quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O Presidente Artilheiro

Queridos leitores do Inominativo! Mais uma vez, olá!!
Agora que eu finalmente recebi a minha liberdade da minha adorada FEA-USP, estou pronto para o meu mais novo desafio de vida! Depois de tantos anos estudando sobre curvas de demanda, taxas de inflação, funções de investimento, juros e dívidas públicas, eu finalmente posso ser um membro produtivo da nossa sociedade e fazer nosso glorioso país crescer! Siiim, o futuro me aguarda!
Estou pensando, particularmente, em arranjar uns cobertores pulguentos, deitar-me em alguma avenida movimentada de minha cidade natal, e falar abobrinhas sozinho, ou com um cachorro sarnento. E aí, quando passasse um desses executivos realmente importantes voltando do trabalho, eu chamaria a atenção deles e começaria a conversar sobre assuntos corriqueiros - como a Teoria das Supercordas, os exoplanetas, as expedições em Marte, se eram os deuses astronautas. Duvido que algum executivo da Avenida Paulista está preparado para travar disputas de física quântica e filosofia no meio da rua com um mendigo. Eu iria me divertir. :P

Maaas a ideia não era falar sobre trolar os trabalhadores honestos da minha querida metrópole paulistana. Não! Hoje, gostaria de levantar algumas conclusões próprias sobre o assunto dos próximos meses. Oras, durante os próximos 2 meses, vocês (e eu) serão bombardeados, mesmo contra a vontade, com propagandas e mais propagandas políticas. Como as eleições são, invariavelmente, um assunto pertinente, e eu nunca tinha discutido muito sobre eleições neste blogue decrépito, achei por bem fazê-lo. Até porque eu tive uma boa ideia. :D

O Presidente Artilheiro
Pois já passamos da hora de juntar oficialmente futebol e política

A não ser que você seja um desavisado que passou as últimas 8 semanas vivendo em uma tribo indígena no Pantanal sul-mato-grossense - ou que o Inominativo tenha, enfim, vencido as barreiras internacionais e me projetado no exterior, o que é impossível - você está sabendo que o Brasil está, oficialmente, em época de eleições. Graças ao suor de tantas gerações anteriores a nossa, fomos conseguindo seguidas e importantes vitórias sociais, que nos garantiam o poder de escolher aqueles ilustres brasileiros com capacidade de guiar esta nossa pátria amada, idolatrada, salve salve. Hoje, queridos, a democracia brasileira vive seu melhor momento, repleta de liberdade e futuro! Viva o Brasil, gente!
O problema é que é difícil acreditar que a democracia brasileira já esteve pior. Quer dizer, olhe em volta! Obrigados a escolher o menor dentre os males, nós vamos votar amarrados, pensando em votar naquele político que trará menos prejuízo, ou que roube menos. A situação está tão desanimadora que aparecem no percurso postulantes a governantes cada vez mais bizarros, na tentativa de chamar a atenção para a absurda situação tupiniquim. São caras tão esquisitos, tão bizarros, tão alienígenas, que eu frequentemente me pergunto se não estamos assistindo a um grande espetáculo circense! Sim, senhores, as eleições brasileiras são, na verdade, o maior show de humor da Terra! Depois de tantos anos de frustrações políticas, tudo o que nos resta para levar o dia-a-dia é rir!
Mas defendo, ainda assim, que a nossa democracia é melhor hoje do que em tempos passados. Bom, pensemos pelo lado positivo - hoje em dia a gente pode pelo menos rir dos nossos candidatos sem temer uma prisão repentina por subversão. Quantas grandes mentes devem ter sido acusadas e torturadas, só por falar que o Generalíssimo Costa e Silva tinha nariz de batata... Por pior que esse nosso carnaval político nos pareça, bom, a gente ainda pode rir disso, né? E ainda estamos livres para falar mal da Presidente Rousseff, do Governador Alckmin, do Ministro Lewandowski... Nem que seja pelo bem da piadinha :D

Sim, queridos leitores, eu sei - eu escrevo os parágrafos acima em tom jocoso, mas eu concordo com vocês que a ideia de uma democracia não é ser engraçada. Eu posso assistir ao Comédia MTV se eu quiser rir. As eleições deveriam ser sérias (ou, pelo menos, fingir ser). Mas a verdade é que tem alguma coisa dando seriamente errado na política brasileira. Vejam o exemplo das eleições para a Câmara dos Deputados no ano de 2010. O palhaço Tiririca veio ao glorioso Estado de São Paulo, fez piadas, e alegou - em tevê aberta para todo o estado - que não tinha a menor ideia do que um político fazia. Uma enorme comédia, ao vivo. Os paulistas, que sempre foram orgulhosos de ser a locomotiva do país, não tiveram a menor dúvida: elegeram o palhaço! Colocaram o Tiririca como o legislador mais votado em nossa centenária história republicana, para aprender ali, na hora, como ser um congressista!
O ponto que este humilde autor levanta é que o problema, caríssimos leitores, não está na política! O que faz das eleições uma piada não são os candidatos, não são os políticos, não é o Governo - é o povo!!
Siiiim, senhores, os eleitores paulistas preferiram a piada à seriedade - de lavada, diga-se de passagem - e eles, é claro, não são os únicos. Por todos os metros quadrados do nosso país, esse gigante adormecido, cidadãos riem e se esbaldam quando políticos cômicos fazem piadas em palanques. Candidatos sem-noção usam nomes absurdos para chamar a atenção e "representar o povo", porque é justamente o que o povo quer! Caiam na real, elitistas proselitistas - o que a população quer não é educação, saúde, alimentação e emprego! Eles querem boas risadas!! Eles querem eleger o Tião do Gás porque ele é um gordinho estranho, ou a Mulher-Pêra, porque ela é gostosona! A nossa Sucupira elege qualquer um que fale nosso idioma e adivinhe nossas ganas - comédia, televisão, futebol. Não à toa, já elegemos até ex-Big Brothers para nossa mais estimada Câmara de Deputados. Além, é claro, do Romário - não que eu menospreze suas conquistas esportivas para o país porque, afinal de contas, 5 gols na Campanha do Tetra deram uma impressionante dose de auto-estima para este pobre país, coitado.

