quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Poesia Brasileira Noventista

Olá, meninos e meninas das internets! Bem-vindos mais uma vez ao Inominativo! O blogue mais bacana que eu já produzi! :D
Hoje começa o mês de Novembro, o mês mais legal dentre todos os meses do ano. Então feliz mês de Novembro para vocês, muitos dinheiros e farras e festas. E feriados, também - tem tantos feriados que fica até difícil marcar compromisso com amigos. Todo mundo viaja, uma alegria. :D

Falar em burgueses modernos, o meu post de hoje fala um pouco (bastante) sobre um tema super popular. Você já parou pra pensar em como temos grandes poetas vivos hoje em dia, no Brasil? Em como a nossa produção literária é riquíssima, organizada e prolífera? Não? Então você precisa expandir seus horizontes. Tentem ler esse (longo) texto até o fim, e acompanhem meu raciocínio.

POESIA BRASILEIRA NOVENTISTA

Você, caro leitor desse blogue decrépito, deve se lembrar provavelmente de um bocado das suas aulas de Literatura, em seu Ensino Fundamental e Médio - ou, se você for suficientemente antiquado, de seu Ginásio e Segundo Grau. Sua professora de Literatura, tadinha, tentava enfiar um pouco de erudição na sua cabeça oca, falando pra você sobre como é linda a herança cultural da Língua Portuguesa! E ela contava sobre os poemas trovadorescos, de uma época tão antiga que o Português daquela época era inelegível para nós hoje em dia! Oh, aqueles trovadores dos séculos 12 e 13 que inventaram o nosso dileto Idioma, propagaram-no pelos quatro cantos do próspero Reino Português e, graças ao bacalhau, ensinaram o mundo inteiro a falar nossa pitoresca língua... Oras, tendo nascido como um dialeto inculto e vulgar do glorioso Latim, ser um dos idiomas mais falados durante o século 16 é uma tremenda conquista! Viva o Idioma Português! A última flor do Lácio, inculta e bela!
Enfim - sua professora de Literatura deve ter se demorado bastante tempo para explicar detalhes dos grandes movimentos da prosa e da poesia lusófona. A Renascença em Portugal, graças a Luís de Camões. O Romantismo do Brasil recém-independente, com aqueles livros longuíssimos e chatos. Aqueles poemas realistas, naturalistas, parnasianistas, simbolistas. Ou ainda a época da Semana de Arte Moderna de São Paulo, em que tudo virou baderna e qualquer loucura valia, desde que fosse bacana. Sua professora queria evocar em você, nobre leitor, um pouco de raciocínio crítico. Um pouco de capacidade de ler através das mensagens deixadas por séculos de autores e poesias. Que você entendesse a beleza de um texto machadiano, a graça de uma obra alencariana, o humor negro de uma prosa azevediana (diga-se de passagem, um dos grandes autores da época conhecida como o Mal do Século). E, mais do que isso, que entendesse o que está por trás dessas grandes obras. Em suma, sua professora de Literatura Portuguesa queria que você achasse a beleza nas grandes obras lusófonas de outrora, para que você entendesse mais sobre o seu nobre idioma nativo, e, de quebra, entendesse mais sobre a história do seu povo, da sua cultura, da sua língua, da sua herança. Que importante, né? E você desdenhava quando a professora pedia pra você ler "A Moreninha"...

Mas as suas aulas de Literatura Portuguesa provavelmente pararam em meados de 1950. A sua professora dava alguns exemplos de poemas e textos modernos, em que não há rima, mas há milhares de significados. Você aprende alguma coisa sobre Luís Fernando Veríssimo, Chico Buarque, Renato Russo. E fica por aí, a matéria termina. Seria, talvez, porque as últimas décadas ainda são muito recentes, e é difícil categorizar as últimas obras? Será porque a influência estrangeira (malditos ianques!) está matando a Literatura nacional? Será porque a modernidade brasileira está cheia de porcaria, e não vale a pena ensinar na escolha (afinal, você aprende em casa mesmo)? Oras, é de se entender que a situação criativa brasileira anda tão ruim, mas tão ruim, que os professores de Literatura tenham simplesmente decidido não ensinar na escola. "Recuso-me", diriam eles, "a ensinar semelhante ultraje!". Pra professores que ensinam dezenas de alunos, todos os anos, a apreciar as suaves ironias em um "Memórias Póstumas de Brás Cubas", comentar sobre "o pau ficando duro/o bagulho tá sério/vai rolar um adultério" deve ser, realmente, desesperador. Como ensinar para crianças de 11 anos sobre a candura de um poema de Alphonsus de Guimaraens, quando elas já sabem todos os funk proibidões de cor (e, pior ainda, sabem o que cada verso daqueles funk significam)?

Nesse contexto, compreende-se a professora que simplesmente ignora esses disparates modernos. É melhor fingir que eles não existem, que eles não são aceitos, e que tudo é invenção da mídia golpista. E continua a se ensinar aqueles arcaicos textos seculares, de uma época tão antiga que eles não tinham nem orkut. Bons tempos.
A esses puristas de espírito, que olham para o mundo moderno e não encontram beleza, convido-lhes a olhar de novo. Pensar fora da caixa, juntar conceitos completamente díspares, e perceber que a Literatura brasileira moderna ainda existe. Ela só está, digamos, travestida.

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"Tô fazendo amor com outra pessoa
Mas meu coração vai ser pra sempre seu
O que o corpo faz a alma perdoa
Tanta solidão quase me enlouqueceu"
~~Só pra Contrariar, "Depois do Prazer"

A canção "Depois do Prazer", lançada em 1997 pelo grupo mineiro Só pra Contrariar, é um dos exemplos mais nobres daquilo que eu convenciono chamar de "poesia brasileira noventista" - assim chamada porque a grande maioria dela se despontou durante a década de mil novecentos e noventa. Uma geração de líricos e poetas, que juntaram suas excepcionais capacidades de encontrar rimas nos lugares mais improváveis ("amor/dor", "paixão/coração", "gostosa/dengosa"), uma impressionante capacidade de falar de romance, sofrimento, prazer, alegria, e memoráveis capacidades de condensar tantas ideias em poesias coesas e claras. Não somente isso - essa notável geração de poetas, os "noventistas", também conseguiam enfiar essas poesias em uma música, vendê-la nas rádios e nas lojas, e ganhar muitos dinheiros e mulheres!! Eles não precisaram esperar sua morte para fazer sucesso na posteridade - eles conseguiram fazer fama e dinheiro enquanto eram vivos, ao mesmo tempo que reformulavam todo um conceito de lirismo e literatura! Senhoras e senhores, anotem em seus livros-textos de Língua Portuguesa: os noventistas são os pós-modernistas da história literária brasileira!
Com abordagens modernas, cotidianas, simplistas e musicalizadas, os noventistas combinam a produção musical da época dos antropofagistas e dos tropicalistas, mas com esse quê de vulgar, de populacho. Oras, o excerto acima aborda, abertamente, um eu-lírico que confessa que está se deitando com outra mulher, e se justificando na mais absoluta normalidade. Outros exemplos incluem pedidos à Lua para mandar um recado à amada, uma poesia inteiramente dedicada a um carrinho de mão, e até mesmo uma apologia explícita a um retorno ao conservadorismo, como eu já havia denunciado em outro texto meu. Alguns poetas falam de vassouras, outros de manivelas, alguns mais de pimpolhos. E é justamente essa capacidade de colocar, em forma de poesia, tantos assuntos outrora impossíveis, que faz do noventismo um movimento poético tão inovador e moderno! Travestido de música popular, os autores conseguiram fazer sucesso e serem reconhecidos, ao mesmo tempo que davam novo fôlego à quase moribunda arte de criar poesias brasileiras!

Mais do que símbolos sexuais e ídolos pop, esses poetas noventistas revolucionaram a poesia brasileira, aproximando-a do brasileiro comum. O brasileiro simples não sabe citar Carlos Drummond de Andrade, não sabe o roteiro de O Guarani, não sabe que a terra dele tem palmeiras. Mas com certeza sabe que a galera lá do Morro do Salgueiro e Vidigal tá querendo balançar! Eles agora têm um pouco de poesia brasileira pra eles! Um nicho de cultura erudita (?), para que eles aprendam a raciocinar, a digerir, a apreciar. Assim como você aprendeu sobre a beleza do seu idioma lendo "O Alienista", os brasileirinhos de hoje aprendem a beleza do Português aprendem ouvindo Molejão, Tchakabum, Chiclete com Banana. Isso é cultura, meu filho.
E se você disser algo contra, lamento informar, mas você é um desses conservadores antiquados, que sentem saudades da época em que TV era em preto-e-branco, e mulher não trabalhava fora. A nova poesia brasileira é popular, é vulgar, é samba no pé, é futebol moleque. Reflexo de uma sociedade cada vez mais popularizada - oras, na década seguinte elegeríamos um presidente metalúrgico! Essa poesia noventista almeja justamente alcançar esse popular. Produzir a poesia para agradar a esses flagelados sociais, que tantos anos ficaram sem entender quem diabos era Lima Barreto, Antônio Bandeira, Fernando Pessoa. Eles agora têm Companhia do Pagode, meu filho. Eles aprenderam a expressar seus sentimentos e suas situações sem precisar voltar no tempo. Mais do que encontrar refúgio em poetas do passado, eles inventam poetas do presente! Brava gente brasileira!!

E eles nem se importam se você acha isso pavoroso e repulsivo. Você, seu recalcado burguesinho, é um retrógrado inculto, e não sabe apreciar a beleza poética produzida por Alexandre Pires, Netinho de Paula, Leandro Lehart. Eles revolucionaram a poesia brasileira. Eles mudaram pra sempre a Literatura.
E é bom você aprender a viver com isso. Pau que nasce torto, meu filho, nunca se endireita.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Merthiolate

Olá olá de novo, caros amigos! Como está indo esse mês de Outubro, essa primavera maravilhosa? Uma loucura bizarra, as usual?
Eu não sei vocês, de fora de São Paulo, se passam por algo parecido. Mas o inverno paulistano foi um calor insuportável, chegamos a conviver com temperaturas superiores a 30º. E, poxa, estamos abaixo do Trópico de Capricórnio, deveria fazer frio aqui. Mas não fez. Daí, começou a primavera, e todos os paulopolitas ficaram assustadíssimos, morrendo de medo de morrer derretendo nos asfaltos da nossa cidade grande. Mas não, todo o frio que não fez no inverno fez na primavera. É nessas horas que eu fico grato de não estudar meteorologia e ter de entender essas coisas absurdas como clima.
É, porque o que eu coloco no meu blog não tem nada de absurdo. :D

Vamos lá, minha gente! Mais um post para o meu Inominativo lindo. Obrigado pela audiência, e boa leitura. Ieié!


