam e falavam sobre como fazia frio em Londres, ou como poderia fazer mais frio em Londres. Naquela época, o Lord Churchill diria que a precipitação pluviométrica (isto é, as chuvas) eram deveras intensas na capital inglesa. Lord Kellenger diria, entretanto, que as chuvas não eram tão intensas quanto antes, e que isso causaria ar mais seco, o que ajudaria a poluir o céu londrino. Eles falavam de dados, estatísticas, um atacava a teoria do outro, o outro contra-batia. Até que, depois de quase duas horas de cerveja e discussão, um deles faria um derradeiro comentário. O segundo balbuciaria. Não diria nada. Bebericaria a cerveja e diria, despretensiosamente: "Talvez...". E teríamos um vencedor. Justo e simples.
O que aconteceu entre a grande era vitoriana e o mundo moderno contemporâneo atual de hoje foi o aparecimento de engraçadinhos, que acham que todos merecem ser iguais e aqueles papos comunistas infelizes, e despeitaram os anos de conhecimento adquiridos pelos eméritos srs. Churchill e Kellenger. Primeiro, houve aquele sem-graça que não suportou ser vencido em uma discussão, e por andar armado, acabou por atirar no vencedor, coitado. O cara da arma foi punido no Inferno, para que conste, e o vencedor justo vive até hoje no Paraíso com 70 mulheres lindas e um conjunto para jogos de poker. Há Justiça no além-vida, e ela funciona!

Mas não estamos falando da violência metropolitana. Existem diversos tipos de atentados contra a ordem natural da humilhação humana. O mais conhecido deles (depois, naturalmente, do revólver), é uma revolucionária idéia, de criador desconhecido, de idade desconhecida e de, enfim, natureza desconhecida. Mas você não o desconhece, caro leitor. Quer ver?
Suponhamos que esteja você e um amigo seu, de longa data ou de convivência recente, os detalhes são irrelevantes. Conversa vai, conversa vem, vocês finalmente encontram algum motivo para discordar, e aí começam a medir forças. Dados estatísticos experientemente colocados entre entonações e gestos, de uma maneira beirando a profissional. Praticamente um duelo de mestres. Nos finalmente, seu oponente começa a balbuciar. Você pressiona, inventa alguns dados, e faz o comentário final: "Ah, isso quer dizer que, de uma maneira ou de outra, ir pra praia pela Anchieta é bem melhor do que pela Imigrantes". Parabéns, você venceu. Seu oponente pausa, pondera, olha pra você e, em vez de dizer "você tem razão", diz, desafiadoramente, "Ou não". E pronto, discussão avacalhada.
O "Ou Não" é uma maneira desesperada de não perder uma discussão. É como ofender a mãe. Como derrubar o tabuleiro de xadrez no chão. Mas o treco é que ele acaba sendo muito providencial, porque não importa quão contundente seja sua opinião, você sempre pode estar redondamente enganado. E o cara diz "Ou não", que pode não ser nada de mais. Mas é uma maneira meio torta de lembrar que ele está errado. Mas você, talvez, também esteja.

Não sei se estou sendo claro, talvez seja o calor. Mas o caso é que desde que "Ou não" foi pronunciado pela primeira vez, nenhuma discussão tem vencedor. Os assuntos se desenrolam e, perto de um final, um dos dois dizem algo como: "Por isso que eu falo - essa crise no mercado chinês pode ser catastrófrico pra saúde do Euro em 2009!". O segundo, surpreendido com essa conclusão, contra-ataca com "É. Ou não". E a discussão foi avacalhada. Deu velha.
Veja você que não adiantou de nada seu conhecimento profundo sobre o cenário econômico mundial contemporâneo e as relações comerciais China-União Européia. Seu amigo lembrou apenas que você pode estar redondamente enganado porque, oras, às vezes algo não tenha nada a ver com nada!
Você pode tentar continuar a discutir, pode dizer que você está certo, que isso é claro como a água, não há como contestar. Mas você corre o risco de ser infantil e petulante e, se estiver errado, ficar em pior situação ainda - porque as coisas sempre podem dar errado (certo, Murphy?). Você está em um dilema, não?

Nessas horas, o melhor a fazer é ser esportivo, e aceitar que seu oponente jogou sujo, mas ele pode ter tanta razão quanto você. Afinal, o mundo não costuma fazer sentido nenhum, mesmo, e é pretensão da humanidade achar que existe. Ou não, vai ver pra você o melhor seja partir pra ignorância, ofender a mãe, derrubar o tabuleiro de xadrez no chão e perder toda sua compostura britânica. O importante, pelo visto, é sair vitorioso de uma discussão.
Eu prefiro me certificar de que não vou dar a melhor cartada. Prefiro forçar uma derrota para o meu lado. E quando eu estiver às vésperas de uma derrota verbal, sou eu quem falarei "Ou não". E eu ganho de novo.

