domingo, 24 de maio de 2009

O Grande Colisor de Hádrons

Saudações, cordiais membros da comunidade terrestre! Mais uma agradável noite na minha metrópole, e como eu estou sem muito o que fazer por aqui, acho que vou agraciar este meu pobre blogue com alguma coisa desimportante, para que vocês venham visitar, ler, e pensar, afinal: "Por que diabos eu visito esse blog?". Sim, a cara de arrependimento e de frustração no ser humano alheio me diverte e me alimenta. Hohoho, seus bunda-moles.

Recentemente, entre minhas navegações pelo vasto oceano internético, li uma interessante notícia. Um grupo de cientistas norte-americanos decidiu que vai fundar uma estrela em pleno laboratório terrestre, em breve. Tratam-se de funcionários americanos dentro da National Ignition Facility (Centro Nacional de Ignição) em Livermore, cidade da Califórnia (aquele estado que parece um rim, e que é governado pelo T-101, o Exterminador do Futuro). E a função deles é bastante simples, na verdade: produzir uma reação em cadeia de feixes laser que vão ser todos condensados em um único ponto, onde fica uma pobre carga de hidrogênio. Com todos os lasers ligados, produzindo uns 500TW de energia (lê-se terawatt, ou um milhão de megawatts) - setecentas vezes a capacidade de produção da nossa Usina de Itaipú - o calor e a pressão seriam tão violentos que os átomos de hidrogênios teriam suas bolas esmagadas (literalmente) e se juntariam, formando átomos de hélio; entre outros, isso libera uma energia dos infernos. O Sol faz isso também, só que várias vezes e há bem mais tempo. Então, a ideia é bem essa: criar um anão do Sol, um irmãozinho menor e gerido pela própria humanidade. Medonho, né?
Quer dizer, e se essa desgraça der errada? E se de repente o sol cresce demais, engole a Califórnia, o planeta todo e todos morremos dentro de um sol? Macabro, cara! Eu já penso na saúde das minhas vestimentas interiores, só de imaginar essa hecatombe! Isso me lembrou a história do Grande Colisor de Hádrons, que foi apelidada de "Máquina da Destruição", entre outros adoráveis apelidos pouco assustadores. E foi que eu me toquei: "gente, eu nunca escrevi nada sobre o Grande Colisor de Hádrons! Que brisa mais errada!".
Pois é. Graças ao pequeno sol californiano, às 700 Itaipus e ao Exterminador, ponho-me a trabalhar. Vamos criar caos :B

O GRANDE COLISOR DE HÁDRONS
Quebrando coisas com estilo

O mundo era perfeito, no final do século XIX. Isaque Nílton (aquele cientista, cuja cabeça foi atingida por uma recém-madura maçã vermelha, lembram-se?) tinha ficado famoso por ter provado com 99,9% de acurácia como era o funcionamento do Universo. Ele previu como corpos se moviam no espaço, como a Terra rodava em torno do Sol, como era o bagulho da ação e reação, descobriu a receita da torta de maçã... Bom, ele descobriu um bocado de segredos universais. Com o universo praticamente teorizado, só faltava termos suficiente tecnologia para provarmos que Isaque estava tão certo quanto alguém poderia estar em uma mesma encarnação.
Mas é claro, ele estava errado (hehe). Quer dizer, não exatamente errado, ele só não terminou de acertar as coisas. Acontece que naquela época, achavam que átomos eram meio que bolinhas indivisíveis (do grego, ατομόσ, ou atomós, "que não é divisível"). Bom, durante o fim do século XIX e o início do nosso glorioso século XX, descobriram que o átomo é, sim, divisível. Acharam os elétrons, e depois os prótons. E acharam os nêutrons, também, que têm gosto de nada, mas que está lá. E foram achando cada vez mais coisas dentro dos átomos. Eles descobriram, por exemplo, que a luz também tem partículas (os fótons). E que o próton é feito de quarks. Enfim, quando eles descobriram um monte de coisas sem nexo nenhum para a Física Newtoniana, eles acharam por bem fundar uma nova área da ciência. E nascia aí a Física de Partículas.

A primeira grande pergunta da Física de Partículas nasceu no primeiro segundo de funcionamento deste campo científico. Como diabos estudar um negócio tão pequeno que nem com vários microscópios combinados se veria? Como provar que existe algo tão estupidamente pequeno dentro das coisas? Como cientistas não são cientistas à toa (eles convenceram um monte de gente a acreditar nas abobrinhas deles), eles tiveram de ter uma genial ideia para provar que os quarks estão lá, e não são só um nome engraçado. Como se fazer isso? Da maneira mais inteligente possível: quebrando as coisas pra ver como é dentro.
Imagine-se você, meu caro leitor, tendo lá seus oito anos de idade, e da posse de um relógio analógico. Sabe, um bastante bonitinho, que faz tic-tac, que tem algarismos romanos, que marca que dia é hoje, é super-estiloso. Um luxo. Naturalmente, por você ser uma criança, teve uma súbita curiosidade de saber como ele funciona. E então, você decide abrir o relógio pra vê-lo por dentro. Mas não tem chaves especializadas, não tem força nas mãos e está sem paciência. Qual é a maneira mais fácil pra abrir o relógio? Espatifá-lo na parede, é óbvio. Você o amarra em uma corda, e roda roda roda roda o relógio até que ele esteja bem rápido. E o atira na parede. Depois de aberto e todo virado pelo avesso, agora você cata de volta as tripas do relógio, e tenta remontar o objeto, antes que seu pai descubra. :D

