domingo, 24 de maio de 2009

O Grande Colisor de Hádrons

Saudações, cordiais membros da comunidade terrestre! Mais uma agradável noite na minha metrópole, e como eu estou sem muito o que fazer por aqui, acho que vou agraciar este meu pobre blogue com alguma coisa desimportante, para que vocês venham visitar, ler, e pensar, afinal: "Por que diabos eu visito esse blog?". Sim, a cara de arrependimento e de frustração no ser humano alheio me diverte e me alimenta. Hohoho, seus bunda-moles.

Recentemente, entre minhas navegações pelo vasto oceano internético, li uma interessante notícia. Um grupo de cientistas norte-americanos decidiu que vai fundar uma estrela em pleno laboratório terrestre, em breve. Tratam-se de funcionários americanos dentro da National Ignition Facility (Centro Nacional de Ignição) em Livermore, cidade da Califórnia (aquele estado que parece um rim, e que é governado pelo T-101, o Exterminador do Futuro). E a função deles é bastante simples, na verdade: produzir uma reação em cadeia de feixes laser que vão ser todos condensados em um único ponto, onde fica uma pobre carga de hidrogênio. Com todos os lasers ligados, produzindo uns 500TW de energia (lê-se terawatt, ou um milhão de megawatts) - setecentas vezes a capacidade de produção da nossa Usina de Itaipú - o calor e a pressão seriam tão violentos que os átomos de hidrogênios teriam suas bolas esmagadas (literalmente) e se juntariam, formando átomos de hélio; entre outros, isso libera uma energia dos infernos. O Sol faz isso também, só que várias vezes e há bem mais tempo. Então, a ideia é bem essa: criar um anão do Sol, um irmãozinho menor e gerido pela própria humanidade. Medonho, né?
Quer dizer, e se essa desgraça der errada? E se de repente o sol cresce demais, engole a Califórnia, o planeta todo e todos morremos dentro de um sol? Macabro, cara! Eu já penso na saúde das minhas vestimentas interiores, só de imaginar essa hecatombe! Isso me lembrou a história do Grande Colisor de Hádrons, que foi apelidada de "Máquina da Destruição", entre outros adoráveis apelidos pouco assustadores. E foi que eu me toquei: "gente, eu nunca escrevi nada sobre o Grande Colisor de Hádrons! Que brisa mais errada!".
Pois é. Graças ao pequeno sol californiano, às 700 Itaipus e ao Exterminador, ponho-me a trabalhar. Vamos criar caos :B

O GRANDE COLISOR DE HÁDRONS
Quebrando coisas com estilo

O mundo era perfeito, no final do século XIX. Isaque Nílton (aquele cientista, cuja cabeça foi atingida por uma recém-madura maçã vermelha, lembram-se?) tinha ficado famoso por ter provado com 99,9% de acurácia como era o funcionamento do Universo. Ele previu como corpos se moviam no espaço, como a Terra rodava em torno do Sol, como era o bagulho da ação e reação, descobriu a receita da torta de maçã... Bom, ele descobriu um bocado de segredos universais. Com o universo praticamente teorizado, só faltava termos suficiente tecnologia para provarmos que Isaque estava tão certo quanto alguém poderia estar em uma mesma encarnação.
Mas é claro, ele estava errado (hehe). Quer dizer, não exatamente errado, ele só não terminou de acertar as coisas. Acontece que naquela época, achavam que átomos eram meio que bolinhas indivisíveis (do grego, ατομόσ, ou atomós, "que não é divisível"). Bom, durante o fim do século XIX e o início do nosso glorioso século XX, descobriram que o átomo é, sim, divisível. Acharam os elétrons, e depois os prótons. E acharam os nêutrons, também, que têm gosto de nada, mas que está lá. E foram achando cada vez mais coisas dentro dos átomos. Eles descobriram, por exemplo, que a luz também tem partículas (os fótons). E que o próton é feito de quarks. Enfim, quando eles descobriram um monte de coisas sem nexo nenhum para a Física Newtoniana, eles acharam por bem fundar uma nova área da ciência. E nascia aí a Física de Partículas.

