Mais de ano desde a última vez que postei no Inominativo. Mas mesmo sem postar por tanto tempo assim, eu nunca o declarei oficialmente falido, de modo que achei por bem postar algo aqui assim que sobrasse tempo livre e boas ideias.Modéstia a parte, boas ideias eu sempre tenho. Mas tempo livre, epa, acabou de aparecer. Então, senhoras e senhores estimados leitores, e leitor aleatório que parou no meu blogue sem querer querendo, convido-os para mais uma leitura, porque eu adorei escrever mais um texto para o meu blogue querido, e adoraria mais ainda que vocês os lessem! Aproveitem, e espero que se divirtam!
E se não se divertirem, também, vão cagar. Chatos.
Nerd Pop
Ser nerd está na moda
O mundo sempre gostou de rótulos. Rotular as coisas é uma maneira bastante fácil de entender o que você ainda não entende, de explicar o que ninguém te explicou, de dar uma cara familiar pra algo que você nunca viu. Então, não é de se espantar que as nossas felizes sociedades humanas tenham ocupado muito de suas vidas efêmeras rotulando as coisas, os fenômenos, os eventos e as pessoas. Siiim, as pessoas também! Porque, afinal de contas, humanos também são estranhos, e rotular ajuda bastante quando você quer entender humanos estranhos.
Rotular as coisas não é ruim, é claro. Muito pelo contrário! Vejam vocês, o Universo é um lugar bastante complicado, e a humanidade evoluiu encontrando padrões no Universo pra aprender a fugir de predadores, plantar batatas, dançar salsa e, enfim, viver uma vida feliz. Se não fosse nossa admirável capacidade de encontrar padrão em tudo quanto é lugar que olhemos (ou ouçamos, toquemos etc.), não teríamos essa nossa notável habilidade em evoluir e nos adaptar ao nosso mundo belo e hostil. E isso é ruim. Então, padronizar as coisas que encontramos nos ajuda, sabe, porque a gente entende o universo, consegue se adaptar, e vive feliz. Êêêêê!!
Mas eu viajei demais. Estávamos rotulando os humanos e, como vocês sabem, isso é bastante fácil e comum nos idos modernos. Desde que você é pequeno e começa a se acostumar com a sua sociedade estranha, você aprende a rotular as pessoas. Porque todo mundo faz, porque é divertido e rende boas piadas, porque é mais fácil. E aí, você passou, então, a ter, já na sua escolinha, os amigos palhaços, os atletas, as patricinhas, os filhinhos-de-mamãe.
E os nerds, claro. Todos conheciam alguns nerds. Aquela galera estranha, que entendia matemática, corrigia os que falavam errado, jogavam vídeo-game, eram desajeitados e esquisitos. Na época das panelinhas, ninguém se misturava com um nerd, porque eles eram bizarros e sem-graça, só falam de coisas que ninguém entende. E os nerds também não se misturavam, porque ninguém os entendia, e ninguém tolerava os gostos exóticos que eles tinham (como assim, gostar de química, jogar Mega Drive, ler Superinteressante?). Pelo menos na infância deste autor que vos fala (os saudosos anos 1990), nerds eram meio alienígenas, meio monstros, aqueles caras que você até conhece e dá bom dia, mas é melhor manter distância. Pode ser que mordam.
Bom, enquanto o resto do mundo vivia a sua vida feliz, jogando bola, andando de bicicleta, tomando sorvete e sendo tão normais quanto o possível, aqueles pobres nerds viviam nas suas vidas estranhas. Estudando química orgânica, comprando Playstations e lendo livros do Carl Sagan, os meninos nerds conseguiram mesmo viver numa vida paralela deles. Inventaram o RPG (role-playing game, jogo de fantasia assaz interessante em que você pode matar dragões e derrotar magos poderosos sem sair de casa), descobriram as ficções científicas americanas e, enfim, descobriram um breve nicho de felicidade nesse inóspito mundo moderno. Os nerds podiam ser estranhos em paz, sem incomodar ninguém!!
E prosperaram também! Como eles eram craques em matemática e física e química e essas coisas, eles conseguiram convencer seus governos a investir seus dinheiros em máquinas grandes e complicadas, que poderiam fazer coisas superbacanas (tipo descobrir como funciona o universo). Assim, os nerds podiam ser estranhos e, além disso, ajudar a sociedade de pessoas normais a viver uma vida mais bacana e frutífera! Nada mal pros nossos amigos nerds!