Ou não. Nunca se sabe o que podem inventar pra apimentar a vida. =D

Ouvindo:
El Matador
Los Fabulosos Cadillacs
Vasos Vacíos (1993)

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Horário de Verão: Consideração Histórica

Boa tarde, macacada animada! Como vai indo o mês de Outubro? Bem, espero =D

O mês de Outubro estava indo muito bem pra mim, obrigado. Até diabos inventarem de adiantar os relógios em uma hora. Idéia de jerico. Agora eu, que já podia me gabar de dormir várias horas por dia, vou ter de acordar uma hora mais cedo. Tá, tudo bem, seu chato, você pode me lembrar que eu vou dormir uma hora mais cedo, também, mas quem disse que eu consigo pegar no sono uma hora mais cedo? Sem conversa. Eu só fico com sono no horário de sempre. Será um loooongo verão, esse...

O que me faz pensar que isso pode ser fruto para uma boa postagem. Ou não, vai saber. Leia e me diga o que você acha, oka?

Horário de Verão: Consideração Histórica

O Horário de Verão, como vocês devem sabiamente deduzir, não é invenção recente. Alguns filmes e seriados - principalmente os que relembram a história dos vizinhos do norte, os Estados Unidos - costumam contar como os americanos tiveram a sagaz idéia de criar o Horário de Verão para poupar energia elétrica. Agora, por exemplo, me vem à cabeça o agradável filme A Lenda do Tesouro Perdido, estrelado por Nicholas Cage, em que eles falam qualquer coisa sobre Benjamin Franklin ter instituído o horário de verão, o espertinho. O que eles pouco sabem, pobrezinhos, é que o horário de verão é bem mais antigo do que Ben Franklin e sua maravilhosa pipa que dá choque. Na verdade, essa história toda é mais antiga do que os próprios americanos. É que os americanos estavam ocupados demais notando a beleza do umbigo deles pra prestar atenção nesse tipo de coisa. Mas, sim, o Horário de Verão não é nada moderno, pretensão nossa. A ver, por exemplo, os antepassados nossos da Europa, os romanos.

Os romanos eram pessoas felizes. Guerreavam, matavam, usavam togas de mal-gosto e mandavam em metade da Europa. Eles se divertiam falando pomposamente e dando nomes esquisitos aos seus cidadãos, e inventando moda e mandando todo mundo seguir a moda deles. Vocês vão se lembrar, é claro, de quando eu falei aqui a respeito do mês de Agosto, que foi uma moda inventada pelo Imperador Augustus, e que na verdade não foi inventado, foi copiado da moda inventada pelo Ditador Julius Caesar e seu mês de Julho. É, mas não era só o calendário que eles gostavam de ficar criando, não. Esses guris também se divertiam inventando idiomas, religiões, roupas e horários (na maior parte das vezes, na verdade, eles copiavam das nações conquistadas, mas como ninguém mandou a nação ser conquistada, então os romanos estão com a razão). E o que nos apetece aqui era o horário. Vejam só: eles precisavam medir mais ou menos a passagem do tempo, mas o relógio digital só vai ser inventado no século XX - isso é uns dois mil anos depois deles. E também não adiantava se guiar pelo achômetro ("Ah, acho que já tá bom o suficiente", e o porco que estava no fogo virou carvão). Então, eles tentavam bolar planos maquiavélicos de se contar o tempo que passava - ainda que Maquiavel também só viesse bem mais tarde.
A idéia retirada debaixo da toga deles (écat) foi até que engenhosa e, segundo contam os fofoqueiros da Caras, copiada dos egípcios, que tinham um modelito ar-ra-sa-doooor para o próximo verão. Os romanos pegavam o intervalo entre o instante em que o sol nascia, o instante em que o sol se punha, e dividiam por doze! A razão do doze é que naquela época todo mundo tinha seis dedos em cada mão, então era mais fácil contar até doze. A peste negra iria decepar o sexto dedo de todo mundo, eventualmente. Menos da Daniella Cicarelli. =D
Seja como for, dividiram o dia matutino em doze partes. "E eu com isso?" você me pergunta. É para explicar que, sem querer, os romanos inventavam um prólogo do Horário de Verão. É que, no verão, os dias são mais longos, certo? Então o sol nasce mais cedo e se põe mais tarde. Como as horas eram baseadas no nascer e no pôr do sol, então elas duravam mais horas! No inverno, uma hora simples durava em torno de 44 minutos modernos, ao passo que, no solstício de verão, uma hora durava quase 75 minutos! Viu como eles aproveitavam bem o dia deles? Não é à toa que esses sagazes homens de toguinha mandavam e desmandavam na Europa.

Bom, eventualmente, os bárbaros invadiram Roma, tocaram o terror, chutaram os regentes romanos e redecoraram o Velho Continente com um toque mais rústico. Veio a Era das Trevas na Europa. Outras civilizações ainda mais exóticas do que os romanos inventaram outras maneiras tortas de se contar as horas. Mas foi quando chegamos, aí, ao século XVII e XVIII que a história das horas mudam.
Foi por volta dessa época que os novos manda-chuvas da Europa decidiram que se guiar pelo Sol não era, afinal, boa idéia. Eles começavam a construir as fábricas (all heil Capitalizm!!) e queriam obrigar os pobretas dos operários a trabalhar nas fábricas, independente de sol, chuva, granizo, dor nas costas e meningite aguda grave. Então pensaram nas horas em que estamos acostumados, em que a gente pega o dia inteiro e divide por 24. E aí, vejam vocês, a história do horário de verão à romana meio que desandou. Mesmo porque, a partir daqui, o nascer e o pôr do sol não vão significar mais meleca nenhuma. Você está de prova, querido amigo metropolita. Depois, veio os ingleses que inventaram os trilhos de trem, e de repente a Europa diminuiu. Paris e Roma eram quase cidades vizinhas, ligadas entre si por quilômetros de trilhos. Com esse frenesi, era de se esperar que os relógios passassem a ser importantes, pra que os horários de partida e chegada fossem levados a sério. Claro, aqui no Brasil a gente não tem a menor noção do que é "horário levado a sério". Mas os europeus não nasceram no Brasil, para azar deles, e vivem correndo atrás do relógio. Coitados.

