domingo, 30 de setembro de 2007

Quando o Relógio Não Colabora

Olá, pessoas! Feliz fim de Setembro para vocês! Aê!! \o/

Sim, eu sei, faz tempo que não atualizo. Doze dias, para sermos exatos. Não pensemos em coisas negativas, though. Vamos pensar em coisas positivas, porque eu preciso de uma idéia para o meu blog! Então vejamos o que sai da cabeça do autor que, vocês já sabem, não tem lá muito de útil. Ainda mais quando ele não está com nenhum pingo de imaginação. Uh.

Quando o Relógio Não Colabora

Imagine um ambiente maçante. Digamos, uma sala de aula. Mas não uma aula qualquer. Uma aula enfadonha de uma matéria odiosamente tediosa com um professor inescrupulosamente tedioso e enfadonho. O tipo de aula que faz atiçar em você seus sentimentos mais suicidas e revoltados. Você começa disposto a prestar atenção na aula. Depois de alguns minutos você se lembra porque odeia aquela aula e porque sorri gostosamente quando imagina o professor correndo em chamas, gritando de terror. Sim, você odeia a aula. E cansou de prestar atenção nela, ué. Você dá aquela rabiscadinha na carteira, faz uns bigodinhos nas fotografias do livro-texto, conta algumas piadinhas. Depois do que parece umas duas horas de pura tortura letiva, você resolve consultar seu relógio de pulso, a certificar-se de que faltam, afinal, poucos minutos de terror. E, para seu espanto, descobre que o relógio andou miseráveis doze minutos. E você ainda tem outros 88 minutos de sofrimento gratuito em aula. É, o tempo é um safadinho.
Einstein, o sabe-tudo da Alemanha, sabia que estava no caminho certo quando postulou que tudo é relativo. E quando você aprendeu isso, não aprendeu junto que isso valia para a sua simples vidinha cotidiana, certo? Você aprendeu na marra que o tempo é inescrupuloso, e ele foi inventado por alguém (Deus, talvez?) com a única e exclusiva missão de torturar a sua existência. É um fanfarrão, esta entidade infeliz, o tempo.

No nosso causo anterior, você está lá, crente de que você está pelo menos duas horas ouvindo aquele blá-blá-blá interminável. O relógio acusa, entretanto, que foram somente doze minutos. Você olha para ele incrédulo. Não é possível!! Você olha para o lado, para seu colega, que está no mesmo estado de torpor em que você se encontrava até agora há pouco, até descobrir a farsa do seu relógio. Em silêncio, se comunicam: "Cara, no seu relógio também só se passaram doze minutos?". Ele acorda da hibernação dele e olha pro relógio. E o espanto dele é idêntico ao seu. Ele te olha, também incrédulo. Não é possível! Um momento de pânico. Uma nova consulta, e só se passou mais um minuto. E os dois se frustram. Cada um volta ao seu mundo de isolamento do resto do planeta, para aguardar mais algumas horas de tortura.
Está vendo a Teoria da Relatividade em ação? Pra você, horas de sofrimento e desgosto. O tempo, entretanto, disse que só andou doze minutos. E cale a boca quem discorda! O tempo é inescrupuloso, amigos. A função dele é prolongar nossos sofrimentos, e encurtar nossas diversões. Por quê? Não sei. O mundo seria um lugar muito mais agradável, muito mais divertido e muito melhor se o tempo nos ajudasse. Teríamos menos guerras, menos violência, menos famintos e estaríamos mais próximos da paz mundial. Mas eu já havia dito, em outra postagem, que Deus, o nosso Simpático Todo-Poderoso, gosta de se divertir quando assiste a sua criação (nós mesmos) andando por aí, no nosso pedregulho azul. Foi por esse motivo que ele criou a cevada, lembram-se? Então. Creio eu que deve ter sido por este mesmo motivo que ele decidiu que o tempo deveria ser um grande sacana. Diversão própria, claro.

Quer outro exemplo de como o tempo é safadinho? Em vez de uma aula "amável", vamos para, hmmm... uma partida de truco no seu intervalo. Eu, por exemplo, costumo ter, aí, uns vinte minutos de intervalo para ganhar uma partida. Esse é o tipo de evento em que o relógio pode se demorar o quaaaaanto quiser. Só que até você acertar o lugar e fazer todo mundo se sentar para começar a partida, os vinte minutos já se esgotaram faz tempo. Mais uma vez, incrédulo, você consulta seu relógio. Não é possível!, você diz, enquanto todos estão se levantando para voltar à tortura nossa de cada dia. O pouco tempo de felicidade que nos sobrou foi gasto, já. E você podia jurar que não se passaram nem três minutos!! Vencido, você se vê obrigado a voltar para a sala de aula. Bogus.
Dentro da aula, bueno, a história é razoavelmente a mesma que já vimos. Você olha pro relógio depois de uma hora e só se passou 5 minutos. Daí você sai, vai ao banheiro, relaxa, bebe uma agüinha, faz uma social com quem estiver andando por aí... E volta pra aula. Só se passaram mais 5 minutos.