Merthiolate

Quando eu era criança, se sujar fazia bem. Pais e mães deixavam os filhos se divertirem em playgrounds, quadras esportivas, estacionamentos de condomínios, por entre as araras das lojas de roupas, no meio do matagal. Aquela era uma época em que era normal ser criança, e você podia se divertir e ser inocente, cutucar uma abelha pra aprender que doía, subir em árvore pra cair e machucar o ombro, andar de bicicleta sobre pedregulhos e esfolar o rosto. Era aquela época em que vídeo-games eram caros, e não existia maior diversão do que por chinelos Ryder em cada lado na rua pra fazer golzinho, em pegar as bonecas das meninas e sair correndo, em levar bronca da mãe por causa da algazarra, de comer pipoca assistindo a Os Goonies e tirar aquela sonequinha maravilha durante a tarde. Ah, os bons tempos :D
Aquela era uma época em que errar fazia parte, e lidar com as durezas da vida era bom, formava o caráter. Se você era o gordinho da turma e sofria bullying, você tinha de aprender a responder com uma piada mais sagaz e agressiva. Se o seu sorvete caía no chão e você abria o berreiro, seu pai não ia te comprar outro pra você aprender a tomar conta das coisas. Se você era mordido por um cachorro, você levava bronca, por ter enfiado a mão onde não devia. É claro que o cachorro vai te morder, você esperava que ele te desse bom dia?

A epítome daquela época é o remédio antisséptico que titula este texto. O antigo Merthiolate - remédio à base de timerosal - era, como os leitores mais anciãos poderão se recordar, um tubinho vermelhinho branquinho com uma pazinha exótica. Quando você passava aquela pazinha cheia de remedinho na sua ferida, você estava desinfetando as bactérias malignas que tentariam entrar no seu organismo pela mais nova fenda no seu joelho. A função do Merthiolate, naturalmente, era matar todas as bactérias intrusas e dar ao seu joelho uma cicatrização asséptica e feliz. :D
Mas o Merthiolate tinha aquele truque maligno no bolso: ele era à base de álcool e acetona. E aquele treco ardia para caralho. Então, jovenzinho, além de você ter estourado sua perna tentando descer aquela rampa de skate, você ainda teria de sentir a sua perna arder demais com o remédio, senão você poderia ter uma infecção terrível, perder a perna, nunca mais andar. Além de apanhar da sua mãe por não ter passado o Merthiolate, claro, o que é muito pior.
Dentro daquele vidrinho branco com a pazinha exótica, vinha uma grave lição de moral para as crianças brasileiras: fazer arte é divertido; mas se você não fizer direito, vai doer. O Merthiolate lembrava aos crianços e crianças do Brasil como dói  andar de stake numa rampa de pedregulhos; como dói andar de bicicleta sem joelheiras; como dói para caralho sair por aí achando que você é invencível, quando você é um reles saco de carne patético, que não sabe nem amarrar a porra do próprio cadarço. O Merthiolate era um bruto exercício de humildade, em que você entende, aos poucos, as duras características da vida, entende que viver dói, e se preparar para aquele dia em que você será adulto, respeitoso, terá crianças, carro, casa e contas pra pagar.

Mas o mundo mudou, senhores. Em algum lugar entre o fim do Século 20 e o começo do Século 21, a sociedade ocidental decidiu simplesmente que não curtia responsabilidades. Inventamos a "adolescência", período em que podemos nos comportar como adultos mas ser tratados como crianças, e não temos responsabilidades. A adolescência foi prolongada ad eternum, com marmanjões de 30 anos ainda jogando vídeo-game em casa e dando despesas. As pessoas não querem compromisso, nem dor de cabeça, nem nada. Querem acordar, fazer nada, comer, voltar a fazer nada e dormir de novo.
Não que isso seja ruim, é claro! Todo mundo quer fazer isso! Todo mundo quer abandonar a faculdade, o emprego, os filhos e a esposa e passar o resto da vida acordando 10h e engordando na internet - mas antes ninguém fazia isso, porque tinha caráter suficiente para honrar suas responsabilidades! Se manter nas suas vidas rotineiras, pagando por suas crianças, carros, casas e contas! Compromisso, senhores!!

Hoje, o Merthiolate não arde mais. Quando uma criança se esfola, se fode, cai de joelho e abre aquela ferida grotesca, eles colocam um pouco do Novo Merthiolate - que, agora, é à base de clorexidina - que desinfeta sem aquela lição de moral indelével, sem aquela consequência subjetiva: errar dói. Quando você erra, você sente a dor, e você aprende a não errar. Como o Merthiolate não dói mais, perdemos essa importante lição de vida - não há mais erro, queridos leitores. Hoje ninguém aprende com coisas erradas. Somos superprotegidos, podemos fazer qualquer coisa, ser mimadinhos, ser frouxos. Não sentimos mais aquele pânico horripilante antes de passar remédio na ferida, que nos ensinava a ser bravo, ser forte, ser filho do norte.
Deixamos de ensinar importantes lições, e nossos filhos não passam por aquela importante fase de formação de caráter. Ele não apanha dos pais quando dá chilique porque não ganhou um iPhone 5. Ele não é posto de castigo quando vai muito mal em Matemática. Ele não tem a mesada cortada quando desobedece aos pais. Coitado dele, tem uma infância difícil. Os pais não têm condições de dar um XBox 360 pra ele.
E aí, nossos filhos se acostumam a ser eternos adolescentes. Ninguém os ensinou que viver é assim mesmo, que crescer é chato, que tropeçar dói, que cachorros mordem. Quando eles perdem o primeiro emprego, levam o primeiro fora, não ganham presentes no Natal, não sabem lidar com o mundo vil e cruel. Ninguém nunca os ensinou que as coisas funcionam assim mesmo. Ninguém nunca os ensinou que Merthiolate ardia. Pra caralho.

Então, caríssimos leitores, Quando estiverem vivendo por aí, neste maluco Século 21, e vocês se esfolarem na vida, lembrem-se do quanto Merthiolate ardia, mas que era preciso passá-lo para conseguir ter uma perna saudável novamente. Lembrem-se de perder o emprego é péssimo, mas agora você está livre pra arranjar outros ainda mais legais! Ficar solteiro é uma grande bosta, mas agora você está livre pra caçar todas essas cocotinhas por aí (ou os machos à solta, a preferência é sua)! Crescer é duro e injusto, mas você também vai se divertir, e vai se sentir bastante orgulhoso bancando crianças, carro, casa e contas. E ainda poderá ensinar pros seus filhos tudo sobre as maravilhosas coisas da vida - inclusive a matar zumbis no Resident Evil, e xingar o juiz naquele São Paulo x Palmeiras tensíssimo.
E você, criança, que nunca teve um Merthiolate que ardia para ilustrar a dureza da vida: deal with it. A vida é duríssima, mesmo. Você não pediu pra nascer, mas o problema é seu, e terá de se foder pra valer, e lidar com as coisas. Pare de depender dos seus pais bananões, pare de dar chilique quando não ganhar seu espertofone preferido, pare de reclamar de tudo e não fazer nada pra melhorar. Vá arranjar um emprego, vá ser voluntário, vá lavar a louça. Vá passar a porra de um álcool nessa sua ferida no joelho. AND MAN. THE FUCK. UP.
Quem sabe assim as pessoas param de fazer bullying em você. Frouxo.

Ouvindo:
Underdog
Spoon
Ga-Ga-Ga-Ga-Ga (2008)

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Mentiras Sinceras

Queridíssimos! Honradíssimos, excelentíssimos, magnificíssimos leitores! Eu ainda não desisti desde blogue decrépito! Então é com muito orgulho que lhes recebo mais uma vez para dar um pouco de entretenimento nesta internet tão estranha dos idos modernos!
Mas eu sou um Rafael das antigas - hoje todo mundo faz humor e conta histórias com imagenzinhas. Eu ainda prefiro meus textos enciclopédicos e difíceis, porque é como eu sei me comunicar. E, afinal de contas, depois de tantos anos com textos longos e sem-graça, não será justamente agora que eu vou mudar de ideia, né? Claro que não! :D

O post de hoje nasceu, como sempre, de discussões com amigos de diversos círculos sobre a minha (deturpadíssima) visão sobre a sociedade e a modernidade. Agora que sou um adulto feito (ou, pelo menos, gosto de pensar assim), eu acho que estou tão certo sobre a vida quanto qualquer outro - e isso significa arranjar brigas por causa de opiniões diferentes que são parecidíssimas, e tentar provar pros outros que eles estão tão errados quanto poderiam estar. Simplesmente pela diversão de vê-los cair do cavalo. Hehehehe...
Enfim, em discutindo sobre comportamentos modernos eu frequentemente discordo de amigos meus sobre o tema do assunto de hoje. As pessoas costumam achar que falsidade é feio, vejam só. Mas como eu gosto de ser do contra, eu resolvi defendê-la!! E gostaria de mostrar a vocês meus motivos. Acompanhem-me.

