sábado, 23 de junho de 2007

Cantigas Macabras para Crianças

Ahoy! Olha o meu blog com um texto novíssimo para vocês se deleitarem! Hip! Hip! Hooray!

Aliás, antes de tudo, eu acho justo pedir aos senhores desculpas. Eu, naturalmente, tinha planos para atualizar minha pocilga mais cedo, mas houve uma aglutinação de afazeres na minha agenda, recentemente, então estive meio ausente da internet. Alguns de vocês poderão até me dizer que nem tem me visto online, não é mesmo? Siiim, quem diria, o Rafael apavorado com provas... Na verdade, estou bastante relaxado, mas eu preciso saber o que que vai cair nas provas, de modo que é meio interessante dar uma olhada nas matérias com maior freqüencia. Além do mais... Na verdade, não há "além do mais", então eu termino o parágrafo.

Muito bem! Fiquei feliz por vocês terem gostado do texto passado. Eu achei que ele era muito grande e vocês fossem ficar desinteressados. Daí que olhando os comentários, achei interessante como alguns foram tocados pelo seu lado criança. Então, pensando nisso e tentando expandir os horizontes do meu periódico, decidi falar um pouco mais sobre a boa época em que éramos catarrentos, fazíamos xixi na piscina, tomávamos Yakult e fazíamos outras boas coisas de crianças. Infância, a bela infância.

A Bela Infância
Cantigas Macabras para Crianças

Se você não era uma criança avessa às diversões, era uma criança relativamente comum, como eu e as outras crianças relativamente comuns que andam por aí. Bons tempos aqueles, não? Podíamos ser crianças sem que todos olhassem para nós como se fôssemos retardados - eu sou tratado assim quase que diariamente. :D
Crianças relativamente comuns eram freqüentemente ensinadas pelos adultos a se comportarem porque, afinal de contas, humanos adultos são velhos e vivem sem energia, preferem ficar naquele reumatismo marásmico de sempre. Então eles tentavam ensinar maneiras a nós, hooligans, para que nos comportássemos. Como, me indagas? Uma das principais armas era a musiquinha! Coloque um bando de demoninhos destruidores em uma sala, e quando eles estiverem a ponto de entrarem no que os físicos chamam de "estado de caos", comece a induzir os monstrengos a cantar aquelas musiquinhas de sempre. "Atirei o pau no gato", "o pão da casa do João", entre uma infinidade de pequenas cantigas. Agora, vocês sabem qual o teor por trás de cada música? Na verdade, vocês nunca pararam pra pensar, não é mesmo? Mas, ho, é pra isso que estou aqui. Para pensar em bobagens que poucos pensam. A diferença é que quem costuma pensar nessas coisas está sendo pago por alguém. Eu não \o/

Quando você é um pequeno toquinho, sua mamãe tentava calentar sua alma com músicas para ninar. Algumas não pensavam muito, e colocavam o nenê para dormir ao som de Mozart ou Beethoven, em suas composições mais calmas. Minha mãe, por exemplo, era joselita assim. Outras mães são doentes, e colocam o bebê para relaxar ao som de heavy metal. Não estou menosprezando o estilo musical, mas fazer um bebê relaxar com heavy metal... Bem, cada um com seus pobremas.
Agora, existem mamães que estão entre os extremos, e ensinam os bebês cantiguinhas simples. "Boi, boi, boi", começa a musiquinha do boi da cara preta, que leva as crianças com medo de careta. Eu, pessoalmente, acho muito esquisito botar uma criança pra ninar falando pra ela que ela será levada por um boi da cara preta se ela tiver medo de careta. Música legalzona, né? Se a intenção é acalmar o rebento, talvez o compositor não tinha uma idéia muito boa de "calma".
Igualmente interessante é a idéia da Cuca que vem pegar. O bebê, deixado em casa pelos seus pais - "mamãe foi pra roça, papai foi trabalhar", ou variantes próximas - deverá dormir, senão a Cuca irá pegá-lo. Ééé, agora, sim, o bebê dormirá tranqüilo. Pais espertões. ¬¬

Depois de seus anos de fraldas sujas, você eventualmente passa para a infância, onde vai para a escolinhas e se torna, mais ou menos, uma criança relativamente normal. Aqui temos mais músicas interessantes, que, em vez de promover a cidadania e o entendimento geral entre os povos, apenas promulga preconceito e ódio entre os nanicos. Vejamos, por exemplo, a música do pão na casa do João. Pão, como os senhores bem sabem, é alimento elementar na composição nutricional do nosso varonil Brasil. O pão não é exatamente barato, já que o trigo é um insumo importado, e é tributado para que o Governo estimule a produção interna. Só que não funciona, e o pãozinho, por exemplo, é feito de trigo europeu ou americano, não importa. Você pode não achar o pão tão absurdamente caro, mas você compra o pão todo dia, e com esses preços galopantes, fica difícil manter o consumo! É possível então que, ao roubar o pão da casa do João, sabidamente um menino metido a besta que adora esbanjar seus bens, o culpado estivesse somente passando fome. E os adultos nos ensinam essas cantigas, para que nós sejamos dedo-duros com um amigo que está em dificuldades financeiras. Como são desalmados...
"Ciranda cirandinha", por sua vez, tem um teor bastante depressivo. Notem que após do "volta e meia vamos dar", começa um festival de versos depressivos: "o anel que tu me destes/era vidro e se quebrou", por exemplo, mostra como o presenteador estava sem condições de dar um anel decente, ao que deu um anel de vidro. O anel quebrou-se por sua fragilidade e precariedade; "o amor que tu me tinhas/era pouco e se acabou" denota uma situação constrangedora, em que o amado reclama não ser mais amado, já que o amor acabou. Lembro-me aqui da música do Blitz, "Você Não Soube me Amar". Clássico da Música Populá Tupiniquim.
E nem preciso mencionar a virulência de "Atirei o pau no gato". Uma criança arteira que ataca um felino isento de culpa, e que reclama pelo fato da Dona Chica, a velhinha simpática, admirar-se pelo desesperado miado do gato. A música, hit nos sucessos infantis, trazendo tanta violência gratuita. E o Governo Federal, sabichões que são, querem impedir a vendagem de Grand Theft Auto, jogo inofensivo de video-game onde você é um ladrão que sai fazendo barbeiragens. Qual a diferença entre ser um ladrão e ser um hooligan que ataca gatos? É que no segundo você está atacando humanos, que merecem ser atacados :B