Não dá pra entender qual é a do tempo. Porque ele gosta de ser este desagradável. E não é só na escola que isso acontece! Nããão, meu bom homem. Isso acontece também, por exemplo, quando você dorme mais cinco minutinhos, e acorda meia hora atrasado. Quando você perde o busão e pensa: "Bah, o próximo chega em dez minutinhos" e você chega quase uma hora atrasado no destino. Ou quando você está esperando na fila do Playcenter, e depois de quase 4 horas você só ficou dez minutos aguardando... Não adianta espernear, processar alguém, ameaçar de morte, dar chilique, dizer que é injusto. Sim, é injusto. E você não pode fazer nada a respeito. O negócio, diria a ex-prefeita, ministra do turismo e perua socialite nas horas vagas: "relaxa e goza", meu guri. Aproveita a fila do Playcenter pra botar as piadinhas em dia, aproveita que perdeu o ônibus e compra umas palavras cruzadas pra fazer, aproveita que você já se atrasou meia hora e se atrasa uma hora inteira, pra arredondar... Pense sempre com o copo meio cheio!
E dê um jeito de aproveitar esse lapso do tempo. Veja, por exemplo, você na aula chata. Aproveita que o tempo demooooora pra passar e faça alguma lição de casa! Se o tempo demorar a passar, você terá tempo o suficiente para fazer o exercício. E se ele, sabendo que você precisa de bastante tempo pra fazer o exercício, resolve ir rápido, melhor ainda: a aula termina mais rápida!

Sempre tem um jeitinho brasileiro pra essa vida. Até quando é uma lei física inexorável pensada por um alemão CDF. Esse país tem futuro, meu bom leitor. Ou não, vai que o tempo demooooora a passar até o futuro... :P
E eu não posso terminar esse post sem dizer a máxima: "A duração de um minuto é muito relativa. Depende de que lado da porta do banheiro você está".

E, por favor, me perdoem pela demora. Vou me esforçar mais para manter o blog sempre em dia. Até a próxima postagem, galera! Até Outubro! Obrigado pela preferência!

Ouvindo:
Everybody's Changing
Keane
Hopes and Fears (2004)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Celular Pra Quê?

Eaê, galera? Todo mundo contente com a longeva vida deste blog? Mas ah, deixem disso, só estou me aquecendo! Hoje é dia de mais uma postagem, macacada!! Aê!
A minha idéia era atualizar no domingo, mas a correria somada com a ausência de idéias minou minha intenção. Como ontem eu pensei em algo e só pude sentar no pc hoje, vou postar rapidão, porque tenho que tocar a minha vida. Simbora, macacada!

Celular Pra Quê?
Insight sobre o que diabos é um celular

A história da telefonia vai longe. Tudo começou com Alexander "Alê" Graham Bell, inventor escocês, que foi parar nos Estados Unidos por algum evento aleatório no espaço-tempo. Consta que Alê estava meio de pernar pro ar, sem muito o que fazer na terra ianque. Sabe como é, aquelas cidades pequenas e monótonas são realmente chatas, não têm nada demais. E nosso menino Alê, levado que só, queria tocar o terror por lá. Sacanear o padeiro, o leiteiro, o dono do bar... Eis que, em um dia de muito sol e poucos afazeres, Alexander Graham Bell inventa o passador de trotes! A mulher dele, que era surda, não gostou da sonoridade do nome, e sugeriu o prático e erudito "telefone" (cá entre nós, como uma mulher surda pode julgar a sonoridade de algo é motivo de estudos profissionais).
Mas tudo bem. Para Graham Bell, a funcionalidade seria a mesma. Acompanhe o raciocínio: Graham Bell disfarça o aparelho como um revolucionário sistema de comunicação entre as pessoas, e diz que todos deveriam ter em casa. Yay! O padeiro, achando que seria uma ótima maneira de falar com seus clientes e seus fornecedores, instala um passador de trote - ou um telefone - em sua padaria, e aguarda a ligação, feliz. Em igual passo, o leiteiro e o dono do bar, bem como metade da população da pequena cidade em que Alê estava, e cujo nome eu ignoro. Alê, agora, pega seu passador de trote, disca para o padeiro, e manda o clássico: "é do circo?". Nascia o trote. =D

Muita coisa mudou desde que Alexander fez o padeiro ficar com cara de bobo. Infelizmente, o resto do mundo não entendeu a idéia lúdica de Alexander, e levaram o cara a sério demais. Passaram a comprar o telefone como algo útil de verdade, e usavam para se comunicar, uns com os outros. Pura perda de tempo. Daí a idéia foi inventar meios cada vez mais práticos de se utilizar esta coisa interessante que inventaram, o telefone. De repente, estavam usando o aparelho para comunicação entre a Inglaterra e os Estados Unidos, entre presidentes aliados, entre generais de guerra. O telefone foi realmente levado a sério. Namoros eram rompidos e reatados, reuniões eram marcadas, demissões eram feiras, cobranças eram negadas, tudo pelo telefone, um dos brinquedos de maior sucesso da história da humanidade. Tudo levava a crer que nunca mais usariam o telefone, a não ser para assuntos sérios.
Até que veio o telefone móvel. :D

