domingo, 19 de agosto de 2007

Reino da Bagunça

Boníssima noite, mes amis! Eu estou aqui, firme e contente, para mais uma vez postar neste blog que tanto prezo! Postar coisas legais, como sempre! Ah, que maravilha é ter um blog pra poder escrever o que eu bem entendo... Recomendo a quem se interessar. É fácil e divertido. Só consome um pouco do seu tempo mas, eu, por exemplo, acho que é bestante legal parar, às vezes, pra reler meus textos e rir um pouco com eles e me orgulhar deles.
Pronto, o momento Narciso passou.

Como é de praxe, algumas palavras merecem ser ditas antes de começarmos. Antes de mais nada, agradeço a vocês que comentaram o meu post passado. Como a minha prima Cibele sabiamente analisou, foi necessário um post ligeiramente político pra fazer as opiniões das pessoas pulular aqui. Entretanto, apesar de ter parecido um golpe estratégico muito sagaz de minha parte, a minha intenção não foi essa, na verdade. Essa idéia de post nasceu depois de uma conversação com um amigo meu do trabalho, em que falávamos que não precisamos, afinal, de dinheiro. Só queremos as coisas legais que podemos comprar com ele. Como eu tenho uma mente fértil, foi um pulo.
Segunda coisa a se dizer - depois de ler alguns comentários e reler à exaustão o meu post, passou pela minha cabeça que alguns de vocês, leitores, não tenham entendido que eu estava sendo razoavelmente irônico. A ironia é um dos adjetivos mais queridos por mim, sabe? Eu uso (e abuso) dele, caso ninguém nunca tenha notado. É uma diversão. Seja lá como for, espero que não tenham se equivocado: eu não sou comunista, nem pretendo ser tão cedo. Todo o texto passado foi uma grande piada. Eu achei que não precisasse dizer isso nesse blog, e já é a segunda vez que faço isso. Vocês me decepcionam. =/

Vamos lá! Agora acho que tenho algo pra escrever, então vou rápido antes que eu desista dessa idéia também. Yahoo!

Reino da Bagunça

Se tem uma coisa que você aprende com a sua família é: você não manda em zica nenhuma da sua casa. Reduzido à condição de obediente fiel de seus genitores ditadores, você tem que fazer as vontades deles e acatar aos seus "pedidos", sob a falsa acusação de que "tudo é para seu bem". Ou eu estou mentindo? Usurparam de seus direitos essenciais, garantidos pela Constituição de 1988 e da Declaração dos Direitos Universais dizendo que todos somos livres, e fazem com que você os obedeça ou morra. Quantas boas opções pra se escolher...
Como todo bom guerrilheiro, entretanto, tentamos dobrar a infeliz ditadura imposta por esses reacionários. Éramos presenteados, em nossos tempos antigos de nanicos, com um pequeno feudo, ao qual chamávamos "quarto". Neste território guardaríamos nossas tranqueiras, faríamos nossas pequenas obrigações escolares (muitas, na verdade) e dormíamos. Usualmente, dormíamos cedo, porque não podíamos ficar acordado até tarde. Era injusta a vida de uma criança.
Mais injusto ainda era o fato de nossos pais - principalmente as mães, que são narigudas desde o tempo que a Bíblia era lançamento - quererem tomar conta da única parte da casa que ainda era nossa. Mesmo que não fosse muito, mesmo que não fosse de verdade, era a parte que era mais nossa, não? Onde dormíamos e podíamos ter chiliques quando deitavam em nossas camas e onde guardávamos nossos brinquedos e nossos livros. Mesmo lá, queriam se meter, e arrumar, e organizar. Qual é a deles?

Quer dizer, parece até meio lógica e recíproca a idéia que no seu quarto você quem manda, não? Não pode fazer bagunça na sala porque as visitas podem ver. Não pode fazer bagunça na cozinha porque as louças podem quebrar e esses trecos todos. O banheiro é muito pequeno, não tem graça bagunçar lá. A não ser debaixo do chuveiro, mas o pai também chiava que chuveiro ligado custa caro, et coetera. No quarto dos pais, imagine, nem morto, nem pensar, não pense nem em sonhos, seu moleque. O que nos sobra, então? Nosso quarto, naturalmente! Era o lugar em que temos a maior parte de controle, afinal de contas. Se é razoável a idéia de que não podemos nos meter no quarto dos nossos pais, não é razoável também que nossos pais não podem se meter no que é nosso? Claro que sim!
Partindo dessa premissa, cuidávamos para que nosso quarto virasse, digamos, uma zona anárquica. Lá você tirava seus quilos de brinquedos, brincava com eles, se divertia, chamava amigos, jogava Banco Imobiliário e WAR ou, se você, cheirosa dama, fosse uma menininha, brincava com suas semelhantes de Barbie e o que a conviesse. Era de se esperar que, pragmáticos como éramos quando criancinhas, pensávamos que era milhares de vezes mais fácil não guardar as coisas porque, dã, amanhã brincaríamos de novo! Pra que eu vou perder tempo desmontando tudo e guardando se eu posso, tão simplesmente, deixar ali, no cantinho, e amanhã eu brinco do mesmo jeito que está hoje? Uma mentalidade prática, evoluída, que pensa no futuro. O tipo de mentalidade que as empresas de hoje procuram em seus trabalhadores.
O tipo de mentalidade que seus pais, aqueles arcaicos, memórias vivas da Era Medieval, fazem questão de evitar ter. Eles preferem ter a velha opinião formada sobre tudo, sabe? E acham que deixar as coisas jogadas por aí é uma afronta, um perigo para a sociedade, os modos e o bom costume, e obrigam você a obedecer o Ritual dos Costumes Ultrapassados. Aqueles arcaicos. O que acontece é que você tem de desmontar seu castelo de Lego todiiiinho, só porque ele não pode ficar em cima da estante ou do lado da cama. Ou guardar seu cemitério de automóveis depois que você narrou com o máximo de emoções uma corrida de carrinhos até a morte de todos eles. Ou juntar todas as suas bonecas e tranqueiras porque estavam no meio do quarto. É claro que estavam! Vou guardar no cantinho, onde é mais difícil de pegar? Mas era exatamente isso que eles queriam. Organização...

