Buenas, galera! O mês de Novembro vem aí! Isquindô, isquindô! Ziriguidum!
Deixa de bobagem, Rafael. Antes de continuar, devo explicações aos senhores, presumo. Eu simplesmente sumi nas últimas semanas do findo mês de Outubro, deixando este pobre blog às moscas. Mais tempo do que gostaria, aliás. Mas dessa vez, a culpa não foi (somente) minha. Eu fui, senhores, vitimado por um complô. Os eventos foram cuidadosamente manipulados por uma grande companhia multinacional, cuja única intenção era de humilhar e destruir a minha feliz vida de cidadão terceiro-mundista. Depois de nove dias sem internet (Ouviram bem? Nove dias!) o técnico veio até o meu condomínio, abriu o modem do condomínio e descobriu que era mau-contato do cabo com o modem. Caralho, nove dias por uma bobagem dessa. A Telefônica me enoja. Fizeram o maior rebu, disseram que não tinham gente pra mandar pra cá, diziam que os técnicos vinham e não achavam ninguém... Enfim, riram muito da nossa cara.
Graças à Telefônica, fiquei sem internet durante o fim de Outubro. E daí a falta de postagens. Mas tudo bem, tudo muito bem. Continuo mandando tiros pra cima e pra baixo, gentem. Alguém me segure! Inspirado pelo acontecimento, reacendo a chama. Go, Inominativo! o/
Contos do Cotidiano
IX - Teleatendimento
Quando nosso herói chegou em casa aquele dia, fez o de costume. Trocou-se para uma roupa mais caseira, foi ao banheiro, e sentou-se, placidamente, em seu sofá de costume, para acompanhar o noticiário noturno, que em breve começaria. Assim que ele senta, entretanto, seus filhos - dois anjinhos terrivelmente energéticos - o interrompem. "Paiêêêê", diz o mais velho, portando a voz da dupla. "A internet, paiê! Não tá funcionando!". Assombrado, o pai se vira ao rebento mais velho. "Como não? O técnico não veio hoje?". "Não, pai. Não veio ninguém", responde o mais novo. Ele se virou para sua esposa, que estava de férias da empresa, e ela fez uma negativa com a cabeça, confirmando a versão dos guris. Sem visitas.
Com todas as cabeças viradas pra ele, o herói se sentiu impelido a tomar uma decisão. Levantou-se, e pegou o telefone, odiando a vida. Discou para o telefone da empresa.
Como de costume, uma odiosa voz monótona saiu do telefone, pedindo para ele discar o código de área da cidade dele, seguido do número do telefone. Ele obedeceu, nervoso. Concluiu a digitação, e a voz automática diz: "Este número não está cadastrado. Por favor, tecle o código de área, e o telefone". Se o papai não fosse um ser civilizado, teria esmagado o telefone com suas mãos, e cometeria tantos homicídios quanto conseguisse, até chegar na sede da empresa e cometer um ato terrorista realmente chocante. Mas ele se segurou. Digitou os vários números pausadamente. A voz disse "Boa noite". Ele respondeu, mentalmente, um "queime no Inferno, vagabunda", enquanto a voz repetia, idiotamente, as opções. "Para promoções e plano especial, digite 2. Para contratações de novos pacotes, digite 3". Ele se vira à sua esposa, buscando apoio, mas ela parece feliz picando um maço de cebolinhas. Talvez, se ele estivesse com aquela faca, ele já teria sido preso por homicídio em massa. Finalmente, a moça falou algo sobre suporte técnico. Ele discou o número correspondente. Veio outro menu de opções. Ele aguardou, digitou novamente o valor, e aguardou o atendimento. Pelo visto, finalmente um ser humano o atenderia.
"Maristela falando, boa noite", uma voz odiosa o atendeu. Engraçado como tudo parece odioso quando estamos com ódio, ele pensou.
"Olá, Maristela. Eu sou um otário que contrata o serviço da sua empresa, e gostaria de reportar que a sua empresa não está fazendo o serviço que eu contratei. Devo implorar por perdão, chamar meu advogado ou cometer um ato terrorista?". Sua esposa o olhou feio, mas deu risada. Os filhos acharam engraçado. Mas a atendente notou que ele não estava brincando. Como a profissão reza, entretanto, ela deve tentar manter o consumidor racional. E manteve a calma.
"Que problema que o senhor está tendo, senhor?".
