quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Agradeçam ao Bacalhau

Adeus, 2009! Até mais, so long!

Também cotado como o ano em que este autor que vos dirige a palavra menos contribuiu para este blog, o ano de 2009 se vai com muitas memórias. Siiim, lá se vai um ano verdadeiramente único, em que tantas coisas aconteceram...
Bah, grande merda. 2008 também aconteceram várias coisas, mas nem por isso ele foi diferente. A verdade é que logo mais, 2009 só será mais um ano no passado. E se você pensar bem, em pouco mais de um ano, 2010 também será passado. Então por que se importar com tudo isso? Pra que toda essa euforia? Vamos beber e gastar dinheiro com coisas desimportantes, em vez disso! Esses são os meus votos para vocês em 2010. Vivam desimportantemente, porque ser importante é chato e sem-graça :B

Esses 10 dias que antecedem a cerimônia oficial de troca de folhinha de calendário da parede costumam ser cercados de tradição, né? Comprar presentes de última hora, ir em festinhas de família, agradar a pentelhada que há na sua família (se você for azarada, tem de agradar a sua pentelhada também...).
E aí, passado o Natal, é época de Ano Novo! Aew! Virada de ano com comida e doces e alegria e rojões! Uma tradição, em especial, me chamou a atenção ainda hoje, no último dia do ano, vejam vocês: esse tal de bacalhau nas festividades de Natal/Ano Novo.
Uma vez me disseram (aula de História, talvez) que toda tradição é carregada de significados. Eu nunca pesquei o significado do bacalhau, entretanto (provavelmente porque eu nunca me importei), então eu fiquei cismado. E das últimas vezes que me cismei com alguma coisa, fui, claro, ao Google todo-poderoso, e não só aprendi mais sobre a vida e o universo - ou sobre a cultura inútil, como preferirem - mas também consegui informações suficientes para uma postagem neste blog! Então celebrem meu interesse por coisas aleatórias, porque graças a ela, tem texto aqui hoje, no dia último do ano! AEEEEW!!

AGRADEÇAM AO BACALHAU
Graças a ele, todos nós falamos Português

Era uma vez o Reino de Portugal. Uma nação menor, caipira e cafona nos lados mais esquecidos da borda ocidental do continente europeu. Enquanto o resto da Europa se divertia entrando em guerras por mais terras para plantar trigo, os tugas viram que não era uma boa ideia participar dessa brincadeira. Primeiro porque eles não eram nada bons em brigar por terras. Segundo porque do outro lado, tinham os reinos espanhois, que eram mais ou menos aliados entre si e também eram cristãos, então pegava mal matar filhos de Deus. Terceiro porque os portugueses nunca foram muito fã de pão, mesmo, então nem valeria a pena.
Já que não rolava plantar, eles se lembraram que estavam de frente para o maior mar que os povos europeus conheciam, esse tal de Oceano. E passaram a navegar nos oceanos, para comerciar com outros povos que também estavam à toa. Entre uma navegação e outra, eles começaram a praticar a pesca. E ficaram realmente craques nisso. Os portugueses viraram exímios pescadores, além de grandes comerciantes e craques em desbravamento.

Mas os tugas tinham problemas internos. Acontece que comer era um treco caro em Portugal no século 13 e 14, porque era difícil ter carne pra todo mundo e, como eu já frisei, pão não era a praia lusitana. A Igreja Católica, que na época se encarregava de controlar a vida dos seus fiéis, proibia que os portugueses comessem carne vermelha em dias comuns. Isso, naturalmente, porque o preço dela era extremamente proibitivo. Então os lusos tinham de se virar para comer outras coisas - peixe, por exemplo. Eram mais fáceis de achar, eram mais saudáveis e tudo isso. Não foi à toa que os lusos ficaram tão fissurados em navegar: era onde a comida estava, ó pá!
Bom, nestes mesmos séculos 13 e 14, os tugas passaram a desbravar as águas. Nadaram para o sul e para o norte e para tudo quanto era lugar em que tinha água suficiente pra se enfiar uma caravela. E um dia chegaram na costa do Canadá. O atual país do norte da América do Norte era há muito conhecido pelos víquingues, mas os portugueses chegaram lá e descobriram um tipo muito bacana de peixe: esse tal de bacalhau. Um peixe que depois de pescado, vem extremamente salgado e que precisa de um tratamento de pelo menos um dia pra que ele fique comestível. Difícil, né?

Mas aí é que está a graça! Ele era salgado!! Os europeus que viajavam muito descobriram que o sal mantinha a comida fresca por mais tempo. E o bacalhau, vejam vocês, era salgado por natureza! De sorte que ele aguentava longas viagens e continuava fresco! E ele era gostoso, ainda por cima! E como ele era um peixe, os portugueses podiam comê-lo em dias regulares da semana sem serem punidos pela Igreja Católica!
Pouco a pouco, o bacalhau foi considerado um alimento extremamente desejado na culinária portuguesa, e os nossos patrícios passaram a ser os maiores consumidores de bacalhau do mundo (recorde que ainda mantêm). Também foi conectado a motivos religiosos - afinal, a Igreja estimulava o consumo de bacalhau para que outras carnes mais caras fossem poupadas. Então comia-se bacalhau na Páscoa, e no Corpus Christi, e em festas de santos devotos... E, claro, no Natal! Graças ao sal do tal do bacalhau, os portugueses aprenderam a comê-lo tanto que virou símbolo nacional. Credo, né?

E o que tem a ver o bacalhau com o título lá de cima? Bom, há um historiador português que defende que graças ao bacalhau, o Reino Cafona de Portugal passou a ser o Império Megafodão Português. Isso porque os portugueses passaram a dominar as técnicas mestras de navegação ao buscar peixes para pescar. E as técnicas usadas pelos tugas ao desbravar, conquistar e consumir o tal do bacalhau lhes garantiu tamanha capacidade técnica que foi possível, em 1500, achar a Bahia! E com a Bahia (e também a Angola e o Moçambique e a Índia), os portugueses passaram a ser um superimpério que comprava e vendia qualquer quinquilharia, que ensinava português a qualquer metido a sabichão por aí e que dominava a maior parte das novas terras mundiais. Tudo isso a partir de um paizeco que parece uma orelha!
Segundo o raciocínio criado, graças à pesca, os portugueses se interessaram pela navegação. Aí eles se interessaram pelo comércio, aí eles se interessaram pelas rotas comerciais, aí eles se interessaram pelas Índias! E sem querer caíram no Brasil!

Então lembrem-se, queridos lusófonos: quando estiverem comendo seus bacalhaus com vinho Madeira, lembrem-se de que graças a este peixe salgado e que nem é encontrando nas costas portuguesas, hoje todos nós falamos português, e não algum dialeto bizarro derivado do francês ou holandês. Ou, pior ainda, poderíamos estar falando espanhol e viver numa grande Confederação Argentina! Imagina, nascer no mesmo país do Maradona e do Kirchner? Ainda bem que temos o bacalhau. :)

Despeço-me então de 2009 com esse post mais ou menos, crianças! E meus votos de que em 2010 eu consiga postar mais vezes, né? Não dói nada tentar.
Feliz Ano Novo para vocês, crianças! Até o ano que vem!!

Ouvindo:
Lovers in Japan (Osaka Sun Remix)
Coldplay
Prospekt's March (2009)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Segurem o Tchan!!

Aloha, chicos! Bons dias! Boas tardes! Boas noites! :D

Oras, depois de meses sem atividade aqui no meu blog, eu acabei por ficar meio enferrujado. Eu tinha uma ideia muito boa para um post aqui, que me renderia, em outros tempos, um texto realmente interessante. Mas a falta de óleo nas juntas fez com que eu não conseguisse sair do segundo parágrafo. Triste, né?
Mas eu não vou desistir! Estou a fim de fazer o meu blog voltar a rodar, e ele vai sair! Nem que pra isso eu tenha de me esforçar!
Mas se esforçar me dá uma preguiça... :P

Bem, vamos andando, né? Sem chiadeira, que ninguém gosta de parar pra ler chiadeira alheia. :P
Estive eu no ônibus, a voltar para minha casa, nesta segunda-feira. Oras, meus amigos e conhecidos bem sabem que moro em um lugar assaz interessante da majestosa capital paulista; lugar que, entre outros, promove a convergência cultural musical - as pessoas insistem em tocar músicas altas para que todo mundo possa ouvir.
Foi durante uma dessas músicas que eu passei a filosofar a respeito dela. Divido com vocês o fruto de meu pensamento livre, até porque eu não tenho nada mais interessante pra fazer, mesmo. :D

Segurem o Tchan!
O Conservadorismo sob a ótica de uma banda de Axé

Conforme eu frequentemente defendo entre meus amigos, a década de 1980 foi a responsável pela avacalhação simples, completa e irrestrita da História da Humanidade. Todo o tipo de pieguice e breguice que você encontrar dando sopa por aí ou se originou nos anos 1980 ou foi duramente exponencializado nessa época. Na minha concepção, depois de 10 longos anos estragando e degringolando tudo o que a Humanidade havia produzido desde que descemos das árvores, a década de 1990 seria uma espécie de ressaca. Um período de sem-gracice cultural, algo como o Eno depois de 2 dias bebendo vodka e pinga e tequila e xixi de cachorro.
O meu ponto alto de defesa de ponto de vista era a epopeia do axé music. Um grupo de pelo menos 4 baianos (muito deles baianos genéricos, do tipo que nascem no leste de São Paulo mas forçam um sotaque), com no mínimo duas bundudas, que rebolavam mediante qualquer tipo de barulho (ou o que eles preferiam chamar de "música"). Oras, todo mundo com mais de 15 anos deve se lembrar, ainda que brevemente, dos fins da década de 1990 e da enxurrada de baianos que vendiam seus CDs e faziam seus shows pelo Brasilzão afora. Certo?