O caso é que agora não tinha mais a malemolência de esticar o dia quando o verão chegasse, nem de encolher o infeliz quando a noite viesse. Os horários eram tediosamente iguais. Daí, quando chegava o verão (ah, o verão...), o sol nascia antes, mas ninguém notava isso pelo relógio. Ou seja, havia mais horas de sol claro! A manhã começava mais cedo!
Um inglês gente boa e amigo do povão notou isso, em um domingo de sol em algum ano entre o fim do século XIX e o século XX. Naquela época, relógios eram irritantemente comuns - tanto que Londres, a capital mundial da época, havia construído uma bonita torre com um relogiozão enorme no topo dela, pra lembrar os londrinos que era hora de voltar ao trabalho. Bom, esse inglês gente boa e amigo do povão, batizado William Willett, estava a assistir corrida de cavalos neste domingo de sol, em uma cidade de Kent, no norte da Inglaterra. Quando ele voltava da corrida, notou que muitos estavam dormindo, ainda, apesar do bonito sol de domingo. Ocorreu ao nobre anglo que isso devia ser porque as pessoas não acordavam quando o sol nascia mas, sim, quando dava 8 da manhã. E isso o incomodou: por que as pessoas estão perdendo um domingo tão bonito? E inventou o horário de verão, ou daylight saving time. Aliás, a Wikipédia acaba de me contar que William Wellet é tatataravô de Chris Martin, vocalista da banda também bretã Coldplay. Ê, família...

Bom, Wellet, que não era vocalista, teve lá a idéia. Dizia ele que isso faria as pessoas acordarem mais cedo, a aproveitar mais o sol, a serem mais saudáveis e, finalmente, isso iria ajudar a economizar energia. Ele tentou passar pra frente, mas não rolou. Ele fez uma propaganda violenta, mas também não rolou. Um membro do Parlamento britânico viu um panfleto, gostou da idéia, tentou uma moção, mas também não rolou. Então outro parlamentar, o futuro Primeiro Ministro Winston Churchill, também achou uma idéia supimpa, mas não rolou.
Até que veio a Primeira Guerra Mundial, e a Europa viu-se dependendo de carvão. Muuuito carvão. Pra torrar em canhões, em trens, em fábricas, whatever. E os alemães acharam essa idéia muito boa!, e instituíram na Alemanha - que estava brigando contra a Inglaterra, caso você tenha faltado nessa aula. Os ingleses viram, afinal, que era hora de ouvir o nosso amigo e, em 1916, passaram a moção do Horário de Verão! Aêw!
Mas William Wellett havia morrido no ano anterior, de modo que ele não ficou rico com isso. É, nem todo inglês com boas idéias vive tempo suficiente para enriquecer.
Aqui no Brasil-il-il, o Presidente, nanico nas horas vagas e aspirante a ditador militar Getúlio "Gordinho" Vargas achou legal a idéia, e a instaurou no verão de 1931. Ela era meio aleatória, porque não era sempre que Gordinho Vargas assinava, e não era sempre que os outros presidentes passavam a idéia, também. O negócio aqui só ficou sério em 1985, quando desde lá todos os anos a gente tem horário de verão. Isso, é claro, se você não está no Nordeste, bichim. Que se você estiver, bem, esse post só lhe serviu de cultura altamente inútil. Bem como o resto do blog, então deixa pra lá.

Resumo da ópera: em um dia de domingo de sol, um inglês achou que as pessoas dormiam demais, conversou com uns amigos, descobriu que adiantar os relógios iria salvar a economia da Inglaterra e, acima de tudo isso, obrigar os preguiçosos a acordar uma hora mais cedo. Ele convenceu um continente inteiro de que isso funcionaria porque eles gastariam menos carvão na guerra. E ele acabou sendo lembrado como um homem engenhoso em um país que parece que só nascem gênios.
Na minha opinião, entretanto, William Willett podia até ser um cara legal. Mas ficou claro que eles se incomodou porque os caras dormiam até tarde em um domingo, e decidiu jogar água no chopp dos ingleses que aproveitavam o domingo porque, afinal, nos outros seis dias eles acordavam quando o sol ainda estava no Japão. Ele foi ao Governo e conseguiu uma lei obrigando os preguiçosos a acordar mais cedo, só porque ele achava melhor para o mundo.
Como eu me vejo do lado dos preguiçosos, eu digo: vá catar coquinhos, Willett. Que custava deixar os outros dormir em paz? Sorte sua que você já está morto e que seu tatataraneto é gente boa. Senão eu me veria no direito de te amaldiçoar até você ir para o Inferno, se é que você não está lá.