"Minha internet, minha querida. Estou sem internet. Já chamei suporte, inclusive, e não fui atendido. A senhorita poderia me explicar o porquê?". Ele ouve barulho de teclas sendo golpeadas. E a moça diz que às vezes os técnicos perdem o prazo, mas quando é o caso eles ligam informando. "Então, veja só, eles se esqueceram de me avisar que não passaram em casa. Será que eles acharam que eu ia notar sozinho?".
A moça tentou manter o nível paciente. "Pode ser, senhor, que eles foram, resolveram o problema e deram baixa no seu pedido sem lhe informar. Isso é comum quando ninguém é encontrado em casa".
"Bom, querida, temos um problema. Se foi isso o que aconteceu, o cara se esqueceu de bater na porta, porque sempre tem alguém em casa. E se esqueceu de consertar o problema! Vai ver, consertou o da vizinha, que tem 78 anos e não sabe nem o que é internet". Por dentro, ele ria de suas piadinhas. E ria do fato de ela não estar achando a menor graça.
"Olha, Maristela. É Maristela seu nome, né? Já é a terceira vez que faço esse teste de retardados, digitando números atrás de números, e eu acho que acertei todos eles. Por que ninguém vem aqui em casa arrumar a minha conexão?".
A moça pergunta: "Que erro que o senhor está tendo, senhor?".
"Maristela", responde o rapaz. "Vamos supor que eu já tenha passado por isso, oka? Vamos supor que você já saiba que o problema não é o fato de eu ser burro, e que o problema é o fato de ter algum erro em qualquer um dos seus aparelhos. Vamos supor que você não possa fazer nada pra me ajudar, a não ser chamar alguém que tenha esse poder. Que tal? Você pode ou não pode?".
A moça insiste em segurá-lo na linha, entretanto. "Senhor, você poderia estar me confirmando o número do telefone?".
Ele perde a paciência, mas sem perder a calma, sabe? "Não, minha filha. Não vou poder estar confirmando o número do telefone, porque eu digitei ele quinhentas vezes, e eu tenho certeza e você tem certeza do número que estou usando". Suas mãos tremiam, seu rosto estava quente.
"Então o senhor poderia estar, pelo menos, me confirmando o nome do titular da linha?".
"O nome do titular é o meu nome, mocinha. E, por favor, você poderia estar me transferindo ou vai estar sendo difícil?". A moça ficou ofendida pelo deboche do cara com o gerundismo dela.
"Senhor, antes de concluir, gostaria de informar que nossa empresa está realizando um concurso cultural durante todo o mês, e estamos convidando nossos usuários a participar".
"É mesmo? Que interessante", respondeu o rapaz.
"Sim, senhor. É só o senhor acessar o site da empresa, e clicar em 'Promoção'". Foi a deixa do rapaz.
"Minha querida, como eu vou participar da promoção online se vocês não consertam minha internet?!". A atendente se deu por vencida, e digitou o ramal do suporte avançado.
"Boa noite, senhor. Meu nome é Evandro, estarei dando continuidade ao seu atendimento". O pobre cliente notou que o Evandro parecia mais inteligente. Sabia usar gerundismo com verbos no futuro!
"Boa noite, Evandro. Vou ser direto com você. Estou sem paciência. Esta é a terceira vez que estou batendo papo com atendentes da companhia que lhe emprega, e não porque eu sou um velho desocupado que não tem nada para fazer da vida. Ao contrário, tenho muitas contas pra pagar, inclusive a sua, e preciso acordar cedo pra pagá-las. O caso, meu colega Evandro, é que estou sem conexão com a internet. Já fiz todos os diagnósticos e, se bobear, já fiz até exame de fezes. Os técnicos anteriores não encontraram problemas, e ficaram de enviar técnicos pra minha casa. Ninguém veio. E pelo visto, ninguém virá. Então, posso partir pro vandalismo e usar o meu martelo nos seus produtos? Ou você, finalmente, será a alma eleita a me ajudar?". O atendente deve ter dado risada, porque a voz dele parecia mais animada.
"Vou fazer o máximo, senhor. Vejamos. Você pode me confirmar qual é seu sistema operacional e o modelo do seu modem?". O homem se irritou.
"Evandro, por favor. Não teste minha paciência. Por favor. Eu não quero mostrar pra você o meu repertório de ofensas. Ele é muito extenso e ofensivo, então preserve-se. Apenas faça o seu serviço, sim?". Evandro concordou, pediu um momento e foi fazer uns diagnósticos. A voz dele sumiu.
Alguns pares de minutos depois, ele retorna. "Olá, senhor. Perdoe a demora. Aqui no registro diz que o senhor tem duas chamadas recentes, exato?". Nossa! Então a empresa armazenou as chamadas anteriores! Não foi uma ilusão dele, afinal! Ele diz que sim, é verdade. "E em nenhuma das vezes seu problema foi consertado".