Crescemos, e com a gente as músicas também crescem. Às portas da adolescência, novas músicas nos são introduzidas como, por exemplo, nas viagens de excursões, que já discutimos. Uma das que me lembro agora é "A Velha a Fiar". Na música, uma pobre idosa, distraindo-se emsua diversão, passa a ser incomodamente incomodada por um inseto que, por sua vez, é incomodado por um aracnídeo, que será incomodado por um singelo rato, e assim em uma cadeia de ódio e desentendimento que tende ao infinito. Ou até que morramos. Que macabro.
Outra que me vem à cabeça, e que foi boa parte do motivo de eu ter iniciado este texto, é a interessante música da barata. Cantam os corações solitários que "ninguém me ama/ninguém me quer". Abandonados, deixados à margem de uma sociedade hedonista e antropocentrista, os deslocados são sumariamente removidos do centro social, deixados para os abutres e corvos os consumirem. Mas alguns decidem tomar uma atitude, macabra, porém positiva! "por isso vou comer barata", termina a primeira estrofe. E vem a segunda estrofe "barata frita/barata assada/sopa de barata". Estes renegados encontram a pequena felicidade deles em um ritual insetófago, regado a requintes de tortura. Mas, heck, eles estão se divertindo! Estão encontrando a diversão deles!

Enfim, a gente tem uma seleção musical meio muito esquisita, não acham? Músicas que incitam a violência, o descaso, o preconceito... Depois tentam consertar a nação, e se perguntam o que deu de errado. Pensando assim, é até fácil entender porque certas músicas fazem sucesso entre as crianças, não é mesmo? Com um histórico cultural tão entortado, a gente gosta de qualquer coisa que tocarem, não faz sentido? E as nossas crianças, pobrezinhas, ficam meio seqüeladas. Prepotentes, arrogantes... Depois, viram deputados estaduais e ninguém sabe o motivo.
Acho que o negócio era ensinar as músicas do Chaves, mesmo. "Que bonita sua roupa" e "Os astronautas vão pelo céu" podem se tornar folclore nacional facilmente, não acham? E vai dar melhor instrução para as crianças. Quiçá elas até aprendem a cantar em castelhano original!

Pensem nisso então, viajantes. E cuidado com as musiquinhas que vão ensinar para seus filhos. Se vocês ficarem com qualquer dúvida se a música é perigosa ou não, só cantem "Parabéns a Você". Livre de perigos e de gorduras trans, essa. Eu agarantcho!

Ouvindo:
Girls and Boys
Blur
Parklife (1994)

domingo, 17 de junho de 2007

Abominável Gosto Musical Antigo

Mais uma ótima noite de domingo pra vocês, pessoas! Feliz semana para vocês! Maravilha estar de bom-humor ^^

Aproveitando o bom-humor e a vontade de nada fazer, volto ao trabalho, para colocar algo de interessante aqui no blog. No tópico de hoje, um tema que nasceu em uma conversa entre a minha pessoa e a pessoa de Ana Luiza, a Aninha. Além de amável, ela também é simpática, e tem essa tendência a falar bobagens online com pessoas, digamos, como eu. Daí que saem as histórias... :D

Meu Passado Me Condena
Abominável Gosto Musical Antigo

Eu deduzo que hoje os nobres senhores aqui visitantes tenham aquilo que definem "um bom gosto musical". É claro que gosto é que nem as nádegas: cada um tem o seu e ninguém mexe. Mas a gente tem um, digamos, gosto agregado, um consenso geral sobre o que a sociedade define ser "bom gosto" e "mau gosto". Definir o que é "bom gosto" é bastante difícil - depende do que você gosta de ouvir, se as pessoas que gostam de ouvir são compatíveis socialmente com você, se a ralé e a elite financeira ouvem também, se tem conteúdo cultural ou não, se tem fundo criativo e inteligente... ou se, simplesmente, todo mundo gosta. Eu poderia dizer que "Parabéns a Você" é uma música que é simples, não tem lá muita profundidade, um bom arranjo ou um bom cantor. Mas todo mundo gosta, certo? Mas, sei lá, você não diz que ouve Parabéns a Você, nem baixa para ouvir no seu computador. Então é possível que eu tenha pego um exemplo infeliz, de modo que vou desistir da idéia.
Agora, definir o "mau gosto" é razoavelmente mais fácil. É o ritmo musical que por mais que você goste, você sabe que tem tanta qualidade musical quanto um rádio-relógio paraguaio. Rádios-relógios paraguaios até funcionam, vejam bem, mas não tem como você dizer que ele é bom, né? Então. É a típica música ruim, que atrai alguns ouvintes mas, oh, well, boa parte de nós prefere simplesmente que Deus aja de algum lugar e faça alguma coisa.
Acontece, jovem padawan, que você não ouve as músicas que você ouve hoje desde que nasceu. Eu concordo que é possível que você ouça Beatles desde que você era um espivetado espermatozóide, mas essa possibilidade é um tanto remota, então eu vou considerar que houve um dia em que você foi apresentado ao rock. Como eu. Antes disso, entretanto, as trevas.