Existe um protótipo de telefone sem fio, muito arcaico e em desuso, que teria sido patenteado em 1903. Durante a Segunda Guerra Mundial, usou-se aparelhos que se comunicavam através de dispositivos de radiotransmissão. Depois, pensaram na idéia de "células", que são as antenas que intermediam a conexão do seu aparelho sem fio à central telefônica. Daí, o nome telefone celular.
A idéia é muito simples. A central telefônica instala uma sede em uma cidade genérica. Peguemos uma cidade inexpressiva e pequena como, digamos, São Paulo. Depois da sede instalada, eles erguem diversas células, ou as antenas. E o seu telefone móvel recebe o sinal dela através de ondas de rádio, tipo a que você ouve pela freqüência modulada, ou a FM. Só que o telemóvel serve como um receptor e enviador (existe isso?) de sinais de rádio. Nifty, huh? E é assim que você consegue se comunicar com seu amigo que está no Jardim Lalonjão, bairro da perifa paulistana.

Agora, falava eu que o telefone, graças ao telemóvel, deixou de ser algo sério. Vamos entender o porquê. Olhemos para uma sociedade genérica de primeiro mundo com excesso de dinheiro. Até meados de 1980, os telefones eram comuns, mais ou menos. Todos tinham lá seus aparelhinhos em suas casas e em seus escritórios, e a moda do momento era o aparelho de fax, ou o facsimile. Facsimile que, aliás, é latim para "faça similar", ou "faça uma cópia". O aparelho de fax, pra vocês que não têm a menor noção do que é, é um telefone que manda documentos, pra que as empresas fodonas pudessem passar os contratos assinados sem pagar pelo office-boy. É bom ser fodão.
Bueno, uma das companhias de comunicação passou a espalhar, por uma cidade qualquer de uma dessas sociedades desenvolvidas, o modelo de célula que lhes expliquei, e passou a vender aparelhos de telefone móvel, os quais você pode usar em qualquer lugar sem se enrolar no fio. Nascia a popularização do telemóvel. Nos Estados Unidos, no Japão e nos países mais bacanas da Europa, a moda pegou fácil, e todo mundo que queria mostrar seu status superior andava com seu tijolão, falando alto no ponto de ônibus, ou de dentro do seu automóvel Audi A3, para todo mundo saber que o cabra tinha um telemóvel, e era alguém importante.

Passam-se os anos. Uns dez anos depois, essas sociedades evoluídas já banalizaram o aparelho, uma vez que as empresas se estapeiam para decidir quem vende mais telemóveis e quem lucra mais. A tecnologia se torna impressionante, e mais e mais pessoas querem ter celulares ainda menores e mais bonitos. Mas tudo deu uma guinada repentina quando um dos celulares abocanhou uma tecnologia de um aparelho-primo - o pager. Agora, os telemóveis podiam mandar mensagens. E (pasmem) receber mensagens também! A partir daí, meus amigos, a putaria... A putaria...
Depois do envio de mensagens por texto, os fabricantes de celulares passaram a investir em tecnologia inútil que, entre outros, nos trouxe a tela de LCD para que seu celular ficasse colorido! Eu ainda me lembro do dia em que eu vi um celular colorido passando na televisão, e fiquei pasmo. Colorido!! O carinha estava jogando um joguinho de corrida! No celular! Aquilo me chocou. Depois, celulares com telas maiores, maiores resoluções, e joguinhos ainda mais atraentes e divertidos. Alguns classicistas poderiam jogar o Snake DeLuxe, ou o BlackJack Plus, e os mais avançados podiam jogar Monopoly - a versão gringa de Banco Imobiliário - no telemóvel!
Anos depois, inventaram a câmera fotográfica que não usa filme fotossensível mas, sim, um sistema de captação digital de imagens. Veio a câmera digital! Foi um peido para que o telemóvel, que agora já podia baixar da internet papéis de parede, sons, vídeos e jogos, poder tirar fotos e gravar vídeos. Em poucos meses, milhares de aparelhos no mundo todo podiam registrar qualquer acontecimento visual com suas lentes e leitores digitais. Anos depois, a qualidade digital igualou com a de uma câmera digital de ofício, e as pessoas podem usar seus celulares para gravar uma partida inteira de futebol e esfregar a vitória do seu time, com o replay do golaço que o goleiro fez (hehe...) na cara do torcedor rival. Usam seus telemóveis para baixar o jogo dos Simpsons, o papel de parede da Britney Spears tomando um pileque, o vídeo do Jeremias Muito Louco, o toque do Super Mario World, e o que mais a sua vã imaginação ousar achar que possa existir.