A Física de Partículas ficou craque nesse episódio acima. Eles querem saber o que diabos há dentro de um átomo. Então eles pegam o átomo, rodam o infeliz e o atiram contra um outro átomo. Só que não é exatamente fácil "pegar um átomo e rodar o infeliz". Pra que se "pegue" um átomo, você precisa criar um campo magnético, pra que, digamos, um próton possa flutuar. E pra rodar, você precisa de vários ímãs alinhados em um túnel. E tem que sincronizar todos, pra que eles liguem e desliguem no tempo exato, para empurrar o próton pra frente. E isso tem que ser estupidamente rápido, porque quanto mais rápido uma partícula viaja, mais massa ela adquire (não me perguntem o porquê; Einstein provou e eu aceito como verdade fundamental). Se você puser um próton viajando a mais ou menos 99% da velocidade da luz, ele fica bem gordo. E aí, você manda um outro próton viajar no caminho reverso. E espatifa os dois. Pop!
Por isso, eles precisam construir túneis extremamente caros, cheios de ímãs e cabos e tubos e laboratórios, que ficam de prontidão pra entender o que exatamente sai de dentro dos prótons esmigalhados. E é essa a função de um acelerador de partículas: um túnel circular (a maioria é circular, mas tem uns que são retos e outros mais bizarros) em que se pode rodar prótons livremente, pra espatifar um no outro e ver se é colorida a joça que sai de dentro. E eles gastam bilhões de dólares construindo, e pagam milhões de dólares em salários mensais pros cientistas brilhantes que trabalham lá. Só pra brincar de jogar tijolinhos na parede. :D

E qual é a do Large Hadron Collider?
Depois de quebrarem milhões de prótons e nêutrons, os físicos montaram modelos malucos e teorias viajantes. Provaram que os prótons e nêutrons são formados por quarks, e que existem outras partículas que podem ser formadas por quarks. Todas essas partículas são chamadas de hádrons, que é um nome legal e que não significa paçoca nenhuma (mentira, vem do grego, significa "grosso" ou "robusto" :B). Então, um LHC nada mais é que um acelerador de prótons, mas muito grande. Tipo, muito, mas muito grande mesmo.
Os físicos quebraram vários prótons, até encontrarem todas as partículas que eles previam encontrar (bom, todas as plausíveis, pelo menos; teve uns que queriam encontrar a Força, mas falharam). Só falta um que eles querem achar, e que tá danado de aparecer. Ele tem até nome e função, mas tá que nem camisa 10 da seleção brasileira, fica só na promessa. É o bóson de Higgs, e a função principal dele é dar massa pras coisas. Mas ele é meio pequenininho, e ruim de se achar. Então os físicos convenceram os seus respectivos governos que com túneis ainda maiores, computadores ainda mais sofisticados e bolsos ainda mais fundos, eles provariam que o bóson de Higgs existiria. E convenceram a Suíça e a União Europeia a custear o LHC, o maior espatifódromo da história. Tudo em nome da ciência.
O truque do LHC é bater de frente dois prótons com uma velocidade dão alta, mas tão alta, que eles terão muita massa junta em um espaço muito pequetinininho. Quando se chocarem, vai rolar uma explosão energética semelhante ao do início do universo (Big Bang, manja?). Com tanta energia vai rolar, com certeza, esse tal bóson.

O problema com essa teoria é que todo mundo prestou atenção nas explicações seguintes: tanta massa junta em um espaço pequenininho vai criar um corpo extremamente massivo e minúsculo, que terá tanta densidade quanto um buraco negro. Isto é, teremos uma miniatura de buraco negro, no nosso próprio planeta! Holy cow!!!
E agora? E se tudo der errado? E se esse buraco negro sobreviver, engolir o laboratório, engolir a Suíça, a Europa e a nossa boa e velha Terra? E se formos engolidos por um vórtex no espaço-tempo? E se dividirmos o Universo por zero?
Foi aí que os cientistas se explicam: ainda que, de fato, ele vire um buraco negro fominha, ele terá a capacidade gravitacional de um buraco de agulha. E você não é sugado por um buraco de agulha, nem vê o Planeta Terra ser sugado por um buraco de agulha. Então não, não será criado o artefato que destruirá a humanidade de dentro do túnel. :)

O que me faz pensar: 3 bilhões de euros, milhares de cientistas e toda essa cobertura da mídia, e eles não vão montar um supertime de futebol, não vão criar um super-herói radioativo, não vão transformar chumbo em ouro e, o mais importante, não vão montar uma super arma que destruirá o planeta, para usar em alguma chantagem maligna contra o James Bond. Pra que, então, um túnel quilométrico que faz prótons rodarem?
Bom, se você tivesse 3 bilhões de euros e uma vontade inexplicável de jogar coisas na parede, você, com certeza, faria a mesma coisa. Quando se tem o orçamento da União Europeia, você pode fazer qualquer coisa. Tomara que montem, na próxima, uma máquina que faz chover sorvete. Ou que quebre coisas de verdade. Tipo carros. Adoro batida de carros. Então eu acho que vou assistir à reprise da Fórmula 1. :P
Boa semana, meninos ^^

Ouvindo:
Squeeze Me
Kraak & Smaak
Plastic People (2008)

2 comentários:

A.C. disse...

Rafa você não se cansa de escrever tão grande assim?

Jussara Amaecing disse...

Rafael cara de pastel. :E
Por que tu é assim cara?
Seu nerd filho de uma mãe!!!
Qualquer dia desses passo aí só pra roubar teu cérebro! CUIDADO VIU!!
Beijãooo. ;**