"Aparentemente não, Evandro. Senão não estaríamos tendo esta aprazível conversa".
Mais barulho de teclas sendo dedilhadas. "Senhor", diz o atendente. "Vou estar realizando um diagnóstico padrão. Vou pedir para o senhor estar aguardando alguns minutos". O paizão alivia um pouco sua tensão.
"Okay, Evandro. Não vou estar indo a lugar nenhum, se é o que lhe aflige".
Mais alguns minutos.
"Senhor?".
"Sim, Evandro, eu não fui a lugar algum". Evandro continua.
"Então, senhor. O problema era uma falha no protocolo de registro do seu terminal local ao nosso roteador interno. Houve uma compilação feita há pouco, e alguns protocolos venceram, mas não foram substituídos".
Ele para, repete a mensagem no cérebro, e ao não entender de novo, diz: "Ah, sim... E em Português? O que aconteceu?".
"Ah, senhor, é que atualizamos nosso sistema, mas não atualizamos sua conexão". Olha só, que sortudo, hein?
"Bom, e aí? Vão atualizar meu sistema? Ou vou subornar algum deputado pra isso?".
"Ah, não, senhor. Já estou realizando a compilação. Em momentos, sua conexão estará renovada. Mais alguma coisa, senhor?". Ele ponderou.
"Na verdade, tem sim, Evandro. Diga ao seu chefe que a empresa que ele dirige é uma grande merda? E certifique-se de arranjar emprego em uma empresa decente na próxima vez?".
O técnico riu do outro lado da linha. "Agradecemos a ligação, senhor. Boa noite".
Pronto. Agora, era só aguardar a compilação das quantas lá terminar, e eles teriam a internet. Viu que fácil?
Na verdade, a internet não voltou naquela noite. O paizão ligou de novo na noite seguinte. E ligou no fim de semana de novo, porque outra vez não funcionou. E o problema?Era um buraco que foi mal plugado por um outro técnico, em uma visita rotineira. Mas a empresa não deduziu um centavo da conta. Ah, mas se o consumidor atrasar o pagamento por dois dias, pobre dele...
Ouvindo:
Deixa de bobagem, Rafael. Antes de continuar, devo explicações aos senhores, presumo. Eu simplesmente sumi nas últimas semanas do findo mês de Outubro, deixando este pobre blog às moscas. Mais tempo do que gostaria, aliás. Mas dessa vez, a culpa não foi (somente) minha. Eu fui, senhores, vitimado por um complô. Os eventos foram cuidadosamente manipulados por uma grande companhia multinacional, cuja única intenção era de humilhar e destruir a minha feliz vida de cidadão terceiro-mundista. Depois de nove dias sem internet (Ouviram bem? Nove dias!) o técnico veio até o meu condomínio, abriu o modem do condomínio e descobriu que era mau-contato do cabo com o modem. Caralho, nove dias por uma bobagem dessa. A Telefônica me enoja. Fizeram o maior rebu, disseram que não tinham gente pra mandar pra cá, diziam que os técnicos vinham e não achavam ninguém... Enfim, riram muito da nossa cara.
Graças à Telefônica, fiquei sem internet durante o fim de Outubro. E daí a falta de postagens. Mas tudo bem, tudo muito bem. Continuo mandando tiros pra cima e pra baixo, gentem. Alguém me segure! Inspirado pelo acontecimento, reacendo a chama. Go, Inominativo! o/
Contos do Cotidiano
IX - Teleatendimento
Quando nosso herói chegou em casa aquele dia, fez o de costume. Trocou-se para uma roupa mais caseira, foi ao banheiro, e sentou-se, placidamente, em seu sofá de costume, para acompanhar o noticiário noturno, que em breve começaria. Assim que ele senta, entretanto, seus filhos - dois anjinhos terrivelmente energéticos - o interrompem. "Paiêêêê", diz o mais velho, portando a voz da dupla. "A internet, paiê! Não tá funcionando!". Assombrado, o pai se vira ao rebento mais velho. "Como não? O técnico não veio hoje?". "Não, pai. Não veio ninguém", responde o mais novo. Ele se virou para sua esposa, que estava de férias da empresa, e ela fez uma negativa com a cabeça, confirmando a versão dos guris. Sem visitas.
Com todas as cabeças viradas pra ele, o herói se sentiu impelido a tomar uma decisão. Levantou-se, e pegou o telefone, odiando a vida. Discou para o telefone da empresa.