Feliz Horário de Verão pra vocês, eu acho. Já já é verão. =D

Ouvindo:
Friday-Friday
Boy Kill Boy
Civilian (2006)

domingo, 7 de outubro de 2007

Tortura Profissional Autorizada

Aê, pessoal! Feliz domingo pra vocês, cambada! Já é hora de continuar a rotina deste blog, não acham? Então vamos metralhar palavras! Hora de postagem! Post it, or DIE! \o/

Antes, um pouco de explanações cabem aqui. A Larissa, um anjo de menina e minha grande amiga, também conhecida como Fu, chegou a perguntar se as idéias postadas aqui são minhas, mesmo. Bom, Lari querida (e pra qualquer um curioso), já é conhecido que nada se cria, tudo se copia. Então tem, deveras, algumas idéias que eu vejo em algum lugar, que ouço em uma conversa, que leio em alguma revista ou sort of. Mas eu não as posto cru, elas têm de passar por um mínimo de sandice minha, sabe? Afinal, eu estou as escrevendo. Mas, sim, meus posts nascem, normalmente, do nada no meu cérebro, e eu as aproveito. Tenho que escrever correndo, para que eu não ache que ela ficou chata e eu desista. Só que são todas idéias minhas. \o/

Falando em ir rápido, é melhor que eu o faça. Senão eu desisto de novo deste post. A ver.

Contos do Cotidiano
VIII - Tortura Profissional Autorizada

Tudo começa quando você volta da escola, em um dia genérico. Inocente, você se desmonta do aparato estudantil para aproveitar mais uma belíssima tarde de primavera, fazendo o que a imaginação lhe permita. Ah, la belle vie. Antes de você dar o terceiro passo dentro de sua casa, entretanto, o telefone de casa toca. Você atende maquinalmente, e a voz de sua mama está saindo pelo aparelho. Diz sua mãe, depois da usual saudação de mamãe a um filho querido: "Filho, é melhor você se apressar para trocar de roupa. Daqui a pouco eu vou passar aí pra te buscar". "Buscar-me, mãe? E vamos onde, exatamente?". Ela execra a sua notável falta de memória para assuntos importantes. E lhe recorda: "Ao dentista, filho. Temos consulta marcada às 16h00".
Olha, rapazes, não sei quanto a vocês. Não sei se vocês são masoquistas, se sua dentista é uma loira linda ou um moreno atraente, mas eu morro de terror de dentista. Demônios vestidos de branco, lobos em peles de fofinhos carneirinhos, com mascarazinhas e jalecozinhos e um sorrisinho simpatiquinho (que merda de frase de boiola, essa), dispostos a nos ajudar a nos livrar dos males bucais, com todo o amor e carinho. Mas eu nunca consegui ver este lado de amor e carinho deles. Quando meus pais abandonavam a sala, tudo o que via era uma sala repleta de instrumentos medievais de tortura, todos brancos-hospital, para catalisar o meu receio sobre dentistas - a intenção deles não é nada boa, de longe.

Antes de você entrar no consultório, entretanto, tem toda a concentração. A preparação psicológica. Ao chegar na ante-sala, aquele clima hostil te chega de sopetão. A atendente diz, com uma voz de buzina de Fusca, que o dentista já já atende. Você senta, tremendo feito gelatina, em um banco qualquer. Seus pais pegam aquelas revistas veeeeelhas (Revista Veja: Cai o Muro de Berlin) pra dar uma folheada nas manchetes antiquíííssimas. Você, é claro, não gosta de ler a Veja. Tampouco as opções, como Caras, Revista TiTiTi, e essas depravações do nobre mundo do jornalismo sério e competente. Sentado como um homem às vésperas da cadeira elétrica, privado de suas liberdades, concedidas por Deus, pela Declaração Universal dos Direitos Humanos e pela Constituição, você aguarda. Essa parte é uma das piores partes da vida, na minha opinião. Do outro lado, aquele zumbido fininho corta o silêncio e gela a alma. Bzzzzzzzzzzzz...
Você só imagina o que aquele ser vindo das profundezas mais esquecidas do Inferno está fazendo com o pobre humano do outro lado da porta, mas seu cérebro não consegue trabalhar com clareza. Ele está em torpor, com o barulhinho preenchendo cada vazio entre os seus neurônios. Todos os seus nervos - em especial os nervos dos dentes - se contorcem de pânico com o barulhinho mais temido pela humanidade. Sua mãe, aquela espiã traidora, não manifesta qualquer semblante de complacência, de pena, de apoio. Claro que não, ela está te entregando, em uma bandeja de prata, ao inimigo! Vendendo-o, tal qual um soldado de guerra, entregue ao inimigo.

