Mais uma vez, olá, gente boa! Neste desagradável mês de Maio em que não há feriados (afinal, o Dia do Trabalho me resolve cair em um domingo) eu senti saudades e resolvi voltar para despejar mais bobagens no meu cantinho preferido da internet. Aê, viva o meu blogue!!
E obrigado pela visita :)
A postagem de hoje me ocorreu em uma epifania durante uma caminhada pela Avenida Paulista. Ah, vá, até você que não tem nem ideia de onde fica São Paulo deve saber que a Avenida Paulista é o nosso cartão-postal por excelência, a avenida mais importante, o lugar mais frequentado... É o xodó paulistano, a nossa tia Paulista. E aí este autor que vos escreve teve essa ideia. E achou por bem por no papel (ou na internet, vocês entenderam) antes que a ideia voasse. Será que fica um bom texto? Ou era melhor ter desencanado?
Contos do Cotidiano
XII - A Mina da UNICEF
"Alô?"
"Alô, Carlinhos? É o Márcio, cara!"
"Oho, seu viado! Tudo bem contigo?
"Tudo certo, Carlos, tudo certo... Escuta, véio: seu pai, como ele tá?"
"O meu velho tá bem, cara. Já voltou do hospital, era só um susto."
"Ufa, menos mal. O tio deu mó susto na galera."
"Pois é. Mas meu pai é assim mesmo: uma piada pra ele sempre vale a pena..."
"Maaano, preciso te contar, cara: conheci uma mina hoje!"
"Mais uma, Márcio? PQP, que aconteceu com a última? Ela já cansou de você?"
"Porra, não enche, cara. O que importa é que conheci essa mina hoje! Ela é linda, ela é uma graça, ela parece um anjo, velho!"
"Okay. Onde você a conheceu?"
"Na Paulista, Carlão. Tava andando lá, indo pra livraria comprar uns livros pra facul. E aí ela me abordou e a gente ficou conversando"
"Pera: ela te abordou?"
"É. É que ela é uma daquelas funcionárias de ONGs, manja? Que ficam na Paulista pedindo pra você ajudar alguma criança de algum país-quistão, sabe?"
"Ah, sei."
"Então, ela é da UNICEF."
"Putz. Ela foi vender o peixe dela e você se apaixonou. Típico de você, Márcio. Típico"
"Porra, Carlão, vá se fuder, velho. Eu falei pra ela que não tinha como ajudar. Era universitário, falido, liso, nem trabalhava. Ela insistiu. Eu falei que doava se ela saísse comigo. Ela sorriu. E aí eu peguei o telefone dela."
"É mesmo? Que cantada loser."
"Mas funcionou, mano, larga de encher o saco. Amanhã eu vou ligar pra ela e marcar alguma coisa. Que você sugere?"
"Ah, mano, sei lá. Leve-a pra jantar. Ou leve-a ao cinema. Algo bem sossegado. Só não vai levá-la pra ver Resident Evil, velho!"
"Huahuahua... Beleza, nunca mais faço isso de novo, prometo."
"Depois você me conta o que aconteceu com a mina da UNICEF."
"Beleza, Carlinhos. Manda um beijo pro tio"
"Mando sim."
---
"Fala, Márcio!"
"Eaê, Carlão? Beleza?"
"Beleza, cara. Escuta, meu pai pediu pra te mandar um beijo, agradeceu por você ter perguntado."
"Valeu. Avisa o tio que não é pra ele morrer antes de me levar pro Rock in Rio. Ele prometeu."
"Hehehe, vai esperando... Ow, e aí? Ligou pra mina da UNICEF?"
"Liguei, velho. Liguei ontem, antes da aula."
"Eaê, cara? Que pegou?"
"Maano, ela é um barato! Ficou fazendo docinho, disse que gostava de cinema, mas que não tinha nada legal... Então ela topou irmos jantar"
"Onde você vai levá-la?"
"Sei não. Tem uns restaurantes legais lá pela Paulista, mas eu não conheço muitos. E são caros."
"Eu tenho um legal. Vou te mandar por e-mail hoje quando chegar em casa. Lá é barato, e eu tenho um cupom de desconto. Usa lá pra aliviar pra você, seu pobre."
"Huahauhua, valeu.... O único chato é que ela ficou me enchendo saco pra doar pra porcaria da UNICEF. Mano, eu não quero dar meu pobre dinheiro pra alguma criança remelenta do Tadjiquistão! Nem sei onde fica esse país!"
"Larga de ser inculto, cara. Senta lá no Wikipédia, e aprende mais sobre o país dela. Surpreenda-a!"
"É, talvez você tá certo. Vou ver"
"Quando você vai?"
"Acho que sexta"
"Beleza. Não se esqueça de que domingo vai ter churras em casa por causa do jogo do São Paulo"
"Fechado, velho. 'Té domingo"
"Até, Márcio."
---
"Márcio, meu querido."
"Fala, seu viado."
"Ow, meu pai pediu pra você não se esquecer de trazer pr'aqui amanhã o pote que ele emprestou pra sua mãe aquele dia."
"Opa, tá lembrado! Vou pedir pra minha mãe deixar separado aqui."
"Eaê, cara? Saiu ontem com a mina da UNICEF lá?"
"Saí, velho..."
"Porra, cara, então conta! Que diabos aconteceu?"
