domingo, 22 de maio de 2011

A Mina da UNICEF

Mais uma vez, olá, gente boa! Neste desagradável mês de Maio em que não há feriados (afinal, o Dia do Trabalho me resolve cair em um domingo) eu senti saudades e resolvi voltar para despejar mais bobagens no meu cantinho preferido da internet. Aê, viva o meu blogue!!
E obrigado pela visita :)

A postagem de hoje me ocorreu em uma epifania durante uma caminhada pela Avenida Paulista. Ah, vá, até você que não tem nem ideia de onde fica São Paulo deve saber que a Avenida Paulista é o nosso cartão-postal por excelência, a avenida mais importante, o lugar mais frequentado... É o xodó paulistano, a nossa tia Paulista. E aí este autor que vos escreve teve essa ideia. E achou por bem por no papel (ou na internet, vocês entenderam) antes que a ideia voasse. Será que fica um bom texto? Ou era melhor ter desencanado?

Contos do Cotidiano
XII - A Mina da UNICEF

"Alô?"
"Alô, Carlinhos? É o Márcio, cara!"
"Oho, seu viado! Tudo bem contigo?
"Tudo certo, Carlos, tudo certo... Escuta, véio: seu pai, como ele tá?"
"O meu velho tá bem, cara. Já voltou do hospital, era só um susto."
"Ufa, menos mal. O tio deu mó susto na galera."
"Pois é. Mas meu pai é assim mesmo: uma piada pra ele sempre vale a pena..."
"Maaano, preciso te contar, cara: conheci uma mina hoje!"
"Mais uma, Márcio? PQP, que aconteceu com a última? Ela já cansou de você?"
"Porra, não enche, cara. O que importa é que conheci essa mina hoje! Ela é linda, ela é uma graça, ela parece um anjo, velho!"
"Okay. Onde você a conheceu?"
"Na Paulista, Carlão. Tava andando lá, indo pra livraria comprar uns livros pra facul. E aí ela me abordou e a gente ficou conversando"
"Pera: ela te abordou?"
"É. É que ela é uma daquelas funcionárias de ONGs, manja? Que ficam na Paulista pedindo pra você ajudar alguma criança de algum país-quistão, sabe?"
"Ah, sei."
"Então, ela é da UNICEF."
"Putz. Ela foi vender o peixe dela e você se apaixonou. Típico de você, Márcio. Típico"
"Porra, Carlão, vá se fuder, velho. Eu falei pra ela que não tinha como ajudar. Era universitário, falido, liso, nem trabalhava. Ela insistiu. Eu falei que doava se ela saísse comigo. Ela sorriu. E aí eu peguei o telefone dela."
"É mesmo? Que cantada loser."
"Mas funcionou, mano, larga de encher o saco. Amanhã eu vou ligar pra ela e marcar alguma coisa. Que você sugere?"
"Ah, mano, sei lá. Leve-a pra jantar. Ou leve-a ao cinema. Algo bem sossegado. Só não vai levá-la pra ver Resident Evil, velho!"
"Huahuahua... Beleza, nunca mais faço isso de novo, prometo."
"Depois você me conta o que aconteceu com a mina da UNICEF."
"Beleza, Carlinhos. Manda um beijo pro tio"
"Mando sim."

---

"Fala, Márcio!"
"Eaê, Carlão? Beleza?"
"Beleza, cara. Escuta, meu pai pediu pra te mandar um beijo, agradeceu por você ter perguntado."
"Valeu. Avisa o tio que não é pra ele morrer antes de me levar pro Rock in Rio. Ele prometeu."
"Hehehe, vai esperando... Ow, e aí? Ligou pra mina da UNICEF?"
"Liguei, velho. Liguei ontem, antes da aula."
"Eaê, cara? Que pegou?"
"Maano, ela é um barato! Ficou fazendo docinho, disse que gostava de cinema, mas que não tinha nada legal... Então ela topou irmos jantar"
"Onde você vai levá-la?"
"Sei não. Tem uns restaurantes legais lá pela Paulista, mas eu não conheço muitos. E são caros."
"Eu tenho um legal. Vou te mandar por e-mail hoje quando chegar em casa. Lá é barato, e eu tenho um cupom de desconto. Usa lá pra aliviar pra você, seu pobre."
"Huahauhua, valeu.... O único chato é que ela ficou me enchendo saco pra doar pra porcaria da UNICEF. Mano, eu não quero dar meu pobre dinheiro pra alguma criança remelenta do Tadjiquistão! Nem sei onde fica esse país!"
"Larga de ser inculto, cara. Senta lá no Wikipédia, e aprende mais sobre o país dela. Surpreenda-a!"
"É, talvez você tá certo. Vou ver"
"Quando você vai?"
"Acho que sexta"
"Beleza. Não se esqueça de que domingo vai ter churras em casa por causa do jogo do São Paulo"
"Fechado, velho. 'Té domingo"
"Até, Márcio."

