sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Segurem o Tchan!!

Aloha, chicos! Bons dias! Boas tardes! Boas noites! :D

Oras, depois de meses sem atividade aqui no meu blog, eu acabei por ficar meio enferrujado. Eu tinha uma ideia muito boa para um post aqui, que me renderia, em outros tempos, um texto realmente interessante. Mas a falta de óleo nas juntas fez com que eu não conseguisse sair do segundo parágrafo. Triste, né?
Mas eu não vou desistir! Estou a fim de fazer o meu blog voltar a rodar, e ele vai sair! Nem que pra isso eu tenha de me esforçar!
Mas se esforçar me dá uma preguiça... :P

Bem, vamos andando, né? Sem chiadeira, que ninguém gosta de parar pra ler chiadeira alheia. :P
Estive eu no ônibus, a voltar para minha casa, nesta segunda-feira. Oras, meus amigos e conhecidos bem sabem que moro em um lugar assaz interessante da majestosa capital paulista; lugar que, entre outros, promove a convergência cultural musical - as pessoas insistem em tocar músicas altas para que todo mundo possa ouvir.
Foi durante uma dessas músicas que eu passei a filosofar a respeito dela. Divido com vocês o fruto de meu pensamento livre, até porque eu não tenho nada mais interessante pra fazer, mesmo. :D

Segurem o Tchan!
O Conservadorismo sob a ótica de uma banda de Axé

Conforme eu frequentemente defendo entre meus amigos, a década de 1980 foi a responsável pela avacalhação simples, completa e irrestrita da História da Humanidade. Todo o tipo de pieguice e breguice que você encontrar dando sopa por aí ou se originou nos anos 1980 ou foi duramente exponencializado nessa época. Na minha concepção, depois de 10 longos anos estragando e degringolando tudo o que a Humanidade havia produzido desde que descemos das árvores, a década de 1990 seria uma espécie de ressaca. Um período de sem-gracice cultural, algo como o Eno depois de 2 dias bebendo vodka e pinga e tequila e xixi de cachorro.
O meu ponto alto de defesa de ponto de vista era a epopeia do axé music. Um grupo de pelo menos 4 baianos (muito deles baianos genéricos, do tipo que nascem no leste de São Paulo mas forçam um sotaque), com no mínimo duas bundudas, que rebolavam mediante qualquer tipo de barulho (ou o que eles preferiam chamar de "música"). Oras, todo mundo com mais de 15 anos deve se lembrar, ainda que brevemente, dos fins da década de 1990 e da enxurrada de baianos que vendiam seus CDs e faziam seus shows pelo Brasilzão afora. Certo?

A procedência foi aberta, não preciso nem lembrar, pela banda "É o Tchan". Uma banda baiana que começou com outro nome, mas foi processada e teve de abandoná-lo. Isso não fez diferença, porque todo mundo conheceu a banda pela música incrivelmente grudenta que eles tocavam. "Pau que Nasce Torto - Melô do Tchan" estourou nas rádios nacionais no bom ano de 1996, fazendo do planeta um lugar, em média, bem pior pra se viver.
E não era só pela qualidade da música, não! Conforme eu até cheguei a publicar em um outro post aqui, eu e (muitas) outras pessoas condenavam a banda baiana pela apologia à lascívia, ao despudorado, ao liberal sem responsabilidade e desprovido de culpas. Enfim, ao anarquismo livre, à putaria e ao fim da sociedade judaico-cristã ocidental. Afinal, o que dizer de uma banda que ensina menininhas de 10 anos a arte de rebolar a bunda e amarrar o Tchan? Só mesmo uma banda completamente perniciosa e extremamente liberal, né?
Eu pensava assim, também. Aí, em um dia de primavera destes, eu me pus a pensar na referida música acima. E o que eu pensei me deixou estarrecido. É o Tchan!, conservadores??

Acontece, caros, que o que verdadeiramente é importante na música - a letra dela - acaba sendo camuflada pela batida e pela loira e a mulata bunduda rebolando no Gugu. Você vê aquelas nádegas avantajadas balançando e até esquece de pensar no que está sendo dito. Mas pense direitinho, guri.
A música começa dizendo que pau que nasce torto nunca se endireita, e que menina que requebra, a mãe pega na cabeça. Pois, isso é bastante claro, actually: a mãe quer evitar uma filha que sai reboladeira por aí, porque se ela nascer estragada, continuará estragada para sempre. A versão é corroborada pelo zoom que a câmera dá na Loira do Tchan, que podemos deduzir que não era pega pela mãe quando rebolava. Então ela é um pau que nasceu torto, um erro social que poderia ter sido evitado se a mãe dela tivesse pego na cabeça dela, afinal.
Posteriormente, há a afirmação da autoridade materna, que reforça que "domingo ela não vai". Tentam convencer a mãe, que pegou na cabeça da menina, mas ela é irrefreável, e diz que "domingo ela não vai não". E então ela toma uma atitude drástica. Ela segura o tchan da filha. Eu não sei exatamente o que ela fez exatamente com a filha, quando ela segurou o tchan dela, mas é possível imaginar que seja algo que impeça a filha de sair por aí cometendo atrocidades contra a sociedade e os bons costumes, certo?
A música deixa bem clara, se você analisá-la com carinho: é um típico caso de jovem adolescente com as ganas de se tornar popular rebolando (requebrando, para usar o vocábulo da música), mas que tem a imperiosa supervisão de sua mãe, que pega na cabeça dela quando a vê desobedecendo. E então, ela se vê obrigada a segurar e amarrar o tchan, porque a filha está louca para ir no domingo. Para onde? Não sei, mas vejam vocês a seguir que não é nada bom.