Muitos de vocês aqui nasceram aproximadamente ao fim da década de 1980, ou aos primeiros anos da década de 1990. Então, nos primeiros anos de suas simpáticas vidas vocês passaram por terríveis anos de provação. Como eu ignoro a infância de vocês com detalhes, eu vou basear meu conto na única infância que conheço com exaustão - a minha.
Quando eu era jovenzinho, e morava na perifa paulistana (ainda moro, aliás), tocavam muitas músicas nacionais nas principais rádios paulistanas. Muitos ouviam pagode, outros ouviam sertanejo, outros ouviam música brega. Nada de diferente do que é hoje, é claro, mas quando eu era criança, eu não tinha parâmetros do resto do mundo. Quero dizer, eu só ouvia as músicas que tocavam nas rádios que eu ouvia, então você meio que acha que é só aquilo que há para ouvir. E eu vivia assim, entre meus cinco e meus doze anos, ouvindo Zezé di Camargo e Luciano, Leonardo, Chitãozinho e Xororó, mas ouvindo também Karametade, Katinguelê, e me recuso a buscar outros nomes de bandas de pagode. Como falou-me uma amiga minha recentemente, era uma época em que tocava tanto pagode nas rádios que por mais que você espumasse ao ouvir, você sabia algumas letras. E como eu era criança e vulnerável, eu achava aquilo bom, e ouvia, sem dor no coração. Como crianças são ingênuas.
Eu acredito que seja, aliás, o problema que faz as crianças terem um gosto musical tão horrível nos nossos áureos dias de hoje. Essa turminha de estatura reduzida ouve RBD, e Kelly Key, e, I dunno, outras "bandas" e "músicas" do mesmo naipe, e elas cantam e dizem que gostam. Não têm parâmetros necessários para definir a boa música, então convivem com o que tem, certo? Coitadas.
De tempos em tempos, entretanto, o gosto musical dessa sociedade costuma alterar levemente, e as rádios tocam as músicas de acordo. Eu imagino que o que aconteça é que as novelas da Globo escolhem algumas músicas para colocar como trilha sonora de suas novelas, e as músicas acabam virando sucesso, seguidas depois de músicas parecidas. É, a Globo é o senhor feudal mais poderoso do país, é no mínimo justo que eles possam ditar a cultura da população, vocês não acham? Quer dizer, a Globo cuida da gente melhor do que o nosso Governo! Pra dar ênfase à minha visão, lembro-me daqui do projeto que o SPTV (noticiário daqui da urbe paulistana) está a conduzir, buscando postos de combustível que vendem gasolina adulterada. A função que deveria ser da Prefeitura sendo conduzida pela Globo, a Imperatriz da nossa República.

Voltando a cultura musical: eu não sei o que aconteceu, mas em algum ano da metade da década de 1990 inventaram o Axé. Invenção de alguma universidade baiana, desembarcou na nobre capital paulistana com impressionante facilidade. É possível que seja porque São Paulo é a cidade com o maior número de baianos fora da própria Bahia, mas é só uma especulação. Seja lá como for, eu via o axé fazendo estrondoso sucesso em festas e rádios e programas. E todas aquelas meninas de dez anos dançando e rebolando escandalosamente suas bundas, e as mães orgulhosas daquele espetáculo sodomita.
Eu acho que já é possível notar que eu passava a adquirir aqui um viés de consciência. Eu finalmente descobri que eu não gostava daquilo. Não via a menor graça em músicas vazias e mulheres dançando com calças coladinhas. Vejam bem, eu nem 10 anos tinha ainda, entendia pouca coisa sobre essa história de conotação sexual pesada. É, eu sei, eu era um cdfzinho chato, mas como eu disse, eu só tenho a minha infância de parâmetro.

Eu lembro também que foi em torno desta mesma época que o gênero boy band americano veio à tona nas nossas indefesas rádios brasileiras. Bandas cujos nomes eu também considero impronunciáveis viraram febre como pipoca na nossa sociedade. E as mocinhas, já vitimadas do espetáculo pecaminoso e denegridor do axé, passavam em mesmo tom a gostar daqueles menininhos americanos com cara de riquinhos de Beverly Hills, que cantavam melosas músicas, com dancinhas ridículas e com caras de gostosões de filme B. Nossas colegas femininas, é natural, babaaaavam por eles. A indústria gráfica lucrava horrores com vendas de pôsteres e revistas e double-pôsteres e tudo o mais que vocês possam imaginar - ou lembrar.
Eu não quero ser injusto, também. Eu quero deixar claro que acho perfeitamente normal meninas gostarem de menininhos com cara de anjinho cantando musiquinhas melosas porque, oras, é o que as menininhas românticas esperam do mundo, não é mesmo? Acho natural. Mas eu, particularmente, abominava. Era terrível agüentar nossas amigas quando elas começavam a falar destas boy bands... Mas paciência, não?

Seja lá como for, pra onde eu olhava eu não via saída. "Oh, Deus", clamava eu, para as nuvens de uma sexta-feira de lua cheia "onde está sua Onipotente Presença, que tudo pode? Que tudo vê? Por que, Deus oh Deus, me abandonaste, à mercê destas vis criaturas?". Foi um tempo de terrível provação. Jogado entre as valas da sociedade marginalizada pela cultura massacrante da massa, sentia-me um ser sem alma. Eu deduzo que muitos quase-adolescentes passem por esta auto-indagação, não? É aí que vem esse momento de ruptura. E essas outras palavras que os adultos adoram usar para tentar entender os adolescentes de hoje. Quanta pretensão...
Eu, é claro, tinha contato leve com um pouco do mundo exterior. Minha mãe, sobrevivente da excelente era 1970, conhecia um bucado da era Disco, e de alguns pop/rocks que hoje são considerados antigos, como o Elton John, e outros nomes que ouvimos na Rádio Alpha FM, que já foi mencionada aqui, aliás. Mas, não sei... Me faltava algo...

Foi por volta de 1996/1997 que eu tive os primeiros contatos com o rock desta geração mencionada. Conheci por estas épocas o Skank e os Titãs. Boas bandas, aliás. Mas o meu irmão mais velho, que havia me apresentado, ouvia também muita música eletrônica - música barulhenta sem qualquer sentido lógico - e eu acabei conectando, por um bom tempo, uma coisa à outra. Foi só no fim do glorioso século XX que eu vim a conhecer Gorillaz. Munido de suficiente conhecimento em Inglês, eu passei a gostar de algumas músicas da banda, e passei a ouvir as rádios em que eles tocavam. E, como uma corda que você acha uma ponta e vai puxando o resto, eu descobri o pop/rock: o U2, o Sugar Ray, o Oasis e o Blur, o Offspring, o Santana... Enfim, comecei, ali, a ver como o mundo era grande. Havia, um Deus, afinal! Ele não havia me abandonado!
Desde então, tenho aprendido um pouco mais sobre o mundo da música que havia perdido enquanto estava sob um sono de doze anos. Os anos 80, os anos 90, as bandas americanas e inglesas, o rock brasileiro de qualidade... Não só havia luz no final do túnel - havia um maravilhoso sol de domingo! Eu fui salvo!!! Aleluia!!!