---

"Márcio, meu querido."
"Fala, seu viado."
"Ow, meu pai pediu pra você não se esquecer de trazer pr'aqui amanhã o pote que ele emprestou pra sua mãe aquele dia."
"Opa, tá lembrado! Vou pedir pra minha mãe deixar separado aqui."
"Eaê, cara? Saiu ontem com a mina da UNICEF lá?"
"Saí, velho..."
"Porra, cara, então conta! Que diabos aconteceu?"
"Putz, cara, a gente foi lá no restaurante que você indicou. Aliás, valeu pelo tíquete, ele aliviou bastante. Aí fomos lá, comemos, e eu me ofereci pra pagar a janta dela, claro."
"E ela?"
"Mano, ela aceitou, mas ficou me enchendo o saco a noite inteira. Disse que achava injusto eu ter dinheiro pra levá-la pra jantar e não ajudar a UNICEF com uma doaçãozinha de nada, que nem iria doer em mim. E me perturbou a noite inteira"
"Porra, velho, que foda. Ela é idealista mesmo, hein?"
"Ô se é. Aí ela disse que topava ir no cinema semana que vem comigo, mas com uma condição: eu deveria fazer uma doação pra UNICEF. Uma só, e ela parava de me encher."
"Huahuahuahua, não acredito, Márcio!! E aí? Que que você vai fazer?"
"Sei lá. Acho que não vou não. Vou ver se eu a enrolo"
"Pode crê, enrola a mina. Ow, peraê, meu pai tá me chamando, vou lá ver."
"Beleza, amanhã a gente se vê."
"Até amanhã, Márcio"

---

"Alô."
"Márcio, você é um grande filho da puta."
"Pô, Carlinhos, respeito com a sua tia."
"Maaano! Você não foi em casa ontem!"
"Foi mal, velho. Eu deitei no sofá e dormi. Só acordei no meio do segundo tempo do jogo. Aí desencanei."
"Bem feito, meu pai fez uma picanha que é de dar água na boca só de lembrar, cara. Como você me perde, velho? Como?"
"Foi mal, velho! Queria mesmo ter ido. Pior que nem levei o pote do tio. Que mancada."
"Mancada mesmo. Seu brocha."
"Acontece."
"Falar em acontecer, já falou de novo com a mina da UNICEF?"
"Falei, falei. Liguei pra ela hoje. Ela agradeceu a janta, a gente ficou conversando. Aí ela perguntou se eu fiz a doação que prometi."
"E você fez?"
"Não, claro que não. Mas eu falei que fiz. Que tinha ido no caixa eletrônico e tudo."
"E ela?"
"Maaano... Ela disse que ia entrar amanhã na conta pra ver se era verdade. Ela duvidou de mim. Mas que mancada!"
"Mancada mesmo, né? Até parece que você iria mentir pra ela"
"Carlão, que eu faço?"
"Agora, filhão, ela vai descobrir que você mentiu, né? Então, o negócio é o seguinte: ou você não doa o dinheiro e desencana da mina, ou você dá logo seu dindim, e pega ela duma vez. Mas peloamordedeus, depois de tudo isso, é bom que vocês no mínimo namorem uns 6 meses"
"É. Me dei mal, mesmo, vou ter de dar meu rico dinheirinho pra alguma criança remelenta no Tadjiquistão. Porcaria."
"Me liga depois pra me contar o que rolou."
"Firmeza."
"E sábado tem jogo no Morumbi. Vê com seu irmão se vocês vão também."
"Tá. Te cuida, Carlão"