A procedência foi aberta, não preciso nem lembrar, pela banda "É o Tchan". Uma banda baiana que começou com outro nome, mas foi processada e teve de abandoná-lo. Isso não fez diferença, porque todo mundo conheceu a banda pela música incrivelmente grudenta que eles tocavam. "Pau que Nasce Torto - Melô do Tchan" estourou nas rádios nacionais no bom ano de 1996, fazendo do planeta um lugar, em média, bem pior pra se viver.
E não era só pela qualidade da música, não! Conforme eu até cheguei a publicar em um outro post aqui, eu e (muitas) outras pessoas condenavam a banda baiana pela apologia à lascívia, ao despudorado, ao liberal sem responsabilidade e desprovido de culpas. Enfim, ao anarquismo livre, à putaria e ao fim da sociedade judaico-cristã ocidental. Afinal, o que dizer de uma banda que ensina menininhas de 10 anos a arte de rebolar a bunda e amarrar o Tchan? Só mesmo uma banda completamente perniciosa e extremamente liberal, né?
Eu pensava assim, também. Aí, em um dia de primavera destes, eu me pus a pensar na referida música acima. E o que eu pensei me deixou estarrecido. É o Tchan!, conservadores??

Acontece, caros, que o que verdadeiramente é importante na música - a letra dela - acaba sendo camuflada pela batida e pela loira e a mulata bunduda rebolando no Gugu. Você vê aquelas nádegas avantajadas balançando e até esquece de pensar no que está sendo dito. Mas pense direitinho, guri.
A música começa dizendo que pau que nasce torto nunca se endireita, e que menina que requebra, a mãe pega na cabeça. Pois, isso é bastante claro, actually: a mãe quer evitar uma filha que sai reboladeira por aí, porque se ela nascer estragada, continuará estragada para sempre. A versão é corroborada pelo zoom que a câmera dá na Loira do Tchan, que podemos deduzir que não era pega pela mãe quando rebolava. Então ela é um pau que nasceu torto, um erro social que poderia ter sido evitado se a mãe dela tivesse pego na cabeça dela, afinal.
Posteriormente, há a afirmação da autoridade materna, que reforça que "domingo ela não vai". Tentam convencer a mãe, que pegou na cabeça da menina, mas ela é irrefreável, e diz que "domingo ela não vai não". E então ela toma uma atitude drástica. Ela segura o tchan da filha. Eu não sei exatamente o que ela fez exatamente com a filha, quando ela segurou o tchan dela, mas é possível imaginar que seja algo que impeça a filha de sair por aí cometendo atrocidades contra a sociedade e os bons costumes, certo?
A música deixa bem clara, se você analisá-la com carinho: é um típico caso de jovem adolescente com as ganas de se tornar popular rebolando (requebrando, para usar o vocábulo da música), mas que tem a imperiosa supervisão de sua mãe, que pega na cabeça dela quando a vê desobedecendo. E então, ela se vê obrigada a segurar e amarrar o tchan, porque a filha está louca para ir no domingo. Para onde? Não sei, mas vejam vocês a seguir que não é nada bom.

Não é deixado exatamente claro o que acontece com a filha depois de ter seu tchan segurado. Na minha dedução, ela de algum modo dá um pelé na mãe (dar um pelé: enganar, dar olé, faz-que-fica-mas-vai) e consegue a liberdade. Aí é domingo, e ela vai para esse tal lugar. Não se sabe onde é, mas fica bem claro o que ela fez no domingo. "Joga lá no meio, mete em cima, mete embaixo" é mais claro do que vídeo pornográfico.
Ela, obviamente, foi no domingo, e se divertiu horrores. Só que aí, alertam Bejo Jamaica e Cumpadre Washington, é que mora o perigo. Porque "depois de nove meses você vê o resultado". Aí, já de nada adianta segurar e amarrar o tchan. A mãe havia avisado para a menina. Mas a mãe também havia sido avisada que pau que nasce torto nunca se endireita... Bem-feito pra todo mundo, quem mandou viver em um mundo tão liberal?

Olhando por essa ótica, entendemos a profundidade do ponto de vista dos colegas com nomes geográficos (Jamaica e Washington). Nossos dois amigos, baianos, decidiram que se cansaram desse mundo absurdamente liberal, às portas da devassidão completa. Antes que o país decidisse ingressar em uma mega-orgia anárquica, eles decidiram alertar o mundo! Segurem o tchan! Impeçam suas filhas de irem no domingo! Peguem na cabeça dela! Mas, pelo amor de deus, impeçam a degringolação da Bahia! Pelo amor de Deus, segurem o tchan!!
Para alcançar as pessoas, eles decidem usar fogo contra fogo, e atacam as massas usando justamente uma música popular, que aparenta ser lasciva e liberal. Mas é, na verdade, uma cruzada contra todas as fundações que ela aparentemente usava para se basear. É uma música de Troia, praticamente, em que saem os soldados do cavalinho bonitinho quando todo mundo deixa entrar na cidade.
Só que, nós bem sabemos, a ideia não deu certo. A música que seria um estandarte contra a liberação completa da raça humana acabou sendo só mais um passo rumo a ela. Os motivos são muitos, e talvez sejam todos. Vai ver, os ouvintes não se importavam mais com essas defesas conservadoras, e as ignoraram. Vai ver, Cumpadre Washington e Beto Jamaica preferiram ficar muito ricos com a sua música, em vez de defender seus valores. Vai ver, ninguém ouvia a letra, e só prestava atenção no enorme busanfão da Carla Perez.

De todo modo, passados 13 anos, sabemos que o Melô do Tchan falhou em seu ideal conservadoresco. As pessoas não se entregaram à mega-orgia nacional, e nem todas viram o resultado depois de nove meses (talvez algumas, mas nem todas). No mais, as pessoas só aproveitaram a música (?) tocada à exaustão nas rádios tupiniquins, até que veio outra ainda pior e lhe tomou o posto. Assim é a vida, no Brasil do Carnaval.
Então, rapazotes e meninotas, da próxima vez que olharem para trás, reviverem os anos 1990, pensem em tudo o que podia ter sido e não foi. Se todos entendessem a mensagem do É o Tchan!, talvez viveríamos em um mundo bem mais sério, recatado e conservador. Ou, pode ser que o Melô do Tchan tenha funcionado só um pouquinho, o suficiente para evitar a tragédia orgiática maior, em que as fronteiras do país são fechadas para 300 anos ininterruptos de sexo selvagem com animais e coqueiros. E aí, olhem também para os anos 2000, em que descobrimos que, sim, existem muuuitas coisas piores do que uma banda de axé que ganha dinheiro fazendo bundudas rebolarem no Gugu. Pelo menos, naquela época, as músicas ainda rimavam...

Oras, quem diria? Os anos 1990, afinal, deixaram saudades... :P

Ouvindo:
Voodoo Cowboy
The Cat Empire
So Many Nights (2007)

domingo, 24 de maio de 2009

O Grande Colisor de Hádrons

Saudações, cordiais membros da comunidade terrestre! Mais uma agradável noite na minha metrópole, e como eu estou sem muito o que fazer por aqui, acho que vou agraciar este meu pobre blogue com alguma coisa desimportante, para que vocês venham visitar, ler, e pensar, afinal: "Por que diabos eu visito esse blog?". Sim, a cara de arrependimento e de frustração no ser humano alheio me diverte e me alimenta. Hohoho, seus bunda-moles.