Retornando ao meu discurso inicial: o conceito de "bom gosto" depende muito. Varia muito. Eu acho que bom gosto é uma boa banda, que tem um ritmo gostoso, uma letra gostosa e animada e uma aplicação cerebral considerável em suas composições. Outros acham que bom gosto é um deus da guitarra que toca o caralho a quatro em seu instrumento, e outros acham que bom gosto não é nada disso, é algo completamente diferente. Mas, como eu falei, "mau gosto" é um conjunto muito mais definido. É tudo aquilo que você houve em um dia de lucidez e fica deprimido por saber que tal disparate existe. Tente, por exemplo, entrar em um ônibus que está tocando uma música do Belo, aquele pagodeiro fracassado. Pelo amor de Deus, é terrível. A voz daquele cara me dá náuseas. A música dele me deixa de estômago embrulhado. Aquilo é um mau gosto terrível, não importa o seu ponto de vista.
Mas vocês, em algum ponto da vida de vocês - a não ser, como eu lembrei lá atrás, se você ouve Beatles desde antes de ser alguém - passou por mudanças de gostos. Talvez leves, talvez profundas, talvez radicais. Um pagodeiro que virou metaleiro, sabe? Já ouvi lendas do tipo. O negócio é que as coisas mudam. O que é febre hoje se torna abominável amanhã. Ou talvez não, talvez amanhã eles arranjem algo ainda mais abominável do que o que temos hoje, e aí ficaremos com saudades da era passada. Porque, vamos combinar, eu podia odiar profundamente Backstreet Boys, mas com certeeeeeza eles são preferíveis ao RBD. Eu só espero que, quem sabe um dia, surja algum investidor maluco que ache que o Brasil é um país digno de investimento, e eles montem aqui algumas estações de rádio que toquem boas músicas para o povo. E ensinem o povo a tocar boas músicas, também. Enquanto isso, a gente tem que ficar esperando as migalhas da cultura euro-americana, né? Pobres de nós, países do terceiro mundo. Sempre orgulhosos de nós mesmos, mas sempre invejosos dos outros. A vida é uma boa bisca, mesmo. =)

Depois de um blocão de texto como o de hoje, eu desligo-me! Ah, mas não antes de dizer: obrigado pelos elogios de vocês, pessoas. Eu gosto pra caramba quando recebo um comentário sobre meu blog. Me deixa confiante sobre ele. Meu blog não seria nem metade do que é se não fosse por vocês que vêm aqui ler porque, afinal, qual é a graça de escrever para ninguém? Nenhuma, eu acho. Então continuem vindo e lendo, praí eu continuar escrevendo, sabe? Obrigado mais uma vez. ^^

Ouvindo:
Put it Behind You
Keane
Under the Iron Sea (2006)

quinta-feira, 14 de junho de 2007

O Dia em que Vendi Minha Alma

Boa noite, crianças! Hoje eu estou orgulhoso de anunciar que estou postando, pela primeira vez, da minha faculdade!! Aê!! Antes que vocês pensem: "que horrível, o Rafael matando aula pra entrar na net", explico-lhes que não tenho a minha segunda aula, de modo que estou razoavelmente livre para ir para onde eu bem entender. E isso inclui o meu blog e a página de postagens dele, não? Claro que sim.
Muito bem. Diretamente do Centro Acadêmico Visconde de Cairu da FEA-USP, o post #36, caso você esteja a acompanhar a contagem de posts. Vamo lá, macacada!

Contos do Cotidiano
VI - O Dia em que Vendi Minha Alma
Eu estava olhando para ele. Magnânimo, imperioso, chamativo. Ainda lembro bem quando eu o vi pela primeira vez e ele fez a proposta indecente. "Venda-me sua alma", ele me disse. Eu achei um abuso, é claro. Nem te conheço, nem sei quem você é, e vou sair vendendo minha alma pra você? Mas eu pesquisei, me informei, fiquei a par de coisas. Vi o que ele poderia me dar em troca da minha alma e, ah well, fui convencido por mim mesmo.
"Faço-me presente, então", falei a ele. "Disposto a negociar".
"Você decidiu aceitar a minha proposta, então", ele respondeu. Com um tom que beirava a indiferença. Como se ele dissesse que a minha decisão não faria a menor diferença pra ele.
"Não a aceitei, ainda. Me convenci, mas não o suficiente, entende? Como posso saber o que você poderá fazer por mim? Quer dizer - estou te vendendo a minha alma! Não é qualquer coisa!"
"Você sabe, sim, o que eu posso fazer se você aceitar, criança. Eu posso fazer qualquer coisa. Qualquer coisa", ele disse, reforçando o termo e rindo soberanamente pra mim. "Posso te dar o que quiser, oras. O que você quer?"
Eu olhei pra ele, desconfiado. E não respondi. Na verdade, perguntei "E como você pode fazer isso?"
"Ah, pare de perguntar miudezas. Eu simplesmente posso. São coisas demais para explicar de uma vez só. Mas, ah, eu não sei, posso te fazer herói, posso te fazer rico, te fazer famoso com as mulheres, posso te fazer general de guerra, piloto de uma aeronave. Essas coisas que as pessoas costumam gostar de ser, sabe?"
Não sei se estava disfarçando bem, mas eu estava quase explodindo de alegria. No fundo no fundo, era tudo o que eu queria ouvir. Que eu estava vendendo a minha alma por algo que valesse a pena. Ele continuou.
"Você só tem, é claro, que dar a sua alma para mim".
"E eu levo uma vida normal?"
"Tão normal quanto você desejar"
"Eu estudo, faço amigos, fico feliz, fico triste, vou trabalhar, vou namorar... tudo normalmente?"
"Ahhn... Veja bem, tudo isto está englobado no pacote 'alma'. Então eu acho queee... não. Mas será que você vai sentir mesmo falta de tudo isso sendo Imperador do país que você escolher?"
Estava em dúvida. Mas sabe quando você está em dúvida mas já sabe que vai dizer sim? Eu esperava que viesse algo que me dissesse que eu estava errado. Mas no fundo, lá no fundo, era isso mesmo que eu queria. Respirei fundo.
"É, talvez você tenha razão. Não sentirei falta de nada disso quando eu for o que eu quiser ser."
"É essa a atitude! Viu como não é difícil? Não tem como você se arrepender." E sorriu. "E então? Temos um acordo?"