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"Marciããão"
"Fala, Carlinhos."
"Credo, Márcio, que animação é essa? Morreu alguém?"
"Acho que levei um fora."
"Como assim? Da mina da UNICEF?"
"É, velho"
"Como assim? E você não fez a porcaria da doação?"
"Então, meu. Eu fiz. Até dei um print screen do comprovante no site do banco e mandei por e-mail pra ela. Mó bonitinho."
"E então...?"
"Dia seguinte eu liguei, ninguém atendeu."
"Ué"
"Acho que liguei umas 10 vezes. O dia inteiro. Mandei e-mail no fim do dia. E no dia seguinte liguei de novo, mais umas 5. Aí, alguém atendeu o telefone. E desligou direto, manja? E aí passou a cair no ocupado"
"Pffft... Huahuahuahuahua!!"
"Porra, Carlos, vá se fuder, de que você tá rindo?"
"A mina esperou você doar o dinheiro e te deu um fora! Não acredito, velho!! Huahuahuahua!"
"Caramba, mano. Será?"
"Poutz, meu, tá na cara! Você mandou comprovante e tudo, e ela sumiu. Até bloqueou você do celular dela! Ai, caramba, eu não acredito... Huahuahua!"
"Velho, não é possível! Eu fui usado?"
"Caiu feito um pato! Hahuahuahuahua!"
"Maaaano... Que filha duma puta..."
"Bom, ela fez o trabalho dela, né? Conseguiu fazer com que você doasse pra UNICEF"
"Poxa, mas precisava de tudo isso? Ela me magoou, mano."
"E você doaria, de outro modo?"
"Nem a pau!"
"Pois é. Ela arrancou seu dinheiro. E sumiu. Huahuahuahua, eu não acredito..."
"Mano, nunca mais doo nada pra UNICEF"
"Desencana, velho, você já doou uma vez. Era o que ela precisava. E aí, a gente vai sabadão no Morumbi?"
"Pô, mano, nem vou não. Vou ficar em casa."
"Por quê, seu molenga? Tá tristinho, é? Tá sem vontade de sair de casa?"
"Pior - tô sem dinheiro, mesmo. Doei pra alguma criança remelenta no Tadjiquistão."

Ouvindo:
It's OK
Cee-Lo Green
The Lady Killer (2010)

sábado, 7 de maio de 2011

Adeus, Infância

Saludos, meus queridos! Bonsoir! Como vocês vão?
Nem parece que faz tanto tempo que estive aqui, né? O lay-out do blog continua o mesmo, olha só! E os links também estão meio iguais... PQP, que cara preguiçoso!

Nem me fale em preguiça. Hoje em dia estou tão ruim que me peguei dormindo em pé no elevador, esses dias. Durmo no meio da aula, no ônibus, no sofá da sala... Só não dormi no meio da prova com medo de acordar e ter babado em cima dela. Entregar uma prova babada pro professor é um atestado de derrota, hein? :D

Sabe, essa vida de adulto é chata. Aposto que você não tinha a menor ideia de que seria tão chato assim ser um adulto, quando você ficava revoltado com os seus pais por eles não deixarem você ver TV até tarde. "Um dia eu serei adulto!", você bradava, "e vou poder fazer tudo o que quiser!". Bom, parabéns, hoje você pode ver TV até tarde! O duro é que você hoje pode fazer tanta coisa, que só sobra tempo pra ver TV tarde da noite, mesmo, pra dar uma olhada nas notícias do Jornal da Globo, e olhe lá. Afinal, você tem trabalho, tem faculdade, tem curso de idioma, tem academia, tem os amigos, tem os pais, tem a namorada ciumenta e o namorado grudento... Aposto e ganho que você não tinha pensado nisso tudo quando gritava que não via a hora de ser adulto, só pra ver Casseta e Planeta, né? Pois bem, meu querido, as más notícias é que Casseta e Planeta nem eram mais tão engraçados, e eles acabaram anyways. E dois: ser adulto é um grande desastre. Faz você pensar porque diabos abandonar a infância.
E aí eu pensei - é, às vezes eu penso; dói pra caramba, mas eu penso - que é duro sair da infância. Quer dizer, você está lá, de boa na lagoa, brincando com seus comandos em ação ou sua barbie, quando sua mãe te pega pelo braço e avisa você que é hora de crescer. Duro, né? Então.

Adeus, Infância

Uma das lembranças mais vivas que tenho da minha infância foi a primeira vez que visitei o Parque da Mônica. Aos não-paulistanos que acabam errando por este blog, o tal Parque era um espaço enorme (para meus padrões de criança da época) encravado no Shopping Eldorado, em que havia um monte de brinquedos legais, e escorregadores e plataformas e desenhos e tudo isso mais, em óbvia alusão à Turma da Mônica, criação do grande Maurício de Sousa. Acho que foi em algum dia do ano de 1995 (eu tinha uns 7 pra 8 anos), e acho que fui com a minha mamãe (é possível que eu também tenha ido com excursão escolar; minha memória já foi melhor).
Seja como for, eu me lembro muito bem do monte de cores que havia, e tantas coisas para se fazer, e fotos com funcionários fantasiados de Mônica e Cebolinha, e o lanche legal que a gente comia... Enfim, parques infantis eram eventos sensacionais, maravilhosos, estratoféricos. O equivalente de hoje em dia a receber um cartão de crédito ilimitado em um free-shop em Nova York, ou a baixar seriados em uma conexão banda larga de 1Tbps (1 terabit por segundo, ou um milhão de vezes a sua conexão pobre de um mega, seu pobre).
Por que lhes conto esse feliz episódio da minha infância? Oras, porque eu quero evocar as lembranças que vocês têm das suas felizes infâncias, poxa! As excursões super-legais a um sítio no meio do lugar nenhum, as viagens com a família pra praia, aquele Natal em que apareceu um Papai Noel de verdade!!... A sua infância, amado amigo e amiga amada, é populada de eventos maravilhosos em que ser feliz era extremamente barato e simples. Oras, se a sua mãe lhe desse um daqueles potinhos pra bolhas de sabão, você dava paz pra ela a tarde inteira! E um balde de pipocas e um filme na Sessão da Tarde era a coisa mais legal do mundo!

