RENASÇA, INOMINATIVO!! :D
Boas noites boas noites para os senhores! É hora de eu tirar a poeira desta minha gaveta de textos despretensiosos, e retornar à fina arte da escrita! Sim, escrever é uma arte fina e requintada, não acham os senhores?
Mas eu não sou requintado. E aí dá nisso, esse monte de bobagens. Can't help it :P
A primeira da nova leva de postagens inominatívicas (e isso existe?) está saindo. Vejamos se sai tão ruim quanto os outros, ou se eu pioro. Huah!
Contos do Cotidiano
XI - Zero a Zero
Para Alex, sexta-feira à noite prometia. Tanto que ele acordou cedo, naquele dia, por causa da ansiedade, mas descobriu que não adianta nada acordar mais cedo; o relógio continua andando na mesma. Às vezes, um pouco mais devagar, até, só pra fazer sofrer. Hehe.
Havia duas semanas, nosso amigo havia ido na balada da faculdade de um amigo dele. Balada vai, balada vem, conheceu a amiga de uma amiga de um amigo do amigo dele. Os dois se conversaram, descobriram que gostavam de filmes hollywoodianos e de música brasileira (e, embora Alex nunca fosse admitir em público, ele descobriu que gostava de Britney tanto quanto a moça). "Ah, pegaê meu MSN" (guardanapo sendo rabiscado). "Ah, eu te adiciono depois no meu orkut". É, rolou uma química. Rolou uns chutes a gol. Mas o placar foi zero a zero praquela noite. Não faz mal, o campeonato ainda não terminou. Ainda rolariam outras chances.
Nas duas semanas seguintes à baladinha, eles descobriram mais algumas afinidades. Gostavam também de Outback e de filmes do Will Smith. "Ah, tem um filme do Will que eu ainda não vi, e que está em cartaz. Quer ir? Podíamos jantar no Outback depois, né?". "Ah, boa ideia, vamos sim". Nada mal pra um primeiro encontro, hein? Conseguiu um cinema e um jantar. Ah, aquela noite, certeza, seria goleada...
Não é de se espantar que nosso menino Alex estivesse animado. Depois de ouvir uns CDs e estudar umas matérias da sua faculdade, resolveu dar uma volta. Viu uns amigos, fez a cruzadinha do Estado de S. Paulo que vivia abandonada no saguão do seu edifício. Lá pela uma da tarde, deu-lhe fome. Como seus pais trabalhavam, ele almoçava sozinho. Ele subiu pro seu apartamento, deu uma re-esquentada na janta de ontem (o popular soborô), almoçou male-male e ligou a TV pra ver se tinha algo que o distraísse até o filme. Pra variar, umas zapeadas, mas nada rolou. Ele resolveu ligar o seu vídeo-game, e colocou um Winning Eleven. Depois de 3 derrotas (incluindo uma espetacular goleada com direito a gol contra), ele achou melhor desligar o jogo, porque aquilo prenunciava má-sorte. Não que ele acreditasse. Mas nunca se sabe. É melhor não dar sorte pro azar, certo? Nunca se sabe.
Deu uma navegada na internet. Encontrou a sua companhia, Gabriela, online em um programa qualquer de conversação instantânea. Checaram o horário, recombinaram o ponto de encontro, conversaram aleatoreidades. É, nada parecia dar errado.
Lá pelas seis, de banho devidamente tomado e devidamente perfumado, achou melhor embarcar rumo à diversão. Entrou na estação de metrô que servia o bairro em que morava (o sortudo Alex calhou de morar em um bairro com linha de metrô), tomou um trem lotado e foi sentido cidade. Acontecem, aí, aquelas intempéries que sempre ocorrem em viagens. Coisas como estações apinhadas, folgados enormes que não saem da frente das portas, escadas rolantes quebradas... Só que, tudo de uma vez. Desgraça pouca é bobagem, hehe. Nosso amigo Alex chegou, naturalmente, atrasado. Mas não faz mal, ele havia combinado de se encontrarem cedo no shopping pra evitar que pequenos atrasos os impedissem de ver o filme. E, ademais, bem ele sabia que Gabriela iria atrasar. Mulheres sempre atrasam. É meio que um charme delas. E assim, ele chegou no shopping, foi ao ponto de encontro, não viu ninguém, e se ocupou em ver vitrines de livrarias e de lojas de jogos.