- Muito bem, senhorita. Temos um acordo. R$1038,00. Vou pagar no cartão.
- Ótimo. Tome a nota fiscal. E parabéns pelo seu mais novo PlayStation 2! Garanto que você não vai se arrepender.
- Espero do fundo da minha alma que não, senhorita. Muito obrigado.

Vinte e um de dezembro de 2004: o dia em que vendi minha alma. ^^
Boa noite, pessoas! Espero vocês no próximo episódio!

Post levemente inspirado no texto da Gabriela, a Bié, "Fila". Que a Bié atualize o blog dela mais freqüentemente. ^^

Ouvindo:
Knights of Cydonia
Muse
Black Holes and Revelations (2006)

domingo, 10 de junho de 2007

Discromatopsia

Bom-dia, pessoal!! Mais um ensolarado domingo de sol e de alegria pra nós, não? Pois é, nada como um feriado com muito sol e uma temperatura amena para que ninguém faça nenhuma obrigação que tinha prevista. Eu, por exemplo, furei três obrigações minhas. Viva a procrastinação!

Mas tem uma coisa que eu não posso esquecer-me. Nããão senhor, eu não posso procrastinar a atualização do meu blog. Quer dizer - na verdade, eu posso. Mas uma hora eu tenho que atualizar aqui, né? Senão ninguém visita.

Agora vejam vocês - eu tive uma simpática idéia para atualizar meu blog. Mas foquei tão fortemente neste treco de procrastinação que esqueci do que iria falar. E não adianta, não vou conseguir puxar de novo. Então vamos improvisar. Tive uma idéia.

DISCROMATOPSIA
Explicação (Não Tão) Prática sobre Problemas com Cores

Uma vez, quando eu era jovem, eu tinha um blog. Não este, evidentemente, porque este é relativamente novo. Era O Mal do Século, blog que eu já mencionei aqui às toneladas. Em uma das minhas primeiras postagens lá - na verdade, a segunda postagem - falei, de uma maneira realmente torta, da minha visão pessoal sobre o Daltonismo. Manja, aquela doença que dá que as pessoas confundem cores? Então. Era um texto engraçadinho, aquele.
Daí, a minha teoria caiu por terra quando, vejam vocês, eu fui atrás deste, ahn, sintoma. Ou deficiência, sei lá. Seja lá como for, eu fui atrás pra descobrir como funciona. E como isso faz parte da zona de culturas inúteis para a grande parte da população mundial, eu achei digno de colocar isso aqui. Até porque eu preciso postar algo no Inominativo, não é mesmo?
Vamos lá - quando você enxerga, seu olho percebe as luzes que entram nele. E a luz, vocês sabem deeeesde que são pitoquinhos, é branca porque tem um monte de cores dentro dela. Manja a história da luz do Sol se dividindo no arco-íris? VLAVAAV, diria Beakman. É assim mesmo. Daí que o nosso olho consegue perceber três grandes faixas de cores de luz: o azul, o vermelho, o verde. Todas as cores que você capta é, na verdade, uma mistura dos três tons, em maior ou menor grau. Se você já mexeu um pouco com um editor de imagens, como o Paint, ou com HTML, sabe do que eu estou falando. O amarelo, por exemplo, é uma mistura da luz vermelha e da luz verde. Simples, né? Tão simples que a tecnologia de televisores e de monitores baseada em tubos de raios ionizados é, na verdade, baseada nesta nossa propriedade. Cada quadradinho da TV ou do monitor tem 3 células. E elas brilham conforme a cor deve ser mostrada.
O seu olho enxerga, então, somente três cores. Mas as cores são vistas simultaneamente, de modo que as cores se misturam e você percebe as multiquaquilhares de cores que existem por aí. Agora, pergunto: o que acontece quando uma das células não funciona, e uma das cores não é notada? É exatamente aqui que entra o problema de um discromatóptico - ou daltônico. Ele tem um erro na formação dos cones (o nome das células que enxergam o vermelho ou o verde ou o azul), e um dos tipos de cones não funciona - ou, pior ainda, dois ou três. E aí, a pateta não faz a função dela de enxergar a sua luz respectiva. E quando uma cor qualquer chega no olho de um daltônico, ele não percebe um dos pedaços da cor, e se confunde com outra cor!
Vamos pegar como exemplo um tipo comum de daltônico - o cara que não trabalha bem com o cone verde. No exemplo do amarelo que dei lá em cima, por exemplo, o cara poderia confundir o amarelo com um tom mais alaranjado, por que ele não reconhece o verde, entende? E aí, então, eles podem confundir algumas cores.
É essa a verdade por trás de um daltônico, amigos. A deficiência de enxergar uma das cores faz com que outras quilhões de cores deixem de ser vistas, e o verde escuro pode ser facilmente confundido com o marrom, entende? O amarelo e o verde também podem ser misturados. Se você tiver um monitor mais novo, pode configurá-lo para que ele mostre somente duas das três cores principais. Você pode, por exemplo, desativar o verde, pra saber do que estou falando. O que era verde fica com um tom meio amarronzado.
Agora, por que estou falando tudo isso? Bom, porque um oftalmologista, nesta terça-feira, corroborou o que eu desconfiava há algum tempo - eu sou daltônico! Aê! Tenho problema para distinguir uma gama de cores simpáticas! Não é amável? Mas eu vou tranqüilizar os senhores: eu não vou morrer, nem vou ficar inválido em casa jogando video-game o resto da vida. Eu tenho uma deficiência levíssima. Tão leve que eu sei distinguir a maioria das cores importantes. Mas algumas coisas mais sutis eu não consigo fazer. Cool, huh?