É nessa hora em que você se pega pensando, com o olhar desfocado no seu monito, nas coisas legais de outrora. E aí você se pergunta o quê, afinal, aconteceu com você. Por que não o deixaram em paz, brincando com seus brinquedos e vendo seus filmes? Y U no leave me alone??
A culpa sempre caem, primeiro, nos pais, claro. Esses velhacos infelizes viviam me enfiando em escolas cada vez mais longes e mais difíceis, até que eu nem os via mais, e nem tinha tempo de apreciar direito os desenhos legais da TV Cultura. Traidores mequetrefes, meus próprios pais, que sentiam inveja de mim e mataram a minha felicidade! Oh, por que eles não me deixaram ser uma criança feliz eternamente?!
Olha, amigo, digo-lhe que seus pais bem que tentaram, e com muito afinco. Eles convenceram seu tio a se vestir de Papai Noel (isso quando não era o seu pai mesmo vestido) só pra que você acreditasse por anos a fio que o danado do velhinho existia mesmo, e ele viajava the whole fuckin' world!, dando presentes por aí. Eles compraram vídeo-games com jogos infantis pra você achar que o mundo seria sempre colorido e bonitinho. E tem o meu preferido, que era quando você obrigava a sua mãe a assistir 5 vezes o mesmo filme da Disney, até que você decorasse fala por fala a porcaria do filme inteiro. A sua mãe é um anjo de luz, né? Vá lá, e dê um beijo nela agora. Ela merece. :)

Assim como seus pais batalharam arduamente para que você aproveitasse sua infância, também foram eles que o introduziram, também, ao doloroso mundo do envelhecimento. Assim como eu me lembro vividamente daquele episódio no Parque da Mônica, também me lembro da vez em que fomos a uma lanchonete genérica do McDonalds em que havia daqueles brinquedos com túneis e escorregadores de plástico. Lembro-me de subir no brinquedo, de não conseguir correr nele direito, porque ele era meio estreito, sabe? E depois de ter muita dificuldade em descer pelo escorregador, lembro-me finalmente da voz de anjo de mamãe: "Filho, você não acha que cresceu demais pra esse tipo de brinquedo?". ;_;

Todo pai e mãe, em uma hora, precisa lembrá-lo que é hora de dar adeus a infância, de que a hora do recreio acabou. O ritual de deixar a infância é duro e árduo, caros leitores deste moribundo blogue. Alguns de vocês se lembrarão também do baque quando descobriram que Acapulco era no México, e que o México era muito longe. "Como assim, outro país?". Ou quando sua mãe lembrou você de que não podia mais passar por baixo da catraca do ônibus. Ou do primeiro Natal em que o Papai Noel não existiu pra você. Não é mole, amigos. Não é mole...
Mas, then again, a vida não é mole. Como eu comentei em outro post, melhor mesmo era quando estávamos dentro do útero de nossas mamães, quando era quentinho, e comíamos e defecávamos sem o menor esforço. Infelizmente, entretanto, crescemos devagar e sempre, rumo à nossa morte certa. E enquanto a morte não chega, contas a pagar, notas pra tirar, filhos pra criar, gorduras pra queimar.
E você reclamando da sua lição de casa, né? De como seus pais eram injustos por impedir você de ver TV até tarde, né? Se vocês querem saber, se me perguntassem agora, eu abandonaria numa boa a TV até tarde e os doces fora de hora. E trocaria meu trabalho e minha faculdade pelas minhas aulas de matemática da quinta série, pelas minhas aulas de literatura... Até aula de biologia, vai. Tudo pelo prazer de chegar em casa à tarde, tirar meu uniforme e dormir, a tarde toda, jogado no sofá. Ai ai...

Se bem que, justiça seja feita, nem é tão ruim assim ser adulto. Você pode trabalhar, juntar dinheiro e comprar o que bem entender!! Depois que você recebe seu árduo dinheirinho, entre pagar essa e aquela conta de telefone, comprar roupas novas e ir numa balada, você pode finalmente comprar aquele brinquedo que você sempre quis, aquela boneca que você sempre sonhou. Ou o vídeo-game que seus pais nunca deixaram você ter. Então me deem licença, porque eu sou adulto, mas ainda adoro brincar de carrinho. E é isso mesmo que eu vou fazer. :P

Ouvindo:
On a Cloud
PPP
Abundance (2009)