MENTIRAS SINCERAS

Todos vocês, caros leitores, estão mais ou menos acostumados com os famosos Sete Pecados Capitais. Eles são agrupamento de comportamentos condenados pela ética cristã, criados na época em que a Igreja Católica mandava em toda a Europa, e "ir para o Inferno" era uma ofensa das brabas. Oras, vocês sabem que somos humanos nojentos, mesquinhos e pecadores, e nossas ações são igualmente nojentas, mesquinhas e pecadoras. Os excessos de nossas vidas não devem ser tolerados, por serem prejudiciais a nós, a Deus e a Igreja e a sociedade em geral. Como a Igreja, naquela época, tinha a incessante mania de enfiar o bedelho em nossas vidas, eles tentavam controlar nossos excessos, para vivermos em uma sociedade organizada e correta (até que veio a Revolução Industrial, transforou tudo em excesso, e hoje vivemos intensamente em pecado libidinoso; viva a Era Moderna!!). Este mesmo autor, em um outro post, comentou sobre a intervenção da Igreja Católica nos costumes dos nossos queridos portugueses, coitados.
Para evitar que as pessoas não trabalhassem, por exemplo, costumou-se dizer que a Preguiça era um pecado tenebroso, um pecado capital! Assim como o Orgulho! E a Avareza! E a Gula, e a Inveja! A Ira, a Luxúria! São pecados que dão origem e dão motivações a todos os outros pecados que existem. Pecados crueis, que transformam os homens de bem em seres irascíveis e diabólicos, trabalhando pelo benefício próprio e pela adoração ao Satanás Tinhoso, o Cão Sulfuroso, o Pé-de-Bode. Que coisa.

Nos idos modernos, entretanto, muitos católicos (e demais cristãos, por que não?) talvez queiram revisar esses Sete Pecados. Talvez pedir pra tirar a Preguiça, ou até a Gula. Mas com certeza, pra incluir aquele pecado mais-que-mortal, um pecado assassino. O pecado destruidor de famílias, de amizades, de cidades. O pecado que vitimou Troia, que assassinou reis, que desmoronou relações de décadas. A falsidade, caros amigos, é pérfida e tenebrosa. Desde que aquela cobra falsa deu uma inocente maçã para Eva e condenou a ela - e a toda Humanidade - a viver fora do Jardim do Éden, convivendo com a dura e fria realidade, nós condenamos as pessoas mentirosas. Aquelas que nos sorriem e mostram todos os dentes claros, numa enorme expressão de confiança e amistosidade, somente para nos apunhalar por trás, quando menos esperamos. Bastardos.
Sim, a falsidade é horripilante. E se duvida de mim, caro leitor, venture-se a dar uma volta nas timelines de seus amigos e amigas no Facebook - em especial nas timelines daquelas suas amigas que acham bacana compartilhar todas aquelas imagenzinhas "engraçadas" daquelas páginas superdivertidas do Facebook. Acompanhe como as pessoas hoje em dia condenam, publicamente, a falsidade. É o pior sentimento do mundo!, bradam eles. Não há nada pior!, gritam elas. As pessoas se incomodam com potenciais mentirosos, temem que seus bons amigos e melhores amigas sejam, na verdade, nojentos, mesquinhos e pecadores, que mentem para nós que gostam da gente e querem nosso bem, quando na verdade desejam nos ver pelas costas, para espetar uma faca nela e rir de nossos desfortúnios.

Uma coisa, todavia, sempre me intrigou a respeito dessa crucificação aberta e pública da falsidade: é tão ruim assim conviver com uma falsidade de vez em quando? Qual é a penalidade tão profunda em descobrir, afinal de contas, que estiveram mentindo pra você? Oras, queridos leitores, você cresceram cercados de falsidades, cá e lá! Cresceram acreditando no Papai Noel, na Seleção Brasileira, na política. Seus pais eram falsos com você pra que você se comportasse e se transformasse em um adulto decente. Seus professores eram falsos com você pra ver se alguma educação entrava na sua cabeça dura. O que passou na vida das pessoas que, subitamente, queremos a verdade, somente a verdade, nada mais que a verdade? Não posso mais fingir que sou seu amigo pra copiar sua lição de matemática? Fingir que gosto de você pra não zerar na balada? Fingir que te respeito pra você me dar promoção e aumento? Agora que estamos passando o mundo a limpo, condenando o bullying (que, pelo visto, também merece ser outro Pecado Capital), vamos aproveitar e condenar também tudo o que é falso e mentiroso!
Na humilde opinião do autor que vos escreve, condenar a falsidade é como condenar o álcool depois de uma ressaca violenta: você fala mal, mas não consegue viver sem. Todo mundo conta aquela mentirinha leve pro patrão desculpar a meia hora de atraso, pra justificar o aniversário do amigo que foi esquecido, aquela mensagem de texto no celular que "não foi vista". Poxa, mentir faz parte, é a maneira que inventamos pra manter nosso pretenso status social, que é bastante importante. Se você, caro leitor, pode mentir, por que seus amigos estão proibidos? Onde está a justiça com seus iguais? O falso, caro leitor, é você, que mente todo dia e se recusa a aceitar que todos têm o direito de ser falso como você! Siiim, aceite o fato! Você também é FALSO!! MWUAHAHAHAH!!

Aceite e abrace essa ideia, cher ami. Pense diferentemente: quando alguém é falso com você, não significa que ele quer seu pior. Não quer dizer que ele deseja vê-lo desiludido e soluçando pelos cantos, lamentando que a vida é injusta é desonesta. Significa, ao contrário, que ele quer poupá-lo da injustiça e da desonestidade da vida! Se ele está sendo falso com você, caro leitor, seu amigo falso se preocupa com você!! Ele, no mínimo, se preocupa o suficiente para inventar uma realidade alternativa, onde você não sofre e todos são felizes e contentes! Eu não minto pra quem não gosto - pra eles eu digo que eles são pobres, feios, e fedidos, e não faço a menor questão de dividir meu tempo precioso com eles. Mas meus amigos?? Eu minto na cara dura! Falo que os amo, que me preocupo com eles, que quero vê-los felizes e sorridentes! Tudo isso porque eu me importo minimamente para inventar uma realidade mais bacana, onde todos são felizes e se amam! Pode até ser mentira, mas ninguém precisa saber! E todos tomam sorvetes felizes num domingo de primavera! Oh, como a vida é bela quando ela é falsa! \o/
Alguns de vocês, hipócritas bobocas, apontarão seus dedos em minha cara e dirão que eu ficarei chateado quando eu descobrir, um dia, que alguém foi falso comigo a valer. Pois eu direi "Nem ligo, eu também menti, porque eu não me importo". Siim, eu não me importo com essas verdades de meia-pataca, e nem com esses arautos da realidade cinza e boboca. Oras, o Cazuza, quando esteve perdido sem pai nem mãe, já dizia que "mentiras sinceras me interessam". Issaê, Cazuza! Que mintam pra mim, que me façam de bobo, nem ligo mesmo! Desde que eu acabe me divertindo no processo, valeu a pena! Tudo vale a pena quando a alma não é pequena! \o/

Então danem-se os ensinamentos modernos, a moralidade cristã, as ciências sociais, as regras de convivência. Mintam! Mintam de cara lavada, mintam com suas melhores poker face, mintam suas cartas! Vivam em seus pequenos mundos de faz-de-conta e, se um bobão vier estourar sua bolha de sabão, vá lá e sopre outra! E agradeça aos seus amigos mais falsos, por eles terem a decência de se importar com a sua felicidade. Não é por isso que você passa o dia inteiro no Facebook, vendo sua realidade alternativa, em vez de trabalhar na sua realidade real? Um viva à falsidade, queridos! E deixem de considerá-la um Pecado Capital.
Aliás, absolvam todos os Pecados Capitais. Preguiça e Gula são tão legais... :P

Ouvindo:
Maior Abandonado
Barão Vermelho
Maior Abandonado (1984)

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Divertindo-se com o Capitalismo Especulativo

Boa noite, queridos leitores! Finalmente é Primavera no Hemisfério Sul dessa nossa ogiva azul imensa, e estamos todos aparvalhados com a maldade da natureza: aqui na cidade de São Paulo, a natureza esperou a Primavera pra fazer frio, mesmo depois de um mês inteiro de calor no meio do Inverno! Ninguém entende direito o que se passa na cabeça das divindades que cuidam do clima esquizofrênico da maior cidade do nosso Brasil Varonil, mas a gente sabe que são pensamentos sádicos, crueis e anárquicos. Quem quer que cuide da temperatura de São Paulo, gosta de uma boa e bem-feita bagunça, gente!
E o post que eu escrevi abaixo também é sobre bagunças e sadismos. Durante uma discussão sobre o fim do bacon e as especulações futuras sobre esse nobre pedaço de porco, estalou-me algo: poxa, gente, especular é divertido! Sacanear os outros é divertido! E sabe do que mais? Capitalismo especulativo é divertidíssimo!!
Olhem só:

DIVERTINDO-SE COM O CAPITALISMO ESPECULATIVO
Desgraças alheias são divertidas!

O lorde e Primeiro Ministro britânico Winston Churchill disse, em certa oportunidade, num discurso para a Câmara dos Comuns em Londres, que a democracia é a pior forma de governo, exceto todas as formas de governo que já tentamos antes. Embora eu particularmente discorde dele (a Monarquia é bem mais interessante e mais fácil de estudar, já que você não precisa aprender o nome de um Presidente novo a cada 4 anos), não posso negar que a democracia é divertida. Dar às pessoas comuns a liberdade de fazerem o que bem entenderem com a sua sociedade e o seu futuro é mais ou menos equivalente a presentear três crianças com dez pacotes de Bono (a bolacha, não o vocalista), e dizer que os pacotes têm de durar a semana toda: é claro que não vai dar certo, é claro que todo mundo vai se arrepender no final, mas a gente se diverte assistindo às tentativas mesmo assim!
A citação original de Churchill poderia ser tranquilamente parafraseada, trocando "democracia" por "capitalismo" e fazendo as alterações necessárias. O capitalismo, queridos leitores, é a pior forma de produção econômica, exceto todas as outras que já tentamos - e olha que já tentamos bastantes coisas! Mas a liberdade que esse simples porém intrincado sistema nos proporciona, nos permitindo fazer o que bem entendemos com os dinheiros suados que ganhamos, é muito mais divertido do que trabalhar pela sociedade e pelo futuro! Bah, o futuro que se dane, eu preciso de um iPhone novo!!
Oh, claro, alguns de vocês podem ser chatões o suficiente para culpar o capitalismo pela crise de 2008 e o quiprocó que o mundo tem passado desde que pegamos os bancos americanos de calças curtas. Mas hey, crises fazem parte - a União Soviética nunca foi capitalista e passou por uma crise econômica tão braba que não voltou do buraco. Oras, o capitalismo é inocente e não faz nada demais - só nos deixa proclamar livremente o amor pelo dinheiro e pelas coisas mundanas e supérfluas que ele traz! Como é bom ser classe média, gente! :D