Seu coração bate mais rápido quando a porta abre e o outro paciente sai do consultório. Você mal consegue olhar a expressão do paciente, quando o doutor pede um instante para reorganizar a sala medieval de tortura dele. Em minutos, ele reabre a porta, sorri para a sua mãe, e diz: "ele pode entrar". E vira pra você: "vamos lá?", sorrindo, como um anjo da morte. A mescla de fúria e pânico impedem você de ver com clareza. Você pensa em furar o pescoço dele com a broca maldita. Pensa em atacar a atendente e fazê-la de refém, em troca de sua liberdade, pensa em fugir pela janela do consultório. Mas tudo o que consegue fazer é ser conduzido pela espiã até a sala.
Se Dante Alighieri, escritor renascentista italiano e autor de "O Inferno", visse a sala que você agora vê, ele certamente adicionaria alguns capítulos à obra dele. No centro, uma cadeira/poltrona/divã, dando a falsa sensação de conforto. Em volta, aqueles aparatos todos, como brocas, e ferrões, e tubos, e pinças, e cutucadores... Seu estômago começa a ceder à pressão interna. Em seu estado de torpor, suas pernas começam a ceder e, para não passar vexame, você se senta na poltrona, que é o único lugar para se sentar, afora a cadeira do dentista que, claro, está ocupada por ele. O dentista fica entretido com sua mãe. Perguntas genéricas sobre sua saúde, seus dentes, formas de pagamento, essas miudezas. Sua mãe abandona a sala. Vamos à carnificina!

"Abra mais um pouco a boca", e uma cutucadas aqui e ali. Algumas broncas pelo relaxo na escovação, outras cutucadas. Ele pega um tubinho. Joga alguma coisa na sua boca, e manda você cuspir. "Bom, vamos fazer uma limpeza aqui para tirar o tártaro, e você tem que escovar melhor aqui", diz, bonzinho. Você não tem a menor noção se seus olhos deixam transparecer o seu medo simples e puro. Simples e puramente medo. "Olha só...", ele diz, ao checar um dos dentes. "Parece que temos um morador aqui...". Algumas cutucadas. O espelhinho entra na boca. Outras cutucadas. "É, é uma cárie. Vamos ter de removê-la". Acho que essa é uma boa hora para entrar em pânico.
"Ah, ah-eh-há, eh-ah, ah?", diz você, mas o que você diz é ininteligível, porque sua boca está aberta, e cheia de tubinhos e coisas. Ele deve entender a essência, entretanto, porque responde "Não se preocupe. Vai ser rápido. Nem vai doer". Agora, sim. É uma ótima hora de se entrar em pânico.

Queimando de ódio por ter dado munição ao inimigo, você toma a única decisão possível: preparar-se para o pior. Ou, como a nossa estimada Ministra do Turimo tão bem disse, relaxa e goza. Ele coloca uma agulha na sua boca. "Relaxa, é só o anestésico...". Depois, algumas preparações, um tubinho de sugar baba, e vamos ao trabalho! Alguns dentistas são tecnológicos, têm trequinhos de última geração, mas a idéia é a mesma - furar seu dente até a cárie sair rendida.

O barulho cessou. A ausência do barulho deixa seu cérebro livre para realizar pensamentos avançados. "Acabou?", você pensa. O dentista puxa a máscara, e diz: "Pronto. Terminamos. Viu como não doeu nada? Você nem reclamou!". Você olha, estupefato. Não doeu, mesmo! Ele diz que, devido à anestesia, é possível que você tenha dificuldade em falar. E que não é sensato comer nada por uma hora, e não comer nada muito duro por umas 4 horas, para que a massa endureça bem. Dente restaurado, tudo arrumado, você está liberado para ir. Como assim? E a dor? Já acabou? Ele foi simpático, mesmo? Sorridente de verdade? Fez piadinhas, elogiou seus dentes? Isso é injusto! Como é que você pode odiar um dentista se você gostou dele? Se ele torce pro seu time? Se ele é um amor de pessoa, se ele mostra a foto do filhinho dele, que acabou de nascer? Como?
É duro odiar um cara que é tão gente boa, que gosta de você, que cuida de você, que é simpático, bonito, inteligente, agradável. Mas, sei lá, eu esqueço de tudo isso quando ouço a broca. Aquela maldita broca.

Ouvindo:
An Honest Mistake
The Bravery
The Bravery (2005)

domingo, 30 de setembro de 2007

Quando o Relógio Não Colabora

Olá, pessoas! Feliz fim de Setembro para vocês! Aê!! \o/

Sim, eu sei, faz tempo que não atualizo. Doze dias, para sermos exatos. Não pensemos em coisas negativas, though. Vamos pensar em coisas positivas, porque eu preciso de uma idéia para o meu blog! Então vejamos o que sai da cabeça do autor que, vocês já sabem, não tem lá muito de útil. Ainda mais quando ele não está com nenhum pingo de imaginação. Uh.

Quando o Relógio Não Colabora

Imagine um ambiente maçante. Digamos, uma sala de aula. Mas não uma aula qualquer. Uma aula enfadonha de uma matéria odiosamente tediosa com um professor inescrupulosamente tedioso e enfadonho. O tipo de aula que faz atiçar em você seus sentimentos mais suicidas e revoltados. Você começa disposto a prestar atenção na aula. Depois de alguns minutos você se lembra porque odeia aquela aula e porque sorri gostosamente quando imagina o professor correndo em chamas, gritando de terror. Sim, você odeia a aula. E cansou de prestar atenção nela, ué. Você dá aquela rabiscadinha na carteira, faz uns bigodinhos nas fotografias do livro-texto, conta algumas piadinhas. Depois do que parece umas duas horas de pura tortura letiva, você resolve consultar seu relógio de pulso, a certificar-se de que faltam, afinal, poucos minutos de terror. E, para seu espanto, descobre que o relógio andou miseráveis doze minutos. E você ainda tem outros 88 minutos de sofrimento gratuito em aula. É, o tempo é um safadinho.
Einstein, o sabe-tudo da Alemanha, sabia que estava no caminho certo quando postulou que tudo é relativo. E quando você aprendeu isso, não aprendeu junto que isso valia para a sua simples vidinha cotidiana, certo? Você aprendeu na marra que o tempo é inescrupuloso, e ele foi inventado por alguém (Deus, talvez?) com a única e exclusiva missão de torturar a sua existência. É um fanfarrão, esta entidade infeliz, o tempo.