Seu telefone chacoalhou, então, por causa de uma mensagem. Sua companhia, Gabriela, o esperava no ponto de encontro. Lá ele foi, e lá ele a viu. Ele notou que ela estava bastante bonita. Ele se congratulou, eles se cumprimentaram, e foram à bilheteria comprar os tíquetes para o filme. Ah, aparentemente, nada daria errado. Alex sabia que era errado comemorar vitória antes dos noventa minutos, mas ele, ao chegar no guichê e encomendar os dois ingressos (como bom cavalheiro, ele pagou a entrada de sua companhia), pensou que não podia dar nada mais de errado. Tudo terminaria bem, agora.
Ou quase.
"ALEXANDRE, SEU BOIOLA!". Alex estacou ao ouvir seu nome, e virou pra seguir a origem do berro escandaloso e da ofensa gratuita. Ele terminou de virar o pescoço, e um abraço desajeitado turva sua visão. Dois murros nas costas, e um amigável "E aí, seu bosta!" fazem o Alex reconhecer o perpretador das frases. Um amigo seu, Ricardo, que o encontrou (contra todas as probabilidades, como Murphy gosta) na fila do guichê, e que tinha gritado o nome dele várias vezes. Mas Alex estava tão animado com a companhia que nem ouviu o que vinha de fora. "Só virou pra ver depois que eu chamei você de boiola, né? Seu são-paulino bambi de merda. Tinha que ser um queima-rosca, mesmo! Huahuahuahua!". De trás de Ricardo, mais três amigos aparecem, cumprimentando nosso amigo, dando tapas nas costas, abraços desajeitados. Alex, nosso amigo, estava estupefato, é claro. Tudo o que ele menos queria agora era que empatassem o jogo dele. É, essa história de comemorar vitória antes dos noventa minutos...
Encabulado, apresentou Gabriela aos amigos. A educada menina lhes disse oi, eles responderam. Ricardinho, o nosso amigo sem-noção, não perdoou: "Namorando, então, Alex? Caramba, que sorte, a mina é bonita mesmo, hein?". Sem jeito, Alex mal conseguiu balbuciar uma resposta. Restringiu-se a rir amistosamente, enquanto digitava a senha do seu cartão na maquininha da menina do caixa do cinema.
"Ah, então vocês vão ao cinema!", constatou Ricardinho, mestre em notar o óbvio. "E que filme é?". A menina respondeu, dado o grau elevado de vergonha que Alex estava. "Vamos ver o filme do Will Smith, sabe?". E aqui, a noite, que já estava perdida, acabou de ficar tenebrosa. "Pô, Carlos, bem que a gente podia ir ver esse filme com o Alex, né? Eu não tenho nada pra fazer hoje à noite, mesmo...". Os amigos concordaram. Entraram na fila pra comprar seus ingressos. E Alex estava considerando, seriamente, se utilizar de magia negra avançada para desaparecer. Ah, se ele tivesse ido pra Hogwarts...
Vencido, lá foi ele pro cinema. Sentou-se, claro, ao lado da Gabriela, mas seus amigos sentaram do outro lado. Ricardinho, óbvio, preferiu se sentar do outro lado do Alex.
Eu posso estar enganado a respeito de vocês, meus amigos homens, mas acredito que a última coisa que vocês desejam, ao estarem em estágio de flerte aberto com uma moça, é que seus amigos escrotos façam a menina perceber o quão escroto você é. E comecem a contar, por exemplo, da vez em que você passou mal na balada e vomitou no cara que fazia coquetéis. Ou da vez em que caiu na piscina com o celular dentro do bolso, porque estava muito bêbado. Ou da sua fama na escola de vagabundo e matador de aula. Ah, sim, Alex estava sumindo em sua poltrona. Até que o filme começou. E Alex deu graças a Deus porque a sessão se iniciava. Pelo menos, ele não passaria mais vergonha. Mas que tudo tendia pra um zero a zero... Ele se vira pra engatar conversa com a Gabriela, que estava dando risadas das histórias do Ricardo desde que entraram na sala do filme. Mas ela devolveu um "shhhhh". Ai, meu coração...
Além dos amigos que gostam de empatar, tem os amigos que você não pode convidar pra ir ao cinema contigo, porque eles preferem incomodar você com piadinhas ridículas ao ver o infeliz do filme. E o Ricardinho, esse guri levado, era uma soma dessas duas classes. De modo que ele não deu paz a Alex, nem no meio do filme. Coisas como terminar as falas de um personagem com piadinhas sem graça, se lembrar de uma piada com um papagaio e um argentino, começar a jogar pipoca nos casais que estavam nos finalmentes, rir alegremente de piadinhas do filme... Alex, que se sentia mais em uma tortura do que em uma sala de cinema, se perguntava o que ele fez de errado para os Céus. Gabriela, a traidora, ria gostosamente das travessuras do Ricardinho. Alex estava sozinho. Poverello, poverello...
