domingo, 25 de novembro de 2007

Circuito de Tortura Juvenil

Buenas, galera! Fim do ano em rumo! Logo chegamos ao tão desejado mês de Dezembro! Claro, naturalmente, o mês mais importante é o de Novembro, quando eu comemoro anos. Mas isso você já sabia =)

Muito bem, galera! Esse blog precisa de uma postagem de continuação. Afinal de contas, nos aproximamos da comemoração do primeiro ano de Inominativo. Pretendo mantê-lo vivo, pelo menos, até lá. O ideal é mantê-lo eternamente, naturalmente. Mas, bah, vocês me entenderam.
Como eu tenho que upar um texto, though, falemos sobre algo importante e atual. A preservação das tartarugas molinares do Paraguai!! \o\
Tá bom, sem bobagens. Vamos ao prato principal de hoje.

Circuito de Tortura Juvenil
O Caminho das Pedras, Versão Hardcore

Todo mundo tem, no fundo, no fundo, vontade de ser um ônus para a sociedade. Sabe, ficar o resto da vida ganhando dinheiro sem trabalhar, de pernas pro ar, comendo e dormindo. A boa vida de Deus. ^^
Acontece que, infelizmente, não é bem assim que a música toca. As pessoas nos lembram constantemente que não podemos viver às custas deles, e temos que tomar jeito, e esse lero-lero todo. Usualmente, essa é a função de nossos pais, que dizem que não irão pagar suas contas eternamente, e que você tem a obrigação de estudar e ser alguém na vida.
Sim, ser alguém na vida. Acordar cedo, trabalhar como um camelo, dormir tarde e fazer disso uma rotina infinita, até que você tenha seus filhos e os ensine a fazer isso por você. Quão maravilhosa é a vida, hein?
Para que sejamos alguém na vida, aqui na maravilhosa terra brasileira, passamos por diversos rituais, desde que nascemos. E um deles, em especial, é bastante importante. Terrivelmente importante, eu diria. Ah, é claro que vocês sabem do que falo - a época dos vestibulares.

Vestibular, tecnicamente falando, é uma prova como todas as outras. Em toda a nossa vida letiva (e além dela, acreditem em mim), recebemos instruções sobre a vida, o universo e essas coisas. Aprendemos informações realmente desimportantes, como a fórmula de energia cinética de um corpo, a equação de Báskhara, o trovadorismo e outros desses atrasos sociais. Depois de um bimestre, um semestre, o que for, recebemos uma simpática folhinha sulfite, cheia de perguntas, e a gente tem que responder essas perguntas.
Primeiro que isso é um tremendo absurdo de tempo livre, na minha opinião. Em vez de todo mundo ser usado em coisas realmente úteis para o progresso da sociedade, ficamos dentro de uma sala respondendo pro professor perguntas as quais ele já sabe a resposta. Se ele já sabe responder, por que pergunta? Por que adular o aluno, humilhá-lo? Que prazer mais sádico. Credo. O professor e os alunos estão na sala somente jogando seus tempos fora, e deveriam fazer coisas mais proveitosas para a Economia do meu Brasil Varonil.
Segundo, depois que o cara ficou dois meses inteiros ouvindo o professor falar lá na frente sobre o que quer que seja, ele tem que dizer pro professor o que ele afixou. Mas que está o pulo do gato. Acompanhe comigo: o aluno estuda uma matéria aleatória. Ele entendeu conceitos fundamentais, e entendeu bem algumas partes mais isoladas. Digamos que ele tem conhecimento suficiente para acompanhar um programa de televisão que fale sobre aquilo. Acontece que, na prova, o professor - um cara amargurado pela vida que teve, por ter apanhado dos pais e por ter batido o sorvete de flocos dele na testa - faz perguntas das partes da matéria que ele não sabia (conhecem a Lei de Murphy?). Resultado: ainda que ele saiba a matéria, ele não foi bem. Ele não conseguiu provar pro professor que ele manjava a matéria. Terrible, n'est pas?