No nosso causo anterior, você está lá, crente de que você está pelo menos duas horas ouvindo aquele blá-blá-blá interminável. O relógio acusa, entretanto, que foram somente doze minutos. Você olha para ele incrédulo. Não é possível!! Você olha para o lado, para seu colega, que está no mesmo estado de torpor em que você se encontrava até agora há pouco, até descobrir a farsa do seu relógio. Em silêncio, se comunicam: "Cara, no seu relógio também só se passaram doze minutos?". Ele acorda da hibernação dele e olha pro relógio. E o espanto dele é idêntico ao seu. Ele te olha, também incrédulo. Não é possível! Um momento de pânico. Uma nova consulta, e só se passou mais um minuto. E os dois se frustram. Cada um volta ao seu mundo de isolamento do resto do planeta, para aguardar mais algumas horas de tortura.
Está vendo a Teoria da Relatividade em ação? Pra você, horas de sofrimento e desgosto. O tempo, entretanto, disse que só andou doze minutos. E cale a boca quem discorda! O tempo é inescrupuloso, amigos. A função dele é prolongar nossos sofrimentos, e encurtar nossas diversões. Por quê? Não sei. O mundo seria um lugar muito mais agradável, muito mais divertido e muito melhor se o tempo nos ajudasse. Teríamos menos guerras, menos violência, menos famintos e estaríamos mais próximos da paz mundial. Mas eu já havia dito, em outra postagem, que Deus, o nosso Simpático Todo-Poderoso, gosta de se divertir quando assiste a sua criação (nós mesmos) andando por aí, no nosso pedregulho azul. Foi por esse motivo que ele criou a cevada, lembram-se? Então. Creio eu que deve ter sido por este mesmo motivo que ele decidiu que o tempo deveria ser um grande sacana. Diversão própria, claro.

Quer outro exemplo de como o tempo é safadinho? Em vez de uma aula "amável", vamos para, hmmm... uma partida de truco no seu intervalo. Eu, por exemplo, costumo ter, aí, uns vinte minutos de intervalo para ganhar uma partida. Esse é o tipo de evento em que o relógio pode se demorar o quaaaaanto quiser. Só que até você acertar o lugar e fazer todo mundo se sentar para começar a partida, os vinte minutos já se esgotaram faz tempo. Mais uma vez, incrédulo, você consulta seu relógio. Não é possível!, você diz, enquanto todos estão se levantando para voltar à tortura nossa de cada dia. O pouco tempo de felicidade que nos sobrou foi gasto, já. E você podia jurar que não se passaram nem três minutos!! Vencido, você se vê obrigado a voltar para a sala de aula. Bogus.
Dentro da aula, bueno, a história é razoavelmente a mesma que já vimos. Você olha pro relógio depois de uma hora e só se passou 5 minutos. Daí você sai, vai ao banheiro, relaxa, bebe uma agüinha, faz uma social com quem estiver andando por aí... E volta pra aula. Só se passaram mais 5 minutos.

Não dá pra entender qual é a do tempo. Porque ele gosta de ser este desagradável. E não é só na escola que isso acontece! Nããão, meu bom homem. Isso acontece também, por exemplo, quando você dorme mais cinco minutinhos, e acorda meia hora atrasado. Quando você perde o busão e pensa: "Bah, o próximo chega em dez minutinhos" e você chega quase uma hora atrasado no destino. Ou quando você está esperando na fila do Playcenter, e depois de quase 4 horas você só ficou dez minutos aguardando... Não adianta espernear, processar alguém, ameaçar de morte, dar chilique, dizer que é injusto. Sim, é injusto. E você não pode fazer nada a respeito. O negócio, diria a ex-prefeita, ministra do turismo e perua socialite nas horas vagas: "relaxa e goza", meu guri. Aproveita a fila do Playcenter pra botar as piadinhas em dia, aproveita que perdeu o ônibus e compra umas palavras cruzadas pra fazer, aproveita que você já se atrasou meia hora e se atrasa uma hora inteira, pra arredondar... Pense sempre com o copo meio cheio!
E dê um jeito de aproveitar esse lapso do tempo. Veja, por exemplo, você na aula chata. Aproveita que o tempo demooooora pra passar e faça alguma lição de casa! Se o tempo demorar a passar, você terá tempo o suficiente para fazer o exercício. E se ele, sabendo que você precisa de bastante tempo pra fazer o exercício, resolve ir rápido, melhor ainda: a aula termina mais rápida!

Sempre tem um jeitinho brasileiro pra essa vida. Até quando é uma lei física inexorável pensada por um alemão CDF. Esse país tem futuro, meu bom leitor. Ou não, vai que o tempo demooooora a passar até o futuro... :P
E eu não posso terminar esse post sem dizer a máxima: "A duração de um minuto é muito relativa. Depende de que lado da porta do banheiro você está".