As coisas começaram a mudar quando o computador finalmente ficou barato. Até os anos 1970, computadores eram enormes máquinas barulhentas e cômicas, que tinham o tamanho de uma sala inteira e levavam eras pra realizar cálculos simples. Só laboratórios ricos e importantes tinham computadores, vocês entendem. Aí, bem, descobriram como fazer um chip de silício. E descobriram como fazê-lo funcionar com uma tela de cristal líquido. E aí, um computador do tamanho de uma sala ficou bem pequenininho! Agora, calculadoras pequenas e baratas poupavam o dono da lojinha a ficar fazendo suas somas enfadonhas, e os engenheiros podiam passar menos tempo checando seus cálculos quilométricos, e mais tempo inventando coisas bizarras (como uma lata de sardinhas que pousa na Lua).
E quando todo mundo achava que os computadores estavam tomando conta da vida comum de todo mundo normal surge o primeiro nerd pop. Bill Gates, o dono da Microsoft e inventor do DOS e do Windows, convenceu toda a civilização judaico-cristã ocidental a comprar um (agora) barato e simples computador pessoal, porque seria superbacana ter uma máquina pra jogar paciência em casa! Maomeno na mesma época, outro nerd pop, Steve Jobs, populariza o seu Macintosh e, agora, todo mundo tem um computador em casa! Pouco a pouco, as pessoas se acostumam com traquitanas eletrônicas, controles bizarros e outras estranhices obviamente nerds.
Por que estou dando toda essa volta? Para mostrar pra vocês que os nerds, aqueles caras estranhos e fora de contexto, agora estão inventando máquinas superlegais que estão totalmente na moda! De repente, todo mundo tem um computador portátil, e um espertofone com acesso a internet rápida, e um vídeo-game modernoso que identifica seu movimento... Já que não podiam ser populares normalmente, os nerds forçaram sua popularidade, inventando coisas que todo mundo sempre quis ter, mas nunca estudou o suficiente pra fazer. Mas os nerds fizeram!! E agora, liderando a sociedade ocidental, eles se tornam populares, idolatrados e referências. Os nerds, finalmente, acharam seu lugar na sociedade: bem no meio dela!!
É claro, esse processo não foi da noite pro dia. Lá nos anos 1990, onde comecei minha história, só alguns poucos nerds entendiam de sistemas operacionais, disquetes de 3 ½ polegadas, capacidade de processamento. Vídeo-game, então, era coisa de exilado social, de fracassado. Aos poucos, entretanto, os nerds ensinaram aos normais, pacientemente, como jogar Sonic the Hedgehog, como colocar um ringtone personalizado no Nokia novo, como usar o Firefox pra acessar a internet, como pesquisar no Google e aprender as coisas no Wikipedia. Os nerds, agora importantes gurus da vida moderna, passaram a inspirar a geração desse nosso magnânimo Século 21, e todos entendem um mínimo de nerdês pra viver essa vida moderna metropolitana.
Finalmente, capitalizando o sucesso dos nerds, séries de televisão e filmes e músicas trouxeram, aos borbotões, a cultura nerds, que viveu escondida nas gavetas dos seus amigos estranhos e exilados. Se antes era coisa de nerd, hoje todo mundo entende as referências a super-heróis, a livros esquisitos com idiomas próprios, a séries espaciais com sabres de luz e religiões fodonas. O nerd, caro amigo, hoje é pop. Até aquele cara bronco e valentão que fazia bullying nos nerds antigos hoje manja um pouquinho de nerdês, e até se diverte assistindo aos Vingadores! O nerd precisou de algumas décadas, mas finalmente venceu! Finalmente agora tem amigos, dinheiro, mulheres e vídeo-games aos montes.
Há os nerds que se sentem recalcados, invadidos. Passaram a vida inteira se escondendo por serem nerds e, agora, todo mundo também é nerd. E ninguém nunca pediu desculpas pra ele!! Como assim? Mas, na minha opinião, somente o fato da civilização ocidental passar a gostar tanto de nerds a ponto de não ser mais estranho usar por aí camisetas do Lanterna Verde já é um grande passo nessa sociedade bizarra nossa. Hoje, espontaneamente, muito mais pessoas passam a usar o rótulo de nerd.
E você, caro amigo nerd, não precisa mais se esconder para ser feliz! A humanidade recebe você de braços abertos, oferece cookies e aulas de salsa! E até te dá de presente laboratórios caros! Desde que vocês nos deem mais alguns apps brilhantes e divertidos pra iPhone. Por favor, nerd. E aí a gente não enche você de porrada pra tomar o lanche do recreio. :D
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