Zero a zero. A frase ecoava na cabeça de Alex, enquanto eles saíam da sala de cinema. Dos seis que tinham entrado na sessão, cinco adoraram o filme, e faziam piadas infelizes e riam mais ainda. Alex, educado, tensionava um sorriso, mas estava desgostoso. Quase como tomar leite azedo, sabe? Como colocar pimenta no pastel quando você jurou que aquele tubo vermelho era catchup.
Ao voltarem ao shopping, eles se encontraram na praça de alimentação. Um dos meninos emendou "E aí, alguém come?". Alex notou uma última chance. "Ah, não, cara, vou jantar fora com a Gabriela, thanks". "Opa!", disse Ricardinho. "Onde?". "Ah, vamos ao Outback". "Posso ir também, gente? Estou com fome, e faz tempo que não vou lá. Vamos, macacada?" PQP, que cara mais inconveniente. Parece chiclete que grudou no cabelo. Saco.
Chegaram no Outback. Pra Alex, a janta, que poderia ser a redenção, só foi mais do mesmo. É como descobrir que o para-quedas reserva também falhou. E lá vem o chão, se aproximando da nossa cara.
Decidido a perder o jogo com nobreza, ele engoliu a infelicidade, e resolveu aproveitar. Jantaram juntos uma carne de porco apimentada (que custou ao Alex quase um litro de Coca-Cola, porque ele tinha baixa tolerância à pimenta), falaram mais algumas ogrices da vida pregressa de Alex, contaram da baranga que ele pegou no segundo ano só pra não zerar em uma festa...
Zero a zero, pensava Alex, quando deu tchau pros seus "amigos", sob o pretexto de deixar Gabriela no ponto de ônibus, e aguardar o comboio com ela. Ensaiou um último ataque. Um gol aos 49', pra somar os 3 pontos. Mas veio o golpe da redenção. "Aquele seu amigo, o Ricardo... Ele é bem engraçado, né? Escuta, vai rolar uma festa lá na minha faculadade sexta que vem. Convida ele com você, se você for, pode ser?". E ela embarcou no ônibus. Era o apito final.
Afinal de contas, saiu um gol na prorrogação. Um a zero. Mas pro time errado. Foi, aliás, o mesmo placar de uma das partidas que ele havia perdido no vídeo-game, mais cedo. Se foi coincidência, nunca se sabe. Mas era melhor ter ficado no zero a zero, mesmo.
E Alex voltou pra casa mais cedo aquele dia. Havia sido eliminado. :P
----
E com isso, retorna o Inominativo! Seja bem-vindo de volta, meu querido blog. Senti sua falta. :D
Algumas considerações acerca desse retorno, entretanto:
* Como eu não tenho mais tempo livre entre as semanas, é muito provável que eu só consiga escrever algo aqui aos sábados e domingos. Mas eu farei o máximo para que eu poste pelo menos uma vez por semana. Se eu não puder, por favor, me perdoem.
* Se não for pedir demais, comentem sobre o que acharam! Eu quero mesmo mesmo saber o que vocês acham sobre meus novos textos. Sabe, boa parte do meu interstício foi porque eu sempre tive receio de sair algo ruim, que não mantivesse o nível anterior. E preciso saber da opinião de vocês, né? Agradeceria se o fizessem. =)
* Descobri, ainda recentemente, que meu antigo blog, O Mal do Século, não existe mais no servidor do Blogger.com.br. Apesar de fazer mais de 2 anos desde que ele deixou de existir, fiquei bastante chateado em saber disso. Eu gostava bastante de lá. Mas não faz mal, o Inominativo é mais legal, certo? :P
* Tomara que eu não torne a desistir do meu blog. Ainda nutro desejos secretos de escrever um livro, vendê-lo como água, ficar muito rico e passar o resto da vida preguiçoso e feliz. Hehe.
Bem-vindos de volta, leitores. Senti a falta de vocês.