A título de informação:
Monocromacia - é quando o ser não enxerga cor nenhuma. Tudo pra ele é uma grande imagem em P&B. Ele só enxerga o preto, o branco e os diversos tons intermediários. Cor? O que é cor?
Dicromacia - é o cara que não enxerga uma das três cores. Ele tem o problema que eu expliquei em cima, e o verde ou o vermelho ou o azul simplesmente não existem pra ele. Coitado.
Tricomacia anômala - é o infeliz que nem eu, que tem as três cores funcionando, mas uma delas não funciona bem, e não pega todos os tons. O meu caso é de deuteranomalia: eu tenho um ligeiro problema com as células verdes, e os tons verdes ficam muito próximos dos tons vermelhos. E eu posso confundir um carro verde e achar que é marrom, se estiver muito escuro e ele passar muito rápido, e o verde for muito escuro, entende? Mas para todas as outras coisas, eu acho que consigo viver feliz. Jogar video-game, pagar minhas contas, comer pudins de coco, dar "Pedala, Robinho!". Tudo normalmente. =D

Tudo isso para contar para vocês que eu sou anômalo. Já não bastasse o fato de eu ser canhoto, de eu ser míope, de eu ser pobre, de eu ser brasileiro, eu também decidi ser daltônico. Aliás, será que eu posso aproveitar a minha situação deficiente e pedir cotas para daltônicos nas faculdades e nas empresas? Já que todo mundo pode abusar do Governo patet... eeeerm, bonzinho que temos, eu também quero!
Tudo explicado, post escrito, dispeço-me aqui de vocês. Mas, ah, não antes de lembrar que hoje a Karlinha, milhares de vezes mencionada aqui neste blog, grande amiga minha de longa data e assídua freqüentadora, está em seu aniversário!! Aê!! Feliz aniversário, Ka! Que a gente comemore seu aniversário aqui no meu blog por anos e anos e anos e anos...!! Dou-lhe dois beijões!!

Agora, sim, boa tarde pra vocês, crianças! Até a próxima. ^^

Ouvindo:
I Am Somebody
Santana feat. will.i.am
All that I Am (2005)

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Um Dia de Ônibus

Estou ficando acostumado a postar de madrugada, eu acho. Que infelicidade pra mim, prefiro mais ser aleatório. Pra se acostumar com as aulas de um certo professor soviét... eeeerm, russo que eu tenho.

Bem-vindo, pessoal! Alô, você! Dia de reviver o meu cantinho preferido da internet! Será que meu blog é mesmo meu cantinho preferido da internet, eu me pergunto? Não sei, eu faço uma enquete mais tarde.
Falando em enquete, aliás, eu lembrei que no meu outro blog eu tinha feito um quiz. Daqueles sites bobos cujos criadores não tinham nada pra fazer e fundam sites babacas na internet, sabe? Então, e eu fiz e postei lá. Eu tinha gostado daquele quiz, ficou simpático. É possível, em um espasmo de humor e vontade, eu fazer outro. Quem sabe?

Muito bem - postagem de hoje a caminho. Preparem-se!

Um Dia de Ônibus

Como eu já deixei exaustivamente explícito nos quilômetros de textos escritos por mim antes deste, eu sou um pobre rapaz. Não tenho muitas reservas financeiras para queimar com traquitanas nipônicas nem com trecos que nerds da Califórnia inventam. E também não tenho dinheiro para comprar uma mansão em algum lugar perto da Paulista ou com um sistema de transporte eficiente - digamos, o metrô. Já diria Dinho, dos Mamonas, "eu queria um apartamento no Guarujá, mas o melhor que consegui foi um barraco em Itaquá". Então, a vida vai andando assim. Apesar de eu não saber onde fica o Itaquá. Mas beleza, eu sobreviverei sem isso.
Muito bem, uma vez que não tenho a sorte de ser contemplado pelo Homem do Microfone Chumbado (vocês também o conhecem como Sílvio Santos) com alguns milhões de reais, encostei-me, como herança genética de família, em um lugar qualquer no meio do Limbo, na perifa paulistana. Na verdade, Limbo não. Limpo. Campo Limpo.
Quando você mora no bairro do Campo Limpo, quer ir para algum lugar e não tem lá essas técnicas avançadas de auto-locomoção a combustão fóssil (carro), tem que se virar com o glorioso sistema de transporte público urbano paulistano que, sabidamente, é um dos melhores do planeta. E se você não notou, agora estou sendo irônico.
Muito bem, lá está o Rafael em um ponto de ônibus. Primeira coisa a se notar sobre pontos de ônibus - o seu ônibus não segue qualquer regra de probabilidade e de rotina. Se você precisa dele mesmo mesmo mesmo, ele não vai passar. Ou, o meu preferido, você chegará ao ponto apenas para ver o ônibus arrancando ao longe, só pra que você saiba que vai ter de esperar o máximo de tempo possível até o próximo comboio. Aliás, comboio é como os tugas chamam os ônibus. E se você não precisa do seu ônibus, bem... ele também não vai passar. Ele só vai passar quando você realmente não quer ir para tal lugar. Visitar alguma tia chata, por exemplo.
Agora, por outro ponto de vista, pode até ser que o seu ônibus seja um daqueles que passe a cinco minutos. Mas é daqueles que vem tão lotado, mas tão lotado que um pum a mais e o ônibus vira do avesso que nem pipoca. E você vê chegar um ônibus mas, bem, esse não cabe mais ninguém, esperemos o próximo. E lá vem o próximo que... é, também não serve, está muito cheio ainda. E o próximo... Está lotado, não cabe. Não sei qual das opções seria pior.
Agora, bem, suponhamos que você, simpático protagonista da nossa história de hoje, suba em um ônibus. Sim! O triunfante momento em que você reconhece, ao longe, o letreiro que você tão ansiosamente aguardou ver. Dá sinal que nem uma torcedora frenética atrás de um jogador de futebol bonitão - ou não, o problema é seu. O importante é ser notado. Claro, porque senão pode acontecer do motorista ignorar sua suja e patética existência e passar por você. E você fica lá, com cara de indignado e tendo a impressão de que todos estão rindo de você. Azar.
Mas estávamos em uma parte feliz! O ônibus freou na sua frente e você embarca nele. Novamente, existem embarques e embarques. Existe o ônibus que pára no ponto em que você é o único ocupante, e ao entrar no veículo você é, praticamente, o único passageiro da história da linha. Ou há, também, os ônibus que chegam lotados em pontos lotados, e você mais 15 mil pessoas começam a guerrear para entrar no ônibus a qualquer custo e pegar um lugar legalzinho perto de algum lugar segurável para não cair nas curvas. Talvez pra você sobre ainda um espaço para bus surfing, mas eu não aposto.
Tiremos uma média das duas situações extremas. Lá está vossa senhoria, o passageiro. Agora vai começar para você uma loteria. Pode ser que você pegue um agradável veículo com bancos agradáveis, pessoas bonitas e simpáticas, uma agradável musiquinha de fundo ou, ainda melhor, sem musiquinha de fundo. Ou pode ser que você pegue uma perua sem-vergonha, que parece uma lata de sardinhas japonesas, tocando uma rádio evangélica e cheio de gente feia.
Aqui cabe explicação - gente feia não é gente sem apelo sexual. Gente feia é quem se veste mal, quem não se cuida, quem quer ser pobre chique... enfim, quer fazer do ridículo o belo. E gente bonita, analogamente, não é quem tem forte apelo sexual. Mas que se veste bem, que se cuida, que se senta direito, sem precisar ocupar os dois bancos do ônibus... Beleza pessoal nada tem a ver com perfeição física, estamos entendidos? Ótimo.
Dizia eu que você está lá, no ônibus que, supusemos, está semi-lotado. Você vai em pé, mesmo, não dói nada. E daí você pega alguns maus bocados com as pessoas tentando atravessar o corredor para desembarcar e, no meio do caminho, se esfregando em você. Imagino que para as damas esse esfrega-esfrega deva ser ainda mais indesejável, mas eu só posso imaginar. Até que vem a famosa passageira de um metro de diâmetro. Que vai passando e levando todo o chassi do ônibus com ela, um verdadeiro furacão. E você, incauto e indefeso, tendo sua ossada redistribuída dentro do seu corpo enquanto a dama de um metro de diâmetro te esmaga, impiedosamente, contra qualquer lugar do ônibus. Que azar, hein, amigo?
Eis que você se senta. Ao lado do vovô que está com problemas para manter a dentadura dele parada, ou da moça com setecentas sacolas, ou da mocinha que decidiu sair de casa com os seios de fora, ou com o cara que tem ombros de 3 metros de largura e você não consegue sentar no mesmo banco dele. Enfim, está você lá, sentado. A parte feliz da viagem, eu diria, enquanto você não pegar ninguém que esteja cheirando mal, ouvindo música alta em um iPod muito potente ao lado ou que decida conversar com você sobre assuntos chatos. Você, agora, pode dormir, pode fazer cruzadinha, pode estudar, pode até segurar as Maxi Goiabinhas do tio que está vendendo dois por um real. Viu que legal? Nada como viajar de ônibus sentado. ^^
E, por fim, a hora do desembarque. Aqui cabe a prudência, naturalmente. Lembre-se de apertar o botão - ou puxar a cordinha, se você mora em uma zona tecnológica igual a minha - para avisar o condutor de que você quer saltar daquela banheira móvel. Ele não é vidente nem psíquico, ele não tem como saber que você quer descer. Avise-o, sob pena de voltar todo o caminho que você está fazendo a mais, só que a pé. Caso o ônibus esteja lotado, certifique-se de ficar próximo da porta de desembarque ou, se não der, ficar perto da fila de pessoas que irão desembarcar. Não hesite em perguntar pro casal que está se desentupindo no meio do ônibus se eles pretendem descer pois, como falei, a pena é alguns minutos a mais de caminhada para você, amigo.