Não é deixado exatamente claro o que acontece com a filha depois de ter seu tchan segurado. Na minha dedução, ela de algum modo dá um pelé na mãe (dar um pelé: enganar, dar olé, faz-que-fica-mas-vai) e consegue a liberdade. Aí é domingo, e ela vai para esse tal lugar. Não se sabe onde é, mas fica bem claro o que ela fez no domingo. "Joga lá no meio, mete em cima, mete embaixo" é mais claro do que vídeo pornográfico.
Ela, obviamente, foi no domingo, e se divertiu horrores. Só que aí, alertam Bejo Jamaica e Cumpadre Washington, é que mora o perigo. Porque "depois de nove meses você vê o resultado". Aí, já de nada adianta segurar e amarrar o tchan. A mãe havia avisado para a menina. Mas a mãe também havia sido avisada que pau que nasce torto nunca se endireita... Bem-feito pra todo mundo, quem mandou viver em um mundo tão liberal?

Olhando por essa ótica, entendemos a profundidade do ponto de vista dos colegas com nomes geográficos (Jamaica e Washington). Nossos dois amigos, baianos, decidiram que se cansaram desse mundo absurdamente liberal, às portas da devassidão completa. Antes que o país decidisse ingressar em uma mega-orgia anárquica, eles decidiram alertar o mundo! Segurem o tchan! Impeçam suas filhas de irem no domingo! Peguem na cabeça dela! Mas, pelo amor de deus, impeçam a degringolação da Bahia! Pelo amor de Deus, segurem o tchan!!
Para alcançar as pessoas, eles decidem usar fogo contra fogo, e atacam as massas usando justamente uma música popular, que aparenta ser lasciva e liberal. Mas é, na verdade, uma cruzada contra todas as fundações que ela aparentemente usava para se basear. É uma música de Troia, praticamente, em que saem os soldados do cavalinho bonitinho quando todo mundo deixa entrar na cidade.
Só que, nós bem sabemos, a ideia não deu certo. A música que seria um estandarte contra a liberação completa da raça humana acabou sendo só mais um passo rumo a ela. Os motivos são muitos, e talvez sejam todos. Vai ver, os ouvintes não se importavam mais com essas defesas conservadoras, e as ignoraram. Vai ver, Cumpadre Washington e Beto Jamaica preferiram ficar muito ricos com a sua música, em vez de defender seus valores. Vai ver, ninguém ouvia a letra, e só prestava atenção no enorme busanfão da Carla Perez.

De todo modo, passados 13 anos, sabemos que o Melô do Tchan falhou em seu ideal conservadoresco. As pessoas não se entregaram à mega-orgia nacional, e nem todas viram o resultado depois de nove meses (talvez algumas, mas nem todas). No mais, as pessoas só aproveitaram a música (?) tocada à exaustão nas rádios tupiniquins, até que veio outra ainda pior e lhe tomou o posto. Assim é a vida, no Brasil do Carnaval.
Então, rapazotes e meninotas, da próxima vez que olharem para trás, reviverem os anos 1990, pensem em tudo o que podia ter sido e não foi. Se todos entendessem a mensagem do É o Tchan!, talvez viveríamos em um mundo bem mais sério, recatado e conservador. Ou, pode ser que o Melô do Tchan tenha funcionado só um pouquinho, o suficiente para evitar a tragédia orgiática maior, em que as fronteiras do país são fechadas para 300 anos ininterruptos de sexo selvagem com animais e coqueiros. E aí, olhem também para os anos 2000, em que descobrimos que, sim, existem muuuitas coisas piores do que uma banda de axé que ganha dinheiro fazendo bundudas rebolarem no Gugu. Pelo menos, naquela época, as músicas ainda rimavam...

Oras, quem diria? Os anos 1990, afinal, deixaram saudades... :P

Ouvindo:
Voodoo Cowboy
The Cat Empire
So Many Nights (2007)