We Started Nothing
The Ting Tings
We Started Nothing (2008)
Havia duas semanas, nosso amigo havia ido na balada da faculdade de um amigo dele. Balada vai, balada vem, conheceu a amiga de uma amiga de um amigo do amigo dele. Os dois se conversaram, descobriram que gostavam de filmes hollywoodianos e de música brasileira (e, embora Alex nunca fosse admitir em público, ele descobriu que gostava de Britney tanto quanto a moça). "Ah, pegaê meu MSN" (guardanapo sendo rabiscado). "Ah, eu te adiciono depois no meu orkut". É, rolou uma química. Rolou uns chutes a gol. Mas o placar foi zero a zero praquela noite. Não faz mal, o campeonato ainda não terminou. Ainda rolariam outras chances.
Nas duas semanas seguintes à baladinha, eles descobriram mais algumas afinidades. Gostavam também de Outback e de filmes do Will Smith. "Ah, tem um filme do Will que eu ainda não vi, e que está em cartaz. Quer ir? Podíamos jantar no Outback depois, né?". "Ah, boa ideia, vamos sim". Nada mal pra um primeiro encontro, hein? Conseguiu um cinema e um jantar. Ah, aquela noite, certeza, seria goleada...
Não é de se espantar que nosso menino Alex estivesse animado. Depois de ouvir uns CDs e estudar umas matérias da sua faculdade, resolveu dar uma volta. Viu uns amigos, fez a cruzadinha do Estado de S. Paulo que vivia abandonada no saguão do seu edifício. Lá pela uma da tarde, deu-lhe fome. Como seus pais trabalhavam, ele almoçava sozinho. Ele subiu pro seu apartamento, deu uma re-esquentada na janta de ontem (o popular soborô), almoçou male-male e ligou a TV pra ver se tinha algo que o distraísse até o filme. Pra variar, umas zapeadas, mas nada rolou. Ele resolveu ligar o seu vídeo-game, e colocou um Winning Eleven. Depois de 3 derrotas (incluindo uma espetacular goleada com direito a gol contra), ele achou melhor desligar o jogo, porque aquilo prenunciava má-sorte. Não que ele acreditasse. Mas nunca se sabe. É melhor não dar sorte pro azar, certo? Nunca se sabe.
Deu uma navegada na internet. Encontrou a sua companhia, Gabriela, online em um programa qualquer de conversação instantânea. Checaram o horário, recombinaram o ponto de encontro, conversaram aleatoreidades. É, nada parecia dar errado.
Lá pelas seis, de banho devidamente tomado e devidamente perfumado, achou melhor embarcar rumo à diversão. Entrou na estação de metrô que servia o bairro em que morava (o sortudo Alex calhou de morar em um bairro com linha de metrô), tomou um trem lotado e foi sentido cidade. Acontecem, aí, aquelas intempéries que sempre ocorrem em viagens. Coisas como estações apinhadas, folgados enormes que não saem da frente das portas, escadas rolantes quebradas... Só que, tudo de uma vez. Desgraça pouca é bobagem, hehe. Nosso amigo Alex chegou, naturalmente, atrasado. Mas não faz mal, ele havia combinado de se encontrarem cedo no shopping pra evitar que pequenos atrasos os impedissem de ver o filme. E, ademais, bem ele sabia que Gabriela iria atrasar. Mulheres sempre atrasam. É meio que um charme delas. E assim, ele chegou no shopping, foi ao ponto de encontro, não viu ninguém, e se ocupou em ver vitrines de livrarias e de lojas de jogos.
Seu telefone chacoalhou, então, por causa de uma mensagem. Sua companhia, Gabriela, o esperava no ponto de encontro. Lá ele foi, e lá ele a viu. Ele notou que ela estava bastante bonita. Ele se congratulou, eles se cumprimentaram, e foram à bilheteria comprar os tíquetes para o filme. Ah, aparentemente, nada daria errado. Alex sabia que era errado comemorar vitória antes dos noventa minutos, mas ele, ao chegar no guichê e encomendar os dois ingressos (como bom cavalheiro, ele pagou a entrada de sua companhia), pensou que não podia dar nada mais de errado. Tudo terminaria bem, agora.
Ou quase.