É, provas são justas assim. Não importa o seu credo, sua classe social, sua formação ética, sua saúde física, uma prova é sempre uma prova, para um e para todos. E a era dos vestibulares é só mais uma prova. O pulo do gato a respeito delas é que essas provas dão mais do que notas: te dão convites para ser alguém na vida. Lembram-se do início do post?
Vestibulares tentam consertar boa parte dos erros, though. Elaboradas por dezenas de professores competentes, com um embasamento estatístico, blah blah blah, os vestibulares tentam acertar onde as provas convencionais falham, e tentam ser a prova que meça, de fato, tudo o que você sabe. Tentam perguntar sobre o máximo possível de coisas, da melhor maneira possível. Acontece que se, por um lado, o vestibular é melhorzinho, mais justo, mais balanceado, chances iguais e tal, por outro lado ele piora a situação tão terrivelmente que chega a compensar de longe a justiça que haviam feito. Quer dizer, o vestibular seria só mais uma prova, não fosse por um pequeno detalhe: você tem que ir bem nele para estudar em uma faculdade decente.
Até o Ensino Médio, você pode conseguir uma boa escola, somente se comprometendo a pagar a mensalidade em dia. Com as faculdades, cara, não tem choro: existem as que cobram (e bem) e as que não cobram nada, só impostos. Mas você só arranja uma boa faculdade se for bem na merda do vestibular! Tem que fazer aquela prova lá como se fosse a última prova da sua vida!, e se você falhar nela, você acaba de jogar sua vida fora, para todo o sempre. Viverá eternamente trabalhando em uma empresa de atendimento ao consumidor, e vai estar falando gerundismo até seu cérebro se suicidar. Tudo porque você não sabia o que diabos é uma mitocôndria.
Então o vestibular se torna a pior prova que você fez na sua via até agora. É a sua única chance para progredir. Sua última tentativa de embarcar para o próximo vôo. Se você perder esse vôo, só pega o próximo no ano que vem, entende? Que outra prova estudantil que você fez que era tão maldosa assim? É por isso que tem esse medão todo em relação ao vestibular, toda essa atmosfera negativa, todo esse terrorismo. A prova em si, de fato, não é tão medonha, não é tão difícil (e se você discorda comigo e acha a FUVEST dificílima, espere só até você fazer uma prova de faculdade). O negócio é que a prova mobiliza milhares de caras sedentos por uma oportunidade de provar pros pais que eles não são tão imprestáveis! Ou, pelo menos, estão se esforçando para não ser, eh?

Chegamos em uma importante pergunta para a nossa vida: vale mesmo a pena fazer vestibular? Jogar fora nossa vida de vagabundo sugador de dinheiro, passar noites inteiras em claro, devorando livros, esquecer a sociedade e a diversão, e se estourar em uma prova de ambiente tão pesado que parece que tem elefantes sentando em suas costas vale a pena? Compensa passar um domingo inteeeeiro (e para a maior parte de nós, vários domingos inteiros) fechados em uma sala com um fiscal chato, um ventilador barulhento e um sol filhadaputamente belo lá fora? Queremos essa tortura para provar para os outros que somos fodas?
Bom, é óbvio que não vale a pena. Eu preferiria muito mais ter tomado o caminho da preguiça (he), mas me obrigaram a ser alguém na vida. Disseram que eu devo arranjar um bom emprego, receber um bom salário, ser importante para a sociedade, honrar o nome da família, receber condecorações e, no futuro, obrigar meus filhos ao mesmo tipo de pressão. A gente vai atrás, então, né? Alguns de nós até aprendem a gostar da vida sofrida, já que os pais fizeram uma excelente lavagem cerebral. E nos esfolamos, e nos desesperamos. E ficamos sem-graça quando a mãe conta pra um vizinho que você está prestando vestibular, e você responde, sem-graça: "É... vou prestar esse fim de ano...".
E aí? daqui a vinte e cinco anos, rapaz, quando você tiver seu diploma na parede e seu filho terminando o Ensino Médio, você terá entendido, finalmente, porque seus pais te pressionaram tanto, porque eles queriam acabar com sua vida alegre, porque eles queriam te empurrar logo para a universidade, te fazer um cara responsável. Seus pais só queriam que você saísse de casa o quanto antes. E que, claro, daqui a alguns anos você pague a conta deles. Assim como você espera que seu filho fará.
Então é bom fazer bem a sua parte, vestibulando. E fique relaxado. O vestibular é a última prova fácil que vocês farão, afinal de contas. ^^

E aos que fizeram provas esse ano: desejo que tenham ido bem. E espero que tenham tirado muitas fotos da época antes da faculdade - vocês sentirão muita falta dessa época.

Ouvindo:
Extreme Ways
Moby
18 (2002)

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Hoje É o Seu Dia! Que Dia Mais Feliz!