Os leitores deste blogue decrépito, e meus amigos próximos (quem participa do primeiro grupo costumeiramente está no segundo) sabem que eu sou decididamente capitalista. Mas não porque eu sonho em ser um bancário inescrupuloso arrancando dinheiro de pobres trabalhadores que não sabem usar cartões de créditos, ou porque eu sou dono de uma enorme empreiteira que curte molhar mão de prefeito para ganhar licitações de obras. Tampouco porque eu gosto de ver pobre se lascando - e, que vocês não contem pra ninguém, mas eu gosto mesmo :B - mas simplesmente porque o capitalismo é uma enorme bagunça!
Oras, voltemos ao exemplo bacana da Crise de 2008. Vários bancos realizavam a hipoteca da galera, pra que eles pudessem comprar televisões e carros e PlayStations 3. Então, era normal os americanos darem a casa como garantia de empréstimo para comprar a mobília que vai dentro! Pra eles, era muito melhor não ter casa mas ter o sofá e a TV do que ter a casa mas não ter nada pra assistir! Aí, os bancos emprestavam esses títulos hipotecários dos clientes entre si, e faziam derivativos de risco sobre esses empréstimos, e mascaravam um empréstimo ruim como um empréstimo bom pra conseguir mais empréstimos, e emprestavam do Governo americano para continuar oferecendo mais empréstimos... Não, meu filho, não precisa ler de novo pra tentar entender - é uma bagunça, mesmo. Aí, finalmente, quando os americanos descobriram que eles não tinham dinheiro para pagar 3 hipotecas ao mesmo tempo, e nem conseguiam vender a casa pra pagar as dívidas, os bancos ficaram todos endividados - porque ninguém tinha dinheiro pra pagar as dívidas deles - e todo mundo deveu pra todo mundo, e os Estados Unidos viraram uma grande nação de devedores. Uma enorme bagunça. O Governo entrou de sola pra resolver a bagunça, mas acabou bagunçando mais ainda. Mas que lixão! \o/
Olhando para esse pardieiro, eu lhes pergunto - como não achar divertido tanta bagunça acontecendo ao mesmo tempo? Países europeus inteiros passaram gerações gastando o dinheiro que não tinham, e quando finalmente chegou a hora de pagar as dívidas, todo mundo se revolta! Chineses descobriram que capitalismo é lindo e estão cheios de dinheiro, apesar de serem socialistas! Um vídeo ridicularizando o capitalismo sul-coreano virou hit no mundo capitalista! A raça humana, queridos leitores, não perde o menor tempo tentando fazer sentido, e o mínimo que podemos esperar de uma sociedade como a nossa é que nossos sistemas políticos e econômicos façam tão pouco sentido quanto nós mesmos!

Assistir aos desdobramentos desse pérfido e sujo sistema capitalista - pelo menos pra mim, que tenho um humor desumanamente distorcido - é especialmente divertido. É divertido ver a galera se estapeando pra comprar vídeo-games em promoção, ou a mulherada em frenesi em liquidação de Natal, ou o cabra que compra religiosamente toda semana uma aposta na Mega Sena acreditando na Divina Providência... Toda essa bagunça faz parte do nosso capitalismo de cada dia, e é o que o torna espetacularmente interessante: pra que um plano quinquenal, se fazer em cima da hora é muito mais divertido? :D
Mas se já é divertido assistir ao mundo virando caos sozinho, bem mais divertido é ajudar o mundo em sua guinada invariável em direção ao desastre certo. Especular é um atalho para o sucesso da bagunça capitalista, por causa da capacidade maiúscula que ela tem de inventar verdades onde não tem, e de gerar pânico onde não precisa. Uma mentirinha aqui, uma mentirinha ali, e todo mundo está correndo desesperado de medo! É como gritar "bomba" em uma praça lotada num domingo à tarde em Mosul, no Iraque, e ver a galera fugindo em pânico ou ainda, voltando à analogia com os três meninos e os dez pacotes de Bono, seria como se você chegasse e dissesse no ouvido de um deles: "Um desses pacotes tem escondido duzentos reais!", só pra fazer os três meninos devorarem as bolachas ainda mais rápido! É uma enorme diversão ver a galera perder a cabeça e o mundo entrar em caos! Mwuahahahaha!! >D
Aí virão vocês, puritanos de espírito, e me dirão: pô, Rafael, gerar discórdia, desinformação e desastre em um sistema tão bagunçado quanto o capitalista é ruim! Afinal, pessoas vão perder dinheiro, e isso é chato!  Mas eu digo para vocês, seus chatões: especular sempre fez parte da vivência humana. Inventar aquela mentirinha pra ser popular na escola, para o currículo ficar bacana, pra sua mãe parar de fazer perguntar constrangedoras... Todo mundo mente, todo mundo sacaneia. O glorioso sistema capitalista só é um sistema honesto, permitindo às pessoas mentirem e sacanearem abertamente, na cara dura! Você pode ser dono de uma barraquinha de gorros de frio, e sair espalhando por aí que vai esfriar que nem o Canadá amanhã, pra você vender seus gorrinhos. Ou dizer que tem o último exemplar do primeiro Gibi da Mônica de mil-novecentos-e-preto-e-branco, só pra vender mais caro. Oras, a Igreja Católica especulava com corpos e itens de santos pra rolar uns dízimos e fieis, por que eu também não posso?

Então saiam por aí inventando mentiras e bravatas deslavadas, só pelo prazer de ver o mundo pegar fogo! Falem que o chocolate acabou! Falem que o bacon vai sumir do mundo! Digam que sua tia-avó morreu pra tirar uma folga remunerada! Se ver o sistema dar pau já é divertido, ser um dos agentes do caos torna tudo mais interessante e engraçado! Especular faz parte e, se você acha que especulação é ruim... bom, é porque você estava do lado errado do pânico quando ele começou. :P
Agora corram por aí, meninos, e perpetuem a discórdia. Façam tudo dar errado!
Mas não me culpem se vocês comerem dez pacotes de Bono e der dor de barriga.

Ouvindo:
Blame It on the Boogie
The Jacksons
Destiny (1978)

terça-feira, 4 de setembro de 2012

O Sentido Simplificado da Vida

Mais uma vez olás, meninos e meninas! O meu blogue os recebe feliz da vida para MAIS UM texto super divertido que os farão feliz e contentes, com ótimas sacadas e humor inteligentíssimo!!
Mentira, é mais uma filosofia piegas que eu inventei em algum canto do meu cérebro. Enquanto ninguém me amarra e me tranca num quarto acolchoado, eu sigo escrevendo. Eu me divirto lendo minhas sandices. Espero que vocês também :D

Já pensaram sobre o porquê de estarmos aqui? Quer dizer, por que estamos vivos hoje, aqui, na Terra? De onde viemos? Para onde vamos? Qual é, infernos, o sentido da vida? Como eu gosto de filosofar, eu já pensei várias vezes a respeito, e já achei algumas respostas pra essa pergunta. Todas bem absurdas e desconexas, é claro. Nenhuma delas como o pensamento que tive abaixo, e compartilho com vocês. Afinal de contas, eu não sei qual é o sentido completo da vida. Mas eu sei que a humanidade achou um sentido bem simplificado. É meio simples, vocês verão, mas tem funcionado nos últimos anos. Pra quê mudar agora?

O Sentido Simplificado da Vida

Muito esforço e massa cinzenta já foram gastos tentando explicar qual é, afinal de contas, o sentido da vida. Quer dizer, qual é o motivo metafísico que nos faz estar aqui, nesta ogiva azul imensa, bailando com os outros planetas pelo grande espaço sideral. Por que metabolizamos alimentos, replicamos nossos ácidos genéticos, pensamos, aprendemos e morremos. Esta é uma questão tão profundamente arraigada nos nossos cérebros que tentamos as mais absurdas respostas possíveis (e também as impossíveis!) para calá-la. Tentamos nos voltar ao Deus cristão, ou aos deuses nórdicos, ao Espaguete Voador, à cachaça e, enfim, qualquer coisa que tenha respostas (ou a ausência delas) para nos ajudar a acalentar essa mordida questão.
Seja qual for o sentido da vida, ele parece ser bem intrincado. Desde que a vida se originou de uma sopa primordial, há bilhões de anos atrás, ela foi se complicando e se sofisticando progressivamente, até se tornar um organismo celular, e depois um multicelular, e mais tarde ter dois sexos diferentes, e raciocinar e aprender e, enfim, viver. Em cada geração seguinte, a vida vai se complicando cada vez mais e se sofisticando cada vez mais, para se adaptar ao mundo hostil em que vivemos. Ah, Darwin verteria pequenas lágrimas de orgulho, se soubesse que sua pequena e audaciosa teoria consegue explicar tanta coisa...

Mas a raça humana é notoriamente conhecida por ignorar a natureza (hehe). Se a teoria darwiniana de evolução adaptativa das espécies pode explicar satisfatoriamente 3 bilhões de anos de vida, a raça humana aprendeu a rir dessa teoria, quando decidimos que éramos tão ridiculamente brilhantes que a gente não precisava mais se adaptar ao mundo - o mundo que se adaptaria a nós! Agora não precisamos mais aprender novos truques biológicos para sobreviver ao frio, ao calor, à chuva e à insolação - nosso vasto intelecto já é suficiente para vencermos todas as intempéries naturais e, mais ainda, dizer, na cara da natureza, que nós mandamos agora. Caraca, como a gente é foda.
Sem essas preocupações mundanas de sobrevivência e adaptação aos perigos primordiais, alguns humanos resolveram se deprimir. Outros, mais ousados e inquietos, simplesmente resolveram achar problemas mais legais para se resolver. Como dormir o dia inteiro em uma rede, à sombra de um enorme baobá, pensando sobre estrelas e caças emocionantes. Sobre artefatos úteis e a vida pós-morte. Ou o assunto preferido de qualquer grupo de homens jovens e desocupados em uma noite em volta de uma fogueira: mulheres.