Como de costume, uma odiosa voz monótona saiu do telefone, pedindo para ele discar o código de área da cidade dele, seguido do número do telefone. Ele obedeceu, nervoso. Concluiu a digitação, e a voz automática diz: "Este número não está cadastrado. Por favor, tecle o código de área, e o telefone". Se o papai não fosse um ser civilizado, teria esmagado o telefone com suas mãos, e cometeria tantos homicídios quanto conseguisse, até chegar na sede da empresa e cometer um ato terrorista realmente chocante. Mas ele se segurou. Digitou os vários números pausadamente. A voz disse "Boa noite". Ele respondeu, mentalmente, um "queime no Inferno, vagabunda", enquanto a voz repetia, idiotamente, as opções. "Para promoções e plano especial, digite 2. Para contratações de novos pacotes, digite 3". Ele se vira à sua esposa, buscando apoio, mas ela parece feliz picando um maço de cebolinhas. Talvez, se ele estivesse com aquela faca, ele já teria sido preso por homicídio em massa. Finalmente, a moça falou algo sobre suporte técnico. Ele discou o número correspondente. Veio outro menu de opções. Ele aguardou, digitou novamente o valor, e aguardou o atendimento. Pelo visto, finalmente um ser humano o atenderia.
"Maristela falando, boa noite", uma voz odiosa o atendeu. Engraçado como tudo parece odioso quando estamos com ódio, ele pensou.
"Olá, Maristela. Eu sou um otário que contrata o serviço da sua empresa, e gostaria de reportar que a sua empresa não está fazendo o serviço que eu contratei. Devo implorar por perdão, chamar meu advogado ou cometer um ato terrorista?". Sua esposa o olhou feio, mas deu risada. Os filhos acharam engraçado. Mas a atendente notou que ele não estava brincando. Como a profissão reza, entretanto, ela deve tentar manter o consumidor racional. E manteve a calma.
"Que problema que o senhor está tendo, senhor?".
"Minha internet, minha querida. Estou sem internet. Já chamei suporte, inclusive, e não fui atendido. A senhorita poderia me explicar o porquê?". Ele ouve barulho de teclas sendo golpeadas. E a moça diz que às vezes os técnicos perdem o prazo, mas quando é o caso eles ligam informando. "Então, veja só, eles se esqueceram de me avisar que não passaram em casa. Será que eles acharam que eu ia notar sozinho?".
A moça tentou manter o nível paciente. "Pode ser, senhor, que eles foram, resolveram o problema e deram baixa no seu pedido sem lhe informar. Isso é comum quando ninguém é encontrado em casa".
"Bom, querida, temos um problema. Se foi isso o que aconteceu, o cara se esqueceu de bater na porta, porque sempre tem alguém em casa. E se esqueceu de consertar o problema! Vai ver, consertou o da vizinha, que tem 78 anos e não sabe nem o que é internet". Por dentro, ele ria de suas piadinhas. E ria do fato de ela não estar achando a menor graça.
"Olha, Maristela. É Maristela seu nome, né? Já é a terceira vez que faço esse teste de retardados, digitando números atrás de números, e eu acho que acertei todos eles. Por que ninguém vem aqui em casa arrumar a minha conexão?".
A moça pergunta: "Que erro que o senhor está tendo, senhor?".
"Maristela", responde o rapaz. "Vamos supor que eu já tenha passado por isso, oka? Vamos supor que você já saiba que o problema não é o fato de eu ser burro, e que o problema é o fato de ter algum erro em qualquer um dos seus aparelhos. Vamos supor que você não possa fazer nada pra me ajudar, a não ser chamar alguém que tenha esse poder. Que tal? Você pode ou não pode?".
A moça insiste em segurá-lo na linha, entretanto. "Senhor, você poderia estar me confirmando o número do telefone?".
Ele perde a paciência, mas sem perder a calma, sabe? "Não, minha filha. Não vou poder estar confirmando o número do telefone, porque eu digitei ele quinhentas vezes, e eu tenho certeza e você tem certeza do número que estou usando". Suas mãos tremiam, seu rosto estava quente.
"Então o senhor poderia estar, pelo menos, me confirmando o nome do titular da linha?".
"O nome do titular é o meu nome, mocinha. E, por favor, você poderia estar me transferindo ou vai estar sendo difícil?". A moça ficou ofendida pelo deboche do cara com o gerundismo dela.
"Senhor, antes de concluir, gostaria de informar que nossa empresa está realizando um concurso cultural durante todo o mês, e estamos convidando nossos usuários a participar".
"É mesmo? Que interessante", respondeu o rapaz.