Estão vendo o que estou falando? Alexander não estava lá muito satisfeito, pobre escocês frustrado. Ele queria que, na verdade, o telefone fosse um meio de fazer altas piadinhas com os desprevenidos. Mas depois de amargar uma centúria toda sendo um aparelho sério e exclusivo para a comunicação efetiva, o telemóvel passou a ser tudo, menos um meio de comunicação efetiva! Ninguém precisa atender uma ligação hoje em dia, ah, que que há... Você tem um celular para jogar cobrinha enquanto o ônibus não vem. Você conecta o fone de ouvido e ouve o diabos de MP3 que preferir. Você acessa o seu portal de internet e lê as últimas notícias. Conversa via MSN com seus amigos enquanto cabula a aula. Pra que, diabos, você quer atender seu telefone quando ele toca? Aliás, ele toca e você tem que parar o jogo, tem que parar de ouvir a música, desconectar da internet. Pô, meu, acorda! Vai me ligar no meu celular?? Você ainda deixa o celular tocando, porque você colocou como toque uma música que você ama, e quer ouvir até o refrão. Então não atende.
Então chegamos ao nosso título: celular pra quê? Telefone móvel? Telefone celular? Ledo engano, senhores. O negócio é fazer como as grandes empresas, que estão vendo que a tendência vai ser o pessoal esquecer que celulares são, em princípio, telefones, e chamar de outros nomes, como aparelho pessoal, handheld, e outras frescurites veadonhas. Ninguém mais usa celular pra ligação. Se você discorda, é porque você não vive em uma sociedade desenvolvida e endinheirada. Porque lá, colegas, nem a polícia usa mais telefonema. Em Nova York, os puliça de lá recebem as fotos dos crimes que você tirou com o seu aparelho. Ajuda, assim, a identificar o criminoso mais rápido! Você, como já falei, pode usar o MSN. Pode comprar o Windows Mobile, e usar seu celular como agenda de tarefas e de contatos. Celular pra quê? Com certeza, não pra ser um dispositivo sério de comunicação. Se muito, para você retirar do seu bolso, despretensiosamente, para mostrar para os outros o seu novo toque de celular quando, na verdade, sua intenção real é mostrar como você tem um celular foda. E como você é foda, junto.
Engulam essa, seus pobres. Meu celular não serve pra nada, só pra mostrar como eu sou importante.

E Alexander está sorrindo de seu túmulo. =D

Ouvindo:
You Could Have It So Much Better
Franz Ferdinand
You Could Have It So Much Better (2005)

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Movimento Viva o Gordinho

PÁRA TUDO!
Post Comemorativo #50!

Uaaah! Alegria, alegria! Finalmente chegamos no número 50! Um viva ao Inominativo, senhores, por favor. Yippie! Yippie! Hooray! \o/
Isso não quer dizer, entretanto, que o post será bom. Sinto muito. Será tão razoável, quiçá pior, do que os outro 49 anteriormente postados. Eu vou tentar meu melhor, mas do jeito que vocês andam metidos... :D

Pois bem. Estava eu em minhas andanças pela Paulicéia Desvairada. Dessa vez, o meu objetivo era ir ao glamouroso Morumbi Shopping, adquirir um novo chip GSM da operadora TIM, Telecom Italia Mobile, para meu telefone móvel. No dia anterior a este, meu telefone me foi subtraído, de modo que precisava recuperar meu número de telefone e, pra isso, precisava de um chip virgem. E o local mais próximo pra mim é o Morumbi Shopping, o qual já mencionei. Pois bem, lá estava. Problemas metropolitanos de sempre ocorrem em horas dessas: filas imensas, o sistema caiu, aguarde um pouquinho, desculpe, esse caixa não faz essa operação, o sistema caiu de novo... Típico. Eu decidi sair da loja e ir ao McDonalds mais próximo para repor minhas energias. E foi no meio da minha ambulância pelo mall paulistano que me ative na idéia que agora lhes exponho:

Movimento Viva o Gordinho
Pela Felicidade das Pessoas Não-Atléticas

Quem vive no século XXI, como o autor que lhes escreve, já deve ter notado, mesmo que sem querer, como virou moda ser atlético. Atualmente, as pessoas (de classe média, devo ressalvar) têm dedicado boa parte de sua vivência mundana ao culto à beleza. "Ficarmos belos, ficarmos fortes, ficarmos saudáveis!", e outros mantras como estes, são entoados enquanto os exemplares da mais bem-sucedida espécie viva - a raça humana - se mutilam e se martirizam para se sentirem melhores para eles mesmos e, é óbvio, para o resto do mundo. Corra trinta minutos! Pedale uma hora! Ande até o trabalho! Faça canoagem para atravessar um rio! Seja atlético!
Sim, sim, tudo isso é muito bonito, muito enaltecedor, muito magnânimo. Viver bem faz com que aumentemos nossa esperança de vida e, salvo uma ocorrência indesejável, possamos alcançar idades que tenham três ou mais algarismos. Romântico. Realmente louvável. O que me chama a atenção é que existem os que se dedicam com extrema dedicação a isso, e fazem disso uma nova religião. Uma daquelas bem chatas.
E quando eu uso a palavra religião, não estou sendo exagerado. Você já teve algum tarado por atletismo na sua família ou círculo social? Não vale ser o tio que decidiu perder a barriga e caminha todas as manhãs, quando ele não está com preguiça. Não, estou falando do primo chatão, que te visita em um domingo à tarde vestido com aquelas bermudas veadinhas, camisas regatas veadinhas e um tênis com umas listras veadinhas e, com a maior cara de veadinho, te chama para caminhar com ele. Oras, está escrito na Constituição da República Federativa do Brasil (Pátria amada, idolatrada, salve salve) que domingos são dias de vadiagem! Eu quero passar a tarde de domingo vendo filme! Vendo futebol! Dormindo, cazzo! Pra quê diabos eu vou vestir essas roupas de mau gosto (e caríssimas, ainda por cima) e sair me esfolando ainda mais, quando eu faço isso de graça no meio da semana, estudando/trabalhando? Ah, tudo bem, sair um pouco, ver o sol, paquerar a mulherada, respirar ar puro... Mas eu faço tudo isso no ponto de ônibus, estou muito feliz assim, obrigado.