Andar de ônibus pode até ser um evento interessante, eu confesso. Eu, particularmente, posso apreciar paisagens, ver pessoas, observar movimentos e, na maior parte das vezes, colocar o sono em dia. Mas, é, eu hei de me conformar: mais feliz é quem tem um carro. Não, melhor ainda: mais feliz é quem tem um helicóptero. Não, é difícil estacionar um destes. Bah, o melhor mesmo é não ir. Ficar em casa na internet é muito mais lucrativo. Ir pra quê, se você já sabe o que tem lá? :D

Aliás, este post ficou meio grande, né? Eu tomei a liberdade de deixar ele bastante livre. Fui adicionando comentários a medida que fui pensando neles. Algo de diferente, eu acho. Ou não, sei lá. Bah, espero que gostem, vocês que vêm ler. E até um feliz dia de Junho!

Ouvindo:
She Moves in Her Own Way
Kooks
Inside In/Inside Out (2006)

sexta-feira, 1 de junho de 2007

O Piadista

Olhaê a gente de novo! Boa noite, pessoal!
Ainda não sei se eu deveria continuar dizendo "boa noite". Quer dizer, tecnicamente falando, eu não sei a que horas vocês acessam aqui, certo? Ou melhor, até sei, mas só fico sabendo depois que vocês acessaram =D

Ah, seja lá como for - eu tenho que terminar isso rápido, quero acordar cedo amanhã. Get up offa that thing!

MANUAL MODERNO DO MANO METROPOLITANO
O Piadista

Rir, ditado antigo já profetizava, é o melhor remédio. Tá, tá legal, talvez não o melhor, mas um dos mais gostosos. Eu não sei explicações biológicas para a risada e, francamente, prefiro não saber, porque me contento em saber que sei rir. Agora, na minha humilde opinião, tão importante quanto rir é fazer rir. Claro, qual é a graça de se ser feliz sozinho? Se você, por exemplo, for demasiado feliz sozinho, as outras pessoas ficarão incomodadas. Qual é o ponto em ser feliz, então?
Pensando nisso, um grupo de sociólogos, filósofos, geólogos e nutricionistas da Antiga Grécia se reuniram e concluíram que a saída era, realmente, fazer a piada. Um prático instrumento em que o bom-humor pode ser transmitido, praticamente sem custos, para os outros, e esperar deles uma resposta bem-humorada de volta. "A doença contagiosa que vale a pena pegar!", diziam os slogans da época. Pois bem.
A prática da piada está bastante arraigada entre nós, humanóides. Acontece que, devido a falhas congênitas, problemas mentais, desastres naturais e problemas de retardados mal-amados, nem todos têm em mente algumas básicas idéias ao participar de um dos atos interpessoais mais antigos da humanidade, ao lado do pum no elevador e do "pedala, Robinho!". Como contar uma piada? Como ouvir uma piada? Adianto-lhes: é bastante simples.