"ALEXANDRE, SEU BOIOLA!". Alex estacou ao ouvir seu nome, e virou pra seguir a origem do berro escandaloso e da ofensa gratuita. Ele terminou de virar o pescoço, e um abraço desajeitado turva sua visão. Dois murros nas costas, e um amigável "E aí, seu bosta!" fazem o Alex reconhecer o perpretador das frases. Um amigo seu, Ricardo, que o encontrou (contra todas as probabilidades, como Murphy gosta) na fila do guichê, e que tinha gritado o nome dele várias vezes. Mas Alex estava tão animado com a companhia que nem ouviu o que vinha de fora. "Só virou pra ver depois que eu chamei você de boiola, né? Seu são-paulino bambi de merda. Tinha que ser um queima-rosca, mesmo! Huahuahuahua!". De trás de Ricardo, mais três amigos aparecem, cumprimentando nosso amigo, dando tapas nas costas, abraços desajeitados. Alex, nosso amigo, estava estupefato, é claro. Tudo o que ele menos queria agora era que empatassem o jogo dele. É, essa história de comemorar vitória antes dos noventa minutos...
Encabulado, apresentou Gabriela aos amigos. A educada menina lhes disse oi, eles responderam. Ricardinho, o nosso amigo sem-noção, não perdoou: "Namorando, então, Alex? Caramba, que sorte, a mina é bonita mesmo, hein?". Sem jeito, Alex mal conseguiu balbuciar uma resposta. Restringiu-se a rir amistosamente, enquanto digitava a senha do seu cartão na maquininha da menina do caixa do cinema.
"Ah, então vocês vão ao cinema!", constatou Ricardinho, mestre em notar o óbvio. "E que filme é?". A menina respondeu, dado o grau elevado de vergonha que Alex estava. "Vamos ver o filme do Will Smith, sabe?". E aqui, a noite, que já estava perdida, acabou de ficar tenebrosa. "Pô, Carlos, bem que a gente podia ir ver esse filme com o Alex, né? Eu não tenho nada pra fazer hoje à noite, mesmo...". Os amigos concordaram. Entraram na fila pra comprar seus ingressos. E Alex estava considerando, seriamente, se utilizar de magia negra avançada para desaparecer. Ah, se ele tivesse ido pra Hogwarts...
Vencido, lá foi ele pro cinema. Sentou-se, claro, ao lado da Gabriela, mas seus amigos sentaram do outro lado. Ricardinho, óbvio, preferiu se sentar do outro lado do Alex.
Eu posso estar enganado a respeito de vocês, meus amigos homens, mas acredito que a última coisa que vocês desejam, ao estarem em estágio de flerte aberto com uma moça, é que seus amigos escrotos façam a menina perceber o quão escroto você é. E comecem a contar, por exemplo, da vez em que você passou mal na balada e vomitou no cara que fazia coquetéis. Ou da vez em que caiu na piscina com o celular dentro do bolso, porque estava muito bêbado. Ou da sua fama na escola de vagabundo e matador de aula. Ah, sim, Alex estava sumindo em sua poltrona. Até que o filme começou. E Alex deu graças a Deus porque a sessão se iniciava. Pelo menos, ele não passaria mais vergonha. Mas que tudo tendia pra um zero a zero... Ele se vira pra engatar conversa com a Gabriela, que estava dando risadas das histórias do Ricardo desde que entraram na sala do filme. Mas ela devolveu um "shhhhh". Ai, meu coração...
Além dos amigos que gostam de empatar, tem os amigos que você não pode convidar pra ir ao cinema contigo, porque eles preferem incomodar você com piadinhas ridículas ao ver o infeliz do filme. E o Ricardinho, esse guri levado, era uma soma dessas duas classes. De modo que ele não deu paz a Alex, nem no meio do filme. Coisas como terminar as falas de um personagem com piadinhas sem graça, se lembrar de uma piada com um papagaio e um argentino, começar a jogar pipoca nos casais que estavam nos finalmentes, rir alegremente de piadinhas do filme... Alex, que se sentia mais em uma tortura do que em uma sala de cinema, se perguntava o que ele fez de errado para os Céus. Gabriela, a traidora, ria gostosamente das travessuras do Ricardinho. Alex estava sozinho. Poverello, poverello...
Zero a zero. A frase ecoava na cabeça de Alex, enquanto eles saíam da sala de cinema. Dos seis que tinham entrado na sessão, cinco adoraram o filme, e faziam piadas infelizes e riam mais ainda. Alex, educado, tensionava um sorriso, mas estava desgostoso. Quase como tomar leite azedo, sabe? Como colocar pimenta no pastel quando você jurou que aquele tubo vermelho era catchup.