Recentemente, entre minhas navegações pelo vasto oceano internético, li uma interessante notícia. Um grupo de cientistas norte-americanos decidiu que vai fundar uma estrela em pleno laboratório terrestre, em breve. Tratam-se de funcionários americanos dentro da National Ignition Facility (Centro Nacional de Ignição) em Livermore, cidade da Califórnia (aquele estado que parece um rim, e que é governado pelo T-101, o Exterminador do Futuro). E a função deles é bastante simples, na verdade: produzir uma reação em cadeia de feixes laser que vão ser todos condensados em um único ponto, onde fica uma pobre carga de hidrogênio. Com todos os lasers ligados, produzindo uns 500TW de energia (lê-se terawatt, ou um milhão de megawatts) - setecentas vezes a capacidade de produção da nossa Usina de Itaipú - o calor e a pressão seriam tão violentos que os átomos de hidrogênios teriam suas bolas esmagadas (literalmente) e se juntariam, formando átomos de hélio; entre outros, isso libera uma energia dos infernos. O Sol faz isso também, só que várias vezes e há bem mais tempo. Então, a ideia é bem essa: criar um anão do Sol, um irmãozinho menor e gerido pela própria humanidade. Medonho, né?
Quer dizer, e se essa desgraça der errada? E se de repente o sol cresce demais, engole a Califórnia, o planeta todo e todos morremos dentro de um sol? Macabro, cara! Eu já penso na saúde das minhas vestimentas interiores, só de imaginar essa hecatombe! Isso me lembrou a história do Grande Colisor de Hádrons, que foi apelidada de "Máquina da Destruição", entre outros adoráveis apelidos pouco assustadores. E foi que eu me toquei: "gente, eu nunca escrevi nada sobre o Grande Colisor de Hádrons! Que brisa mais errada!".
Pois é. Graças ao pequeno sol californiano, às 700 Itaipus e ao Exterminador, ponho-me a trabalhar. Vamos criar caos :B

O GRANDE COLISOR DE HÁDRONS
Quebrando coisas com estilo

O mundo era perfeito, no final do século XIX. Isaque Nílton (aquele cientista, cuja cabeça foi atingida por uma recém-madura maçã vermelha, lembram-se?) tinha ficado famoso por ter provado com 99,9% de acurácia como era o funcionamento do Universo. Ele previu como corpos se moviam no espaço, como a Terra rodava em torno do Sol, como era o bagulho da ação e reação, descobriu a receita da torta de maçã... Bom, ele descobriu um bocado de segredos universais. Com o universo praticamente teorizado, só faltava termos suficiente tecnologia para provarmos que Isaque estava tão certo quanto alguém poderia estar em uma mesma encarnação.
Mas é claro, ele estava errado (hehe). Quer dizer, não exatamente errado, ele só não terminou de acertar as coisas. Acontece que naquela época, achavam que átomos eram meio que bolinhas indivisíveis (do grego, ατομόσ, ou atomós, "que não é divisível"). Bom, durante o fim do século XIX e o início do nosso glorioso século XX, descobriram que o átomo é, sim, divisível. Acharam os elétrons, e depois os prótons. E acharam os nêutrons, também, que têm gosto de nada, mas que está lá. E foram achando cada vez mais coisas dentro dos átomos. Eles descobriram, por exemplo, que a luz também tem partículas (os fótons). E que o próton é feito de quarks. Enfim, quando eles descobriram um monte de coisas sem nexo nenhum para a Física Newtoniana, eles acharam por bem fundar uma nova área da ciência. E nascia aí a Física de Partículas.

A primeira grande pergunta da Física de Partículas nasceu no primeiro segundo de funcionamento deste campo científico. Como diabos estudar um negócio tão pequeno que nem com vários microscópios combinados se veria? Como provar que existe algo tão estupidamente pequeno dentro das coisas? Como cientistas não são cientistas à toa (eles convenceram um monte de gente a acreditar nas abobrinhas deles), eles tiveram de ter uma genial ideia para provar que os quarks estão lá, e não são só um nome engraçado. Como se fazer isso? Da maneira mais inteligente possível: quebrando as coisas pra ver como é dentro.
Imagine-se você, meu caro leitor, tendo lá seus oito anos de idade, e da posse de um relógio analógico. Sabe, um bastante bonitinho, que faz tic-tac, que tem algarismos romanos, que marca que dia é hoje, é super-estiloso. Um luxo. Naturalmente, por você ser uma criança, teve uma súbita curiosidade de saber como ele funciona. E então, você decide abrir o relógio pra vê-lo por dentro. Mas não tem chaves especializadas, não tem força nas mãos e está sem paciência. Qual é a maneira mais fácil pra abrir o relógio? Espatifá-lo na parede, é óbvio. Você o amarra em uma corda, e roda roda roda roda o relógio até que ele esteja bem rápido. E o atira na parede. Depois de aberto e todo virado pelo avesso, agora você cata de volta as tripas do relógio, e tenta remontar o objeto, antes que seu pai descubra. :D

A Física de Partículas ficou craque nesse episódio acima. Eles querem saber o que diabos há dentro de um átomo. Então eles pegam o átomo, rodam o infeliz e o atiram contra um outro átomo. Só que não é exatamente fácil "pegar um átomo e rodar o infeliz". Pra que se "pegue" um átomo, você precisa criar um campo magnético, pra que, digamos, um próton possa flutuar. E pra rodar, você precisa de vários ímãs alinhados em um túnel. E tem que sincronizar todos, pra que eles liguem e desliguem no tempo exato, para empurrar o próton pra frente. E isso tem que ser estupidamente rápido, porque quanto mais rápido uma partícula viaja, mais massa ela adquire (não me perguntem o porquê; Einstein provou e eu aceito como verdade fundamental). Se você puser um próton viajando a mais ou menos 99% da velocidade da luz, ele fica bem gordo. E aí, você manda um outro próton viajar no caminho reverso. E espatifa os dois. Pop!
Por isso, eles precisam construir túneis extremamente caros, cheios de ímãs e cabos e tubos e laboratórios, que ficam de prontidão pra entender o que exatamente sai de dentro dos prótons esmigalhados. E é essa a função de um acelerador de partículas: um túnel circular (a maioria é circular, mas tem uns que são retos e outros mais bizarros) em que se pode rodar prótons livremente, pra espatifar um no outro e ver se é colorida a joça que sai de dentro. E eles gastam bilhões de dólares construindo, e pagam milhões de dólares em salários mensais pros cientistas brilhantes que trabalham lá. Só pra brincar de jogar tijolinhos na parede. :D

E qual é a do Large Hadron Collider?
Depois de quebrarem milhões de prótons e nêutrons, os físicos montaram modelos malucos e teorias viajantes. Provaram que os prótons e nêutrons são formados por quarks, e que existem outras partículas que podem ser formadas por quarks. Todas essas partículas são chamadas de hádrons, que é um nome legal e que não significa paçoca nenhuma (mentira, vem do grego, significa "grosso" ou "robusto" :B). Então, um LHC nada mais é que um acelerador de prótons, mas muito grande. Tipo, muito, mas muito grande mesmo.
Os físicos quebraram vários prótons, até encontrarem todas as partículas que eles previam encontrar (bom, todas as plausíveis, pelo menos; teve uns que queriam encontrar a Força, mas falharam). Só falta um que eles querem achar, e que tá danado de aparecer. Ele tem até nome e função, mas tá que nem camisa 10 da seleção brasileira, fica só na promessa. É o bóson de Higgs, e a função principal dele é dar massa pras coisas. Mas ele é meio pequenininho, e ruim de se achar. Então os físicos convenceram os seus respectivos governos que com túneis ainda maiores, computadores ainda mais sofisticados e bolsos ainda mais fundos, eles provariam que o bóson de Higgs existiria. E convenceram a Suíça e a União Europeia a custear o LHC, o maior espatifódromo da história. Tudo em nome da ciência.
O truque do LHC é bater de frente dois prótons com uma velocidade dão alta, mas tão alta, que eles terão muita massa junta em um espaço muito pequetinininho. Quando se chocarem, vai rolar uma explosão energética semelhante ao do início do universo (Big Bang, manja?). Com tanta energia vai rolar, com certeza, esse tal bóson.

