sábado, 23 de junho de 2007

Cantigas Macabras para Crianças

Ahoy! Olha o meu blog com um texto novíssimo para vocês se deleitarem! Hip! Hip! Hooray!

Aliás, antes de tudo, eu acho justo pedir aos senhores desculpas. Eu, naturalmente, tinha planos para atualizar minha pocilga mais cedo, mas houve uma aglutinação de afazeres na minha agenda, recentemente, então estive meio ausente da internet. Alguns de vocês poderão até me dizer que nem tem me visto online, não é mesmo? Siiim, quem diria, o Rafael apavorado com provas... Na verdade, estou bastante relaxado, mas eu preciso saber o que que vai cair nas provas, de modo que é meio interessante dar uma olhada nas matérias com maior freqüencia. Além do mais... Na verdade, não há "além do mais", então eu termino o parágrafo.

Muito bem! Fiquei feliz por vocês terem gostado do texto passado. Eu achei que ele era muito grande e vocês fossem ficar desinteressados. Daí que olhando os comentários, achei interessante como alguns foram tocados pelo seu lado criança. Então, pensando nisso e tentando expandir os horizontes do meu periódico, decidi falar um pouco mais sobre a boa época em que éramos catarrentos, fazíamos xixi na piscina, tomávamos Yakult e fazíamos outras boas coisas de crianças. Infância, a bela infância.

A Bela Infância
Cantigas Macabras para Crianças

Se você não era uma criança avessa às diversões, era uma criança relativamente comum, como eu e as outras crianças relativamente comuns que andam por aí. Bons tempos aqueles, não? Podíamos ser crianças sem que todos olhassem para nós como se fôssemos retardados - eu sou tratado assim quase que diariamente. :D
Crianças relativamente comuns eram freqüentemente ensinadas pelos adultos a se comportarem porque, afinal de contas, humanos adultos são velhos e vivem sem energia, preferem ficar naquele reumatismo marásmico de sempre. Então eles tentavam ensinar maneiras a nós, hooligans, para que nos comportássemos. Como, me indagas? Uma das principais armas era a musiquinha! Coloque um bando de demoninhos destruidores em uma sala, e quando eles estiverem a ponto de entrarem no que os físicos chamam de "estado de caos", comece a induzir os monstrengos a cantar aquelas musiquinhas de sempre. "Atirei o pau no gato", "o pão da casa do João", entre uma infinidade de pequenas cantigas. Agora, vocês sabem qual o teor por trás de cada música? Na verdade, vocês nunca pararam pra pensar, não é mesmo? Mas, ho, é pra isso que estou aqui. Para pensar em bobagens que poucos pensam. A diferença é que quem costuma pensar nessas coisas está sendo pago por alguém. Eu não \o/

Quando você é um pequeno toquinho, sua mamãe tentava calentar sua alma com músicas para ninar. Algumas não pensavam muito, e colocavam o nenê para dormir ao som de Mozart ou Beethoven, em suas composições mais calmas. Minha mãe, por exemplo, era joselita assim. Outras mães são doentes, e colocam o bebê para relaxar ao som de heavy metal. Não estou menosprezando o estilo musical, mas fazer um bebê relaxar com heavy metal... Bem, cada um com seus pobremas.
Agora, existem mamães que estão entre os extremos, e ensinam os bebês cantiguinhas simples. "Boi, boi, boi", começa a musiquinha do boi da cara preta, que leva as crianças com medo de careta. Eu, pessoalmente, acho muito esquisito botar uma criança pra ninar falando pra ela que ela será levada por um boi da cara preta se ela tiver medo de careta. Música legalzona, né? Se a intenção é acalmar o rebento, talvez o compositor não tinha uma idéia muito boa de "calma".
Igualmente interessante é a idéia da Cuca que vem pegar. O bebê, deixado em casa pelos seus pais - "mamãe foi pra roça, papai foi trabalhar", ou variantes próximas - deverá dormir, senão a Cuca irá pegá-lo. Ééé, agora, sim, o bebê dormirá tranqüilo. Pais espertões. ¬¬