Oba, pessoal! Tempão, né? Eu tenho me apertado um pouco, mesmo. Iminência de fim de semestre, sabe como funciona.

Eu me lembrei, entretanto, que eu preciso postar nesse blog. Estou muito chateado, porque recentemente caí de produção. E não quero, queria postar uma vez a cada quatro dias, mais ou menos. Mas falhei. E vou falhar de novo, porque não vou conseguir escrever nada de emocionante aqui, agora. Não agora. Vou encher lingüiça trazendo um post dO Mal do Século, para repetir a seção Repeteco, lembram dela? É, eu achei que não a usaria mais. Mas você descobre que na hora do aperto, se não tem papel higiênico vai até folha de urtiga, rapaz. Que dureza. :P

REPETECO
10.08.05
Neste sábado de Agosto, tive uma epifania, e escrevi uma simpática história. Um papai, pobre dele, armando as maiores confusões com uma galerinha do barulho (alguém aí se lembrou do narrador da Sessão da Tarde?) pra poder fazer a festa do filhinho dele, o Juninho. Mais um dos meus textos que eu achei ótimo - sim, eu sou presunçoso - e acho que merece uma nova chance. Mesmo que seja novamente em um blog fracassado. Mas, eh, o blog é fracassado por culpa minha, que não atualizo. =D
Este post veio, no original, em duas seções. Eu juntarei elas e farei um post só. Uma história só.

***

Hoje É o Seu Dia, Que Dia Mais Feliz!
Primeira Parte

Pois então. Todos nós, em parte qualquer de nossa efêmera vida, já foi o perfeito exemplar do que é conhecido como "baixinho" (copyright XUXA® 2005). É, já babamos na blusa de nossas mamães, deixávamos as fraldas pesadas, jogávamos papinha na babá, aprendíamos bons palavrões... Oh, era boa essa, e não sabíamos...
Agora, uma das cenas que mais gosto de ver no crescimento de um futuro homem é quando ele completa anos de vida. Anos de vida = aniversário. Aniversário = festa. Festa = bagunça! Oh, nada mais legal do que seu filho fazer 4 anos, e você chamar aquela pivetada toda para comemorar a sorte do seu pirralhinho de ter sobrevivido às intempéries por tanto tempo!! Quatro anos inteiros! Mas isso dá um trabalho que não está escrito. Ou melhor, não estava escrito, porque agora, hehe, está. Portanto, se você nunca acreditou na máxima "ser mãe é padecer no paraíso", aí está uma boa hora para reflexão. Luzes! Câmera! O Mal do Século!

Preparando o grande evento
Faltam 2 meses
Nível de desespero: Baixo
Faltam dois meses. Seu filho tem 3 anos e você quer remarcar o fato histórico, os 4 aninhos do Junior! (Adoto Junior como nome do nosso monstrinho) A idéia é fazer uma festa bem melhor do que a do ano anterior, fato que, aliás, não será difícil, pois ano passado foi a misericórdia, lembra? O Juninho caiu no bolo, a Emilinha ficou chorando a festa inteira, caiu guaraná no cachorro, foi um fiasco... Agora, você e sua esposa - ou seu marido - estão unidos, convictos de que, assim como diria Lula "esse é o ano da virada"!
Ok, chamaram buffet, contrataram palhaço, compraram 1000 convites, escolheram decoração do Bob Esponja (coisa mais idiota, só criancinhas para achar uma esponja de banho divertida...), enfim, deixaram planejado uma festa que tem tudo para ser exemplar até o ano que vem. Verificar o local antes, beeem antes, também é muito lógico, para não se decepcionar. Acabou? Não. Pelos próximos dois meses você vai ter que ignorar os berros suicidas e psicóticos do Juninho, implorando para que "por favor, me digam se vai ter festa!!". Boa sorte, paizão e mãezona.

Pré-festa: doces, salgados e aspirinas
Faltam 15 dias
Nível de desespero: Médio
Você checou sua conta bancária mês passado? Não, né? Eu sabia. Agora, a idéia da festa na casa da vó não parece tão ruim, né? Mas não desista, soldado! Há seres malditos à sua frente! Faltam comprar os mantimentos que, é claro, não estava no pacote do buffet. "Ah! Por isso o preço tão barato?" Hum, mais ou menos. Falta planejar a compra de refrigerantes, de sanduichinhos, de salgadinhos, de docinhos - especialmente brigadeiros, o Juninho não come beijinho. Ha, ha, garotão, está caro, né? Vai doer mais, fica tranquilo. O seu dentista e aquela broca vão ser uma música agora.