A primeira grande pergunta da Física de Partículas nasceu no primeiro segundo de funcionamento deste campo científico. Como diabos estudar um negócio tão pequeno que nem com vários microscópios combinados se veria? Como provar que existe algo tão estupidamente pequeno dentro das coisas? Como cientistas não são cientistas à toa (eles convenceram um monte de gente a acreditar nas abobrinhas deles), eles tiveram de ter uma genial ideia para provar que os quarks estão lá, e não são só um nome engraçado. Como se fazer isso? Da maneira mais inteligente possível: quebrando as coisas pra ver como é dentro.
Imagine-se você, meu caro leitor, tendo lá seus oito anos de idade, e da posse de um relógio analógico. Sabe, um bastante bonitinho, que faz tic-tac, que tem algarismos romanos, que marca que dia é hoje, é super-estiloso. Um luxo. Naturalmente, por você ser uma criança, teve uma súbita curiosidade de saber como ele funciona. E então, você decide abrir o relógio pra vê-lo por dentro. Mas não tem chaves especializadas, não tem força nas mãos e está sem paciência. Qual é a maneira mais fácil pra abrir o relógio? Espatifá-lo na parede, é óbvio. Você o amarra em uma corda, e roda roda roda roda o relógio até que ele esteja bem rápido. E o atira na parede. Depois de aberto e todo virado pelo avesso, agora você cata de volta as tripas do relógio, e tenta remontar o objeto, antes que seu pai descubra. :D

A Física de Partículas ficou craque nesse episódio acima. Eles querem saber o que diabos há dentro de um átomo. Então eles pegam o átomo, rodam o infeliz e o atiram contra um outro átomo. Só que não é exatamente fácil "pegar um átomo e rodar o infeliz". Pra que se "pegue" um átomo, você precisa criar um campo magnético, pra que, digamos, um próton possa flutuar. E pra rodar, você precisa de vários ímãs alinhados em um túnel. E tem que sincronizar todos, pra que eles liguem e desliguem no tempo exato, para empurrar o próton pra frente. E isso tem que ser estupidamente rápido, porque quanto mais rápido uma partícula viaja, mais massa ela adquire (não me perguntem o porquê; Einstein provou e eu aceito como verdade fundamental). Se você puser um próton viajando a mais ou menos 99% da velocidade da luz, ele fica bem gordo. E aí, você manda um outro próton viajar no caminho reverso. E espatifa os dois. Pop!
Por isso, eles precisam construir túneis extremamente caros, cheios de ímãs e cabos e tubos e laboratórios, que ficam de prontidão pra entender o que exatamente sai de dentro dos prótons esmigalhados. E é essa a função de um acelerador de partículas: um túnel circular (a maioria é circular, mas tem uns que são retos e outros mais bizarros) em que se pode rodar prótons livremente, pra espatifar um no outro e ver se é colorida a joça que sai de dentro. E eles gastam bilhões de dólares construindo, e pagam milhões de dólares em salários mensais pros cientistas brilhantes que trabalham lá. Só pra brincar de jogar tijolinhos na parede. :D

E qual é a do Large Hadron Collider?
Depois de quebrarem milhões de prótons e nêutrons, os físicos montaram modelos malucos e teorias viajantes. Provaram que os prótons e nêutrons são formados por quarks, e que existem outras partículas que podem ser formadas por quarks. Todas essas partículas são chamadas de hádrons, que é um nome legal e que não significa paçoca nenhuma (mentira, vem do grego, significa "grosso" ou "robusto" :B). Então, um LHC nada mais é que um acelerador de prótons, mas muito grande. Tipo, muito, mas muito grande mesmo.
Os físicos quebraram vários prótons, até encontrarem todas as partículas que eles previam encontrar (bom, todas as plausíveis, pelo menos; teve uns que queriam encontrar a Força, mas falharam). Só falta um que eles querem achar, e que tá danado de aparecer. Ele tem até nome e função, mas tá que nem camisa 10 da seleção brasileira, fica só na promessa. É o bóson de Higgs, e a função principal dele é dar massa pras coisas. Mas ele é meio pequenininho, e ruim de se achar. Então os físicos convenceram os seus respectivos governos que com túneis ainda maiores, computadores ainda mais sofisticados e bolsos ainda mais fundos, eles provariam que o bóson de Higgs existiria. E convenceram a Suíça e a União Europeia a custear o LHC, o maior espatifódromo da história. Tudo em nome da ciência.
O truque do LHC é bater de frente dois prótons com uma velocidade dão alta, mas tão alta, que eles terão muita massa junta em um espaço muito pequetinininho. Quando se chocarem, vai rolar uma explosão energética semelhante ao do início do universo (Big Bang, manja?). Com tanta energia vai rolar, com certeza, esse tal bóson.