O problema com essa teoria é que todo mundo prestou atenção nas explicações seguintes: tanta massa junta em um espaço pequenininho vai criar um corpo extremamente massivo e minúsculo, que terá tanta densidade quanto um buraco negro. Isto é, teremos uma miniatura de buraco negro, no nosso próprio planeta! Holy cow!!!
E agora? E se tudo der errado? E se esse buraco negro sobreviver, engolir o laboratório, engolir a Suíça, a Europa e a nossa boa e velha Terra? E se formos engolidos por um vórtex no espaço-tempo? E se dividirmos o Universo por zero?
Foi aí que os cientistas se explicam: ainda que, de fato, ele vire um buraco negro fominha, ele terá a capacidade gravitacional de um buraco de agulha. E você não é sugado por um buraco de agulha, nem vê o Planeta Terra ser sugado por um buraco de agulha. Então não, não será criado o artefato que destruirá a humanidade de dentro do túnel. :)

O que me faz pensar: 3 bilhões de euros, milhares de cientistas e toda essa cobertura da mídia, e eles não vão montar um supertime de futebol, não vão criar um super-herói radioativo, não vão transformar chumbo em ouro e, o mais importante, não vão montar uma super arma que destruirá o planeta, para usar em alguma chantagem maligna contra o James Bond. Pra que, então, um túnel quilométrico que faz prótons rodarem?
Bom, se você tivesse 3 bilhões de euros e uma vontade inexplicável de jogar coisas na parede, você, com certeza, faria a mesma coisa. Quando se tem o orçamento da União Europeia, você pode fazer qualquer coisa. Tomara que montem, na próxima, uma máquina que faz chover sorvete. Ou que quebre coisas de verdade. Tipo carros. Adoro batida de carros. Então eu acho que vou assistir à reprise da Fórmula 1. :P
Boa semana, meninos ^^

Ouvindo:
Squeeze Me
Kraak & Smaak
Plastic People (2008)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Sendo um Super-Herói

Buenas, pessoal! O Inominativo comemora o seu post de número 75! São três quartos de posts rumo ao centésimo e além!
Caramba, setenta e cinco posts? Haja linguiça pra encher em todo esse tempo, hein? Cá entre nós, se eu utilizasse essa criatividade e esse empenho todo em algo produtivo, eu estaria melhor de vida. Mas eu não quero melhorar de vida, quero fazer a vida de vocês mais divertida (ohn, que gracinha...)

Sigamos o nosso rumo, então. É dia de texto novo no Inominativo, então tenham uma boa leitura. ^^

MANUAL MODERNO DO MANO METROPOLITANO
Sendo um Super-Herói

Então, meu nobre mancebo, minha garbosa donzela. Em uma feliz tarde primaveril você foi exposto a uma dose de radiação advinda de alguma fonte altamente improvável (sendo picado por uma abelha transgênica, passando pela Usina Nuclear de Springfield, sobrevivendo a uma radiação cósmica proveniente do espaço, ou algo abilolado assim) e, agora, você está munido de inexplicáveis poderes sobre-humanos, verdade? De repente, você deixou de ser um zé-ninguém, e passou a ser um rapaz (ou uma moça) fodão, que não teme nem cárie nem o leão do IR, e está mais do que disposto a encher os vilões criminosos de bulachas e sopapos, para que eles não desviem a feliz sociedade humana do natural caminho de paz e convivência respeitosa, certo? Mas não tem certeza de como começar, eu presumo. Você nunca teve poderes sobre-humanos (não nesta vida, pelo menos) e está receoso sair fazendo caquinhas e ser preso na primeira oportunidade, né? Pois não tema! Fear not! A mais nova edição do Manual Moderno vai lidar, devagar e sempre, com essa sua capacidade hercúlea de cortar a raiz do mal mundano. E, talvez, como ficar rico e arranjar várias gatinhas pra você. Fala a verdade, esse post é ou não é imprescindível?

A início, é importante (quiçá imperativo) que você entenda quais são os seus poderes. Quer dizer, não adianta de muita coisa você estar todo empolgado por receber uma dose de radiação se você não compreende exatamente o que você ganhou. Afinal, pode ser que a única coisa que você tenha recebido foi uma sobre-humana capacidade de abrir garrafas de vinhos. O melhor que você pode fazer com isso é trabalhar em adegas como sommelieur. Você vai ser admirado por muitos, mas vai receber um salário de merda. Como eu canso de frisar, a vida é uma biscate. :P
Todo super-herói que se preza, destarte, conta com uma super-ferramenta de locomoção. Se o seu desejo foi, realmente, enfrentar o crime, você tem de se prontificar para que tenha a capacidade de enfrentá-lo rapidamente, em qualquer lugar da cidade que ele aconteça (a não ser que você more em uma cidade de, tipo, 40 mil habitantes, porque aí um patinete motorizado já serve). Por exemplo, Super-Homem voa, o Batman tem o Bat-Móvel e o Bat-Jet-Pack e o Bat-Helicóptero portátil, o Flash corre que nem corintiano fugindo da PM, o Homem-Aranha atira teias de aranha e voa por entre os prédios... Você não vê por aí heróis entrando nas estações de metrô ou entrando nos ônibus lotados para salvar as vítimas de assaltos. Então certifique-se de que você tem um arojado e eficiente método de traslado por sua metrópole. E se você, infelizmente, não tem um método de transporte rápido, de dois, um: ou você mora perto do centro da cidade e tenta defender uns 3 quarteirões; ou você desiste de ser super-herói e vai ganhar dinheiro no Faustão. Se vira nos 30, meu! Ô loco, olhaí!

Bom, você já descobriu como chegar na cena do crime. Agora, temos que pensar no que fazer quando você chegar lá. Ou você acha que os vilões ficarão amedrontados somente com a sua capacidade de voar ou de criar uma dobra espaço-temporal que transporta você automaticamente? No, sire! Você tem que utilizar o seu poder para derrubar uma gangue de malfeitores! Como fazer isso?
Muito dependerá do seu poder. Novamente, de nada adianta um poder chulé, como uma capacidade sobre-humana de calçar meias no escuro. Você precisa de, no mínimo, capacidade de lutar artes marciais (de preferência uma oriental, que ensine você a derrubar dez capangas mesmo quando você estiver desarmado e sozinho). É bom também ter força para que seus murros doam nos caras, e que você seja esperto pra que não acabe apanhando. Ou, você pode ter um super porrete de beisebol que nocauteie qualquer metido a esperto. Ou um super flato mortal. Sei lá, mas tenha a certeza de que o seu poder é a diferença entre mandar os caras pro hospital ou ser mandado para o hospital pelas autoridades policiais competentes. Se o seu caso for o último, então não saia para as ruas para causar problemas. Não atrapalhe os policiais, e fique em casa assistindo Heroes. Confie em mim, assim você será bem mais útil para a sociedade. Seu zero à esquerda.

Outro importante aspecto em ser um super-herói é a camuflagem da sua identidade. Convenhamos, ser famoso é uma zica da braba. Imagina, você ser seguido por paparazis a toda hora por ser o salvador da cidade. Suas fotos em lanchonetes, cinemas, lojas de artigos esportivos e boutiques estamparão todos os tablóides e jornalecos, enquanto você quer um pouco de sossego para recuperar sua saúde por causa da pancadaria de ontem à noite. Ah, sim, tem também o fato dos criminosos tentarem atacar seus entes próximos para enfraquecer você, é verdade. Mas eu acho bem mais incômodo quando os paparazis o seguem até o banheiro. Um saco.
Pensando nisso, arquitete um sagaz esquema para que você continue sendo um zé ninguém, mesmo que todos conheçam o super-herói que você é às escondidas. Use uma máscara, use uma roupa (de preferência cafona, com a cueca por cima da calça), disfarce a voz, pra que algum amigo mané não o reconheça e inutilize seu disfarce. Enfim, planeje sabiamente para que você não seja você mesmo quando estiver utilizando os seus poderes. E, no resto do dia, aja como se você não tivesse poder algum. Confie em mim, você não quer esse tipo de atenção. A não ser que você queira chamar a atenção de algum espécime do sexo oposto. Nesse caso, até vale, mas seja discreto. Não faça o bar inteiro chamar a redação do Fantástico, hein?

No mais, aproveite os seus poderes secretos! Aproveite sua capacidade de voar para tirar fotos do alto de prédios e pontes para montar wallpapers bonitos para publicar na internet. Trapaceie nas mesas de pôquer em Las Vegas com sua visão raio-x, e dê uma surra nos seguranças do cassino quando eles descobrirem que você está roubando. Arranje uma grana licenciando bonecos de ação que imitam você (sim, claro, não deixe que os outros enriqueçam por sua causa).
Ser super-herói pode, sim, trazer uma série de responsabilidades, como salvar a cidade, cuidar da formação moral dos cidadãos (e especialmente das crianças, que adoram heróis que acabam com o crime) e manter a corja de bandidos na linha. Mas ser um ícone da justiça pode até ser legal. Você pode dar autógrafos enquanto estiver mascarado (só faça o favor de disfarçar a caligrafia) e dar entrevistas no Jô.