A Véspera - devo torcer para que esse dia passe logo ou nunca termine?
Falta 1 dia
Nível de desespero: Alto
Juninho está morrendo, e isso não é um exagero. Ele não para de gritar e saber porque ele é o único garoto da escola que não vai ter uma festa, e porque ele não pôde chamar os amiguinhos dele para comemorar em casa. Hein?? Hein?? Mal sabe ele que todos os amiguinhos estão avisados para a festinha surpresa, mas foi ruim esconder. Principalmente depois de descobrir ontem que o bolo também não estava incluso na conta do buffet! Weee! Daí você encomendou um bolo, e qual não foi sua surpresa? O confeiteiro montou um bolo de coco! O Juninho não gosta de coco! Grrr... Tudo bem, paciência, a gente faz uma festa com dois bolos... Chocolate, seu confeiteiro, ouviu?
Bolo encomendado, e com a garantia de que chega na hora, o dia anterior piora a medida que está próximo do fim. Juninho não quer dormir. E não quer deixar ninguém dormir: "faltam 3 horas e 35 minutos!", anuncia ele, olhando o relógio que ganhou de natal. "3 horas e 15 minutos!" "Já chega, mocinho, vai para cama, amanhã você vai acordar cedo".
"2 horas e 40 minutos..."

***

Hoje É o Seu Dia, Que Dia Mais Feliz!
Segunda Parte

É a luz no fim do túnel? Ou é o trem?
Faltam 7 horas
Nível de desespero: "Eu quero minha mãe"
E você achando que ia se safar de acordar cedo porque hoje é sabado, né? Pobre homem. Acorda, faz o que tem que fazer e te prepara, porque uma mensagem cósmica te disse 5 segundos antes de você levantar da cama: "não levante". Mal sabia você que aquilo era a Razão.
O dia começa com ótimas notícias, do tipo: atraso do bolo, trânsito básico, o motor que não quer esquentar... Mas coragem! Coragem! Juninho está acordado, emburrado com a vida e com todos. Coitado. Você terá que arranjar uma maneira de colocar Juninho arrumado e perfumado dentro do carro às 16h00 do dia do aniversário dele. Como? "Junior, a gente vai visitar vovó hoje!" É, ele não está muito feliz agora... Mas o que importa é que ele vai tomar banho e pôr uma roupa. Quer dizer, espero que ele não faça que nem ano passado, quando ele fez xixi na roupa no meio da viagem, lembra? Ou será que foi ano retrasado... O que importa é que foi original. Mas ele se enganou!!

A Festa de Quatro Anos do Juninho ou Guia Prático de Como Acabar com a Civilização Ocidental
Infelizmente, não faltam mais dias
Nível de desespero: "Como será a morte?"
O buffet está muito legal! Veja só, um coitado com metade de uma fantasia de Bob Esponja, fumando o último cigarro, umas monitoras com seus 18 anos, de shortinhos, hum... generosos (o preço não estava tão baixo assim, pensa você, ou seu marido, sei lá), umas espumas coladas na parede, um "PARABÉNS JUNIOR" também colado na parede, e a mesa, magnífica, maaas, sem o bolo, que vai atrasar... grunf...
Invasão!! Levantar a ponte levadiça! Preparar arqueiros! Armar catapultas! As crianças chegaram!!! Centenas, milhares, milhões de mini-hooligans invadindo e dominando, fazendo barulho, cantando músicas, dançando as cadeiras, chorando (Mas já? O bolo nem chegou!)
Hum... Está faltando algo, não? São 19h00, e o astro principal não chegou! Não, o Junior está lá no pula-pula, mané, o bolo é que não deu notícias! "Oh, senhor, houve um pequeno atraso, estamos enviando!" Em 15 minutos, chegam dois bolos de morango! Desculpa, amigão, não pedi estes bolos. Não? "Oh, senhor, chegarão em uma hora!" Faz você pensar que o Trabalho de Conclusão de Curso na Faculdade seria a coisa mais difícil com o que você lidaria, né? Tsc, tsc, tsc...
Ok, o bolo chegou! Pelamordedeus, até que enfim, as crianças já estavam quase dormindo no pula-pula, e algumas mesas já têm crianças passando mal de tanta coxinha. "Melhor, sobra mais bolo", pensa você. Mas quem vai comer o resto?