O problema com essa teoria é que todo mundo prestou atenção nas explicações seguintes: tanta massa junta em um espaço pequenininho vai criar um corpo extremamente massivo e minúsculo, que terá tanta densidade quanto um buraco negro. Isto é, teremos uma miniatura de buraco negro, no nosso próprio planeta! Holy cow!!!
E agora? E se tudo der errado? E se esse buraco negro sobreviver, engolir o laboratório, engolir a Suíça, a Europa e a nossa boa e velha Terra? E se formos engolidos por um vórtex no espaço-tempo? E se dividirmos o Universo por zero?
Foi aí que os cientistas se explicam: ainda que, de fato, ele vire um buraco negro fominha, ele terá a capacidade gravitacional de um buraco de agulha. E você não é sugado por um buraco de agulha, nem vê o Planeta Terra ser sugado por um buraco de agulha. Então não, não será criado o artefato que destruirá a humanidade de dentro do túnel. :)

O que me faz pensar: 3 bilhões de euros, milhares de cientistas e toda essa cobertura da mídia, e eles não vão montar um supertime de futebol, não vão criar um super-herói radioativo, não vão transformar chumbo em ouro e, o mais importante, não vão montar uma super arma que destruirá o planeta, para usar em alguma chantagem maligna contra o James Bond. Pra que, então, um túnel quilométrico que faz prótons rodarem?
Bom, se você tivesse 3 bilhões de euros e uma vontade inexplicável de jogar coisas na parede, você, com certeza, faria a mesma coisa. Quando se tem o orçamento da União Europeia, você pode fazer qualquer coisa. Tomara que montem, na próxima, uma máquina que faz chover sorvete. Ou que quebre coisas de verdade. Tipo carros. Adoro batida de carros. Então eu acho que vou assistir à reprise da Fórmula 1. :P
Boa semana, meninos ^^

Ouvindo:
Squeeze Me
Kraak & Smaak
Plastic People (2008)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sendo um Super-Herói

Buenas, pessoal! O Inominativo comemora o seu post de número 75! São três quartos de posts rumo ao centésimo e além!
Caramba, setenta e cinco posts? Haja linguiça pra encher em todo esse tempo, hein? Cá entre nós, se eu utilizasse essa criatividade e esse empenho todo em algo produtivo, eu estaria melhor de vida. Mas eu não quero melhorar de vida, quero fazer a vida de vocês mais divertida (ohn, que gracinha...)

Sigamos o nosso rumo, então. É dia de texto novo no Inominativo, então tenham uma boa leitura. ^^

MANUAL MODERNO DO MANO METROPOLITANO
Sendo um Super-Herói

Então, meu nobre mancebo, minha garbosa donzela. Em uma feliz tarde primaveril você foi exposto a uma dose de radiação advinda de alguma fonte altamente improvável (sendo picado por uma abelha transgênica, passando pela Usina Nuclear de Springfield, sobrevivendo a uma radiação cósmica proveniente do espaço, ou algo abilolado assim) e, agora, você está munido de inexplicáveis poderes sobre-humanos, verdade? De repente, você deixou de ser um zé-ninguém, e passou a ser um rapaz (ou uma moça) fodão, que não teme nem cárie nem o leão do IR, e está mais do que disposto a encher os vilões criminosos de bulachas e sopapos, para que eles não desviem a feliz sociedade humana do natural caminho de paz e convivência respeitosa, certo? Mas não tem certeza de como começar, eu presumo. Você nunca teve poderes sobre-humanos (não nesta vida, pelo menos) e está receoso sair fazendo caquinhas e ser preso na primeira oportunidade, né? Pois não tema! Fear not! A mais nova edição do Manual Moderno vai lidar, devagar e sempre, com essa sua capacidade hercúlea de cortar a raiz do mal mundano. E, talvez, como ficar rico e arranjar várias gatinhas pra você. Fala a verdade, esse post é ou não é imprescindível?