Imaginem essa cena genérica: uma tribo de povos nômades em algum lugar da África central entra em polvorosa porque o chefe da tribo - o mais velho e sábio - tem uma filha que é desesperadoramente linda. Os machos solteiros vão naturalmente disputar a mão desta adorável donzela. Mas ela não vai aceitar qualquer um, é claro! Então eles decidem ser o melhor caçador, o melhor coletor, o corredor mais forte, o líder mais inteligente. E eles começam a disputar entre si para descobrir quem deles é o mais notável, o mais preparado - enfim, o mais macho - que terá a chance de pedir a mão da guria em casamento e levá-la, finalmente, pra cama.
Agora, queridos leitores, em 20 mil anos de história humana, tentem imaginar quantas mil vezes essa cena acima se repetiu. Quantos milhões de homens se lançaram em jornadas impossíveis, em disputas intensas, em missões invencíveis, para ter a chance de comer a filha do cacique. Pensem em quantos Marios viraram super, enfrentaram jornadas insólitas e derrotaram monstros absurdos para conquistar as suas princesas Peach. Essa deliciosa recompensa suplanta qualquer disputazinha filosófica sobre qual é o propósito da vida no planeta inteiro! "Eu não me importo em saber o porquê de estarmos vivos - eu estou aqui pra pegar aquela mina!". Agora que podemos nos adaptar facilmente ao mundo, viver é simples demais. Difícil mesmo é atravessar florestas, matar dragões e bruxas, derrotar tropas inimigas, escrever poemas... Tudo isso pra conseguir uma noite com a mulher dos seus sonhos.

Ah, eu sei, isso é supersimplificar a vida. Mas todos os meus leitores sabem como o raciocínio masculino pode ser obtusamente simples. Quantos homens vocês conhecem que já se enfiaram nas situações mais absurdas e impossíveis, porque resolveram pensar com a cabeça de baixo? Imaginem quantos homens, do alto de seus egos, decidiram partir pra guerras do outro lado do mundo, somente para poder voltar e ter ao seu lado várias mulheres babando nas suas histórias de bravura e heroísmo - mesmo que tudo o que ele tenha feito foi se esconder embaixo da cama e chorar feito uma criancinha. Ou homens que trabalham dezesseis horas por dia, aguentam chefe babaca, trânsito infernal e o cacete, só para levar a namoradinha pra jantar num restaurante bacana toda sexta. Homens que escreveram sua marca na história, inventando a calculadora, a lâmpada incandescente, a metralhadora anti-tanque, só para serem homens notáveis e respeitosos, para conseguir conquistar os amores de suas vidas. Beethoven compôs Für Elise, Napoleão conquistou a Europa, Stálin liderou o comunismo, Dom Pedro inventou o Brasil. Todos são grandes eventos, que reescreveram as páginas da História Mundial e alterou para sempre o caminhar trôpego da humanidade. Mas, mais do que isso, ajudaram seus autores insólitos a serem pessoas notórias, respeitadas e cheias de charme. Ajudaram seus autores a conquistar suas amadas.
Encarem, então, toda a história da humanidade sob essa perspectiva: todas as grandes - e, por que não?, as pequenas - ações foram pensadas não para fazer alguém entrar na História ou para ser rico e famoso e feliz mas, sim, para conquistar alguém! Mesmo quando estão pensando com a cabeça de cima para serem homens que transcenderam suas gerações, no fundo eles estão pensando com suas cabeças de baixo, para levarem quantas mulheres aguentarem - ou, se o homem for suficientemente apaixonado, levar a mesma mulher várias vezes - para a cama, para fazerem amor, serem felizes e acharem, ali, o sentido de suas simples e curtas vidas.

Alguns leitores provavelmente ficarão chateados com minhas conclusões. Afinal, concordo, é meio triste pensar que tudo o que os homens querem é seduzir uma qualquer, e é meio triste reduzir tantas conquistas milenares a "uma boa desculpa pra transar". Mas vocês estão olhando pelo lado errado: tudo o que foi conquistado pela humanidade em tantos anos - guerras, músicas, invenções, cidades, a ida à Lua - foram provas sofisticadas de amor! (ooooun). Homens não sabem dizer "eu te amo" - preferem invadir aldeias medievais juntos de seus amigos víquingues e voltar cheio de ouros e pratas, para então dizer, sob a luz do luar: "Eu fui até lá e matei todos aqueles cristãos infieis, cruzando os mares do norte, pensando em você". As mina pira, cara!
Bom, é claro que nem todos nós procuramos a admiração feminina. Há muitas histórias de mulheres que conseguiram efeitos notáveis - Boadiceia declarou guerra contra o Imperio Romano, Teodora reinou sobre o Império Bizantino, para alguns exemplos. Isso para não mencionarmos os grande líderes homossexuais, que não queriam mulher coisa nenhuma - mas o Inominativo não é preconceituoso, como vocês sabem.
Oooras, digam o que disserem. Homens e mulheres, gays e héteros, chineses e ingleses, novos e velhos: todos querem ser famosos, ricos, influentes e temidos porque, no final do dia, querem conquistar alguém especial, querem passar o resto da noite - ou o resto de suas vidas - junto do seu amor.

Então, quando você estiver pensando em um grande objetivo de vida, parado, olhando para o horizonte, não pense em escolher aquilo que vai fazê-lo feliz. Não pense em uma carreira que vai dar dinheiro, sucesso e tranquilidade. Pense no objetivo que vai garantir que as mina pire por você, meu filho. Conquiste a Europa de novo, se for preciso. Lidere uma revolução, invente a cura pro câncer, contracene com o Chuck Norris. Mais do que deixar a sua marca indelével de fodismo para a posteridade, você conquistará todos os corações que você quiser! O resto da humanidade agradece pela sua marca deixada, e você vai viver feliz, certo de que o sentido simplificado da vida foi enfim satisfeito para você. Você finalmente conquistou o seu amor!
Até que digam que a princesa está em outro castelo. Ou que a sua esposa se transforme em uma megera e você precise conquistar outra. Aí, meu filho, lá vai você em outra saga absurda, atrás de mais heroísmos loucos. Tudo pela conquista!

Ah, como a vida é besta...

Ouvindo:
Paradise City
Guns N' Roses
Appetite for Destruction (1987)

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O Presidente Artilheiro

Queridos leitores do Inominativo! Mais uma vez, olá!!
Agora que eu finalmente recebi a minha liberdade da minha adorada FEA-USP, estou pronto para o meu mais novo desafio de vida! Depois de tantos anos estudando sobre curvas de demanda, taxas de inflação, funções de investimento, juros e dívidas públicas, eu finalmente posso ser um membro produtivo da nossa sociedade e fazer nosso glorioso país crescer! Siiim, o futuro me aguarda!
Estou pensando, particularmente, em arranjar uns cobertores pulguentos, deitar-me em alguma avenida movimentada de minha cidade natal, e falar abobrinhas sozinho, ou com um cachorro sarnento. E aí, quando passasse um desses executivos realmente importantes voltando do trabalho, eu chamaria a atenção deles e começaria a conversar sobre assuntos corriqueiros - como a Teoria das Supercordas, os exoplanetas, as expedições em Marte, se eram os deuses astronautas. Duvido que algum executivo da Avenida Paulista está preparado para travar disputas de física quântica e filosofia no meio da rua com um mendigo. Eu iria me divertir. :P

Maaas a ideia não era falar sobre trolar os trabalhadores honestos da minha querida metrópole paulistana. Não! Hoje, gostaria de levantar algumas conclusões próprias sobre o assunto dos próximos meses. Oras, durante os próximos 2 meses, vocês (e eu) serão bombardeados, mesmo contra a vontade, com propagandas e mais propagandas políticas. Como as eleições são, invariavelmente, um assunto pertinente, e eu nunca tinha discutido muito sobre eleições neste blogue decrépito, achei por bem fazê-lo. Até porque eu tive uma boa ideia. :D

O Presidente Artilheiro
Pois já passamos da hora de juntar oficialmente futebol e política

A não ser que você seja um desavisado que passou as últimas 8 semanas vivendo em uma tribo indígena no Pantanal sul-mato-grossense - ou que o Inominativo tenha, enfim, vencido as barreiras internacionais e me projetado no exterior, o que é impossível - você está sabendo que o Brasil está, oficialmente, em época de eleições. Graças ao suor de tantas gerações anteriores a nossa, fomos conseguindo seguidas e importantes vitórias sociais, que nos garantiam o poder de escolher aqueles ilustres brasileiros com capacidade de guiar esta nossa pátria amada, idolatrada, salve salve. Hoje, queridos, a democracia brasileira vive seu melhor momento, repleta de liberdade e futuro! Viva o Brasil, gente!
O problema é que é difícil acreditar que a democracia brasileira já esteve pior. Quer dizer, olhe em volta! Obrigados a escolher o menor dentre os males, nós vamos votar amarrados, pensando em votar naquele político que trará menos prejuízo, ou que roube menos. A situação está tão desanimadora que aparecem no percurso postulantes a governantes cada vez mais bizarros, na tentativa de chamar a atenção para a absurda situação tupiniquim. São caras tão esquisitos, tão bizarros, tão alienígenas, que eu frequentemente me pergunto se não estamos assistindo a um grande espetáculo circense! Sim, senhores, as eleições brasileiras são, na verdade, o maior show de humor da Terra! Depois de tantos anos de frustrações políticas, tudo o que nos resta para levar o dia-a-dia é rir!
Mas defendo, ainda assim, que a nossa democracia é melhor hoje do que em tempos passados. Bom, pensemos pelo lado positivo - hoje em dia a gente pode pelo menos rir dos nossos candidatos sem temer uma prisão repentina por subversão. Quantas grandes mentes devem ter sido acusadas e torturadas, só por falar que o Generalíssimo Costa e Silva tinha nariz de batata... Por pior que esse nosso carnaval político nos pareça, bom, a gente ainda pode rir disso, né? E ainda estamos livres para falar mal da Presidente Rousseff, do Governador Alckmin, do Ministro Lewandowski... Nem que seja pelo bem da piadinha :D