Depois do Funeral
12 horas depois
Nível de desespero: você alcançou o Nirvana
A festa acabou. Sua vida é mesmo a pior possível. O pula-pula furou no meio da pulação, alguém derrubou o sorvete no bolo de coco, o refrigerante acabou, vomitaram num canto e colocaram um auto-falante em cima. OMG. Ainda bem que você não vai limpar isso... Seus joelhos ainda lembram a festa do ano passado, quando acharam um cantinho embaixo da pia para sujar! E já amanheceu e você não dormiu. Ficou conversando com os pais dos outros demoniozinhos. Sem cerveja, que merda de mundo é esse? Mas pelo menos você já tem dicas para o ano que vem... Mas tudo bem, o que você queria é morrer até amanhã...
Agora convenha que não tem nada mais gratificante do que um "Poxa, pai, mal posso esperar até ano que vem!"... É... Ninguém mandou ter filhinhos...

***

Será que este post tem alguma relação com meus recentes cumpleaños? :P

Considerações finais:
Achei um blog super-legal que disponibiliza download de jogos para celular! O Gamer de Celular tem diveeersos jogos, e eles postam pelo menos uma vez ao dia. Recomendo pra quem tem um celular com jogos chatões, como o meu. Isso é, até eu visitar lá. Five stars =D

Obrigado pela atenção, gente! Stay tuned!

Ouvindo:
Mr. Fate
Benjamin Diamond
Out of Myself (2005)

sábado, 3 de novembro de 2007

Teleatendimento

Buenas, galera! O mês de Novembro vem aí! Isquindô, isquindô! Ziriguidum!

Deixa de bobagem, Rafael. Antes de continuar, devo explicações aos senhores, presumo. Eu simplesmente sumi nas últimas semanas do findo mês de Outubro, deixando este pobre blog às moscas. Mais tempo do que gostaria, aliás. Mas dessa vez, a culpa não foi (somente) minha. Eu fui, senhores, vitimado por um complô. Os eventos foram cuidadosamente manipulados por uma grande companhia multinacional, cuja única intenção era de humilhar e destruir a minha feliz vida de cidadão terceiro-mundista. Depois de nove dias sem internet (Ouviram bem? Nove dias!) o técnico veio até o meu condomínio, abriu o modem do condomínio e descobriu que era mau-contato do cabo com o modem. Caralho, nove dias por uma bobagem dessa. A Telefônica me enoja. Fizeram o maior rebu, disseram que não tinham gente pra mandar pra cá, diziam que os técnicos vinham e não achavam ninguém... Enfim, riram muito da nossa cara.
Graças à Telefônica, fiquei sem internet durante o fim de Outubro. E daí a falta de postagens. Mas tudo bem, tudo muito bem. Continuo mandando tiros pra cima e pra baixo, gentem. Alguém me segure! Inspirado pelo acontecimento, reacendo a chama. Go, Inominativo! o/

Contos do Cotidiano
IX - Teleatendimento

Quando nosso herói chegou em casa aquele dia, fez o de costume. Trocou-se para uma roupa mais caseira, foi ao banheiro, e sentou-se, placidamente, em seu sofá de costume, para acompanhar o noticiário noturno, que em breve começaria. Assim que ele senta, entretanto, seus filhos - dois anjinhos terrivelmente energéticos - o interrompem. "Paiêêêê", diz o mais velho, portando a voz da dupla. "A internet, paiê! Não tá funcionando!". Assombrado, o pai se vira ao rebento mais velho. "Como não? O técnico não veio hoje?". "Não, pai. Não veio ninguém", responde o mais novo. Ele se virou para sua esposa, que estava de férias da empresa, e ela fez uma negativa com a cabeça, confirmando a versão dos guris. Sem visitas.
Com todas as cabeças viradas pra ele, o herói se sentiu impelido a tomar uma decisão. Levantou-se, e pegou o telefone, odiando a vida. Discou para o telefone da empresa.