A início, é importante (quiçá imperativo) que você entenda quais são os seus poderes. Quer dizer, não adianta de muita coisa você estar todo empolgado por receber uma dose de radiação se você não compreende exatamente o que você ganhou. Afinal, pode ser que a única coisa que você tenha recebido foi uma sobre-humana capacidade de abrir garrafas de vinhos. O melhor que você pode fazer com isso é trabalhar em adegas como sommelieur. Você vai ser admirado por muitos, mas vai receber um salário de merda. Como eu canso de frisar, a vida é uma biscate. :P
Todo super-herói que se preza, destarte, conta com uma super-ferramenta de locomoção. Se o seu desejo foi, realmente, enfrentar o crime, você tem de se prontificar para que tenha a capacidade de enfrentá-lo rapidamente, em qualquer lugar da cidade que ele aconteça (a não ser que você more em uma cidade de, tipo, 40 mil habitantes, porque aí um patinete motorizado já serve). Por exemplo, Super-Homem voa, o Batman tem o Bat-Móvel e o Bat-Jet-Pack e o Bat-Helicóptero portátil, o Flash corre que nem corintiano fugindo da PM, o Homem-Aranha atira teias de aranha e voa por entre os prédios... Você não vê por aí heróis entrando nas estações de metrô ou entrando nos ônibus lotados para salvar as vítimas de assaltos. Então certifique-se de que você tem um arojado e eficiente método de traslado por sua metrópole. E se você, infelizmente, não tem um método de transporte rápido, de dois, um: ou você mora perto do centro da cidade e tenta defender uns 3 quarteirões; ou você desiste de ser super-herói e vai ganhar dinheiro no Faustão. Se vira nos 30, meu! Ô loco, olhaí!

Bom, você já descobriu como chegar na cena do crime. Agora, temos que pensar no que fazer quando você chegar lá. Ou você acha que os vilões ficarão amedrontados somente com a sua capacidade de voar ou de criar uma dobra espaço-temporal que transporta você automaticamente? No, sire! Você tem que utilizar o seu poder para derrubar uma gangue de malfeitores! Como fazer isso?
Muito dependerá do seu poder. Novamente, de nada adianta um poder chulé, como uma capacidade sobre-humana de calçar meias no escuro. Você precisa de, no mínimo, capacidade de lutar artes marciais (de preferência uma oriental, que ensine você a derrubar dez capangas mesmo quando você estiver desarmado e sozinho). É bom também ter força para que seus murros doam nos caras, e que você seja esperto pra que não acabe apanhando. Ou, você pode ter um super porrete de beisebol que nocauteie qualquer metido a esperto. Ou um super flato mortal. Sei lá, mas tenha a certeza de que o seu poder é a diferença entre mandar os caras pro hospital ou ser mandado para o hospital pelas autoridades policiais competentes. Se o seu caso for o último, então não saia para as ruas para causar problemas. Não atrapalhe os policiais, e fique em casa assistindo Heroes. Confie em mim, assim você será bem mais útil para a sociedade. Seu zero à esquerda.

Outro importante aspecto em ser um super-herói é a camuflagem da sua identidade. Convenhamos, ser famoso é uma zica da braba. Imagina, você ser seguido por paparazis a toda hora por ser o salvador da cidade. Suas fotos em lanchonetes, cinemas, lojas de artigos esportivos e boutiques estamparão todos os tablóides e jornalecos, enquanto você quer um pouco de sossego para recuperar sua saúde por causa da pancadaria de ontem à noite. Ah, sim, tem também o fato dos criminosos tentarem atacar seus entes próximos para enfraquecer você, é verdade. Mas eu acho bem mais incômodo quando os paparazis o seguem até o banheiro. Um saco.
Pensando nisso, arquitete um sagaz esquema para que você continue sendo um zé ninguém, mesmo que todos conheçam o super-herói que você é às escondidas. Use uma máscara, use uma roupa (de preferência cafona, com a cueca por cima da calça), disfarce a voz, pra que algum amigo mané não o reconheça e inutilize seu disfarce. Enfim, planeje sabiamente para que você não seja você mesmo quando estiver utilizando os seus poderes. E, no resto do dia, aja como se você não tivesse poder algum. Confie em mim, você não quer esse tipo de atenção. A não ser que você queira chamar a atenção de algum espécime do sexo oposto. Nesse caso, até vale, mas seja discreto. Não faça o bar inteiro chamar a redação do Fantástico, hein?

No mais, aproveite os seus poderes secretos! Aproveite sua capacidade de voar para tirar fotos do alto de prédios e pontes para montar wallpapers bonitos para publicar na internet. Trapaceie nas mesas de pôquer em Las Vegas com sua visão raio-x, e dê uma surra nos seguranças do cassino quando eles descobrirem que você está roubando. Arranje uma grana licenciando bonecos de ação que imitam você (sim, claro, não deixe que os outros enriqueçam por sua causa).
Ser super-herói pode, sim, trazer uma série de responsabilidades, como salvar a cidade, cuidar da formação moral dos cidadãos (e especialmente das crianças, que adoram heróis que acabam com o crime) e manter a corja de bandidos na linha. Mas ser um ícone da justiça pode até ser legal. Você pode dar autógrafos enquanto estiver mascarado (só faça o favor de disfarçar a caligrafia) e dar entrevistas no Jô.