Ou, melhor ainda, pode ignorar todo este manual, e dizer fuck it para a luta contra o crime. A partir daí, pode se divertir hoje e sempre com os seus poderes, entrando em vestiários femininos, ganhando dinheiro com um talk-show na TV, virando ícone de um programa de vale-tudo, ou só tirando sarro dos outros esportivamente, mesmo.
Imaginem só, voar por aí à toa, não ter de acordar cedo pra ganhar dinheiro, não ter preocupações nenhumas com a vida ou com a humanidade... Pra quê, ficar salvando os humanos do crime? Eles pagam impostos pra polícia, mesmo, é o trabalho dos policiais, e você não deveria facilitar o trabalho dos outros se eles são incompetentes.

Aproveite seus novos poderes, meu amigo super-herói! Mas aproveite com parcimônia. E lembre-se: se beber, não saia voando por aí. Você pode dar vexame. Isso não é bom pra sua imagem. :B

Ouvindo:
Make it Wit Chu
Queens of the Stone Age
Era Vulgaris (2007)

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Lição de Casa Escolar

Ah, o Verão... A ensolarada estação, em que tudo parece mais amarelado e azulado, os humores se renovam, o mundo está no ápice da felicidade e da boa vida.
Uma pena que não estamos no verão. In fact, se você morar no Hemisfério Sul, como o autor que lhes escreve, deveria saber que o verão acabou há mais de 30 dias. O que significa que teremos 8 longos meses até tornar a ver essa tão querida estação. Enquanto isto, contentemo-nos com o outono, a feliz estação das folhas que caem. Até porque já já piora, com a vinda do inverno. Sim, porque uma hora ele vem. A não ser, claro, que uma guerra nuclear entre as potências ocidentais e a Coreia do Norte desloque a Terra do seu eixo de órbita graças às explosões de enormes ogivas nucleares, e tudo dê muito errado no clima.
Mas ainda assim! Se isso acontecer, não precisaremos mais nos preocupar com o aquecimento global! Estaremos muito ocupados sendo desintegrados por raios subatômicos dilacerando nossos corpos. ^^

Enquanto um hecatombe nuclear não dizima a feliz sociedade humana, continuemos nossos planos de seguir vivendo. E, para mim, isso significa publicar algo no meu querido blog. E pra vocês, tomara que isso signifique ler o texto. Ou, pelo menos, fingir que lê. :B

LIÇÃO DE CASA ESCOLAR
Das Injustiças Cometidas com a Pirralhada

Ser criança não é fácil, colegas. Claro que, comparada à vida medíocre que você leva hoje, como adolescente/jovem/adulto, a vida de uma criança é tão moleza quanto sentar no pudim com as nádegas nuas (por favor, não imaginem isso; é uma visão medonha). Mas a gente já sentia as injustiças da vida pesarem sobre nossos jovens ombros, mesmo na época em que não éramos nada mais do que remelentas versões de miniterroristas afegães. Aparentemente, a vida não escolhe idade nem sexo, e costuma ser uma boa biscate para todo mundo, sem preconceito. Sim, vivemos em um mundo sem preconceitos. Yes, we can!

Lembrem-se, por exemplo, da vida escolar. Sim, claro, quando se é criança, a escola é o único programa que existe no seu dia (isso se você não tiver pais ricos e que desejem que você faça balé, natação, piano, futebol, inglês, espanhol, artes...). E como era a monopolista do nosso dia-a-dia, a escola tinha o direito (e o dever) de ser filha-da-puta com os alunos, a fim de representar a filha-da-putice geral que é a vida.
Muitos de nós (eu incluso) estudávamos cedo. O que significa dormir cedo para acordar impiedosamente cedo no dia seguinte. Nem seis da manhã eram, e seus pais terminavam com suas horas de sono para enfiar você no carro - e, às vezes, nem isso, enfiavam em um ônibus escolar, ou no ônibus da prefeitura, mesmo, se você for suficientemente pobre - para que você fosse para um lugar amplo, frio, desaconchegante e muito, mas muito chato. Ah, sim, tinha os coleguinhas, que tornavam o dia meio melhor. Mas você pode ser azarado o suficiente para ter coleguinhas ainda mais chatos do que a escola (ô azar). Então relevaremos os coleguinhas.
Oh, sim, a vida na escola era chata e injusta. Horas e horas com um cara falando bobagens na frente da lousa, as quais provavelmente nunca usaremos na vida - e, agora que estamos mais longes na nossa breve vida humana, sabemos que estávamos certos - e sendo submetidos à tirania de pessoas alheias. Quando tudo o que queríamos era jogar bola, assistir TV Globinho e dormir mais um pouco.

Oh, sim, escola era um negócio sacana. Uma espécie de vampiro, que chupa nossa juventude. Só que todos os dias, e nossos pais ainda pagam por isso. Passar a manhã (ou a tarde) toda enfurnado em um prédio feio, com professores tiranos em um ambiente maligno. Não pode ser pior, pode? Quer dizer, por mais que você passe 5 horas em uma sala de aula, você tem o resto do dia para se divertir, certo?
Errado.

Voltemos ao tempo. Imaginem três monges irlandeses, mestres de um pequenino mosteiro no sopé de uma simpática montanha, nos idos do século XIII, nos arredores da cidade de Belfast (atual Irlanda do Norte, parte integrante do Reino Unido, caso você seja ignorante em Geografia). Bom, esses três monges, como são monges maus que não gostam de crianças (porque crianças são barulhentas, e ninguém em um mosteiro gosta de barulho), eram muito malignos dando aula aos guris (caso você também seja ignorante em História, monges católicos davam aulas aos meninos de um vilarejo). Mas tudo ficava sem graça para nossos monges irlandeses quando as aulas acabavam porque, oras, os moleques começavam a correr e a bagunçar e a barulhar e essas coisas de moleques, e que irritam a nossos monges velhos e chatos. Qual foi a grande sacada deles? Ocupar os meninos mesmo enquanto eles não estavam em aula! E como isso? Dando tarefas para eles fazer durante o dia! Entupindo a macacadinha de lição de casa!

Desde estes infelizes monges irlandeses, a pobre pirralhada têm problemas com uma das instituições mais cruéis e injustas da nobre humanidade. Eles tinham de lidar com a odiosa lição de casa. Oh, sim, fazer lição de casa era uma grande e generalizada merda.
Quer dizer, éramos privados das diversões puras da vida para ficarmos a manhã toda trancafiados em uma sala, com matérias chatas na lousa e sem poder se divertir. O sol lá fora, um lindo dia, e você aprendendo sobre a geologia do solo brasileiro, sobre a Guerra dos Canudos, sobre a aceleração de um corpo inicialmente em repouso.
E então quando dava o seu horário e você estava liberado para voltar pra casa, em vez da liberdade e da alegria de poder aproveitar o resto do dia brincando com a molecada, jogando uma bolinha, assistindo TV a esmo ou o que o valha, você tinha aquele calhamaço de tarefas para entregar. Vinte e cinco exercícios de matemática, um resumo sobre o capítulo da Revolução Francesa, ler e decorar as fases da mitose. Agora, poxa, pra que isso? Privar a molecada da própria infância? Obrigá-los a passar ainda mais tempo se dedicando à escola, quando eles não estão mais lá? Exigir que eles estudem coisas a mais? Revisar a aula? Pra quê? As escolas não botam fé nas aulas, e precisam que os alunos aprendam sozinhos?