Como de costume, uma odiosa voz monótona saiu do telefone, pedindo para ele discar o código de área da cidade dele, seguido do número do telefone. Ele obedeceu, nervoso. Concluiu a digitação, e a voz automática diz: "Este número não está cadastrado. Por favor, tecle o código de área, e o telefone". Se o papai não fosse um ser civilizado, teria esmagado o telefone com suas mãos, e cometeria tantos homicídios quanto conseguisse, até chegar na sede da empresa e cometer um ato terrorista realmente chocante. Mas ele se segurou. Digitou os vários números pausadamente. A voz disse "Boa noite". Ele respondeu, mentalmente, um "queime no Inferno, vagabunda", enquanto a voz repetia, idiotamente, as opções. "Para promoções e plano especial, digite 2. Para contratações de novos pacotes, digite 3". Ele se vira à sua esposa, buscando apoio, mas ela parece feliz picando um maço de cebolinhas. Talvez, se ele estivesse com aquela faca, ele já teria sido preso por homicídio em massa. Finalmente, a moça falou algo sobre suporte técnico. Ele discou o número correspondente. Veio outro menu de opções. Ele aguardou, digitou novamente o valor, e aguardou o atendimento. Pelo visto, finalmente um ser humano o atenderia.

"Maristela falando, boa noite", uma voz odiosa o atendeu. Engraçado como tudo parece odioso quando estamos com ódio, ele pensou.
"Olá, Maristela. Eu sou um otário que contrata o serviço da sua empresa, e gostaria de reportar que a sua empresa não está fazendo o serviço que eu contratei. Devo implorar por perdão, chamar meu advogado ou cometer um ato terrorista?". Sua esposa o olhou feio, mas deu risada. Os filhos acharam engraçado. Mas a atendente notou que ele não estava brincando. Como a profissão reza, entretanto, ela deve tentar manter o consumidor racional. E manteve a calma.
"Que problema que o senhor está tendo, senhor?".
"Minha internet, minha querida. Estou sem internet. Já chamei suporte, inclusive, e não fui atendido. A senhorita poderia me explicar o porquê?". Ele ouve barulho de teclas sendo golpeadas. E a moça diz que às vezes os técnicos perdem o prazo, mas quando é o caso eles ligam informando. "Então, veja só, eles se esqueceram de me avisar que não passaram em casa. Será que eles acharam que eu ia notar sozinho?".
A moça tentou manter o nível paciente. "Pode ser, senhor, que eles foram, resolveram o problema e deram baixa no seu pedido sem lhe informar. Isso é comum quando ninguém é encontrado em casa".
"Bom, querida, temos um problema. Se foi isso o que aconteceu, o cara se esqueceu de bater na porta, porque sempre tem alguém em casa. E se esqueceu de consertar o problema! Vai ver, consertou o da vizinha, que tem 78 anos e não sabe nem o que é internet". Por dentro, ele ria de suas piadinhas. E ria do fato de ela não estar achando a menor graça.
"Olha, Maristela. É Maristela seu nome, né? Já é a terceira vez que faço esse teste de retardados, digitando números atrás de números, e eu acho que acertei todos eles. Por que ninguém vem aqui em casa arrumar a minha conexão?".
A moça pergunta: "Que erro que o senhor está tendo, senhor?".
"Maristela", responde o rapaz. "Vamos supor que eu já tenha passado por isso, oka? Vamos supor que você já saiba que o problema não é o fato de eu ser burro, e que o problema é o fato de ter algum erro em qualquer um dos seus aparelhos. Vamos supor que você não possa fazer nada pra me ajudar, a não ser chamar alguém que tenha esse poder. Que tal? Você pode ou não pode?".
A moça insiste em segurá-lo na linha, entretanto. "Senhor, você poderia estar me confirmando o número do telefone?".
Ele perde a paciência, mas sem perder a calma, sabe? "Não, minha filha. Não vou poder estar confirmando o número do telefone, porque eu digitei ele quinhentas vezes, e eu tenho certeza e você tem certeza do número que estou usando". Suas mãos tremiam, seu rosto estava quente.
"Então o senhor poderia estar, pelo menos, me confirmando o nome do titular da linha?".
"O nome do titular é o meu nome, mocinha. E, por favor, você poderia estar me transferindo ou vai estar sendo difícil?". A moça ficou ofendida pelo deboche do cara com o gerundismo dela.
"Senhor, antes de concluir, gostaria de informar que nossa empresa está realizando um concurso cultural durante todo o mês, e estamos convidando nossos usuários a participar".
"É mesmo? Que interessante", respondeu o rapaz.
"Sim, senhor. É só o senhor acessar o site da empresa, e clicar em 'Promoção'". Foi a deixa do rapaz.
"Minha querida, como eu vou participar da promoção online se vocês não consertam minha internet?!". A atendente se deu por vencida, e digitou o ramal do suporte avançado.