Ou, melhor ainda, pode ignorar todo este manual, e dizer fuck it para a luta contra o crime. A partir daí, pode se divertir hoje e sempre com os seus poderes, entrando em vestiários femininos, ganhando dinheiro com um talk-show na TV, virando ícone de um programa de vale-tudo, ou só tirando sarro dos outros esportivamente, mesmo.
Imaginem só, voar por aí à toa, não ter de acordar cedo pra ganhar dinheiro, não ter preocupações nenhumas com a vida ou com a humanidade... Pra quê, ficar salvando os humanos do crime? Eles pagam impostos pra polícia, mesmo, é o trabalho dos policiais, e você não deveria facilitar o trabalho dos outros se eles são incompetentes.

Aproveite seus novos poderes, meu amigo super-herói! Mas aproveite com parcimônia. E lembre-se: se beber, não saia voando por aí. Você pode dar vexame. Isso não é bom pra sua imagem. :B

Ouvindo:
Make it Wit Chu
Queens of the Stone Age
Era Vulgaris (2007)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Lição de Casa Escolar

Ah, o Verão... A ensolarada estação, em que tudo parece mais amarelado e azulado, os humores se renovam, o mundo está no ápice da felicidade e da boa vida.
Uma pena que não estamos no verão. In fact, se você morar no Hemisfério Sul, como o autor que lhes escreve, deveria saber que o verão acabou há mais de 30 dias. O que significa que teremos 8 longos meses até tornar a ver essa tão querida estação. Enquanto isto, contentemo-nos com o outono, a feliz estação das folhas que caem. Até porque já já piora, com a vinda do inverno. Sim, porque uma hora ele vem. A não ser, claro, que uma guerra nuclear entre as potências ocidentais e a Coreia do Norte desloque a Terra do seu eixo de órbita graças às explosões de enormes ogivas nucleares, e tudo dê muito errado no clima.
Mas ainda assim! Se isso acontecer, não precisaremos mais nos preocupar com o aquecimento global! Estaremos muito ocupados sendo desintegrados por raios subatômicos dilacerando nossos corpos. ^^

Enquanto um hecatombe nuclear não dizima a feliz sociedade humana, continuemos nossos planos de seguir vivendo. E, para mim, isso significa publicar algo no meu querido blog. E pra vocês, tomara que isso signifique ler o texto. Ou, pelo menos, fingir que lê. :B

LIÇÃO DE CASA ESCOLAR
Das Injustiças Cometidas com a Pirralhada

Ser criança não é fácil, colegas. Claro que, comparada à vida medíocre que você leva hoje, como adolescente/jovem/adulto, a vida de uma criança é tão moleza quanto sentar no pudim com as nádegas nuas (por favor, não imaginem isso; é uma visão medonha). Mas a gente já sentia as injustiças da vida pesarem sobre nossos jovens ombros, mesmo na época em que não éramos nada mais do que remelentas versões de miniterroristas afegães. Aparentemente, a vida não escolhe idade nem sexo, e costuma ser uma boa biscate para todo mundo, sem preconceito. Sim, vivemos em um mundo sem preconceitos. Yes, we can!

Lembrem-se, por exemplo, da vida escolar. Sim, claro, quando se é criança, a escola é o único programa que existe no seu dia (isso se você não tiver pais ricos e que desejem que você faça balé, natação, piano, futebol, inglês, espanhol, artes...). E como era a monopolista do nosso dia-a-dia, a escola tinha o direito (e o dever) de ser filha-da-puta com os alunos, a fim de representar a filha-da-putice geral que é a vida.
Muitos de nós (eu incluso) estudávamos cedo. O que significa dormir cedo para acordar impiedosamente cedo no dia seguinte. Nem seis da manhã eram, e seus pais terminavam com suas horas de sono para enfiar você no carro - e, às vezes, nem isso, enfiavam em um ônibus escolar, ou no ônibus da prefeitura, mesmo, se você for suficientemente pobre - para que você fosse para um lugar amplo, frio, desaconchegante e muito, mas muito chato. Ah, sim, tinha os coleguinhas, que tornavam o dia meio melhor. Mas você pode ser azarado o suficiente para ter coleguinhas ainda mais chatos do que a escola (ô azar). Então relevaremos os coleguinhas.
Oh, sim, a vida na escola era chata e injusta. Horas e horas com um cara falando bobagens na frente da lousa, as quais provavelmente nunca usaremos na vida - e, agora que estamos mais longes na nossa breve vida humana, sabemos que estávamos certos - e sendo submetidos à tirania de pessoas alheias. Quando tudo o que queríamos era jogar bola, assistir TV Globinho e dormir mais um pouco.