Eu nunca entendi qual é a pegada da lição de casa. E, por isso, sempre fui contrário a ela. Tomava meu tempo, não deixava eu me divertir e, em geral, era um saco. Vai ver que era por isso que eu preferia fazer a lição de casa no meio da aula, mesmo. Pra que fazer em casa, com tanta coisa legal pra se fazer, quando eu posso fazer na escola, que será chata de qualquer maneira? Naturalmente, os professores ficavam revoltados com essa decisão mas, hey, era uma decisão minha, eles deveriam respeitar.
Mas eu dormia tranquilo. Uma hora, eventualmente, eu cresceria, e trabalharia. Sim, claro, com um trabalho efetivo, eu fico bem mais tempo na empresa do que eu ficava na escola. Mas a empresa me paga pelo tempo que fico lá. E uma vez fora da empresa, eu não preciso fazer lição de casa. Posso jogar Guitar Hero a noite toda. Sem me preocupar com listas de exercícios pro chefe ou resumo do capítulo de gerenciamento corporativo.
Pensando bem, por que todo mundo sente saudade da infância? Você tinha que fazer lição de casa quando era criança!! Convenhamos, macacada: é bem mais legal ser adulto.
Yeah, right :P

Ouvindo:
Ant Music
Hyper
We Control (2005)

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Sobre as Maçãs

Feriado santo! Mais um feriado na boa terra brasilis, onde é sol o ano inteiro e tudo tem cores mais vivas! Feriados me deixam animados, me deixam descansados, me deixam despreocupados, me deixam mais felizes. Eventualmente, entetanto, feriados acabam, e tudo fica sem-graça outra vez. Mas oh, well, foi bom enquanto durou, certo?
E pra você? Foi bom pra você? :B

De volta à ativa, é hora de upar algo de interessante aqui. Ou tomara que seja. Se não for interessante, então vocês se deram mal. Assim sendo, cruzem seus dedos e torçam pelo melhor. Normalmente, pra mim, funciona - ontem eu torci pelo melhor, e meu time conseguiu uma importante vitória na Libertadores. Então, às vezes, vale a pena torcer.
Claro, se você for corinthiano, do not bother trying. Ou, sei lá, tente. Desencargo de consciência. :P

Sobre as Maçãs

Um pequeno apanhado de ideias

Você, meu colega de blog, que ora lê este texto. Este trecho, em especial. Imagine um elefante. Um daqueles africanos, com enormes orelhas de abano, pequenos rabicozinhos com final espanadorzado, trombas proeminentes, dentes de marfim e toneladas de peso. Imaginou-o? Imagine-o, agora, em uma típica vida familiar, com esposa, filhinhos e quem mais o convier, em uma piscina de lama, se divertindo nas tardes ociosas em um pequeno hábitat dentro da vasta savana africana.
Imaginou? Então esqueça tudo. Não é sobre elefantes que pretendo falar. :B

Voltemos ao título. Formule uma imagem mental de uma maçã. Uma maçã qualquer, a variedade que mais lhe apetecer. E pergunte-se: o que há neste fruto vermelho e do tamanho de um punho que atiça tanto a imaginação da boa raça humana? Por que a raça humana, em seu esplendor evolutivo (All heil mankind!) dedica tanto tempo de sua existência a venerar um fruto pomáceo tão simples como esse? Tipo, é completamente compreensível venerarmos o dinheiro, ou os cachorros, ou os Simpsons. Mas ahn... a maçã?
Não sabe do que estou falando? Experimente parar por alguns segundos e se perguntar quantas referências existem à imagem da maçã. E existem algumas referências. Algumas bastante conhecidas, devo dizer. Vocês também a conhecem, querem ver? Falemos do Éden.

Recordemos de Adão e Eva, os pirilampos humanos originais. Em algum tempo do passado remoto (mas não tão remoto quanto o tempo de Star Wars, que foi há muito, muito tempo), Deus inventou Adão. E depois, com as peças que restaram (hehe), inventou Eva. Viu Deus que era bom, blah blah blah. Bom, depois de deixar os nossos adoráveis ancestrais perambular pelo jardim do Éden felizes da vida, meio que baixou Hugo Chávez no nosso adorável ente Todo-Poderoso, e ele proibiu a Adão e Eva de comerem um magnífico pomar cheio de maçãs. O pomar ficava em uma área muito bonita (com acesso à Marginal Pinheiros, perto do shopping e com segurança 24 horas por dia), e as maçãs eram vermelhas e bonitas. Realmente vermelhas e bonitas. Daquelas que você acabou de colocar o olho, e já se imagina dando uma dentada nervosa na casca da maçã. Daquelas tão indecentes que parecem pay-per-view do Big Brother. Um negócio indecoroso.
Bom, Eva, nossa menina loirosa e feliz, foi eventualmente tapeada por uma serpente sapeca (que, em minha visão, falava com sotaque carioca) a comer a maçã vermelha e bonita. Deu uma dentada, gostou, apanhou umas maçãs, levou a seu partner, Adão, e foram os dois, desobedientes que eram, a comer maçãs. Eis que aparece Deus, que tinha ido dar uma voltinha rápida, e ele vê essa cena de desobediência direta às suas ordens. Oh, fuck.
Bom, rola um estresse básico, Deus se emputece colericamente, grita como um gorila revoltado, e expulsa nossos tetratetratetratetravós do Éden. Por causa de uma maçã. E por causa de toda a discórdia que acompanhou a maçã. Porque, com ela, os seres humanos deixaram de ser perfeitos. Aprenderam sobre o certo e o errado, e viraram pobres mortais. Em suma, eles tomaram a pílula vermelha do Matrix (que, se vocês pensarem, era vermelha em alusão à maçã).

A partir dessa história popular, meus queridos, a maçã passou a ser o símbolo do pecado da desobediência com Deus, o Mano que Manda. A simpática frutinha virou o estandarte do errado perante o Catolicismo (a religião monoteísta com tendências dominadoras, por excelência), e durante muito tempo a pobre frutinha, tadinha, sofreu de preconceito. Marginalizada pelos católicos medievais (povos sobre os quais já fiz diversas referências nestas páginas), a pobre maçã virou, associativamente, o símbolo do lascivo, do errado, do impublicável. E, não só isso, mas também o símbolo da abertura da humanidade para a razão, a sabedoria universal, o discernimento do certo e do errado. Em suma, tudo o que não era celeste e divino poderia ser representado e canalizado na imagem da maçã. Pesado isto, né?
Mas, tipo, o que a fruta vermelha fez pra merecer isso? Quer dizer, ao ler a Bíblia (e alguém que a leu mais profundamente do que o autor que vos escreve, por favor, me corrija se eu escrevi merda), você, caro leitor, notará que não há qualquer referência à maçã. Não é dito, na história do Éden e da expulsão, que Eva e Adão se saciaram com maçãs. O termo usado é "fruto proibido". Mas pode muito bem ser uma banana, um pêssego, uma laranja, um rabanete. E esse último traria consequências ainda piores, porque um rabanete não é um fruto, logo, não pode ser um fruto proibido. Mas isso não vem ao caso. O que nos apetece é que não está escrito que é a maçã que é má. Alguém criou uma livre-associação entre a maçã e o pecado, out of fucking nowhere!
Sabe-se, com certeza, que as primeiras associações livres entre maçãs e frutos proibidos nasceram na Renascência (logo, não houve preconceito contra a maçã na Id. Média, viram?). Os pintores renascentistas descobriram que eram muito bons pintando coisas, porque inventaram a perspectiva e outras técnicas fodonas de pintura. E eles eram contratados pela Igreja, pra pintar histórias católicas para os católicos. E, naturalmente, rolava a história de Adão e Eva, os pirilampos humanos originais. E na hora de pintar, nossos pintores renascentistas, por falta de melhor opção, escolheram a maçã. Há quem ache que é por influência da história das maçãs douradas no Jardim das Hespérides, uma história da mitologia grega, em que Hércules teve de fazer seu décimo-primeiro trabalho. Segundo a história, Hércules teve de correr até lá, roubar umas maçãs douradas e levar pra Hera, sua madrasta má. Com isso, a maçã do Éden teria a conotação de fruto roubado, de coisa proibida.
Ademais, em latim, maçã é malus. E pecado, em latim, é malum. Se você pluralizar as palavras, ainda, elas ficam iguais (mala). Logo, rolou uma conexão quasi-instantânea entre a maçã e o errado. Mas, vejam vocês, sem embasamento empírico! Foi por puro preconceito!!

Bom, a renascença, eventualmente, passou. A maçã voltou a ser uma fruta inofensiva, todo mundo comia, era aquela promiscuidade típica. Aí, veio Isaque, aquele levado da breca. Lembram-se de Isaac Newton? O rapaz, entre outras coisas, era filósofo, físico, matemático e, no fim da sua vida, se meteu em economia (o motivo da Europa ter passado um século sob o padrão-ouro, inclusive, se deveu a Newton, que influenciou a Inglaterra a usar o ouro como metal principal nos seus cofres).
Conta a história que o inglês estava de boa na lagoa, em uma pequena cidade no condado de Lincoln, leste da Inglaterra, meditando sobre os planetas e essas coisas astronômicas do espaço sideral. Aí, abaixo de uma macieira, ele havia sentado para pensar sobre as coisas que ele estava pensando. Quando uma pequena maçã maturou, ela caiu da árvore, e acertou a cabeça de nosso amigo inglês inventivo. Este, ao levar a dose de maçã na cuca (e após ofender um bocado a árvore e a dor de cabeça) considerou que, afinal, ele havia descoberto a resposta para as dúvidas que ele estava procurando. E ele formou, pela primeira vez, a ideia da gravidade! E nasceu a Lei da Gravitação Universal. E daí pra frente, Newtinho meio que explicou toda a Física que aprendemos na escola. A Física Clássica de Newton. Por causa de uma maçã.
A Física de Newton era, agora, mais um capítulo na eterna luta ciência-igreja. Só que esse capítulo era tenso, crianças, porque era a primeira vez que a ciência tentava explicar as leis do Universo com tantas regras irrevogáveis e indubitáveis. Em termos miúdos, Newton tentou explicar a lei do Universo e, sabemos nós, a lei do Universo era, até aqui, propriedade de Deus, o Todo-Poderoso. Newton tentou dedar pra todo mundo como o Universo funcionava!! Graças à maçã, mais uma vez, os humanos adquiriram sabedoria e capacidade de duvidar do divino. Sem querer, mais uma vez, a maçã era símbolo do lógico e do pecado contra Deus. E tudo o que a pobre maçã queria era ser saborosa... =/