Infelizmente, assim como você não consegue fazer um evangélico ver que você é feliz sem acreditar na Igreja dele, você não consegue fazer um atlético ver que você é feliz sendo... sedentário! Nós vivemos na época do "viva feliz a todo custo". Sabe, conceitos de democracia, cada um na sua, a opinião de todo mundo vale... Mas não, que mané democracia, um religioso fanático não curte democracia, acha que o inferno são os outros. E lá vem ele com a ladainha dele... Antigamente, nos séculos antecessores deste nosso, as ladainhas eram a salvação da sua alma mediante Deus, o Mano que Manda. Você tinha que se arrepender do fundo do coração por ter nascido um ser humano cheio de pecados, e viver sob pesada penitência, porque só se fod... eeerm, só se ferrando aqui você alcançaria o Paraíso. Ou quase isso.
Na nossa contemporaneidade, alguns elitizados membros da sociedade acharam que religião é coisa de pobre. E lançaram uma moda que não é todo mundo que pode comprar - a religião do corpo! E a ladainha é mais ou menos parecida. Mudam os nomes, mantêm-se os conceitos: a salvação do seu corpo mediante a Dieta, a Mina que Regula a Comida. Você tem que se arrepender do fundo do coração por ter nascido com fome, e viver sob pesada penitência, porque só se ferrando que você alcança o Paraíso. E, por Paraíso, entendemos um conjunto de idéias bonitas, como um parque modelo europeu bastante bonito e verdejante, cheio de atletas bem-encorpados e sorridentes, que comem comidas feitas sob medidas, que usam roupas especiais, que fazem coisas mágicas, que os tornem ainda mais belos, magros e felizes.
Erguemos até nossas igrejas de adoração ao novo deus: as academias fazem propagandas nababescas, com lindíssimas modelos em posições nada tendenciosas, mostrando seus seios redondos e fartos e seus traseiros empinados e fofinhos. Para os homens, diz, claramente: "faça Academia, e leve quantas dessas você quiser para a cama!", e para as mulheres, a frase é outra: "fique gostosa como eu e faça as outras mulheres morrer de inveja e os homens, de tesão!". Tudo isso, em uma foto. E no novo templo da religião, o padre entoa cânticos de estímulo, como "pedala!", "isso!", "mais vontade!", "você consegue!", no mesmo ritmo daqueles mantras entoados pelos executivos para fazer da empresa deles uma empresa diferenciada. Aqui, é interessante notar que o mesmo executivo que fala isso em uma empresa é o atleta que está ouvindo isso na academia. Geração Vinte-e-Um!

Bom, acho que já deu pra entender a idéia. E o que toda a minha história com o Morumbi Shopping, lá do começo, tem a ver com isso? É que, se você não sabe, o shopping em questão é um shopping de, digamos, classe média alta. Eu estou nivelando por baixo a classe média brasileira, e considerando como classe média qualquer um que possa freqüentar um shopping, mesmo que seja para ir ao cinema uma vez ao mês. Então o Morumbi Shopping está um pouco acima desse nível.
Como lá o público-alvo é bem diferenciado, as lojas são dedicadas a esse público-alvo diferenciado! As livrarias dão elevado destaque aos livros de auto-ajuda ("O Monge e o Executivo", "Como Ser um Gerente de Sucesso", "O Segredo", e essa masturbação cerebral toda). As lojas de roupas sociais são bastantes bonitas e clássicas, com exemplares de ternos e gravatas muito bonitos e caros. E, é claro, as lojas de roupas que não estão vendendo ternos e gravatas estão vendendo roupas para esportistas. Uma graúda loja erguida pela Nike, cujo nome chamou minha atenção (NikeSãoPaulo), acabou por frustrar-me, porque só tinha roupas para atletas. Camisetas para corrida, para jogging, pra tênis, pra basquete, e se bobear até para o famigerado badminton. Mas não vi nenhum tipo de camiseta mais regular ou camisa de futebol, que é o que o pobre gosta. Não só vi camisetas, como vi também tênis para corridas, munhequeiras, faixas para a testa... Vi-me, ainda, obrigado a fugir em rápidas passadas, antes que um atendente me visse.
Outras lojas tinham conceitos parecidos. Algumas eram ainda piores, e vendiam, além de roupas, trecos como squeezes para pôr água, relógios que medem até o índice de incidência solar em Júpiter, tamanha a tecnologia, trecos de GPS, trecos que contam seus passos, trecos que acendem isqueiros de um buraco escondido, uma barraca para camping... Claro, todo atleta que se preza vai fazer camping, pegar uma trilha, fazer um rappel e uma canoagem. Para mostrar que é atlético o suficiente para vencer a natureza.