Sim, queridos leitores, eu sei - eu escrevo os parágrafos acima em tom jocoso, mas eu concordo com vocês que a ideia de uma democracia não é ser engraçada. Eu posso assistir ao Comédia MTV se eu quiser rir. As eleições deveriam ser sérias (ou, pelo menos, fingir ser). Mas a verdade é que tem alguma coisa dando seriamente errado na política brasileira. Vejam o exemplo das eleições para a Câmara dos Deputados no ano de 2010. O palhaço Tiririca veio ao glorioso Estado de São Paulo, fez piadas, e alegou - em tevê aberta para todo o estado - que não tinha a menor ideia do que um político fazia. Uma enorme comédia, ao vivo. Os paulistas, que sempre foram orgulhosos de ser a locomotiva do país, não tiveram a menor dúvida: elegeram o palhaço! Colocaram o Tiririca como o legislador mais votado em nossa centenária história republicana, para aprender ali, na hora, como ser um congressista!
O ponto que este humilde autor levanta é que o problema, caríssimos leitores, não está na política! O que faz das eleições uma piada não são os candidatos, não são os políticos, não é o Governo - é o povo!!
Siiiim, senhores, os eleitores paulistas preferiram a piada à seriedade - de lavada, diga-se de passagem - e eles, é claro, não são os únicos. Por todos os metros quadrados do nosso país, esse gigante adormecido, cidadãos riem e se esbaldam quando políticos cômicos fazem piadas em palanques. Candidatos sem-noção usam nomes absurdos para chamar a atenção e "representar o povo", porque é justamente o que o povo quer! Caiam na real, elitistas proselitistas - o que a população quer não é educação, saúde, alimentação e emprego! Eles querem boas risadas!! Eles querem eleger o Tião do Gás porque ele é um gordinho estranho, ou a Mulher-Pêra, porque ela é gostosona! A nossa Sucupira elege qualquer um que fale nosso idioma e adivinhe nossas ganas - comédia, televisão, futebol. Não à toa, já elegemos até ex-Big Brothers para nossa mais estimada Câmara de Deputados. Além, é claro, do Romário - não que eu menospreze suas conquistas esportivas para o país porque, afinal de contas, 5 gols na Campanha do Tetra deram uma impressionante dose de auto-estima para este pobre país, coitado.

Mas é justamente ao se atentar aos números, tentando provar os fatos, que temos uma surpresa, senhores leitores. Afinal de contas, nossos políticos de brincadeira nos surpreendem, ao olharmos atentamente! Ainda no exemplo da Câmara de Deputados, os políticos como Tiririca, Jean Willys, Romário, entre outros, figuram entre os políticos mais assíduos, e alguns com propostas verdadeiramente interessantes! É claro que podemos achar explicações perfeitamente plausíveis - por exemplo, como esses políticos são novos, eles ainda estão levando Brasília a sério - mas não deixa de haver uma interessante conclusão: candidatos divertidos, afinal, dão certo! O próprio Romário, por exemplo, é um dos políticos mais notórios em Brasília, criticando abertamente propostas governistas - principalmente no tocante ao futebol e esportes em geral - e descendo a lenha em personalidades e colegas. Seja lá qual é o motivo que leve este goleador vitorioso a ser um político mais engajado do que tantos outros políticos de "carreira", está funcionando!
O que me deixa a pensar: e se replicarmos a experiência? E se começarmos a eleger mais e mais ex-artilheiros campeões mundiais para nossos Legislativos? E se votarmos em técnicos campeões para o Governo de um estado grande e populoso? Oras, o Romário foi aos Estados Unidos e voltou com o Tetra. O Luiz Felipe Scolari foi ao Japão e voltou com o Penta. Por que não deixá-los ir a Brasília? Talvez eles voltem com uma economia desenvolvida, um enorme investimento em esportes, em educação, em transporte e segurança.
Oras, sejamos sinceros - a República existe desde 15 de Novembro de 1889 (122 anos e 9 meses, contando da data da publicação deste humilde texto). Os eleitores brasileiros estão há um século e um quarto tentando votar em políticos sérios. Não deu certo. Vai que a gente comece a escolher políticos piegas e eles façam o trabalho? Desde que não piorem o que já está lá, a gente já está no lucro - até porque, pior que está não fica! \o/

Então, em vez de encher nossos pacovás a cada 2 anos com eleições ridículas, podíamos tratar a política de modo ainda mais light e participativo! Podíamos instituir que os 513 perfis brasileiros mais curtidos no Facebook seriam automaticamente eleitos deputados federais. Podíamos decidir que o dono da conta de Twitter que fosse mais retuitado em seu estado era automaticamente o Governador. O cidadão que mais resultados tivesse no Google seria escolhido Prefeito de sua cidade. E assim sucessivamente.
E para Presidente da nossa República de Faz-de-Conta do Brasil, um processo ainda mais bacana e emocionante: o artilheiro das últimas 4 edições do Campeonato Brasileiro seria automaticamente empossado Presidente da República!! Imaginem que emocionante, uma disputa até o fim de Dezembro de 2014 para decidir entre Neymar, Fred, Ronaldinho Gaúcho ou Luís Fabiano como nosso Presidente da República por 4 anos! Assim, resolvíamos vários problemas de uma vez só - não precisaríamos mais perder um domingo a cada dois anos elegendo presidentes, e nunca mais teríamos de votar nos mesmos candidatos sempre. Além do mais, todo mundo assistiria ao Campeonato Brasileiro até o fim, torcendo para algum filho da mãe quebrar a perna do Emerson, lesionar feio o Vágner Love...
Mais do que isso, teríamos orgulho de nosso Presidente Artilheiro! Alguém que também não sabe cantar o Hino Nacional, que cata todas as gostosas em seu carro importado, que vai pra Europa no meio da temporada do ano que vem... Tudo aquilo que queremos ser e fazer, mas não fazemos! Ninguém mais aceita um Presidente culto, um Presidente do povo, uma Presidente honesta. Legal mesmo é Presidente Artilheiro, que "dibra" 3, dá caneta no goleiro, faz dancinha pra comemorar e pede música no Fantástico. Esse, sim, seria o cara. Ele sairia do jogo, poria a faixa presidencial, e iria pra Brasília ser o melhor Presidente da nossa história. Francamente - quem precisa de Presidente Obama, quando nós temos o Presidente Obina?

Se o que funciona na política é a diversão, essa ideia seria um prato cheio. Não sei se vai resolver, mas, convenhamos, a gente já tentou diversas vezes as opções sérias. Uma mudança de ares seria bem vinda. Afinal, queridos, pior que tá, não fica. :D

Ouvindo:
You Dropped a Bomb on Me
The Gap Band
Gap Band IV (1982)

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

O Botão do Foda-Se

Boa noite de novo, meninos e meninas do outro lado do monitor! Mais uma vez, apresento para este meu blogue, que é meu chuchu, um pedaço de bobagem aleatória para vocês rirem e refletirem! Mas, é claro, eu sei que vocês vão se entristecer e ignorar. Como vocês sempre fazem. Vocês não amam meu blogue. Buhuhuhu...
Sem frescura, Rafael! Você é um homem ou um sapo?
Nesta agradável noite de inverno, o autor que lhes escreve publica uma das maiores filosofias modernas. Uma filosofia em que ele piamente acredita e divulga, porque o legal não é estar certo - é mostrar que os outros estão errados.
Então, crianças, convido-lhes, como sempre, a ler mais um parco texto meu, e a se divertirem! Obrigado por estarem aqui! :D

O BOTÃO DO FODA-SE

Estresse, caros leitores deste decrépito blogue, é um dos maiores causadores de problemas na modernidade. Os meus amigos mais antigos poderão inclusive entender a piada, quando eu digo que o estresse tem grandes chances de ser conhecido como "o mal do século" (hein? pegou? pegou?). As preocupações da modernidade são muito mais avassaladoras do que as do século anterior, ao que parece, porque hoje em dia, preocupar-se pode levar a palpitações, picos de pressão, mal estar, e até a suicídios!! Menino, esse negócio parece mesmo sério!!
Mas pô, gente, é verdade, isso? O estresse hoje é mais perigoso do que no passado? Gente, pelamordedeus, tenham um pouco de perspectiva! Quer dizer, há dez mil anos atrás (quando Raulzito nasceu), os nossos problemas envolviam evitar ser morto por um mamute do tamanho de uma casa, evitar ser morto por um leão, evitar ser morto dilacerado por um guepardo, evitar ser morto de fome ou insolação, e evitar ser morto em guerras com outras tribos pelo controle de arbustos que davam frutas silvestres. Em suma, queridos, há dez mil anos atrás, a sua preocupação principal seria morrer. Você passaria todos os dias da sua vida morrendo de medo de não voltar a dormir. E quando dormisse, morreria de medo de não voltar a acordar. Tá bom pra você, de estresse?
Mas nãããão, ruim mesmo é o estresse do Século 21. Afinal de contas, não conseguir pagar a conta da Vivo, ficar o dia inteiro no trânsito, levar pito do chefe, perder a chave do carro parecem coisas bem mais assustadoras do que morrer dilacerado por um fucking guepardo demoníaco. Aparentemente, a sociedade ocidental moderna acredita que o estresse hoje é muito pior e voilà, o pessoal frita a cachola por aparentes trivialidades modernas, que fariam um menino faminto da África Subsaarina rir com gosto (vocês já devem ter ouvido falar na expressão "First World Problems").