Graças a Isaque, a maçã se transformou no símbolo não-oficial da ciência. Em um dos anos recentes, o manual da FUVEST (aquele vestibular maligno que seleciona os adolescentes para a Universidade de São Paulo, conhecem?) foi publicado com uma maçã redondinha e vermelha na capa. O símbolo, por excelência, da Física Moderna, e do conhecimento nascido em todo o século XIX e XX. Sim, porque não há como negar que muito do que a ciência achou nos 200 recentes anos se deve ao Isaque, o preguiçoso fidalgo inglês, que dormia preguiçosamente em Lincolnshire. E, por livre-associação, se deve também à imagem da maçã. A vermelha e redondinha fruta pomácea. Que livrou a humanidade das trevas e do não-conhecimento. Bonito, né?
Seja como for - mais do que uma fruta, a maçã tem uma imagem transcedente à ela. É como, por exemplo, o leão, cuja imagem é muito mais forte e marcante do que o animal em si. Nunca houve leões na Inglaterra, mas o Reino da Inglaterra utilizava 3 leões estilizados em sua bandeira, pra simbolizar a alta hierarquia do leão na vida selvagem (o leão, after all, é rei das selvas). Não existem países cujas bandeiras fizessem referências à maçãs, mas a fruta vermelha e redonda tem uma imagem forte, marcante. Talvez por ser vermelha (uma cor marcante), por ser gostosa, por ser facilmente reconhecível, a maçã é uma fruta muito famosa. Mesmo quem não gosta de maçã lida sem problemas com a imagem dela, consegue fazer referências simples à fruta e ao seu legado histórico.

A partir daí, o século XX viu a maçã ganhar ainda mais conotações. Por exemplo, a maçã do Sílvio Santos, do programa Tentação (não sei se vou ou se fico...). Ou a Apple Inc., cujo nome adveio da maçã que caiu na cabeça de Newtinho. Ou as maçãs do amor, que simbolizariam o amor, e que nada mais é do que uma tentativa de purificar o pecado da safadeza (hohohoho...).
As maçãs não são mais frutas inocentes. Não são mais pequenos pseudofrutos avermelhados provenientes de árvores da família rosaceae. Nope. São frutas transcedentais. Simbolizam o errado, o pecado, o maligno, a discórdia. E simbolizam a sabedoria livre da religião, o pensamento crítico, o científico. Estranho, né, como uma frutinha de 8cm de diâmetro conseguiu tanta associação à sua imagem...
O que me faz pensar: seria isso um golpe publicitário? Será que houve uma firma que vendia maçãs, e que patrocinou os estudos de Newtinho, desde que ele dissesse que foi tudo culpa de uma maldita maçã? Assim, as pessoas comeriam mais maçãs, a imagem da maçã ficaria pra sempre grudada na civilização? Sim, porque as pessoas adoram discórdias. E uma discórdia que nasceu graças a uma frutinha pequenininha e tão bonitinha e suculenta, então... Fica bem mais fácil vender maçã quando todo mundo sabe que, graças a ela, temos iPods. Que é da Apple, também. Yes, as maçãs vermelhas e docinhas parecem inofensivas, mas dominam boa parte do mundo ocidental. Você convive com maçãs mais tempo do que percebe, sabia disso?
Pense nisso quando comer uma maçã. E aproveite, e vá comer uma agora. Além de tudo, elas são muito saudáveis. E gostosas, também. =D

Ouvindo:
The Shock of the Lightning
Oasis
Dig Out Your Soul (2008)

domingo, 5 de abril de 2009

Zero a Zero


RENASÇA, INOMINATIVO!! :D


Boas noites boas noites para os senhores! É hora de eu tirar a poeira desta minha gaveta de textos despretensiosos, e retornar à fina arte da escrita! Sim, escrever é uma arte fina e requintada, não acham os senhores?

Mas eu não sou requintado. E aí dá nisso, esse monte de bobagens. Can't help it :P

A primeira da nova leva de postagens inominatívicas (e isso existe?) está saindo. Vejamos se sai tão ruim quanto os outros, ou se eu pioro. Huah!

Contos do Cotidiano
XI - Zero a Zero

Para Alex, sexta-feira à noite prometia. Tanto que ele acordou cedo, naquele dia, por causa da ansiedade, mas descobriu que não adianta nada acordar mais cedo; o relógio continua andando na mesma. Às vezes, um pouco mais devagar, até, só pra fazer sofrer. Hehe.
Havia duas semanas, nosso amigo havia ido na balada da faculdade de um amigo dele. Balada vai, balada vem, conheceu a amiga de uma amiga de um amigo do amigo dele. Os dois se conversaram, descobriram que gostavam de filmes hollywoodianos e de música brasileira (e, embora Alex nunca fosse admitir em público, ele descobriu que gostava de Britney tanto quanto a moça). "Ah, pegaê meu MSN" (guardanapo sendo rabiscado). "Ah, eu te adiciono depois no meu orkut". É, rolou uma química. Rolou uns chutes a gol. Mas o placar foi zero a zero praquela noite. Não faz mal, o campeonato ainda não terminou. Ainda rolariam outras chances.
Nas duas semanas seguintes à baladinha, eles descobriram mais algumas afinidades. Gostavam também de Outback e de filmes do Will Smith. "Ah, tem um filme do Will que eu ainda não vi, e que está em cartaz. Quer ir? Podíamos jantar no Outback depois, né?". "Ah, boa ideia, vamos sim". Nada mal pra um primeiro encontro, hein? Conseguiu um cinema e um jantar. Ah, aquela noite, certeza, seria goleada...

Não é de se espantar que nosso menino Alex estivesse animado. Depois de ouvir uns CDs e estudar umas matérias da sua faculdade, resolveu dar uma volta. Viu uns amigos, fez a cruzadinha do Estado de S. Paulo que vivia abandonada no saguão do seu edifício. Lá pela uma da tarde, deu-lhe fome. Como seus pais trabalhavam, ele almoçava sozinho. Ele subiu pro seu apartamento, deu uma re-esquentada na janta de ontem (o popular soborô), almoçou male-male e ligou a TV pra ver se tinha algo que o distraísse até o filme. Pra variar, umas zapeadas, mas nada rolou. Ele resolveu ligar o seu vídeo-game, e colocou um Winning Eleven. Depois de 3 derrotas (incluindo uma espetacular goleada com direito a gol contra), ele achou melhor desligar o jogo, porque aquilo prenunciava má-sorte. Não que ele acreditasse. Mas nunca se sabe. É melhor não dar sorte pro azar, certo? Nunca se sabe.
Deu uma navegada na internet. Encontrou a sua companhia, Gabriela, online em um programa qualquer de conversação instantânea. Checaram o horário, recombinaram o ponto de encontro, conversaram aleatoreidades. É, nada parecia dar errado.

Lá pelas seis, de banho devidamente tomado e devidamente perfumado, achou melhor embarcar rumo à diversão. Entrou na estação de metrô que servia o bairro em que morava (o sortudo Alex calhou de morar em um bairro com linha de metrô), tomou um trem lotado e foi sentido cidade. Acontecem, aí, aquelas intempéries que sempre ocorrem em viagens. Coisas como estações apinhadas, folgados enormes que não saem da frente das portas, escadas rolantes quebradas... Só que, tudo de uma vez. Desgraça pouca é bobagem, hehe. Nosso amigo Alex chegou, naturalmente, atrasado. Mas não faz mal, ele havia combinado de se encontrarem cedo no shopping pra evitar que pequenos atrasos os impedissem de ver o filme. E, ademais, bem ele sabia que Gabriela iria atrasar. Mulheres sempre atrasam. É meio que um charme delas. E assim, ele chegou no shopping, foi ao ponto de encontro, não viu ninguém, e se ocupou em ver vitrines de livrarias e de lojas de jogos.
Seu telefone chacoalhou, então, por causa de uma mensagem. Sua companhia, Gabriela, o esperava no ponto de encontro. Lá ele foi, e lá ele a viu. Ele notou que ela estava bastante bonita. Ele se congratulou, eles se cumprimentaram, e foram à bilheteria comprar os tíquetes para o filme. Ah, aparentemente, nada daria errado. Alex sabia que era errado comemorar vitória antes dos noventa minutos, mas ele, ao chegar no guichê e encomendar os dois ingressos (como bom cavalheiro, ele pagou a entrada de sua companhia), pensou que não podia dar nada mais de errado. Tudo terminaria bem, agora.