"Sim, senhor. É só o senhor acessar o site da empresa, e clicar em 'Promoção'". Foi a deixa do rapaz.
"Minha querida, como eu vou participar da promoção online se vocês não consertam minha internet?!". A atendente se deu por vencida, e digitou o ramal do suporte avançado.
"Boa noite, senhor. Meu nome é Evandro, estarei dando continuidade ao seu atendimento". O pobre cliente notou que o Evandro parecia mais inteligente. Sabia usar gerundismo com verbos no futuro!
"Boa noite, Evandro. Vou ser direto com você. Estou sem paciência. Esta é a terceira vez que estou batendo papo com atendentes da companhia que lhe emprega, e não porque eu sou um velho desocupado que não tem nada para fazer da vida. Ao contrário, tenho muitas contas pra pagar, inclusive a sua, e preciso acordar cedo pra pagá-las. O caso, meu colega Evandro, é que estou sem conexão com a internet. Já fiz todos os diagnósticos e, se bobear, já fiz até exame de fezes. Os técnicos anteriores não encontraram problemas, e ficaram de enviar técnicos pra minha casa. Ninguém veio. E pelo visto, ninguém virá. Então, posso partir pro vandalismo e usar o meu martelo nos seus produtos? Ou você, finalmente, será a alma eleita a me ajudar?". O atendente deve ter dado risada, porque a voz dele parecia mais animada.
"Vou fazer o máximo, senhor. Vejamos. Você pode me confirmar qual é seu sistema operacional e o modelo do seu modem?". O homem se irritou.
"Evandro, por favor. Não teste minha paciência. Por favor. Eu não quero mostrar pra você o meu repertório de ofensas. Ele é muito extenso e ofensivo, então preserve-se. Apenas faça o seu serviço, sim?". Evandro concordou, pediu um momento e foi fazer uns diagnósticos. A voz dele sumiu.
Alguns pares de minutos depois, ele retorna. "Olá, senhor. Perdoe a demora. Aqui no registro diz que o senhor tem duas chamadas recentes, exato?". Nossa! Então a empresa armazenou as chamadas anteriores! Não foi uma ilusão dele, afinal! Ele diz que sim, é verdade. "E em nenhuma das vezes seu problema foi consertado".
"Aparentemente não, Evandro. Senão não estaríamos tendo esta aprazível conversa".
Mais barulho de teclas sendo dedilhadas. "Senhor", diz o atendente. "Vou estar realizando um diagnóstico padrão. Vou pedir para o senhor estar aguardando alguns minutos". O paizão alivia um pouco sua tensão.
"Okay, Evandro. Não vou estar indo a lugar nenhum, se é o que lhe aflige".
Mais alguns minutos.
"Senhor?".
"Sim, Evandro, eu não fui a lugar algum". Evandro continua.
"Então, senhor. O problema era uma falha no protocolo de registro do seu terminal local ao nosso roteador interno. Houve uma compilação feita há pouco, e alguns protocolos venceram, mas não foram substituídos".
Ele para, repete a mensagem no cérebro, e ao não entender de novo, diz: "Ah, sim... E em Português? O que aconteceu?".
"Ah, senhor, é que atualizamos nosso sistema, mas não atualizamos sua conexão". Olha só, que sortudo, hein?
"Bom, e aí? Vão atualizar meu sistema? Ou vou subornar algum deputado pra isso?".
"Ah, não, senhor. Já estou realizando a compilação. Em momentos, sua conexão estará renovada. Mais alguma coisa, senhor?". Ele ponderou.
"Na verdade, tem sim, Evandro. Diga ao seu chefe que a empresa que ele dirige é uma grande merda? E certifique-se de arranjar emprego em uma empresa decente na próxima vez?".
O técnico riu do outro lado da linha. "Agradecemos a ligação, senhor. Boa noite".
Pronto. Agora, era só aguardar a compilação das quantas lá terminar, e eles teriam a internet. Viu que fácil?
Na verdade, a internet não voltou naquela noite. O paizão ligou de novo na noite seguinte. E ligou no fim de semana de novo, porque outra vez não funcionou. E o problema?Era um buraco que foi mal plugado por um outro técnico, em uma visita rotineira. Mas a empresa não deduziu um centavo da conta. Ah, mas se o consumidor atrasar o pagamento por dois dias, pobre dele...
Ouvindo:
Sly
The Cat Empire
Two Shoes (2005)
The Cat Empire
Two Shoes (2005)
2 comentários:
haha... mto revoltante...
Que engraçado... pior q eh sempre assim neh...
mto legal o texto, parabens!
beijaao
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