Oh, sim, escola era um negócio sacana. Uma espécie de vampiro, que chupa nossa juventude. Só que todos os dias, e nossos pais ainda pagam por isso. Passar a manhã (ou a tarde) toda enfurnado em um prédio feio, com professores tiranos em um ambiente maligno. Não pode ser pior, pode? Quer dizer, por mais que você passe 5 horas em uma sala de aula, você tem o resto do dia para se divertir, certo?
Errado.

Voltemos ao tempo. Imaginem três monges irlandeses, mestres de um pequenino mosteiro no sopé de uma simpática montanha, nos idos do século XIII, nos arredores da cidade de Belfast (atual Irlanda do Norte, parte integrante do Reino Unido, caso você seja ignorante em Geografia). Bom, esses três monges, como são monges maus que não gostam de crianças (porque crianças são barulhentas, e ninguém em um mosteiro gosta de barulho), eram muito malignos dando aula aos guris (caso você também seja ignorante em História, monges católicos davam aulas aos meninos de um vilarejo). Mas tudo ficava sem graça para nossos monges irlandeses quando as aulas acabavam porque, oras, os moleques começavam a correr e a bagunçar e a barulhar e essas coisas de moleques, e que irritam a nossos monges velhos e chatos. Qual foi a grande sacada deles? Ocupar os meninos mesmo enquanto eles não estavam em aula! E como isso? Dando tarefas para eles fazer durante o dia! Entupindo a macacadinha de lição de casa!

Desde estes infelizes monges irlandeses, a pobre pirralhada têm problemas com uma das instituições mais cruéis e injustas da nobre humanidade. Eles tinham de lidar com a odiosa lição de casa. Oh, sim, fazer lição de casa era uma grande e generalizada merda.
Quer dizer, éramos privados das diversões puras da vida para ficarmos a manhã toda trancafiados em uma sala, com matérias chatas na lousa e sem poder se divertir. O sol lá fora, um lindo dia, e você aprendendo sobre a geologia do solo brasileiro, sobre a Guerra dos Canudos, sobre a aceleração de um corpo inicialmente em repouso.
E então quando dava o seu horário e você estava liberado para voltar pra casa, em vez da liberdade e da alegria de poder aproveitar o resto do dia brincando com a molecada, jogando uma bolinha, assistindo TV a esmo ou o que o valha, você tinha aquele calhamaço de tarefas para entregar. Vinte e cinco exercícios de matemática, um resumo sobre o capítulo da Revolução Francesa, ler e decorar as fases da mitose. Agora, poxa, pra que isso? Privar a molecada da própria infância? Obrigá-los a passar ainda mais tempo se dedicando à escola, quando eles não estão mais lá? Exigir que eles estudem coisas a mais? Revisar a aula? Pra quê? As escolas não botam fé nas aulas, e precisam que os alunos aprendam sozinhos?

Eu nunca entendi qual é a pegada da lição de casa. E, por isso, sempre fui contrário a ela. Tomava meu tempo, não deixava eu me divertir e, em geral, era um saco. Vai ver que era por isso que eu preferia fazer a lição de casa no meio da aula, mesmo. Pra que fazer em casa, com tanta coisa legal pra se fazer, quando eu posso fazer na escola, que será chata de qualquer maneira? Naturalmente, os professores ficavam revoltados com essa decisão mas, hey, era uma decisão minha, eles deveriam respeitar.
Mas eu dormia tranquilo. Uma hora, eventualmente, eu cresceria, e trabalharia. Sim, claro, com um trabalho efetivo, eu fico bem mais tempo na empresa do que eu ficava na escola. Mas a empresa me paga pelo tempo que fico lá. E uma vez fora da empresa, eu não preciso fazer lição de casa. Posso jogar Guitar Hero a noite toda. Sem me preocupar com listas de exercícios pro chefe ou resumo do capítulo de gerenciamento corporativo.
Pensando bem, por que todo mundo sente saudade da infância? Você tinha que fazer lição de casa quando era criança!! Convenhamos, macacada: é bem mais legal ser adulto.
Yeah, right :P

Ouvindo:
Ant Music
Hyper
We Control (2005)