Ao voltarem ao shopping, eles se encontraram na praça de alimentação. Um dos meninos emendou "E aí, alguém come?". Alex notou uma última chance. "Ah, não, cara, vou jantar fora com a Gabriela, thanks". "Opa!", disse Ricardinho. "Onde?". "Ah, vamos ao Outback". "Posso ir também, gente? Estou com fome, e faz tempo que não vou lá. Vamos, macacada?" PQP, que cara mais inconveniente. Parece chiclete que grudou no cabelo. Saco.
Chegaram no Outback. Pra Alex, a janta, que poderia ser a redenção, só foi mais do mesmo. É como descobrir que o para-quedas reserva também falhou. E lá vem o chão, se aproximando da nossa cara.
Decidido a perder o jogo com nobreza, ele engoliu a infelicidade, e resolveu aproveitar. Jantaram juntos uma carne de porco apimentada (que custou ao Alex quase um litro de Coca-Cola, porque ele tinha baixa tolerância à pimenta), falaram mais algumas ogrices da vida pregressa de Alex, contaram da baranga que ele pegou no segundo ano só pra não zerar em uma festa...
Zero a zero, pensava Alex, quando deu tchau pros seus "amigos", sob o pretexto de deixar Gabriela no ponto de ônibus, e aguardar o comboio com ela. Ensaiou um último ataque. Um gol aos 49', pra somar os 3 pontos. Mas veio o golpe da redenção. "Aquele seu amigo, o Ricardo... Ele é bem engraçado, né? Escuta, vai rolar uma festa lá na minha faculadade sexta que vem. Convida ele com você, se você for, pode ser?". E ela embarcou no ônibus. Era o apito final.
Afinal de contas, saiu um gol na prorrogação. Um a zero. Mas pro time errado. Foi, aliás, o mesmo placar de uma das partidas que ele havia perdido no vídeo-game, mais cedo. Se foi coincidência, nunca se sabe. Mas era melhor ter ficado no zero a zero, mesmo.
E Alex voltou pra casa mais cedo aquele dia. Havia sido eliminado. :P
----
E com isso, retorna o Inominativo! Seja bem-vindo de volta, meu querido blog. Senti sua falta. :D
Algumas considerações acerca desse retorno, entretanto:
* Como eu não tenho mais tempo livre entre as semanas, é muito provável que eu só consiga escrever algo aqui aos sábados e domingos. Mas eu farei o máximo para que eu poste pelo menos uma vez por semana. Se eu não puder, por favor, me perdoem.
* Se não for pedir demais, comentem sobre o que acharam! Eu quero mesmo mesmo saber o que vocês acham sobre meus novos textos. Sabe, boa parte do meu interstício foi porque eu sempre tive receio de sair algo ruim, que não mantivesse o nível anterior. E preciso saber da opinião de vocês, né? Agradeceria se o fizessem. =)
* Descobri, ainda recentemente, que meu antigo blog, O Mal do Século, não existe mais no servidor do Blogger.com.br. Apesar de fazer mais de 2 anos desde que ele deixou de existir, fiquei bastante chateado em saber disso. Eu gostava bastante de lá. Mas não faz mal, o Inominativo é mais legal, certo? :P
* Tomara que eu não torne a desistir do meu blog. Ainda nutro desejos secretos de escrever um livro, vendê-lo como água, ficar muito rico e passar o resto da vida preguiçoso e feliz. Hehe.
Bem-vindos de volta, leitores. Senti a falta de vocês.
We Started Nothing
The Ting Tings
We Started Nothing (2008)
3 comentários:
escrever um livro...
sinceramente acho que se você escrevece um livro faria o maior SUUUUUUUUUUUUUUUUCEEESSOO!!
seria a primeira a comprar :DD
gosto mais quando você é ironico :E
tenho a leve impreção que essa história é baseada em fatos reais :x
hehe ;**
Ah, maninho! Que saudades dos seus textos. Ler o seu subnick hoje me fez tão, mas tão feliz :D Sobre o texto, tão divertido quanto o autor.
E, bom, dizem que o escritor sempre , ou na maioria das vezes, escreve (!!!) aconcimentos vividos por ele. Espero que esse zero a zero não seja um relato de sua vida :P
Um beijo, querido.
Já não era sem tempo, Rafa.
Três séculos pra eu voltar a dar risada com um texto bem elaborado e criativo (como todos os que você escreve).
Fico feliz que tenha voltado a ativa, meu bom. E se você demorar pra escrever de novo, vamos multilar seu corpo e deixar apenas o cérebro e o braço esquerdo, pra você não poder fazer nada, além de escrever.
:D
Tô feliz, Rafa. Volte sempre, ok?
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