"Boa noite, senhor. Meu nome é Evandro, estarei dando continuidade ao seu atendimento". O pobre cliente notou que o Evandro parecia mais inteligente. Sabia usar gerundismo com verbos no futuro!
"Boa noite, Evandro. Vou ser direto com você. Estou sem paciência. Esta é a terceira vez que estou batendo papo com atendentes da companhia que lhe emprega, e não porque eu sou um velho desocupado que não tem nada para fazer da vida. Ao contrário, tenho muitas contas pra pagar, inclusive a sua, e preciso acordar cedo pra pagá-las. O caso, meu colega Evandro, é que estou sem conexão com a internet. Já fiz todos os diagnósticos e, se bobear, já fiz até exame de fezes. Os técnicos anteriores não encontraram problemas, e ficaram de enviar técnicos pra minha casa. Ninguém veio. E pelo visto, ninguém virá. Então, posso partir pro vandalismo e usar o meu martelo nos seus produtos? Ou você, finalmente, será a alma eleita a me ajudar?". O atendente deve ter dado risada, porque a voz dele parecia mais animada.
"Vou fazer o máximo, senhor. Vejamos. Você pode me confirmar qual é seu sistema operacional e o modelo do seu modem?". O homem se irritou.
"Evandro, por favor. Não teste minha paciência. Por favor. Eu não quero mostrar pra você o meu repertório de ofensas. Ele é muito extenso e ofensivo, então preserve-se. Apenas faça o seu serviço, sim?". Evandro concordou, pediu um momento e foi fazer uns diagnósticos. A voz dele sumiu.

Alguns pares de minutos depois, ele retorna. "Olá, senhor. Perdoe a demora. Aqui no registro diz que o senhor tem duas chamadas recentes, exato?". Nossa! Então a empresa armazenou as chamadas anteriores! Não foi uma ilusão dele, afinal! Ele diz que sim, é verdade. "E em nenhuma das vezes seu problema foi consertado".
"Aparentemente não, Evandro. Senão não estaríamos tendo esta aprazível conversa".
Mais barulho de teclas sendo dedilhadas. "Senhor", diz o atendente. "Vou estar realizando um diagnóstico padrão. Vou pedir para o senhor estar aguardando alguns minutos". O paizão alivia um pouco sua tensão.
"Okay, Evandro. Não vou estar indo a lugar nenhum, se é o que lhe aflige".

Mais alguns minutos.
"Senhor?".
"Sim, Evandro, eu não fui a lugar algum". Evandro continua.
"Então, senhor. O problema era uma falha no protocolo de registro do seu terminal local ao nosso roteador interno. Houve uma compilação feita há pouco, e alguns protocolos venceram, mas não foram substituídos".
Ele para, repete a mensagem no cérebro, e ao não entender de novo, diz: "Ah, sim... E em Português? O que aconteceu?".
"Ah, senhor, é que atualizamos nosso sistema, mas não atualizamos sua conexão". Olha só, que sortudo, hein?
"Bom, e aí? Vão atualizar meu sistema? Ou vou subornar algum deputado pra isso?".
"Ah, não, senhor. Já estou realizando a compilação. Em momentos, sua conexão estará renovada. Mais alguma coisa, senhor?". Ele ponderou.
"Na verdade, tem sim, Evandro. Diga ao seu chefe que a empresa que ele dirige é uma grande merda? E certifique-se de arranjar emprego em uma empresa decente na próxima vez?".
O técnico riu do outro lado da linha. "Agradecemos a ligação, senhor. Boa noite".

Pronto. Agora, era só aguardar a compilação das quantas lá terminar, e eles teriam a internet. Viu que fácil?
Na verdade, a internet não voltou naquela noite. O paizão ligou de novo na noite seguinte. E ligou no fim de semana de novo, porque outra vez não funcionou. E o problema?Era um buraco que foi mal plugado por um outro técnico, em uma visita rotineira. Mas a empresa não deduziu um centavo da conta. Ah, mas se o consumidor atrasar o pagamento por dois dias, pobre dele...

Ouvindo:
Sly
The Cat Empire
Two Shoes (2005)