Depois de seus anos de fraldas sujas, você eventualmente passa para a infância, onde vai para a escolinhas e se torna, mais ou menos, uma criança relativamente normal. Aqui temos mais músicas interessantes, que, em vez de promover a cidadania e o entendimento geral entre os povos, apenas promulga preconceito e ódio entre os nanicos. Vejamos, por exemplo, a música do pão na casa do João. Pão, como os senhores bem sabem, é alimento elementar na composição nutricional do nosso varonil Brasil. O pão não é exatamente barato, já que o trigo é um insumo importado, e é tributado para que o Governo estimule a produção interna. Só que não funciona, e o pãozinho, por exemplo, é feito de trigo europeu ou americano, não importa. Você pode não achar o pão tão absurdamente caro, mas você compra o pão todo dia, e com esses preços galopantes, fica difícil manter o consumo! É possível então que, ao roubar o pão da casa do João, sabidamente um menino metido a besta que adora esbanjar seus bens, o culpado estivesse somente passando fome. E os adultos nos ensinam essas cantigas, para que nós sejamos dedo-duros com um amigo que está em dificuldades financeiras. Como são desalmados...
"Ciranda cirandinha", por sua vez, tem um teor bastante depressivo. Notem que após do "volta e meia vamos dar", começa um festival de versos depressivos: "o anel que tu me destes/era vidro e se quebrou", por exemplo, mostra como o presenteador estava sem condições de dar um anel decente, ao que deu um anel de vidro. O anel quebrou-se por sua fragilidade e precariedade; "o amor que tu me tinhas/era pouco e se acabou" denota uma situação constrangedora, em que o amado reclama não ser mais amado, já que o amor acabou. Lembro-me aqui da música do Blitz, "Você Não Soube me Amar". Clássico da Música Populá Tupiniquim.
E nem preciso mencionar a virulência de "Atirei o pau no gato". Uma criança arteira que ataca um felino isento de culpa, e que reclama pelo fato da Dona Chica, a velhinha simpática, admirar-se pelo desesperado miado do gato. A música, hit nos sucessos infantis, trazendo tanta violência gratuita. E o Governo Federal, sabichões que são, querem impedir a vendagem de Grand Theft Auto, jogo inofensivo de video-game onde você é um ladrão que sai fazendo barbeiragens. Qual a diferença entre ser um ladrão e ser um hooligan que ataca gatos? É que no segundo você está atacando humanos, que merecem ser atacados :B

Crescemos, e com a gente as músicas também crescem. Às portas da adolescência, novas músicas nos são introduzidas como, por exemplo, nas viagens de excursões, que já discutimos. Uma das que me lembro agora é "A Velha a Fiar". Na música, uma pobre idosa, distraindo-se emsua diversão, passa a ser incomodamente incomodada por um inseto que, por sua vez, é incomodado por um aracnídeo, que será incomodado por um singelo rato, e assim em uma cadeia de ódio e desentendimento que tende ao infinito. Ou até que morramos. Que macabro.
Outra que me vem à cabeça, e que foi boa parte do motivo de eu ter iniciado este texto, é a interessante música da barata. Cantam os corações solitários que "ninguém me ama/ninguém me quer". Abandonados, deixados à margem de uma sociedade hedonista e antropocentrista, os deslocados são sumariamente removidos do centro social, deixados para os abutres e corvos os consumirem. Mas alguns decidem tomar uma atitude, macabra, porém positiva! "por isso vou comer barata", termina a primeira estrofe. E vem a segunda estrofe "barata frita/barata assada/sopa de barata". Estes renegados encontram a pequena felicidade deles em um ritual insetófago, regado a requintes de tortura. Mas, heck, eles estão se divertindo! Estão encontrando a diversão deles!

Enfim, a gente tem uma seleção musical meio muito esquisita, não acham? Músicas que incitam a violência, o descaso, o preconceito... Depois tentam consertar a nação, e se perguntam o que deu de errado. Pensando assim, é até fácil entender porque certas músicas fazem sucesso entre as crianças, não é mesmo? Com um histórico cultural tão entortado, a gente gosta de qualquer coisa que tocarem, não faz sentido? E as nossas crianças, pobrezinhas, ficam meio seqüeladas. Prepotentes, arrogantes... Depois, viram deputados estaduais e ninguém sabe o motivo.
Acho que o negócio era ensinar as músicas do Chaves, mesmo. "Que bonita sua roupa" e "Os astronautas vão pelo céu" podem se tornar folclore nacional facilmente, não acham? E vai dar melhor instrução para as crianças. Quiçá elas até aprendem a cantar em castelhano original!

Pensem nisso então, viajantes. E cuidado com as musiquinhas que vão ensinar para seus filhos. Se vocês ficarem com qualquer dúvida se a música é perigosa ou não, só cantem "Parabéns a Você". Livre de perigos e de gorduras trans, essa. Eu agarantcho!

Ouvindo:
Girls and Boys
Blur
Parklife (1994)

5 comentários:

Anônimo disse...

Uma palavra: Genial!

Mas como você pôde se esquecer do pobre bolinho de arroz, Rafa?

G. B. Orso disse...

Buenooooooooo, amei o post de hoje. Já me peguei pensando sobre estas músicas. A que mais intriga é a da Cuca por ter conteúdo que incita o machismo, veja: "Mamãe foi pra roça, papai foi trabalhar". Ora, ir para roça não seria um trabalho também? Que divisão de classes é esta?

Mendoka disse...

Tanto disse e não falou nada daquelas que influenciam sexualmente...

¬.¬
Há!

Unknown disse...

Huahua... mto bom e engraçado... pra variar né? =P Dia desses um psor tava analisando o teor de algumas dessas 'inocentes' musikinhas... hehe...
=*

Anônimo disse...

eu achei muito interessante, mas neem li porq eu acho issu uma palhaçada bando de vagais imprestaveis VSF..... devolvam meus 5min de vida perdidoi nesta merda de site !!!!!!!