E tudo isso pra quê? Eu lhes digo: humilhação. Mostrar ao não-atlético que ser atlético é o melhor, é o desejado, é o máximo. E os amigos gordinhos, que não nasceram para ser atletas e esquivam as aulas de Educação Física desde muito cedo (como, digamos, eu :D), são execrados pela sociedade, postos de lado, são motivo de vergonha pra família. Claro, como se eu já não fosse suficiente aberração, ainda sou odiado por preferir comer uma travessa de batata-frita e jogar Super Mario World a tarde toda do que colocar um tênis e ir desbravar a mata virgem, cheia de insetos e galhos que te fazem tropeçar.
Os atletas, chatões, enchem o saco, dizem que é pro seu bem, que você vai pegar um monte de mulheres, que vai fazer sucesso, que vai viver feliz, vai ficar rico, vai se sentir melhor. Mas e se eu não quiser tudo isso? E se eu for feliz sendo sedentário? E se eu gostar mesmo mesmo do conforto da metrópole? Televisão, internê, escada rolante, elevador? Eu sou feliz tendo minha simpática pancinha (ela balança! \o/) e buscando minha riqueza espiritual e material por outros meios, muito menos sangrentos e penosos. Eu posso ser feliz sendo gordinho!
Até as mulheres podem ser sedentárias, por que não? Hei de concordar com quem lembrar que mulheres sofrem beeeem mais, uma vez que precisam estar em forma, senão não pegam nem nerd necessitado. Imposição cultural, resquício do mundo machista, blá blá blá (nunca fui muito ligado a essas bandeiras de reclamações; eu sou conservador e meio anti-revolucionário). Vocês também podem ser felizes! Pra que um corpinho esbelto, que pode ser medido em centímetros? Pra que cinturinha fina, pra que seios no lugar? Pra que tudo isso se você pode arranjar um marido míope? ==b
Agora, se o seu motivo de vida, minha amiga leitora, não é se casar com um cara rico e bonito somente pelo prazer do dinheiro, anime-se. E viva a sua vida em paz. Não precisa se render ao macarrão de soja, ao bolinho de grama verde, ao suco de cenoura com clorofila, não precisa comprar roupinhas elásticas que você sabe que não vão caber assim que você comer uma batatinha frita. Seja um pouco relaxada, seja um pouco relapsa. Seja uma gordinha de espírito.

E venha você também para o Movimento Viva o Gordinho. Eu também tenho o direito de ser feliz. =D

Receio que tenha escrevido demais. Mas eu tinha muita coisa pra escrever, e queria concluir o raciocínio em um só post. Se você, entretanto, discorda de mim e acha que o modo atlético de ser é o máximo, bem, lembre-se de nunca comentar isso comigo. Eu abomino isso. Me deixe em paz. ^^
E já que falamos no post passado em Império Romano, estou juntando minhas moedas para comprar o novo WAR Império Romano. Aceitarei desafios assim que eu adquirir um. Deve ser sanguinário. \o/

Um beijo, macacada. Viva o post #50!

Ouvindo:
Killer
Boy Kill Boy
Civilian (2006)

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

WAR

Hey, moçada! Quanto tempo, né?
Aliás, vocês também acharam que foi um alívio o mês de Agosto ter terminado? Nada contra ele, nem contra os nativos do mês - como eu já expliquei, muitos amigos e amados meus são nativos do mês de Augustus Caesar, o primeiro do rol dos imperadores de Roma. Mas, cabriolé, como o mês demorou pra passar! Não houve nenhum feriado, fora o dia dos Pais (que não conta, pois foi em um domingo), e teve praticamente cinco semanas de duração! Mas ele nos deixou para voltar somente no próximo ano que, para minha felicidade, será um ano par. Eu acho que já escrevi em algum lugar a respeito da minha crise com anos pares e ímpares, não? Ah, se não nesse, foi no outro blog. Whatever.