E, por favor, me perdoem pela demora. Vou me esforçar mais para manter o blog sempre em dia. Até a próxima postagem, galera! Até Outubro! Obrigado pela preferência!

Ouvindo:
Everybody's Changing
Keane
Hopes and Fears (2004)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Celular Pra Quê?

Eaê, galera? Todo mundo contente com a longeva vida deste blog? Mas ah, deixem disso, só estou me aquecendo! Hoje é dia de mais uma postagem, macacada!! Aê!
A minha idéia era atualizar no domingo, mas a correria somada com a ausência de idéias minou minha intenção. Como ontem eu pensei em algo e só pude sentar no pc hoje, vou postar rapidão, porque tenho que tocar a minha vida. Simbora, macacada!

Celular Pra Quê?
Insight sobre o que diabos é um celular

A história da telefonia vai longe. Tudo começou com Alexander "Alê" Graham Bell, inventor escocês, que foi parar nos Estados Unidos por algum evento aleatório no espaço-tempo. Consta que Alê estava meio de pernar pro ar, sem muito o que fazer na terra ianque. Sabe como é, aquelas cidades pequenas e monótonas são realmente chatas, não têm nada demais. E nosso menino Alê, levado que só, queria tocar o terror por lá. Sacanear o padeiro, o leiteiro, o dono do bar... Eis que, em um dia de muito sol e poucos afazeres, Alexander Graham Bell inventa o passador de trotes! A mulher dele, que era surda, não gostou da sonoridade do nome, e sugeriu o prático e erudito "telefone" (cá entre nós, como uma mulher surda pode julgar a sonoridade de algo é motivo de estudos profissionais).
Mas tudo bem. Para Graham Bell, a funcionalidade seria a mesma. Acompanhe o raciocínio: Graham Bell disfarça o aparelho como um revolucionário sistema de comunicação entre as pessoas, e diz que todos deveriam ter em casa. Yay! O padeiro, achando que seria uma ótima maneira de falar com seus clientes e seus fornecedores, instala um passador de trote - ou um telefone - em sua padaria, e aguarda a ligação, feliz. Em igual passo, o leiteiro e o dono do bar, bem como metade da população da pequena cidade em que Alê estava, e cujo nome eu ignoro. Alê, agora, pega seu passador de trote, disca para o padeiro, e manda o clássico: "é do circo?". Nascia o trote. =D

Muita coisa mudou desde que Alexander fez o padeiro ficar com cara de bobo. Infelizmente, o resto do mundo não entendeu a idéia lúdica de Alexander, e levaram o cara a sério demais. Passaram a comprar o telefone como algo útil de verdade, e usavam para se comunicar, uns com os outros. Pura perda de tempo. Daí a idéia foi inventar meios cada vez mais práticos de se utilizar esta coisa interessante que inventaram, o telefone. De repente, estavam usando o aparelho para comunicação entre a Inglaterra e os Estados Unidos, entre presidentes aliados, entre generais de guerra. O telefone foi realmente levado a sério. Namoros eram rompidos e reatados, reuniões eram marcadas, demissões eram feiras, cobranças eram negadas, tudo pelo telefone, um dos brinquedos de maior sucesso da história da humanidade. Tudo levava a crer que nunca mais usariam o telefone, a não ser para assuntos sérios.
Até que veio o telefone móvel. :D

Existe um protótipo de telefone sem fio, muito arcaico e em desuso, que teria sido patenteado em 1903. Durante a Segunda Guerra Mundial, usou-se aparelhos que se comunicavam através de dispositivos de radiotransmissão. Depois, pensaram na idéia de "células", que são as antenas que intermediam a conexão do seu aparelho sem fio à central telefônica. Daí, o nome telefone celular.
A idéia é muito simples. A central telefônica instala uma sede em uma cidade genérica. Peguemos uma cidade inexpressiva e pequena como, digamos, São Paulo. Depois da sede instalada, eles erguem diversas células, ou as antenas. E o seu telefone móvel recebe o sinal dela através de ondas de rádio, tipo a que você ouve pela freqüência modulada, ou a FM. Só que o telemóvel serve como um receptor e enviador (existe isso?) de sinais de rádio. Nifty, huh? E é assim que você consegue se comunicar com seu amigo que está no Jardim Lalonjão, bairro da perifa paulistana.

Agora, falava eu que o telefone, graças ao telemóvel, deixou de ser algo sério. Vamos entender o porquê. Olhemos para uma sociedade genérica de primeiro mundo com excesso de dinheiro. Até meados de 1980, os telefones eram comuns, mais ou menos. Todos tinham lá seus aparelhinhos em suas casas e em seus escritórios, e a moda do momento era o aparelho de fax, ou o facsimile. Facsimile que, aliás, é latim para "faça similar", ou "faça uma cópia". O aparelho de fax, pra vocês que não têm a menor noção do que é, é um telefone que manda documentos, pra que as empresas fodonas pudessem passar os contratos assinados sem pagar pelo office-boy. É bom ser fodão.
Bueno, uma das companhias de comunicação passou a espalhar, por uma cidade qualquer de uma dessas sociedades desenvolvidas, o modelo de célula que lhes expliquei, e passou a vender aparelhos de telefone móvel, os quais você pode usar em qualquer lugar sem se enrolar no fio. Nascia a popularização do telemóvel. Nos Estados Unidos, no Japão e nos países mais bacanas da Europa, a moda pegou fácil, e todo mundo que queria mostrar seu status superior andava com seu tijolão, falando alto no ponto de ônibus, ou de dentro do seu automóvel Audi A3, para todo mundo saber que o cabra tinha um telemóvel, e era alguém importante.