"Putz, cara, a gente foi lá no restaurante que você indicou. Aliás, valeu pelo tíquete, ele aliviou bastante. Aí fomos lá, comemos, e eu me ofereci pra pagar a janta dela, claro."
"E ela?"
"Mano, ela aceitou, mas ficou me enchendo o saco a noite inteira. Disse que achava injusto eu ter dinheiro pra levá-la pra jantar e não ajudar a UNICEF com uma doaçãozinha de nada, que nem iria doer em mim. E me perturbou a noite inteira"
"Porra, velho, que foda. Ela é idealista mesmo, hein?"
"Ô se é. Aí ela disse que topava ir no cinema semana que vem comigo, mas com uma condição: eu deveria fazer uma doação pra UNICEF. Uma só, e ela parava de me encher."
"Huahuahuahua, não acredito, Márcio!! E aí? Que que você vai fazer?"
"Sei lá. Acho que não vou não. Vou ver se eu a enrolo"
"Pode crê, enrola a mina. Ow, peraê, meu pai tá me chamando, vou lá ver."
"Beleza, amanhã a gente se vê."
"Até amanhã, Márcio"
---
"Alô."
"Márcio, você é um grande filho da puta."
"Pô, Carlinhos, respeito com a sua tia."
"Maaano! Você não foi em casa ontem!"
"Foi mal, velho. Eu deitei no sofá e dormi. Só acordei no meio do segundo tempo do jogo. Aí desencanei."
"Bem feito, meu pai fez uma picanha que é de dar água na boca só de lembrar, cara. Como você me perde, velho? Como?"
"Foi mal, velho! Queria mesmo ter ido. Pior que nem levei o pote do tio. Que mancada."
"Mancada mesmo. Seu brocha."
"Acontece."
"Falar em acontecer, já falou de novo com a mina da UNICEF?"
"Falei, falei. Liguei pra ela hoje. Ela agradeceu a janta, a gente ficou conversando. Aí ela perguntou se eu fiz a doação que prometi."
"E você fez?"
"Não, claro que não. Mas eu falei que fiz. Que tinha ido no caixa eletrônico e tudo."
"E ela?"
"Maaano... Ela disse que ia entrar amanhã na conta pra ver se era verdade. Ela duvidou de mim. Mas que mancada!"
"Mancada mesmo, né? Até parece que você iria mentir pra ela"
"Carlão, que eu faço?"
"Agora, filhão, ela vai descobrir que você mentiu, né? Então, o negócio é o seguinte: ou você não doa o dinheiro e desencana da mina, ou você dá logo seu dindim, e pega ela duma vez. Mas peloamordedeus, depois de tudo isso, é bom que vocês no mínimo namorem uns 6 meses"
"É. Me dei mal, mesmo, vou ter de dar meu rico dinheirinho pra alguma criança remelenta no Tadjiquistão. Porcaria."
"Me liga depois pra me contar o que rolou."
"Firmeza."
"E sábado tem jogo no Morumbi. Vê com seu irmão se vocês vão também."
"Tá. Te cuida, Carlão"
---
"Marciããão"
"Fala, Carlinhos."
"Credo, Márcio, que animação é essa? Morreu alguém?"
"Acho que levei um fora."
"Como assim? Da mina da UNICEF?"
"É, velho"
"Como assim? E você não fez a porcaria da doação?"
"Então, meu. Eu fiz. Até dei um print screen do comprovante no site do banco e mandei por e-mail pra ela. Mó bonitinho."
"E então...?"
"Dia seguinte eu liguei, ninguém atendeu."
"Ué"
"Acho que liguei umas 10 vezes. O dia inteiro. Mandei e-mail no fim do dia. E no dia seguinte liguei de novo, mais umas 5. Aí, alguém atendeu o telefone. E desligou direto, manja? E aí passou a cair no ocupado"
"Pffft... Huahuahuahuahua!!"
"Porra, Carlos, vá se fuder, de que você tá rindo?"
"A mina esperou você doar o dinheiro e te deu um fora! Não acredito, velho!! Huahuahuahua!"
"Caramba, mano. Será?"
"Poutz, meu, tá na cara! Você mandou comprovante e tudo, e ela sumiu. Até bloqueou você do celular dela! Ai, caramba, eu não acredito... Huahuahua!"
"Velho, não é possível! Eu fui usado?"
"Caiu feito um pato! Hahuahuahuahua!"
"Maaaano... Que filha duma puta..."
"Bom, ela fez o trabalho dela, né? Conseguiu fazer com que você doasse pra UNICEF"
"Poxa, mas precisava de tudo isso? Ela me magoou, mano."
"E você doaria, de outro modo?"
"Nem a pau!"
"Pois é. Ela arrancou seu dinheiro. E sumiu. Huahuahuahua, eu não acredito..."
"Mano, nunca mais doo nada pra UNICEF"
"Desencana, velho, você já doou uma vez. Era o que ela precisava. E aí, a gente vai sabadão no Morumbi?"
"Pô, mano, nem vou não. Vou ficar em casa."
"Por quê, seu molenga? Tá tristinho, é? Tá sem vontade de sair de casa?"
"Pior - tô sem dinheiro, mesmo. Doei pra alguma criança remelenta no Tadjiquistão."
Ouvindo:
It's OK
Cee-Lo Green
The Lady Killer (2010)
Um comentário:
Essas Ong, é tudo um bando de vagabundo e ladrao , todos tem salarios e ninguem é volutario de nada ...
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