Por falar em Augustus Caesar, pra vocês que não sabem, vou lhes contar um pouco sobre a história do nosso calendário. Antigamente, na época em que Roma era a capital do mundo civilizado e o Cristianismo era uma religião esquisita na borda oriental do planeta, o calendário era, como de se esperar, diferente. O calendário usado pelos primeiros romanos teria sido inventado e patenteado por Romulus (ou Rômulo, na versão portuga), que foi também o fundador da Cidade Eterna, a cidade de Roma. Era um calendário lunar - isto é, baseado na rotação da lua, e não na rotação da terra em relação ao sol - e continha dez meses. O ano começava no mês de Martius, e daí vinha Aprilius, Maius, Junius, Quintilis, Sextilis, Septembris, Octobris, Novembris e Decembris. Era uma putaria.
Segundo a tradição, o rei de Roma que veio logo após Romulus foi Numa Pompilius (ou Numa Pompílio, e não confunda com o Pompeu Pompílio Pomposo, emérito personagem vilânico do Castelo Rá-Tim-Bum). Numa Pompilius achou que aquele calendário de dez meses era uma putaria, e o reformou. Ele era rei, ele podia. Ele removeu alguns dias dos meses que existiam e criou dois novos meses, Ianuarius e Februarius. Ele também inventou o predecessor do nosso ano bissexto. Era um ano em que eles faziam brotar um novo mês, e o ano tinha uns 20 dias a mais. Uma putaria. Depois de Numa Pompilius ter ido desta para uma melhor, os pontifex maximus, ou os principais sacerdotes da religião romana, eram os únicos que tinham direito de alterar os calendários. Eram esses pontifex que decidiam que anos eram "bissextos". Um dos últimos pontifex maximus foi Julius Caesar (ou o nosso cumpádi Júlio César), que decidiu que o calendário iria mudar. Sem essa putaria de um mês inteiro novo. Então, com sangue nos zóio, Júlio César baixou o novo calendário, que ficou conhecido como calendário juliano! Ele mandou mudar, também, o mês em que ele nasceu, Quintilis, e que se chamaria Julius. E Primeiro de Janeiro seria, agora, o mais novo primeiro dia do ano - lembrem-se, antes começávamos em Março.
Depois de Julius morrer, veio, então, Augustus Caesar. O cabra-macho que tornou Roma um Império re-reformou o calendário (na verdade, ele continuou a reforma do tio dele), e fez também uma personalização - o mes Sextilis chamar-se-ia, agora, Augustus. E teria, também, 31 dias, para que não fosse um mês inferior ao mês de Julius. Então, por causa de Auguso César temos dois meses juntos com 31 dias. Mas se não fosse ele, não teríamos aquela colinha de usar os ossinhos dos dedos... =D

Bah, se eu continuar falando, ninguém vai ler esse post. E já estamos com poucas visitas, não quero facilitar a evasão de leitores. Ao texto!

WAR
Batalha das Pedrinhas

Estamos nos Sudetos, região montanhosa onde em tempos de paz era a República Tcheca. Hoje em dia, as vilas, esvaziadas, abrigam soldados armados até os dentes. Seus uniformes azuis mal podem ser vistos por entre as casinhas que parecem feitas de brinquedo. A ordem é clara: manter a posição nos Sudetos a todo o custo. Do outro lado das montanhas verdejantes e férteis, soldados de uniformes negros se equipam para o ataque. Cinco batalhões completos estão aguardando a vez, ansiosamente, em seus acampamentos no leste da Alemanha. Eles, também, têm armamentos pesados e devastadores. Que tecnologia eles usam? Pólvora do século XVIII? Projétil de aço? Canhões de artilharia ingleses? Metralhadoras calibre .50? Infantaria anti-tanque? Bombas nucleares de carbonização imediata? Puá. Nenhum ser humano neste planeta viu nada mais devastador do que os três dados vermelhos. Talvez só uma arma possa combatê-la niveladamente: os três dados amarelos, na posse dos oponentes, que defendem o combinado territorial Polônia/Iugoslávia.
O Marechal Preto, comandando os soldados Pretos, necessita da passagem pela Polônia e Leste da Europa pra desembarcar em Moscou. Só falta a Polônia e o território russo para ele conseguir controlar toda a Europa, e conseguir recrutar um bônus de cinco batalhões novinhos para o front islandês. O porquê ele precisa unificar a Europa para ter mais soldados? Ninguém sabe explicar, mas as estatísticas apontam que é só um general controlar todo o continente por uma rodada, e cinco batalhões serão recrutados. E o Marechal Preto é bastante supersticioso.
O Marechal Azul está à espreita, com seus binóculos e seus medidores climáticos, analisando a batalha. Mas ele não precisa da tábua matemática. No fundo, no fundo, ele sabe que a guerra não será decidida em pormenores. Pouco importa se chover, se fizer sol, se é verdade que os soldados dele são uns frouxos que não conseguiram invadir o Oriente Médio, em uma das mais espetaculares derrotas militares do globo. Ele sabe, no fundo, que somente um "seis, seis, seis" poderá manter seus flancos protegidos. Ele não acredita muito em Deus. Quem sabe se ele passasse a acreditar em algum outro ser divino, só pra fazer ciuminho...?

Barulhos de trombetas! Batidas de tambores! Os pretos estão se movimentando! Do alto de uma montanha, surge um jipe preto, com o emblema do Imperador Preto cravado em cada uma das portas. O Marechal Preto, a serviço de seu líder, está se dirigindo ao bunker do Marechal Azul. Requer uma conversação. O encontro é breve, e reservado. A única frase pronunciada pelo líder dos pretos: "cinco contra quatro na Polônia". O Marechal Azul se sente indisposto, ao ver o jipe retornar ao seu lado da batalha para se posicionar para o ataque.
Mal ele consegue contar quantos segundos lhe restam, quando ele ouve um ensurdecedor barulho, vindo de um lugar muito distante. Os dados vermelhos estão sendo rodados! O barulho se repete por minutos. Quando uma voz anuncia, pelo rádio, "Seis, Três e Dois", o Marechal Azul se anima. Poderia ser pior, afinal! Ele se vira para o encarregado de operações militares e ordena a defesa. Novamente, um barulho de chachoalhar as cordas do cérebro ecoam no tempo-espaço. Na sua tela de LCD, aparecem os valores "Cinco, Dois e Dois". Ele pega o rádio, e anuncia os valores em alta voz. Quando ele termina, seus soldados entram em pânico. Homens começam a chorar, alguns agarram fotos de seus familiares, alguns saem correndo. E, do nada, dois batalhões inteiros somem, de repente, como se fossem vapor. Alguns estão aliviados por estar vivos. Outros, lívidos de medo. Mas eles sabiam que a vida era assim mesmo. Nunca se sabe quem vai pro caixão. Ou melhor, pra caixinha.