Como diria um grande filósofo, problemas modernos exigem soluções modernas. Quando estávamos fugindo de predadores sedento de sangues, inventamos lanças e espadas e carabinas e o aquecimento global. Se estamos guerreando contra outros homens, bom, inventamos a pólvora e a bomba atômica. Se os nossos problemas são essas melindrosidades modernas, então a gente aprende a mandá-las todas tomar em seus respectivos orifícios anais, cambada!! Libertem-se de suas prisões mentais, abracem a vida sem responsabilidades, saia pelado por esse mundão bão de Deus, e vá ser feliz! Ligue o FODA-SE!! \o/
O Botão do Foda-Se é um brilhante engenho humano para ignorar os pequenos desastres que minam a vida moderna. Um dia alguém colocou em perspectiva os problemas modernos e percebeu que, pô, ainda que tudo dê muito errado, a gente ainda estará vivo!! Não é que nem antes em que, se tudo desse errado, terminaríamos o dia dilacerado por um guepardo africano. Não! A gente ainda vive, pode tentar de novo, errar outra vez, descobrir uma maneira melhor. E mais! Você ainda não fica estressado, e quem sabe até aproveite a vida melhor! Mesmo tendo feito uma cagada hercúlea! Porque, afinal de contas, o pior já aconteceu, e você ainda está vivo!! Sorria, e ria junto, querido! :D
Ligar o Foda-Se, querido leitor, blinda você de peso na consciência por alguma ação estupidamente infeliz que você venha a tomar. A apresentação de amanhã não está no ponto e você precisa dormir? FODA-SE!! Vou dormir direitinho e amanhã eu me viro! Levou fora da sua namorada gostosa, só porque ela descobriu que você gosta de colecionar Pikachus? FODA-SE!! Pokémon são muito mais legais anyways! Perdeu o emprego? FODA-SE!! Você agora pode assistir a todas as modalidades olímpicas existentes, até mesmo hipismo!

Quando você percebe que uma ação ruim não é o fim do mundo e nem da sua miserável vidinha, você passa a ser livre para não se importar tanto com as coisas e aprender, simplesmente, a deixar tudo descer morro abaixo. Afinal, por mais que você se ache um humano fodão, você não é ninguém, e nada do que você fizer vai mudar as coisas. Então ligue o FODA-SE!! Vire errado numa avenida, desça num ponto errado de ônibus, durma em vez de virar a noite estudando. Quando seu botão do Foda-Se está ligado, você simplesmente deixa de conjecturar todas as consequencias possíveis de suas pequenas e insignificantes ações sobre o Universo. Você está topando qualquer coisa que vai acontecer, porque, sabe-se lá o que a aleatoreidade universal reserva para você, né? Vai ver, sair atrasado fará com que você pegue um busão com um antigo amigo, ou dormir em vez de estudar pode deixar você suficientemente descansado para chutar corretamente todas as questões da prova. Quem sabe? Ninguém!!
Por isso o Botão do Foda-Se é tão importante. Você aceita que você afinal de contas não entende nadica de nada do Universo e que, desde que você não morra dilacerado por um guepardo, qualquer coisa será divertida e emocionante. Ou, pelo menos, trará menos preocupações do que se você ficasse se preocupando tanto de véspera. Afinal de contas, quantas vezes vocês piraram horrores antes de uma prova que calhou de ser supersimples? Seria mais divertido ter ligado o Foda-Se e ter jogado Mario a noite inteira, né?

Então, colegas do Inominativo, da próxima vez que vocês estiverem angustiados, temerosos, perplexos, perdidos... Simplesmente pensem consigo mesmo: hey, qual é o pior que pode acontecer? Tem algum guepardo perto de mim tentando me dilacerar? Não?? Então, criançada, jogue tudo pro alto e vá ser feliz na sua eudaimonia particular. Aperte o seu botãozinho do Foda-Se, vá dançar Lady Gaga, comer um pacote inteiro de Bono (o biscoito, não o vocalista), pedir um Burger King. Vá ser feliz, criança! E se alguém quiser incomodar você e a sua felicidade, lembre-se de gritar bem alto, "FODA-SE!! FODA-SE!!"
Afinal de contas, nunca se sabe quando você pode morrer de complicações cardíacas!
Ou dilacerado por um guepardo.

Ouvindo:
Mika
Stuck in the Middle
Life in Cartoon Motion (2007)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Passando Vergonha com Dignidade

Olá mais uma vez, meus queridos!! É julho no planeta Terra e todos estamos felizes aproveitando nossas férias merecidas das aulas! Ou não, talvez você esteja de recuperação e agora está se amaldiçoando por não ter estudado, né? E aí você promete que semestre que vem vai estudar direitinho e não vai deixar tudo pra última hora, né? Hehe, como você é bobo...

Então, naquela quarta-feira de Lua Cheia, você e sua bela namorada decidem enfiar o pé na jaca e comer um portentoso Big Mac no McDonalds mais próximo. Nada mais romântico do que se sentar numa mesinha de plástico, sob a Lua, todo lambuzado de molho e catchup, com a sua namorada em uma noite de outono. Ah, o amor.
Eis que, na fila, você se depara com o anúncio mais estupidamente maravilhoso dos últimos anos, a ideia mais fenomenal desde a internet, desde o Mario 64, desde a Nutella: o McLanche Feliz está vendendo bonequinhos do Pikachu! Holy moly guacamole! Você FINALMENTE terá para si um bonequinho do pokémon mais simpático da história! Só que você agora está dividido: você precisa manter a boa pinta pra sua bela namorada, precisa ser um macho alfa e inflexível. Mas, cara, é um Pikachu!! Você ainda se lembra de quando comprou o seu Pokémon Yellow, para o seu antigo Game Boy, só para ter um Pikachu e vencer a Liga Pokémon!! E agora? ARRGH, como é difícil ser moderno!
Bom, nem tanto, se você continuar lendo :D

MANUAL MODERNO DO MANO METROPOLITANO
Passando Vergonha com Dignidade

Existem horas na vida de um homem (e de uma mulher também, o Inominativo não é preconceituoso), em que você simplesmente precisa passar vergonha para ser feliz. A vida moderna é excessivamente complicada e a sociedade é bastante opressora, e tudo o que você quer é uns cinco minutos de escape. Então, depois de alguma meditação (ou às vezes nenhuma, você simplesmente faz sem pensar), você achou que valia a pena engolir o orgulho e passar vergonha. Mas, caro amigo, exprimir seus pequenos desejos não precisa ser um calvário!! Você pode ouvir o seu inconsciente retardado sem sofrer (tanto) com a crítica da sociedade e com a moralidade judaico-cristã ocidental. Tudo depende, aventureiro leitor, de como você lida com o problema.
O mais importante, nessas encruzilhadas, é manter a expressão impassiva, de quem não está envergonhado consigo mesmo. Quando você não aparenta nervosismo, é como se aquilo que você está fazendo é perfeitamente e completamente normal. Quer dizer, é claro que não é normal um ruivo barbudo de 1,85m e 100kg entrar numa Ri Happy e pedir a nova Barbie Engenheira, mas se você mantiver a impassividade e agir como se não estivesse fazendo nada de absurdo, as pessoas vão simplesmente aceitar que não há nada de absurdo, de fato. Oras, o emérito rabino Henry Sobel roubava gravatas, por que diabos eu não posso comprar uma Barbie Engenheira?

O seu ar meio blasé vai funcionar com alguns, mas outros continuarão achando estranho uma mulher de trinta anos querer comprar um boneco do Ben 10. E por mais que você faça um ar de que isso é a coisa mais normal do universo, eventualmente aparece um engraçadinho metido à besta, um infeliz que vai simplesmente perguntar o que você está fazendo. Porque você, uma pessoa tão distinta e madura, está comprando algo daquele tipo?
Nesta situação, caro leitor, não há saída: valha-se da boa e velha mentira deslavada. Você está comprando esse gibi da Mônica pro seu sobrinho que está se alfabetizando! Ou está comprando uma boneca da Moranguinho pra sua irmãzinha linda de 8 anos que você ama! Está levando camisinhas porque o seu irmão está chegando na idade de se proteger, e você precisa zelar por ele...! Enfim, apontar culpados - especialmente se o culpado for uma pessoa nova e pura - exime você de julgamentos (aaaaaw, é o sobrinho dele que está se alfabetizando, que foooofo!!) e, mais ainda, pode até colocar você como uma pessoa brava e corajosa, que enfrentou de peito aberto o preconceito social para ajudar os que precisam!
Desnecessário lembrar que, mesmo nos casos onde mentir é a saída, sua cara impassível e o ar de que o que você está fazendo é normal não podem ser dispensados. Você precisa agir como se o que você está fazendo é totalmente normal e regular. É assim que uma mentira passa pelo olhar mais desatento e incauto. Mentir com convicção é uma habilidade invejável, e você deve praticá-la bastante. Jogue algumas partidas de truco.

Agora, você pode infelizmente chegar no pior cenário, em que as pessoas percebem que você está numa situação irremediavelmente cômica e bizarra, pra não dizer desconfortável (olhem lá, gente, um barbudão daquele tamanho comprando uma Barbie!!), e decidem fazer o pior - caçoar de você. Porque, afinal, é o que as pessoas fazem quando alguém está enfiado na merda: riem dela!
Nesta situação desvantajosa, em que você foi pego de calças curtas, existem três saídas pra você, querido: (i) mandar tudo se f**er, partir pra ignorância e esmurrar a galera pra mostar a sua (falta de) masculinidade; (ii) engolir o sapo e continuar agindo como se tudo estivesse normal, até mesmo a gozação alheia, ou; (iii) rir junto e assumir o centro do palco! Sim, é verdade, eu tenho 23 anos e ainda durmo abraçado com ursinhos de pelúcia! Sim, eu ainda gosto de Backstreet Boys e Sandy e Júnior! Siiim, eu coleciono bonecos dos Cavaleiros do Zodíaco, e bonecas da Barbie Profissões!! SIM, EU PASSO VERGONHA!
Assumir sua vergonha, diria o autor desse blogue, é ainda a maneira mais nobre de manter sua honradez, porque você pode esfregar na cara desses porcos hipócritas que você não liga pro que eles pensam!! Bom, na verdade, você liga sim pro que eles pensam, mas eles não precisam saber disso! Eles só precisam saber que você é um bruta dum macho, que é tão macho que não tem medo de parecer viado na frente de todo mundo pra ser feliz! DEAL WITH IT!