Mas é justamente ao se atentar aos números, tentando provar os fatos, que temos uma surpresa, senhores leitores. Afinal de contas, nossos políticos de brincadeira nos surpreendem, ao olharmos atentamente! Ainda no exemplo da Câmara de Deputados, os políticos como Tiririca, Jean Willys, Romário, entre outros, figuram entre os políticos mais assíduos, e alguns com propostas verdadeiramente interessantes! É claro que podemos achar explicações perfeitamente plausíveis - por exemplo, como esses políticos são novos, eles ainda estão levando Brasília a sério - mas não deixa de haver uma interessante conclusão: candidatos divertidos, afinal, dão certo! O próprio Romário, por exemplo, é um dos políticos mais notórios em Brasília, criticando abertamente propostas governistas - principalmente no tocante ao futebol e esportes em geral - e descendo a lenha em personalidades e colegas. Seja lá qual é o motivo que leve este goleador vitorioso a ser um político mais engajado do que tantos outros políticos de "carreira", está funcionando!
O que me deixa a pensar: e se replicarmos a experiência? E se começarmos a eleger mais e mais ex-artilheiros campeões mundiais para nossos Legislativos? E se votarmos em técnicos campeões para o Governo de um estado grande e populoso? Oras, o Romário foi aos Estados Unidos e voltou com o Tetra. O Luiz Felipe Scolari foi ao Japão e voltou com o Penta. Por que não deixá-los ir a Brasília? Talvez eles voltem com uma economia desenvolvida, um enorme investimento em esportes, em educação, em transporte e segurança.
Oras, sejamos sinceros - a República existe desde 15 de Novembro de 1889 (122 anos e 9 meses, contando da data da publicação deste humilde texto). Os eleitores brasileiros estão há um século e um quarto tentando votar em políticos sérios. Não deu certo. Vai que a gente comece a escolher políticos piegas e eles façam o trabalho? Desde que não piorem o que já está lá, a gente já está no lucro - até porque, pior que está não fica! \o/

Então, em vez de encher nossos pacovás a cada 2 anos com eleições ridículas, podíamos tratar a política de modo ainda mais light e participativo! Podíamos instituir que os 513 perfis brasileiros mais curtidos no Facebook seriam automaticamente eleitos deputados federais. Podíamos decidir que o dono da conta de Twitter que fosse mais retuitado em seu estado era automaticamente o Governador. O cidadão que mais resultados tivesse no Google seria escolhido Prefeito de sua cidade. E assim sucessivamente.
E para Presidente da nossa República de Faz-de-Conta do Brasil, um processo ainda mais bacana e emocionante: o artilheiro das últimas 4 edições do Campeonato Brasileiro seria automaticamente empossado Presidente da República!! Imaginem que emocionante, uma disputa até o fim de Dezembro de 2014 para decidir entre Neymar, Fred, Ronaldinho Gaúcho ou Luís Fabiano como nosso Presidente da República por 4 anos! Assim, resolvíamos vários problemas de uma vez só - não precisaríamos mais perder um domingo a cada dois anos elegendo presidentes, e nunca mais teríamos de votar nos mesmos candidatos sempre. Além do mais, todo mundo assistiria ao Campeonato Brasileiro até o fim, torcendo para algum filho da mãe quebrar a perna do Emerson, lesionar feio o Vágner Love...
Mais do que isso, teríamos orgulho de nosso Presidente Artilheiro! Alguém que também não sabe cantar o Hino Nacional, que cata todas as gostosas em seu carro importado, que vai pra Europa no meio da temporada do ano que vem... Tudo aquilo que queremos ser e fazer, mas não fazemos! Ninguém mais aceita um Presidente culto, um Presidente do povo, uma Presidente honesta. Legal mesmo é Presidente Artilheiro, que "dibra" 3, dá caneta no goleiro, faz dancinha pra comemorar e pede música no Fantástico. Esse, sim, seria o cara. Ele sairia do jogo, poria a faixa presidencial, e iria pra Brasília ser o melhor Presidente da nossa história. Francamente - quem precisa de Presidente Obama, quando nós temos o Presidente Obina?

Se o que funciona na política é a diversão, essa ideia seria um prato cheio. Não sei se vai resolver, mas, convenhamos, a gente já tentou diversas vezes as opções sérias. Uma mudança de ares seria bem vinda. Afinal, queridos, pior que tá, não fica. :D

Ouvindo:
You Dropped a Bomb on Me
The Gap Band
Gap Band IV (1982)

Um comentário:

Stefanie disse...

Olha...
P`residentes artilheiros podem ser bom negócio, agora empossar Rafinha Basto - campeão de retuitadas - é difícil de engolir.
E falando em engolir... VOTE ZAGALO!