Alguns minutos depois, rola um tiroteio, algumas bombas, alguns soldados caem feridos. Mas não adianta. A batalha será definida mesmo no dado. O rádio anuncia: "Quatro conta dois na Polônia". A batalha continua. Os dados são rolados. E o atacante sofreu duas baixas, dessa vez. Os soldados negros estão desmoralizados, mas determinados. Os azuis vêem a chance de redenção. Ao que indica, será o conflito decisivo.
Os dados são ouvidos por quilômetros quadrados. O Marechal Preto anuncia no rádio "Dois e Dois". Os soldados azuis riem. Dois? Que ataque de maricas! Tinha que ser ataque alemão, mesmo. Bah, seus órfãos de Hitler, vocês não são de nada! Os dois dados amarelos estão sendo rodados, agora, pelas tropas do Imperador Azul.
"Um deles o quê?", brada o Marechal Azul para seu encarregado de operações. "O dado caiu da mesa, senhor. Teremos que rolá-lo, novamente". "Isso é um absurdo! Coloque-me em linha com o Marechal Negro!"

A conversação é tensa. Os Imperadores Preto e Azul, os gladiadores que lutam pela Europa, se conversam em uma linha de telefone segura. O Imperador Preto tem um leve sotaque francês. O Imperador Azul fala sereno, como um nobre chinês. Mas ele está furioso. "Não aceitarei que minha imagem seja desmoralizada, Imperador Preto. O dado não será re-jogado!". Do outro lado, em um bunker em Paris, o Imperador Preto responde. "São as regras, Azul. Jogue logo, senão você perde por W.O."
Irritado, o Imperador Azul retransmite sua mensagem para seu Marechal nos Sudetos. O outro dado é relançado. O Marechal não pode acreditar. Tudo parecia vencido. Era só vencer um "dois e dois"... Com a garganta seca, ele clama no microfone, antes de desabotoar seu sobretudo: "Um e Um". Um uivo de agonia ecoa. Os dois batalhões que patrulhavam os Sudetos somem. Os pretos marcham, triunfantes, rumando Varsóvia. O Marechal Azul, irritado, foge para Moscou, esperando seu oponente atacar novamente. Mas ele recebe um comunicado pelo rádio. A voz é do Imperador Preto. "Vou parar e remanejar, para puxar carta".
O técnico de operações, que viajava ao lado do Marechal, levanta a cabeça e pergunta: "Puxar carta? O que é isso?". O Marechal o olha. Seus olhos estão com olheiras profundas e tristes. "É uma lenda antiga. Se você conquistar o território de um oponente em uma rodada, poderá comprar uma carta. Três cartas com símbolos iguais, e você pode recrutar mais soldados". O técnico o olha, curioso. "Qual a relação entre os símbolos e mais soldados para recrutar?". O Marechal baixa a cabeça. "Não sei, Ibrahimovic. Só sei que é assim".

Antes de chegar em Moscou, entretanto, o Marechal passa por Kiev, antiga capital ucraniana. No Jornal Azul, ele ouve as notícias vindas da América do Norte. O General Branco invadiu o Alasca, derrotando três tropas vermelhas. O último reduto do Imperador Vermelho. Ele se rende ao Imperador Branco. E o Imperador vencedor vai a público, no dia seguinte, dizer: "Seus viadinhos, perdedores! Eu conquistei a África e a América do Norte! Como esse era meu objetivo, eu declaro a Terceira Guerra Mundial terminada!"
A guerra acabou! Os soldados comemoram. As tensões cessam. As pessoas saem de casa, vêem o sol, visitam familiares. A guerra acabou! Tudo porque o Imperador Branco concretizou seu sonho de infância - unificar a África e a América do Norte em uma grande nação transatlântica. "Não é para entender", falou um cientista político, em um talk show, dois meses depois. "Todos simplesmente concordaram que conquistar a África e a América do Norte era algo digno de nota. E parabenizaram o Imperador Branco. Simples assim!"

Os imperadores se reúnem meses depois, em Johannesburgo. Congratulam o Imperador Branco. Fazem uma festa. Eles se dizem cansados do confronto. "E agora?", diz o jovem Imperador Verde, que foi vencido prematuramente. "Quem quer ir lá em casa pra gente jogar Winning Eleven?"

Ouvindo:
Seven Days in Sunny June
Jamiroquai
Dynamite (2005)