Então, da próxima vez em que você estiver dividido entre manter seu pretenso status social e alimentar suas vontades interiores, mande o mundo às favas e vá ser feliz. O mundo se vira sem a sua felicidade bizonha. Você não. :D

Ah, sim, pra concluir - nosso herói do começo da história ficou numa tenebrosa dúvida, mas acabou comprando seu Pikachu no McDonalds. Morrendo de medo do julgamento da bela namorada, ele o escondeu no bolso da jaqueta e manteve sua impassividade. Até quando o seu Pikachu caiu do bolso, claro, e a bela namorada o viu. Antes que ele pudesse pensar em qualquer mentira deslavada, ela exclama, extasiada: "Um Pikachu!! Como você sabia que eu adoro Pikachus??"
Ah, garoto! Ele não sabia, mas valeu a pena passar vergonha. No final das contas, sempre vale a pena passar vergonha. Tudo vale a pena, quando a alma não é pequena :D
Mas ele acabou ficando sem o Pikachu dele. Raios.

Ouvindo:
Block Rockin' Beats
The Chemical Brothers
Dig Your Own Hole (1997)

domingo, 8 de julho de 2012

Nerd Pop

Boa noite e olá para todos vocês! Como estão? Tudo bem? Aproveitando as férias de suas escolas, faculdades? Odiando o inverno, amando o frio, torcendo pela Mega Sena? Saudades de vocês, leitores! :D
Mais de ano desde a última vez que postei no Inominativo. Mas mesmo sem postar por tanto tempo assim, eu nunca o declarei oficialmente falido, de modo que achei por bem postar algo aqui assim que sobrasse tempo livre e boas ideias.Modéstia a parte, boas ideias eu sempre tenho. Mas tempo livre, epa, acabou de aparecer. Então, senhoras e senhores estimados leitores, e leitor aleatório que parou no meu blogue sem querer querendo, convido-os para mais uma leitura, porque eu adorei escrever mais um texto para o meu blogue querido, e adoraria mais ainda que vocês os lessem! Aproveitem, e espero que se divirtam!
E se não se divertirem, também, vão cagar. Chatos.

Nerd Pop
Ser nerd está na moda

O mundo sempre gostou de rótulos. Rotular as coisas é uma maneira bastante fácil de entender o que você ainda não entende, de explicar o que ninguém te explicou, de dar uma cara familiar pra algo que você nunca viu. Então, não é de se espantar que as nossas felizes sociedades humanas tenham ocupado muito de suas vidas efêmeras rotulando as coisas, os fenômenos, os eventos e as pessoas. Siiim, as pessoas também! Porque, afinal de contas, humanos também são estranhos, e rotular ajuda bastante quando você quer entender humanos estranhos.
Rotular as coisas não é ruim, é claro. Muito pelo contrário! Vejam vocês, o Universo é um lugar bastante complicado, e a humanidade evoluiu encontrando padrões no Universo pra aprender a fugir de predadores, plantar batatas, dançar salsa e, enfim, viver uma vida feliz. Se não fosse nossa admirável capacidade de encontrar padrão em tudo quanto é lugar que olhemos (ou ouçamos, toquemos etc.), não teríamos essa nossa notável habilidade em evoluir e nos adaptar ao nosso mundo belo e hostil. E isso é ruim. Então, padronizar as coisas que encontramos nos ajuda, sabe, porque a gente entende o universo, consegue se adaptar, e vive feliz. Êêêêê!!
Mas eu viajei demais. Estávamos rotulando os humanos e, como vocês sabem, isso é bastante fácil e comum nos idos modernos. Desde que você é pequeno e começa a se acostumar com a sua sociedade estranha, você aprende a rotular as pessoas. Porque todo mundo faz, porque é divertido e rende boas piadas, porque é mais fácil. E aí, você passou, então, a ter, já na sua escolinha, os amigos palhaços, os atletas, as patricinhas, os filhinhos-de-mamãe.

E os nerds, claro. Todos conheciam alguns nerds. Aquela galera estranha, que entendia matemática, corrigia os que falavam errado, jogavam vídeo-game, eram desajeitados e esquisitos. Na época das panelinhas, ninguém se misturava com um nerd, porque eles eram bizarros e sem-graça, só falam de coisas que ninguém entende. E os nerds também não se misturavam, porque ninguém os entendia, e ninguém tolerava os gostos exóticos que eles tinham (como assim, gostar de química, jogar Mega Drive, ler Superinteressante?). Pelo menos na infância deste autor que vos fala (os saudosos anos 1990), nerds eram meio alienígenas, meio monstros, aqueles caras que você até conhece e dá bom dia, mas é melhor manter distância. Pode ser que mordam.
Bom, enquanto o resto do mundo vivia a sua vida feliz, jogando bola, andando de bicicleta, tomando sorvete e sendo tão normais quanto o possível, aqueles pobres nerds viviam nas suas vidas estranhas. Estudando química orgânica, comprando Playstations e lendo livros do Carl Sagan, os meninos nerds conseguiram mesmo viver numa vida paralela deles. Inventaram o RPG (role-playing game, jogo de fantasia assaz interessante em que você pode matar dragões e derrotar magos poderosos sem sair de casa), descobriram as ficções científicas americanas e, enfim, descobriram um breve nicho de felicidade nesse inóspito mundo moderno. Os nerds podiam ser estranhos em paz, sem incomodar ninguém!!
E prosperaram também! Como eles eram craques em matemática e física e química e essas coisas, eles conseguiram convencer seus governos a investir seus dinheiros em máquinas grandes e complicadas, que poderiam fazer coisas superbacanas (tipo descobrir como funciona o universo). Assim, os nerds podiam ser estranhos e, além disso, ajudar a sociedade de pessoas normais a viver uma vida mais bacana e frutífera! Nada mal pros nossos amigos nerds!

As coisas começaram a mudar quando o computador finalmente ficou barato. Até os anos 1970, computadores eram enormes máquinas barulhentas e cômicas, que tinham o tamanho de uma sala inteira e levavam eras pra realizar cálculos simples. Só laboratórios ricos e importantes tinham computadores, vocês entendem. Aí, bem, descobriram como fazer um chip de silício. E descobriram como fazê-lo funcionar com uma tela de cristal líquido. E aí, um computador do tamanho de uma sala ficou bem pequenininho! Agora, calculadoras pequenas e baratas poupavam o dono da lojinha a ficar fazendo suas somas enfadonhas, e os engenheiros podiam passar menos tempo checando seus cálculos quilométricos, e mais tempo inventando coisas bizarras (como uma lata de sardinhas que pousa na Lua).
E quando todo mundo achava que os computadores estavam tomando conta da vida comum de todo mundo normal surge o primeiro nerd pop. Bill Gates, o dono da Microsoft e inventor do DOS e do Windows, convenceu toda a civilização judaico-cristã ocidental a comprar um (agora) barato e simples computador pessoal, porque seria superbacana ter uma máquina pra jogar paciência em casa! Maomeno na mesma época, outro nerd pop, Steve Jobs, populariza o seu Macintosh e, agora, todo mundo tem um computador em casa! Pouco a pouco, as pessoas se acostumam com traquitanas eletrônicas, controles bizarros e outras estranhices obviamente nerds.

Por que estou dando toda essa volta? Para mostrar pra vocês que os nerds, aqueles caras estranhos e fora de contexto, agora estão inventando máquinas superlegais que estão totalmente na moda! De repente, todo mundo tem um computador portátil, e um espertofone com acesso a internet rápida, e um vídeo-game modernoso que identifica seu movimento... Já que não podiam ser populares normalmente, os nerds forçaram sua popularidade, inventando coisas que todo mundo sempre quis ter, mas nunca estudou o suficiente pra fazer. Mas os nerds fizeram!! E agora, liderando a sociedade ocidental, eles se tornam populares, idolatrados e referências. Os nerds, finalmente, acharam seu lugar na sociedade: bem no meio dela!!
É claro, esse processo não foi da noite pro dia. Lá nos anos 1990, onde comecei minha história, só alguns poucos nerds entendiam de sistemas operacionais, disquetes de 3 ½ polegadas, capacidade de processamento. Vídeo-game, então, era coisa de exilado social, de fracassado. Aos poucos, entretanto, os nerds ensinaram aos normais, pacientemente, como jogar Sonic the Hedgehog, como colocar um ringtone personalizado no Nokia novo, como usar o Firefox pra acessar a internet, como pesquisar no Google e aprender as coisas no Wikipedia. Os nerds, agora importantes gurus da vida moderna, passaram a inspirar a geração desse nosso magnânimo Século 21, e todos entendem um mínimo de nerdês pra viver essa vida moderna metropolitana.
Finalmente, capitalizando o sucesso dos nerds, séries de televisão e filmes e músicas trouxeram, aos borbotões, a cultura nerds, que viveu escondida nas gavetas dos seus amigos estranhos e exilados. Se antes era coisa de nerd, hoje todo mundo entende as referências a super-heróis, a livros esquisitos com idiomas próprios, a séries espaciais com sabres de luz e religiões fodonas. O nerd, caro amigo, hoje é pop. Até aquele cara bronco e valentão que fazia bullying nos nerds antigos hoje manja um pouquinho de nerdês, e até se diverte assistindo aos Vingadores! O nerd precisou de algumas décadas, mas finalmente venceu! Finalmente agora tem amigos, dinheiro, mulheres e vídeo-games aos montes.

Há os nerds que se sentem recalcados, invadidos. Passaram a vida inteira se escondendo por serem nerds e, agora, todo mundo também é nerd. E ninguém nunca pediu desculpas pra ele!! Como assim? Mas, na minha opinião, somente o fato da civilização ocidental passar a gostar tanto de nerds a ponto de não ser mais estranho usar por aí camisetas do Lanterna Verde já é um grande passo nessa sociedade bizarra nossa. Hoje, espontaneamente, muito mais pessoas passam a usar o rótulo de nerd.
E você, caro amigo nerd, não precisa mais se esconder para ser feliz! A humanidade recebe você de braços abertos, oferece cookies e aulas de salsa! E até te dá de presente laboratórios caros! Desde que vocês nos deem mais alguns apps brilhantes e divertidos pra iPhone. Por favor, nerd. E aí a gente não enche você de porrada pra tomar o lanche do recreio. :D