Seja lá como for, você descobria, frustrado, que não havia muito que reclamar. O quarto não era seu, nem nunca foi. É um empréstimo, meu querido, e pare de reclamar antes que cobremos aluguel, dizem os pais, capitalistas comidos pelo mercado especulativo. Seu pai, podendo imitar um gorila - já discutimos isso antes, lembram? - dizia que esta era a casa DELE, quem manda é ELE, e aquele festival de testosterona. Sua mãe dizia as mesmas coisas, mas não com essas palavras e nem com os mesmos gestos. Mas era razoavelmente a mesma coisa. E arrume já seu quarto!!
Mas seu espírito guerrilheiro nunca cessou de gritar dentro da ditadura! Você arrumava. Contrariado, porém arrumava. Maaas quando seus pais achavam que você havia aprendido a lição, hehe, você ia novamente e quebrava tudo! Venham, amigos! Vamos botar este templo de paganismo abaixo! Um viva à bagunça! Yabadabadoo! E vamos nós remontar tudo, perder mais pecinhas, derrubar mais coisas, sujar algumas camisetas e o colchão e o travesseiro...

Eventualmente, entretanto - como é natural - você cresceu. Agora, em vez de deixar seus carrinhos (ou bonecas, conforme eu já discerni) jogados por aí, você deixa seus pertences escolares e roupas e livros e outros bens que você mantém agora, que é um adolescente metido à besta. Sim, sua infância acabou e, com ela, a vontade de deixar bagunçado pela pura diversão da bagunça. Agora é hora da bagunça porque sem ela as coisas ficam vazias pra você. É mais ou menos nessa época que você desenvolve o senso de "bagunça organizada", em que está bagunçado, ok, mas eu sei me entender nessa bagunça. Sei achar onde estão meus livros, minhas roupas limpas, meu travesseiro. Ele está em algum lugar aqui, eu tenho certeza...
Você mudou. Seus pais não. Nossos exemplares da Monarquia Absolutista continuam achando que seu quarto é tão-somente uma colônia da casa deles, e continuam obrigando você a manter aquilo limpo. Arrume os livros! Guarde as coisas! Mantenha a cama limpa! Dobre suas roupas! Isso parece um disco arranhado.

Para manter o quarto a seu bel-prazer, você tem que ser perseverante, persuasivo, paciente e bastante original. O truque é tentar convencer seus pais de que não existe futuro e não existe jeito, o quarto não tem arrumação. Eu e meus irmãos, a título de exemplificação, vencemos minha mãe xerifona porque a gente foi duro na queda. Nossas camas eram cenários de guerra, nossos guarda-roupas eram cenários desoladores, nossa escrivaninha era o que sobrou de um filme do Arnold Schwarzenegger. Minha mãe ia à loucura. A gente dizia que íamos arrumar depois, que estávamos ocupados estudando, essas coisas. Dizíamos que era Feng Shui, pra manter o espírito da casa positivo, sabe? Ou mandávamos o clássico "Pra que arrumar a cama? Hoje à noite vou desarrumar de novo!". Aliás, ainda não conseguiram me responder essa última pergunta. Minha cama está lá, com montes de roupas e coisas desdobradas. Como eu havia escrito outra vez no meu perfil do orkut, o site do turco louco, "é uma cama de um garoto comum, cazzo!".
Portanto, não desistam, guris! Lembrem os seus pais que o seu quarto pode até ser deles, mas é seu também! Lá vocês podem fazer a bagunça que quiserem! Lá o mundo é de vocês! E se eles não achem, bem, mostrem a eles que é melhor só o quarto bagunçado do que, por exemplo, o quarto e a sala, o seu quarto e o quarto deles... Bagunce a sala até eles cansarem, e aí dizerem "Tá legal, vá fazer bagunça no seu quarto!". Vitória da guerrilha! Parabéns!

E continue lutando pela liberdade, guri! Mantenha o sonho vivo!

Ouvindo:
(Don't) Give Hate a Chance
Jamiroquai
High Times: Singles 1992-2006

7 comentários:

Anônimo disse...

Menino do céu, eu lembro que eu tentava negociar a arrumação de cama com minha mãe: eu poderia até arrumar, mas ia ficar com o cobertor ao invés de lençol, porque era mil vezes mais prático.

Sua primeira revolução comunista e imperialista, sr Rafa??

Bezi

Anônimo disse...

Ah, que orgulho de irmão! Rafa, por que você não escreve um livro? :D

Anônimo disse...

Me senti em casa com esse tema, Rafa. Ainda hoje odeio arrumar meu quarto xD

Anônimo disse...

E não é que é verdade:

(teclado fdp)

Anônimo disse...

Que engraçado. Agora mesmo minha mãe gritou lah de cima pra eu ir arrumar meu quarto. Falei q já tava indo, fechei a porta do escritório e voltei pro pc.
O legal eh ver q as famílias nao mudam. Soh o endereço mesmo. hehehe

Beijaaao primo meu!
e ah, obrigada pela lembrança no post! Fico feliz q vc goste do comentários, assim eu comento sempre.

Ana Luiza disse...

kkkk

tive até que enviar seu post para a minha mãe....ela usa dos mesmos argumentos comigo...
Injusto o mundo em que vivemos né?

bjs

Anônimo disse...

É as coisas nunca mudam...
=*