Ou quase.

"ALEXANDRE, SEU BOIOLA!". Alex estacou ao ouvir seu nome, e virou pra seguir a origem do berro escandaloso e da ofensa gratuita. Ele terminou de virar o pescoço, e um abraço desajeitado turva sua visão. Dois murros nas costas, e um amigável "E aí, seu bosta!" fazem o Alex reconhecer o perpretador das frases. Um amigo seu, Ricardo, que o encontrou (contra todas as probabilidades, como Murphy gosta) na fila do guichê, e que tinha gritado o nome dele várias vezes. Mas Alex estava tão animado com a companhia que nem ouviu o que vinha de fora. "Só virou pra ver depois que eu chamei você de boiola, né? Seu são-paulino bambi de merda. Tinha que ser um queima-rosca, mesmo! Huahuahuahua!". De trás de Ricardo, mais três amigos aparecem, cumprimentando nosso amigo, dando tapas nas costas, abraços desajeitados. Alex, nosso amigo, estava estupefato, é claro. Tudo o que ele menos queria agora era que empatassem o jogo dele. É, essa história de comemorar vitória antes dos noventa minutos...
Encabulado, apresentou Gabriela aos amigos. A educada menina lhes disse oi, eles responderam. Ricardinho, o nosso amigo sem-noção, não perdoou: "Namorando, então, Alex? Caramba, que sorte, a mina é bonita mesmo, hein?". Sem jeito, Alex mal conseguiu balbuciar uma resposta. Restringiu-se a rir amistosamente, enquanto digitava a senha do seu cartão na maquininha da menina do caixa do cinema.
"Ah, então vocês vão ao cinema!", constatou Ricardinho, mestre em notar o óbvio. "E que filme é?". A menina respondeu, dado o grau elevado de vergonha que Alex estava. "Vamos ver o filme do Will Smith, sabe?". E aqui, a noite, que já estava perdida, acabou de ficar tenebrosa. "Pô, Carlos, bem que a gente podia ir ver esse filme com o Alex, né? Eu não tenho nada pra fazer hoje à noite, mesmo...". Os amigos concordaram. Entraram na fila pra comprar seus ingressos. E Alex estava considerando, seriamente, se utilizar de magia negra avançada para desaparecer. Ah, se ele tivesse ido pra Hogwarts...

Vencido, lá foi ele pro cinema. Sentou-se, claro, ao lado da Gabriela, mas seus amigos sentaram do outro lado. Ricardinho, óbvio, preferiu se sentar do outro lado do Alex.
Eu posso estar enganado a respeito de vocês, meus amigos homens, mas acredito que a última coisa que vocês desejam, ao estarem em estágio de flerte aberto com uma moça, é que seus amigos escrotos façam a menina perceber o quão escroto você é. E comecem a contar, por exemplo, da vez em que você passou mal na balada e vomitou no cara que fazia coquetéis. Ou da vez em que caiu na piscina com o celular dentro do bolso, porque estava muito bêbado. Ou da sua fama na escola de vagabundo e matador de aula. Ah, sim, Alex estava sumindo em sua poltrona. Até que o filme começou. E Alex deu graças a Deus porque a sessão se iniciava. Pelo menos, ele não passaria mais vergonha. Mas que tudo tendia pra um zero a zero... Ele se vira pra engatar conversa com a Gabriela, que estava dando risadas das histórias do Ricardo desde que entraram na sala do filme. Mas ela devolveu um "shhhhh". Ai, meu coração...
Além dos amigos que gostam de empatar, tem os amigos que você não pode convidar pra ir ao cinema contigo, porque eles preferem incomodar você com piadinhas ridículas ao ver o infeliz do filme. E o Ricardinho, esse guri levado, era uma soma dessas duas classes. De modo que ele não deu paz a Alex, nem no meio do filme. Coisas como terminar as falas de um personagem com piadinhas sem graça, se lembrar de uma piada com um papagaio e um argentino, começar a jogar pipoca nos casais que estavam nos finalmentes, rir alegremente de piadinhas do filme... Alex, que se sentia mais em uma tortura do que em uma sala de cinema, se perguntava o que ele fez de errado para os Céus. Gabriela, a traidora, ria gostosamente das travessuras do Ricardinho. Alex estava sozinho. Poverello, poverello...

Zero a zero. A frase ecoava na cabeça de Alex, enquanto eles saíam da sala de cinema. Dos seis que tinham entrado na sessão, cinco adoraram o filme, e faziam piadas infelizes e riam mais ainda. Alex, educado, tensionava um sorriso, mas estava desgostoso. Quase como tomar leite azedo, sabe? Como colocar pimenta no pastel quando você jurou que aquele tubo vermelho era catchup.
Ao voltarem ao shopping, eles se encontraram na praça de alimentação. Um dos meninos emendou "E aí, alguém come?". Alex notou uma última chance. "Ah, não, cara, vou jantar fora com a Gabriela, thanks". "Opa!", disse Ricardinho. "Onde?". "Ah, vamos ao Outback". "Posso ir também, gente? Estou com fome, e faz tempo que não vou lá. Vamos, macacada?" PQP, que cara mais inconveniente. Parece chiclete que grudou no cabelo. Saco.
Chegaram no Outback. Pra Alex, a janta, que poderia ser a redenção, só foi mais do mesmo. É como descobrir que o para-quedas reserva também falhou. E lá vem o chão, se aproximando da nossa cara.
Decidido a perder o jogo com nobreza, ele engoliu a infelicidade, e resolveu aproveitar. Jantaram juntos uma carne de porco apimentada (que custou ao Alex quase um litro de Coca-Cola, porque ele tinha baixa tolerância à pimenta), falaram mais algumas ogrices da vida pregressa de Alex, contaram da baranga que ele pegou no segundo ano só pra não zerar em uma festa...

Zero a zero, pensava Alex, quando deu tchau pros seus "amigos", sob o pretexto de deixar Gabriela no ponto de ônibus, e aguardar o comboio com ela. Ensaiou um último ataque. Um gol aos 49', pra somar os 3 pontos. Mas veio o golpe da redenção. "Aquele seu amigo, o Ricardo... Ele é bem engraçado, né? Escuta, vai rolar uma festa lá na minha faculadade sexta que vem. Convida ele com você, se você for, pode ser?". E ela embarcou no ônibus. Era o apito final.
Afinal de contas, saiu um gol na prorrogação. Um a zero. Mas pro time errado. Foi, aliás, o mesmo placar de uma das partidas que ele havia perdido no vídeo-game, mais cedo. Se foi coincidência, nunca se sabe. Mas era melhor ter ficado no zero a zero, mesmo.
E Alex voltou pra casa mais cedo aquele dia. Havia sido eliminado. :P

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E com isso, retorna o Inominativo! Seja bem-vindo de volta, meu querido blog. Senti sua falta. :D
Algumas considerações acerca desse retorno, entretanto:
* Como eu não tenho mais tempo livre entre as semanas, é muito provável que eu só consiga escrever algo aqui aos sábados e domingos. Mas eu farei o máximo para que eu poste pelo menos uma vez por semana. Se eu não puder, por favor, me perdoem.
* Se não for pedir demais, comentem sobre o que acharam! Eu quero mesmo mesmo saber o que vocês acham sobre meus novos textos. Sabe, boa parte do meu interstício foi porque eu sempre tive receio de sair algo ruim, que não mantivesse o nível anterior. E preciso saber da opinião de vocês, né? Agradeceria se o fizessem. =)
* Descobri, ainda recentemente, que meu antigo blog, O Mal do Século, não existe mais no servidor do Blogger.com.br. Apesar de fazer mais de 2 anos desde que ele deixou de existir, fiquei bastante chateado em saber disso. Eu gostava bastante de lá. Mas não faz mal, o Inominativo é mais legal, certo? :P
* Tomara que eu não torne a desistir do meu blog. Ainda nutro desejos secretos de escrever um livro, vendê-lo como água, ficar muito rico e passar o resto da vida preguiçoso e feliz. Hehe.

Bem-vindos de volta, leitores. Senti a falta de vocês.

We Started Nothing
The Ting Tings
We Started Nothing (2008)