Passam-se os anos. Uns dez anos depois, essas sociedades evoluídas já banalizaram o aparelho, uma vez que as empresas se estapeiam para decidir quem vende mais telemóveis e quem lucra mais. A tecnologia se torna impressionante, e mais e mais pessoas querem ter celulares ainda menores e mais bonitos. Mas tudo deu uma guinada repentina quando um dos celulares abocanhou uma tecnologia de um aparelho-primo - o pager. Agora, os telemóveis podiam mandar mensagens. E (pasmem) receber mensagens também! A partir daí, meus amigos, a putaria... A putaria...
Depois do envio de mensagens por texto, os fabricantes de celulares passaram a investir em tecnologia inútil que, entre outros, nos trouxe a tela de LCD para que seu celular ficasse colorido! Eu ainda me lembro do dia em que eu vi um celular colorido passando na televisão, e fiquei pasmo. Colorido!! O carinha estava jogando um joguinho de corrida! No celular! Aquilo me chocou. Depois, celulares com telas maiores, maiores resoluções, e joguinhos ainda mais atraentes e divertidos. Alguns classicistas poderiam jogar o Snake DeLuxe, ou o BlackJack Plus, e os mais avançados podiam jogar Monopoly - a versão gringa de Banco Imobiliário - no telemóvel!
Anos depois, inventaram a câmera fotográfica que não usa filme fotossensível mas, sim, um sistema de captação digital de imagens. Veio a câmera digital! Foi um peido para que o telemóvel, que agora já podia baixar da internet papéis de parede, sons, vídeos e jogos, poder tirar fotos e gravar vídeos. Em poucos meses, milhares de aparelhos no mundo todo podiam registrar qualquer acontecimento visual com suas lentes e leitores digitais. Anos depois, a qualidade digital igualou com a de uma câmera digital de ofício, e as pessoas podem usar seus celulares para gravar uma partida inteira de futebol e esfregar a vitória do seu time, com o replay do golaço que o goleiro fez (hehe...) na cara do torcedor rival. Usam seus telemóveis para baixar o jogo dos Simpsons, o papel de parede da Britney Spears tomando um pileque, o vídeo do Jeremias Muito Louco, o toque do Super Mario World, e o que mais a sua vã imaginação ousar achar que possa existir.

Estão vendo o que estou falando? Alexander não estava lá muito satisfeito, pobre escocês frustrado. Ele queria que, na verdade, o telefone fosse um meio de fazer altas piadinhas com os desprevenidos. Mas depois de amargar uma centúria toda sendo um aparelho sério e exclusivo para a comunicação efetiva, o telemóvel passou a ser tudo, menos um meio de comunicação efetiva! Ninguém precisa atender uma ligação hoje em dia, ah, que que há... Você tem um celular para jogar cobrinha enquanto o ônibus não vem. Você conecta o fone de ouvido e ouve o diabos de MP3 que preferir. Você acessa o seu portal de internet e lê as últimas notícias. Conversa via MSN com seus amigos enquanto cabula a aula. Pra que, diabos, você quer atender seu telefone quando ele toca? Aliás, ele toca e você tem que parar o jogo, tem que parar de ouvir a música, desconectar da internet. Pô, meu, acorda! Vai me ligar no meu celular?? Você ainda deixa o celular tocando, porque você colocou como toque uma música que você ama, e quer ouvir até o refrão. Então não atende.
Então chegamos ao nosso título: celular pra quê? Telefone móvel? Telefone celular? Ledo engano, senhores. O negócio é fazer como as grandes empresas, que estão vendo que a tendência vai ser o pessoal esquecer que celulares são, em princípio, telefones, e chamar de outros nomes, como aparelho pessoal, handheld, e outras frescurites veadonhas. Ninguém mais usa celular pra ligação. Se você discorda, é porque você não vive em uma sociedade desenvolvida e endinheirada. Porque lá, colegas, nem a polícia usa mais telefonema. Em Nova York, os puliça de lá recebem as fotos dos crimes que você tirou com o seu aparelho. Ajuda, assim, a identificar o criminoso mais rápido! Você, como já falei, pode usar o MSN. Pode comprar o Windows Mobile, e usar seu celular como agenda de tarefas e de contatos. Celular pra quê? Com certeza, não pra ser um dispositivo sério de comunicação. Se muito, para você retirar do seu bolso, despretensiosamente, para mostrar para os outros o seu novo toque de celular quando, na verdade, sua intenção real é mostrar como você tem um celular foda. E como você é foda, junto.
Engulam essa, seus pobres. Meu celular não serve pra nada, só pra mostrar como eu sou importante.

E Alexander está sorrindo de seu túmulo. =D

Ouvindo:
You Could Have It So Much Better
Franz Ferdinand
You Could Have It So Much Better (2005)