Suponhamos que você, agradável leitor - aliás, agradeço pela sua atenção dispensada - esteja a fim de contar uma piada. Que piada contar? Qual usar? Qual não contar? Quando contar o quê?
Antes de mais nada, lembre-se de conhecer seus interlocutores. Você não vai até a torcida do Corinthians pra gritar "chuuuuupa, gambá!!", vai? Então, lembre-se de não contar de piadas de loiras se há alguma loira que fique ofendida, não conte piadas sujas entre damas (ou cavalheiros, sei lá) que fiquem enojados... Enfim, dê ao público o que eles querem ouvir. Conte piadinhas leves, piadinhas toscas, anedotinhas, coisas infames, fabrique piadas. O importante é fazer o cara rir.
Só seja tosco se a situação pedir. Pelo amor de Deus, não faça aquelas piadas ridículas que seus amigos de escola adoram na frente dos seus vizinhos, né? E, naturalmente, não espere que todo mundo venha a entender piadas mais eruditas. Na dúvida, mande a piada da última frase da banana suicida: "Macacos me mordam!". :D
Piadas foram feitas para serem engraçadas, não para serem estúpidas com os outros. Já basta todas aquelas piadinhas grosseiras e ofensivas que vemos nos filmes americanos, não acha? Então evite fazer piadas que ofendam, que rebaixem, que caçoem ou, de qualquer modo, que ataquem a imagem de uma pessoa, para a felicidade sua e de outros. Antes de mais nada, somos todos humanos. Pense que alguém pode estar falando mal da sua mãe, do seu pai. Você não iria gostar, iria? Eu não =)
E evite as Três Grandes Gafes do Piadista. Em alguns países, essas gafes podem ser o bastante para você ser condenado à cadeia. Quais são elas, meu Deus? Bem, tome nota.
Primeiro, nunca conte uma piada rindo. Eu sei que existem piadas realmente ótimas, e você não aguenta mais rir, e seu pulmão parece que vai sair, de tanto o esforço para respirar entre os risos. Mas se você quiser contar a piada, sente-se, conte até cinquenta - cem, se necessário - e verifique se você tem o controle restabelecido. Quando você começa a rir no meio da piada, você não só estraga seu desempenho, mas destrói metade do efeito-supresa embutido em uma piada. E pronto, você danificou uma parte considerável da sua piada. E falhou.
Segundo, não pare a piada no meio da narrativa. Se você quer contar uma piada, siga firme, siga direto, siga concreto. Piadas interrompidas, ainda que seja por algum motivo realmente digno de importância (digamos, um amigo seu o convidando para jogar truco imediatamente), se tornam desengraçadas, e à medida que o tempo do intervalo aumenta, mais graça ela perde. A graça decai exponencialmente se há bastantes interrupções na piada. Então, se te atrapalharam no meio de uma piadinha, mostre para esta pessoa que você a despreza terrivelmente por ela ter quebrado um ritual santo e sacro, e, se possível, reinicie sua piada. É possível que a terceira pessoa se interesse por ela também.
Finalmente, se você estiver com a periquita coçando para contar uma piada, tenha a plena e firme certeza de que você conhece o final da piada. Em nome de todas as 12 casas zodiacais, das 12 estrelas da União Européia, dos 12 testículos de Chuck Norris, não conte uma piada se você não se lembra do final dela. Antes de você começar a piada... não, antes de você cogitar a contar a piada, repasse-a mentalmente. Ela está inteira? Ela está engraçada? As pessoas que te interessam vão gostar da piada? Ótimo, cuspa-a.

Agora, não pense que não há indicações para quem ouve piadinhas. Sim, se você está prestes a ouvir uma piada, existem também considerações a serem feitas. Vamos a elas.
Como eu falei há pouco, piadas foram feitas para serem engraçadas. Então, quando existe um narrador em um processo de piada, a sua função, como ouvinte, é rir. É claro que o desfecho de uma piada pode ser muito variável e, às vezes, não rir é a coisa mais engraçada a ser feita. Mas não frustre seu amigo só porque você está com dor de dente, unha encravada, problemas familiares, time eliminado. Seus problemas pessoais são seus problemas pessoais, somente, guarde-os para você e para o corno que te pôs na merda. E dê umas risadinhas, de vez em quando. Você vai ver como vai melhorar o seu espírito, em especial.
Não estrague a narrativa de um piadista com um "nossa, me lembrei de uma ótima!", e acabando com o momentum do coitado. Rodas de piadas são civilizadas e pacíficas, e todos terão tempo de contar as suas. Se você não teve tempo de contar a sua, seja civilizado, e guarde ela para a próxima oportunidade. Você gosta de ser interrompido no meio da sua piada? Não? Então.
Sabe quando você acabou de ouvir uma piada ótima, e quer transmitir para o máximo de pessoas possíveis? Não pode esperar mais um minuto, questão de vida ou morte? E aí você chega para algum desagradável que, no meio da piada, diz "eu conheço essa piada". Frustrante, não? Além de ele não ter ganho em nada com isso, ele acabou de te aleijar pelo resto do dia. Então, bom rapaz e bela dama, ao ser inquirido por um grande amigo a respeito de uma piada, não seja desmancha-rodinhas, e finja ligeira ignorância sobre a piadinha em questão. Ria um pouco, mesmo que seja na atuação. Às vezes, ser um bom articulador social é saber quando falar o que todos querem ouvir, e quando falar o que ninguém quer ouvir. Você não precisa ser um diplomata para ser bom em negociação - treine com os amigos. Comece em sendo racional. Qual o problema em ouvir uma piada repetida? Seu amigo agradece.

O ato da piada é muito importante, não há sombras de dúvida. Ainda mais a gente, cada vez mais acostumados a contar piadas feitas na hora - talvez pelo Brasil ser o país da piada pronta. Saber um pouco sobre como dosar as piadas, bem como quando ouvi-las e quando rir delas. Muitas boas amizades têm grandes doses de risadas nelas. E piadas certamente ajudam a alimentar a alma humana. Ria você também. Nem que seja da sua própria desgraça. Afinal, pimenta no seu olho dói, mas já que caiu, mesmo, deixe pelo menos os outros rirem. =)

Ouvindo:
Part of the Queue
Oasis
Don't Believe the Truth (2005)